quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pom-pam-pum

Estão a ouvir o foguetório?

É a Lâmpada que faz cinco anos.

sábado, 26 de abril de 2008

Semana

Mais uma semana que ainda há uma semana era futuro e agora já passou a passado. Por cá foi uma semana porreira, como costumam ser todos os anos estas semanas de Abril. Não particularmente produtiva, é certo, mas porreira.

Livro: página 428, mais 62 do que na semana passada. Falo do original, pois a tradução vai neste momento com 412 páginas. Para quem sabe de que estou a falar, é mais do que o primeiro livro da série, o segundo livro da série e o quarto livro da série, esse que está quase a sair. Em separado, naturalmente. E ainda faltam 142 páginas de original, que deverão dar cerca de 135 na tradução. Mais os anexos.

Pfiu!

Wiki: mexeu-se um bocadinho e chegou ao fim da semana com 11 478 páginas, 72 novidades, portanto.

E também acabei um livro. Um livro muito bom, para variar, apesar da tradução algo manhosa: Paz Sempre, de Joe Haldeman. Seriamente recomendado.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Parabéns, pá!

Parabéns, rapaz, pelo 34º aniversário da tua mais recente encarnação. E desculpa lá tratar-te às vezes tão mal, mas tenho de confessar que me custa suportar aquilo que em ti resta das encarnações anteriores.

Que contes muitos. E que continues a mudar.

terça-feira, 22 de abril de 2008

A origem das espécies linguísticas

A-ha! Mais um dia em que o trabalho acaba e a minha cabeça ainda não está em pleno toque de finados! Devia aproveitar para saboreá-lo, pois tem sido coisa rara. Mas não. Em vez disso venho para aqui mandar mais uma posta de pescada.

Desta vez não é sobre o acordo, mas tem a ver com aquilo que lhe subjaz: a própria língua. E tem a ver com umas contestações que apareceram na caixa de comentários, principalmente com esta:

A diversidade dialectal não é função da vastidão geográfica ou demográfica. Veja-se o caso basco, p.ex.: Apesar de haver, feliz e finalmente, uma ortografia única — o euskera batua (que é eficiente, coerente, e vastamente utilizada), existe (e continua a existir, também felizmente) uma diversidade dialectal muito grande.


Nunca afirmei que a diversidade dialectal fosse função da vastidão geo ou demográfica. O que afirmei foi:

Embora uma ortografia seja sempre um compromisso entre a história da língua escrita e o estado actual da língua falada, em línguas pequenas, faladas por pouca gente concentrada em territórios restritos e com pouca variação fonética, a ortografia pode seguir a fonética de perto, se bem que nem sempre o faça. Porém, é fácil compreender que em línguas maiores, e em especial nas grandes línguas de dimensão planetária como a nossa, isso é totalmente impossível.


O que eu queria dizer com isto, e pelos vistos não fui suficientemente claro, é que só é possível criar uma ortografia fonética em línguas que obedeçam simultaneamente a todas aquelas condições. Isto é, línguas que: 1) sejam pequenas, 2) sejam faladas por pouca gente, 3) estejam concentradas em territórios restritos e 4) tenham pouca variação fonética. Estas condições estão interligadas, influenciam-se, mas não se determinam umas às outras. E se referi estas condições foi para deixar claro que a língua portuguesa, por não obedecer a nenhuma delas, não poderá nunca ter uma escrita fonética; terá sempre de ter uma escrita que resulte de um equilíbrio entre as várias fonéticas que incorpora, a história das palavras e a pura convenção.

Estamos de acordo?

Já agora, visto que me desviei do caminho principal para uma estrada secundária que tem pouca relevância para o acordo em concreto, vou segui-la até um pouco mais à frente. Tenho umas ideiazitas extra a deixar aqui. Não as vou explorar muito, que nem tenho tempo nem este é o lugar certo, mas é capaz de valer a pena esboçá-las.

Como é que se originam as línguas? Salvo casos especiais, em que existe uma intervenção criadora de um pequeno grupo de indivíduos que depois se espalha para grupos maiores (caso das línguas construídas, basicamente), as línguas têm uma evolução muito semelhante à das espécies biológicas (e a maior parte de vocês acabou neste momento de entender o título do post). Evoluem naturalmente umas das outras, através de uma sucessão de pequenas mudanças que se vão acumulando com o tempo até gerar grandes diferenças. Uma diferença importante relativamente à analogia biológica é que as línguas, salvo em circunstâncias muito particulares, estão constantemente em processo de fertilização cruzada, transferindo conceitos e fenómenos linguísticos de umas para outras, o que em geral não acontece com a vida. Mas a maior parte dos motores da evolução são idênticos. As línguas, tal como as espécies, também necessitam de isolamento para se diferenciarem, o que aliás é óbvio se olharmos para um mapa das línguas do mundo e constatarmos que as regiões onde existe um número maior de línguas por unidade de área são regiões que dificultam os movimentos ao bicho-homem, nomeadamente regiões montanhosas, florestas densas, etc. O mesmo acontece, em menor escala, dentro das línguas, com os seus dialectos, subdialectos e sotaques.

Ou seja, historicamente, quando uma determinada população se isolava de outras populações que lhe eram afins, geravam-se as condições para a divergência. Foi isso, aliás, que aconteceu com as línguas latinas, todas elas derivadas do latim comum que se falava há dois mil anos ao longo da vastidão do Império Romano. Com o fim deste, com a criação de uma multiplicidade de estados independentes, a limitação de contactos entre eles e o desaparecimento da elite romana que tendia a uniformizar a língua no Império, os vários latins vulgares começaram a divergir (provavelmente a partir de sotaques e dialectos existentes ainda nos tempos romanos) e resultaram neste grande grupo de línguas que conhecemos hoje (e mais algumas que entretanto se extinguiram), que segundo o Ethnologue são 48, faladas hoje por cerca de setecentos milhões de pessoas um pouco por todo o planeta, mas essencialmente na Europa, nas Américas e em África.

Foi também assim que surgiram as variantes do português. Todas elas, não apenas a dicotomia mais básica entre o português de Portugal e o do Brasil. Mais básica e mais preguiçosa, pois não só existem variantes de português fora dos dois principais países da lusofonia, também é facto que quer num quer noutro existem vários dialectos, muitas vezes incorporando construções linguísticas que se costuma imaginar serem características da língua falada do outro lado do oceano.

E se assim surgiram, dir-se-ia, assim continuariam a divergir até que, algures no futuro, se transformariam em línguas diferentes com uma raiz comum, como aconteceu com o latim. Há muita gente, incluindo, receio, a generalidade dos linguistas, que dá por adquirido que assim será.

Pois é, mas eu acho que não.

É que vivemos hoje num mundo que, em termos de comunicação, não tem rigorosamente nada a ver com aquele em que as variantes do português se desenvolveram. Hoje já não é necessário o contacto físico para haver transferência de padrões linguísticos entre as pessoas. Hoje, a comunicação é global e praticamente instantânea. A língua que falamos é tão determinada pela televisão como pelos nossos pais, família e vizinhos, e começa também a ser determinada pela internet. Hoje, os falantes de português em todo o planeta, por mais afastados que estejam fisicamente, estão mais próximos do que nunca, e tenderão a aproximar-se ainda mais no futuro.

É por isso que eu penso que a tendência, longe da diversificação, será a longo prazo de reunificação e uniformização. Já vejo isso a acontecer com a atenuação dos sotaques e falares regionais no português de Portugal, e também com uma aproximação visível do português de Portugal ao do Brasil desde que as telenovelas brasileiras passaram a fazer parte do dia-a-dia das nossas famílias. E julgo que é um fenómeno inevitável e imparável, precisamente devido ao desaparecimento do isolamento que é necessário à diversificação.

Que tem isto a ver com o acordo ortográfico? Muito pouco. Mas se procurarem bem, verão que até tem alguma coisa. Em todo o caso, prometo regressar a coisas que dizem respeito mais directamente a ele no próximo post.

sábado, 19 de abril de 2008

Semana

Isto hoje é rápido, que não há grande coisa a dizer.

Livro: página 366, mas 64 do que na semana passada. Exacto: houve versos...

E é s... hã? Wiki? Qual wik... ah!, esse wiki. Pois, zero. Esteve parado. C'est la vie.

E é tudo.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Acordo ortográfico - orto grafias

Ora bem, cá estamos de novo, com algum tempo livre e a cabeça razoavelmente desanuviada.

Antes da breve interrupção zinkiana, tínhamos ficado na candente questão de as mudanças na oralidade implicarem, ou não, mudanças na ortografia. Mas ainda antes de tratarmos da candência, vamos fazer mais um pequeno desvio para mais alguns factos.

Já vimos que uma ortografia é um conjunto de normas altamente abstractas para exprimir uma determinada oralidade. Mas, em parte porque são abstractas, nem todas as formas de escrever seguem a mesma filosofia. Algumas formas de escrever, como os ideogramas chineses, por exemplo, nem sequer representam sons, preferindo-se a representação de conceitos e ideias (daí o nome, né?). Outras formas de escrever representam sílabas, noutras, como o hebraico, escrevem-se apenas as consoantes deixando as vogais subentendidas, etc. Nas línguas escritas em alfabetos derivados do grego, como a nossa, cada letra tende a representar um som, embora haja, como todos sabemos, sinais especiais que alteram o significado básico da letra, combinações de letras que representam um único som... ou letras que não representam som algum.

Além disso, línguas diferentes têm abordagens diferentes quanto à adaptação da escrita à fala. Embora uma ortografia seja sempre um compromisso entre a história da língua escrita e o estado actual da língua falada, em línguas pequenas, faladas por pouca gente concentrada em territórios restritos e com pouca variação fonética, a ortografia pode seguir a fonética de perto, se bem que nem sempre o faça. Porém, é fácil compreender que em línguas maiores, e em especial nas grandes línguas de dimensão planetária como a nossa, isso é totalmente impossível. O compromisso tem, pois, de existir sempre.

Algumas dessas línguas, como o inglês e o francês, resolveram esse problema adoptando uma ortografia mais atenta à origem e história escrita das palavras, à sua etimologia, do que à fonética. É por isso que em francês algo que se diz "uázô" se escreve "oiseaux", algo que se diz "ô" se escreve "eau" e "pré" se escreve "prêt". E é por isso que palavras inglesas tão diferentes como "dou" e "taf" se escrevem "though" e "tough", respectivamente, é por isso que "tchec" se escrever "czech" enquanto que "china" não se diz "caina" mas sim "tchaina", entre muitas, muitas outras rasteiras que a língua inglesa nos reserva.

Esta abordagem tem a vantagem de exigir mudanças na ortografia mínimas e espaçadas no tempo, embora tenha a clara desvantagem de ir tornando a escrita crescentemente incoerente, de modo que ao fim de algum tempo acaba à mesma por ser preciso fazer reformas ortográficas, a menos que se queira continuar a escrever numa língua que na prática é uma língua diferente daquela que se fala (e isto acontece em algumas línguas, como o grego).

O português que se escrevia no século XIX seguia também esta abordagem. Era devido à etimologia de "farmácia" que a palavra se escrevia "pharmacia". Era por causa da etimologia que nunca ninguém praticava a escrita, mas sim a "escrypta". Era devido à etimologia que os campos se cobriam de "hervas" na primavera. E etc., e etc., e etc. Pegue-se numa publicação anterior a 1911 e encontrar-se-ão páginas e mais páginas de etimologias que hoje têm um sabor positivamente arcaico. Porquê?

Porque a implantação da República, em 1910, trouxe com ela a vontade de simplificar a escrita do português, tornando-a mais consentânea com a sua fonética, que não fazia distinção entre os f expressos com "f" e expressos com "ph", os i expressos com "i" ou com "y" ou os p expressos com "p" ou com "pp", que emudecera uma quantidade razoável de consoantes, que não pronunciava nada que se parecesse a um z em Portuguez, etc., etc. E assim, a ortografia do português foi pela primeira vez afastada da abordagem etimológica clássica, e foi pela primeira vez quebrada a unidade ortográfica da língua, porque o Brasil, nem tido nem achado na reforma de 1911, continuou ainda a escrever à antiga.

Mas isso ficará para uma próxima oportunidade, que hoje já se foram bem mais do que cinco minutos e a hora começa a pesar.

domingo, 13 de abril de 2008

Lista de etiquetas

OK, rapaziada.

Lentamente, ao longo de muitos dias, em buraquinhos de tempo razoavelmente livre que se vão arranjando nos interstícios da vida, tenho vindo a fazer testes com um javascript para construção automática de uma lista de etiquetas que funcione como eu quero. E hoje chegou a hora do txara!, em que com a presença das mais altas individualidades deste blogue ela é oficialmente inaugurada. Está ali, na coluna da esquerda, por baixo das ligações que já lá estavam.

Divirtam-se. E se algo parecer não funcionar bem, avisem. Com a nota prévia de que cada etiqueta liga a todos os posts que a incluem, de modo que pode gerar páginas bastante grandes. E com a segunda nota prévia de que entre os 1486 posts deste blogue só talvez uns 500 estejam por enquanto etiquetados, nomeadamente os primeiros e os últimos.

sábado, 12 de abril de 2008

Acordo ortográfico - A cor do horto gráfico

Hoje não falo eu. Pelo menos até acabar o trabalho do dia; depois logo se vê se falo, se não falo. Por agora, dou a palavra ao Rui Zink.

Semana

Esta semana foi um bocado atípica por aqui, por motivos que não vêm ao caso e que só tiveram um impacto parcial naquilo que vem ao caso.

Não no livro, que esse vai soprado por vento bonançoso página 302 fora, 70 a mais do que há uma semana. Não houve versejos, claro. Mas já cá cantam mais, meia dúzia de páginas à frente do sítio onde estou...

Mas no wiki...

O wiki chegou ao fim da semana com 11 406 páginas. Mais 5 do que na semana passada. Cinco. 1-2-3-4-5, cinco. Meh!

Fora isso, a única coisa que ainda vai vindo ao caso é que lá se foi mais um livro, com o bizarro título de Objectos Sexuais no Espaço, escrito por uma senhora (claro; com um título destes tinha de ser) chamada Maria Regina Louro. Não é grande coisa, mas está bem escrito e é, a espaços, divertido.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Acordo ortográfico - Tipo, a cena evolui, tás a ver?

Olá. Como os mais atentos ou astutos terão já entendido, voltei a ter cinco minutos de liberdade com a cabeça razoavelmente funcional, e consequentemente aqui estou a falar-vos do malfadado acordo ortográfico. Mas antes, permitam-me que chame um homem tantas vezes desconsiderado, tão escarnecido, mas que às vezes se faz tão necessário. Apresento-vos Jacques II de Chabannes, aristocrata francês do século XVI mais conhecido por Monsieur de La Palisse. Jacques, voici mes lecteurs.

Apresentados que estão um aos outros e vice-versa, vamos ao que interessa.

A lapalissada da noite é: epá, tipo, a cena evolui, tás a ver? A cena, tipo, a língua, topas? Iá.

Dito isto de outra forma, pode parecer uma evidência tão grande que dispensa ser expressa, mas a verdade é que as línguas evoluem, que o digam os velhos imperialistas romanos que se se apanhassem um dia a tentar decifrar a algaraviada que falam estes seus longínquos descendentes se veriam decididamente em palpos de aranha e protestariam exuberantemente, como era seu timbre, não sei bem é em que declinação.

Porque é que vale a pena dizer isto? Ora, elementar, meus caros: porque a esmagadora maioria das pessoas que têm participado da discussão sobre o acordo ortográfico parece partir do princípio de que uma língua é uma coisa estática e imóvel. Não é, e isto não é opinião: é facto. Hoje não se fala como há 50 anos, há 50 anos não se falava como há 100 anos, e assim sucessivamente.

Mas que tem isto a ver com o acordo ortográfico?

Nada.

E tudo.

Mais alguns factos: a ortografia é uma forma altamente abstracta de colocar em símbolos gráficos a linguagem oral, que já de si é uma coisa bastante abstracta. É porque a linguagem é abstracta que os significados das palavras mudam com o tempo e/ou que as mesmas noções vão sendo expressas por associações diferentes de sons. E quando se passa do oral para o escrito, é colocada uma nova camada de abstracção sobre a abstracção pré-existente. Porque é que o símbolo "a", em português, corresponde ao naipe de sons que conhecemos? Por nenhum motivo além de alguém ter determinado que assim seria. Uma sucessão de alguéns, mais propriamente, que vai do longínquo e anónimo inventor do alfabeto até quem fez a última reforma ortográfica antes desta (que não tocou no valor do a, já agora; tal como esta não tocará). O símbolo, em si, não tem nenhum significado intrínseco: tem apenas o significado que nós lhe damos, por pura convenção.

Ora bem, se a língua oral evolui e se a ortografia é uma convenção que serve para exprimir essa língua oral, será que a ortografia evolui quando a oralidade evolui?

Pode evoluir e pode não evoluir, depende. Mas isso vai ter de ficar para outro dia, que os meus cinco minutos já chegaram e já partiram. Até lá, rapazes. Jacques, a bientôt. On aura encore besoin de toi, j'en suis sûr.

sábado, 5 de abril de 2008

Semana

Numa semana cheia, mas oh! tão cheia, de parvoíces, o que é realmente importante é que o livro vai na página 232, mais 60 do que na semana anterior. 60 páginas e vários versejos. Isto agora é assim: o homem deu em poeta, e o pobre tradutor que se desenrasque. E ainda há mais lá para a frente.

Quanto ao wiki, 11 401 páginas, mais 113 do que na semana anterior. Sabiam que o Bibliowiki anda a oscilar entre o 220º e o 230º maior wiki do mundo? Do mundo? Ah, pois é.

Quanto a livros, finalmente acabei dois: Contos do Androthélys, de António de Macedo, e Salvamento no Espaço, de Cleve Cartmill. Ambos são romances constituídos por contos razoavelmente independentes entre si, o primeiro é fantasia hermética e o segundo ficção científica (ou talvez melhor seria chamar-lhe "sci-fi") e não gostei particularmente de nenhum deles. O do Macedo é confuso e parado, embora bem escrito, e o do Cartmill é uma grande porcaria. Não tenho tempo para desenvolver mais do que isto, lamento se alguém ficar de água na boca.

Para a semana há mais.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Acordo ortográfico - Ah, parece que há um "estudo"

Exibindo mais um pouco do estado catatónico em que mergulhou há décadas parte significativa da nossa intelligenzia, eis que surge um "estudo" que, comparando uma tradução portuguesa de um dos livros do Harry Potter com uma outra tradução, brasileira, do mesmo livro conclui que as diferenças são enormes.

O meu comentário?

Só quem pensa que a tradução é uma actividade automática com uma intervenção mínima do tradutor é que pode levar isto minimamente a sério.

A tradução é uma recriação literária de uma obra numa língua diferente. Pegue-se em duas traduções de dois tradutores diferentes e irão encontrar-se inevitavelmente diferenças significativas, seja qual for a sua nacionalidade. Especialmente quando uma tradução parece ser boa e outra tem ar de ser duvidosa, como neste caso. Qual a que parece ser boa? Verifiquem vocês. Mas a mim parece que é a brasileira.

Este "estudo" é duma irrelevância total. Para o acordo, para a linguística, para tudo... embora, talvez, seja um sintoma do desprezo que a generalidade da edição portuguesa sente pela profissão de tradutor.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Acordo ortográfico - chega de parvoíce, não?

Tenho andado a assistir, entre o impávido, o divertido e o horrorizado, ao monumental manancial de disparate e burrice que esta celeuma sobre o acordo ortográfico desencadeou. Volta e meia, sinto-me tentado a entrar na bagunça, e cinco voltas e um quarto tenho mesmo entrado, quase sempre com textozitos rápidos deixados por aí. Não há tempo para mais, infelizmente. Se houvesse, encheria nas calmas vinte páginas ou mais. Em times new roman, tamanho 12, espaço e meio, como é de praxe. Mas como se vão arranjando 5 minutos de vez em quando para ir deixando por aí umas bocas, já agora deixo de as deixar por aí e passo a deixá-las aqui na Lâmpada, separando muito bem, porque é necessário e não vejo muita gente a fazê-lo, aquilo que é facto daquilo que é opinião.

Começo hoje, com a seguinte opinião:

Meus caros amigos, toda esta discussão é profundamente idiota.

E é idiota por dois motivos. O primeiro, e fundamental, é o facto de que Portugal já ratificou o bendito acordo ortográfico. Fê-lo logo em 1991 e foi, aliás, o único país a fazê-lo dentro dos prazos estipulados. Os outros três países que ratificaram (Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) só o fizeram mais tarde. Portugal, tal como estes três países, também ratificou o primeiro protocolo modificativo ao acordo, que se limitava a remover os prazos, passando a exigir apenas a ratificação dos países signatários. O que isto significa é que bastará que os países que faltam ratifiquem o acordo e este primeiro protocolo para que Portugal esteja por ele obrigado. Sem ter de fazer nada além do que já fez.

Ou seja: esta discussão é idiota porque é extemporânea. Deveria ter acontecido há quase 20 anos, aquando da ratificação original, não agora.

E é idiota devido à atitude da esmagadora maioria dos opinadores que pipocaram por todo o lado, que não se coíbem de dar opiniões apesar de não terem a mais pequena noção daquilo que o acordo é, de quem assinou ou ratificou e quando, daquilo que muda ou deixa de mudar, etc., etc., etc. Há até quem faça gala de não ter lido o acordo, nem tencionar lê-lo, e ser contra. É-se contra porque "não se está para mudar a forma como se fala" ou porque "não se quer passar a escrever em português do Brasil" ou porque "só o Brasil e Cabo Verde ratificaram e por isso não vale", ou por tantas outras cretinices que têm sido postas em letra de imprensa por este país fora, até por membros destacados da nossa intelligenzia. Da nossa mui deprimente intelligenzia.

Entendamo-nos: há bons motivos para se ser contra o acordo, tal como há bons motivos para se ser a favor. Mas nem uns nem outros dispensam que as pessoas que querem ter e emitir opinião saibam alguma coisa sobre aquilo que opinam. Até porque a informação está aí, disponível, e apesar do acordo estar redigido em gramatiquês não é propriamente física quântica. Quem, apesar disso, insiste em alardear à primeira oportunidade a sua completa ignorância, coloca-se numa posição semelhante à dos criacionistas, que querem discutir biologia sem a mínima noção sobre o funcionamento dos seres vivos ou à daquelas pessoas muito senhoras do seu nariz que não se coíbem de emitir opinião sobre livros (ou géneros literários inteiros) que nunca leram. Estúpido, não? Pois é. Mas tem solução: calem-se por um bocadinho, vão informar-se e depois voltem sabendo finalmente daquilo que falam.

Acabaram-se os 5 minutos de hoje. Continua um destes dias.