terça-feira, 28 de outubro de 2008

A energia do virtual

Ora aqui está uma leitura interessante, embora já com dois anos de idade, acerca do consumo de energia dos avatares do Second Life, e respectiva comparação com o consumo de energia dos humanos de carne e osso.

E é interessante em especial para fãs e escritores de ficção científica. Porque nos admiráveis mundos novos que lemos e escrevemos não raro os constrangimentos energéticos são pura e simplesmente postos de lado, descartados como partes desinteressantes do cenário. É assim que temos nanomáquinas a fazer coisas maravilhosas, gastando energia que aparentemente obtém do nada, é assim que temos ambientes virtuais indistinguíveis da realidade e infinitamente extensíveis, é assim que temos ecologias hiperluxuriantes, com plantas e animais de crescimento instantâneo, etc., etc. Tudo para que escritores e leitores trepidem. Tudo pelo factor uau.

O problema é que às vezes há leitores capazes de fazer as perguntas chatas, como "de onde diabo vem a energia para isto?" Leitores que não se deixam deslumbrar pelos efeitos especiais, malandros dos gajos. Leitores para os quais este tipo de detalhe é suficiente para quebrar a suspensão da descrença, após o que a trepidação se transforma em bocejo e o uau se metamorfoseia em bah.

Como sair disto? Onde está o segredo? Não sei. Mas suspeito que é fazendo histórias que não exijam esse tipo de explicações. É possível; já li muitas. Mas claro que essa também é medalha com reverso. Não será difícil, por exemplo, encontrar quem, confrontado com a falta de efeitos especiais, ache as histórias empasteladas, quem exija todas as inverosimilhanças que outros rejeitam. O problema de quem cria - e também o de quem critica, e se calhar ainda mais o de quem edita e disso quer fazer negócio - é este: o público é múltiplo, procura coisas diferentes naquilo que lê, encontra qualidades onde outros só vêem falhas por nenhum outro motivo que não seja o simples olhar para as coisas sob diferentes perspectivas. E lá se foi a objectividade nas avaliações de qualidade.

Ou quase. Há coisas, não muitas, mas há, que podem ser avaliadas objectivamente. A qualidade do uso da língua, por exemplo.

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