segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A esquerda da estupidez

Provando que, embora geralmente pareça, a estupidez não se concentra toda do lado direito do espectro político, uns tipos que se intitulam Verde Eufémia acharam boa ideia destruir um campo de cultivo plantado com uma planta trangénica qualquer.

A ideia, está bem de ver, é péssima por vários motivos.

Porque é uma estupidez partir para acções extremas muito antes sequer de terem sido encetadas acções de contestação mais consensuais. Com esta cretinice, os eufémios só conseguiram alienar a esmagadora maioria das pessoas com dúvidas sobre as culturas transgénicas, umas porque são muito mais sensíveis às dificuldades sentidas por um agricultor que viu a colheita arrasada do que ao activismo inconsequente de um bando de burquesinhos bem alimentados, outras porque apesar de serem em princípio sensíveis ao problema transgénico são igualmente (ou mais) sensíveis aos valores, para elas mais ou menos sagrados, da autoridade e da propriedade privada.

Porque quando forem, e bem, bater com os costados no tribunal, os eufémios não terão a simpatia de quase ninguém, e o que pretenderiam ganhar em propaganda com a acção se virará contra eles.

Porque acções de ecoburrice como esta são óptimas para colocar uma qualquer discussão que se pretenda encetar imediatamente no campo do insulto, acabando à nascença com qualquer hipótese de argumentar racionalmente. Isso, aliás, já se vê, com os idiotas de sinal oposto a saltarem imediatamente com estapafúrdias acusações de ecoterrorismo, como se alguém ficasse aterrorizado com um actozeco de vandalismo como aquele.

Porque acções de ecoburrice como esta são óptimas para que os promotores dos trangénicos tenham um alvo fácil para onde apontar sempre que precisem de desconversar quando os argumentos se lhes esgotarem. Bastará apontarem para esta cretinice, e convencerão muitos cépticos da bondade das suas opiniões, mesmo que não as consigam sustentar com algo mais sólido do que uma curtina de fumo.

E porque são acções espectaculares como esta que acabam por rotular todo um movimento naquilo que mais forma a opinião nos dias que correm: a imprensa. Daqui em diante, seja o que for que um ecologista tiver a dizer, terá de lutar nos espíritos das pessoas contra a imagem de um campo arrasado por um bando de idiotas.

Não me surpreenderia nada se daqui a uns anos se viesse a constatar que esta ecopaspalhice acabasse a servir de marco para um movimento de corrida à agricultura transgénica e que daqui em diante os campos transgénicos aparecessem por todo o lado como cogumelos.

Não me surpreenderia nada se daqui a uns anos se viesse a constatar que estes palermas conseguiram precisamente o oposto daquilo que apregoam defender.

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