quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Congratulations America...

... for finally opening your collective eyes. You should have listened to us at least 4 years ago, but better late than never.

Agora vamos lá a ver o que faz o Obama. Uma coisa é certa: o apoio que o homem tem não só no seu país como no mundo inteiro abre-lhe portas que nenhum outro político do planeta consegue sequer entreabrir. A última vez que se viu um líder de primeira linha com este tipo de acolhimento foi com o Gorbatchov, e o mundo mudou radicalmente com ele, e, apesar de todos os fundamentalismos, para melhor. Os americanos e os americanófilos primários gostam de dizer que quem mudou o mundo nessa época foi o Reagan, mas não foi; com outra pessoa no Kremlin, as coisas teriam ficado na mesma. E os comunistas mais básicos que culpam o Gorbatchov pela falência do "socialismo real" estão voluntariamente a fechar os olhos à falência encoberta que ele foi encontrar, causada por um sistema que como todos os sistemas totalitários dependia demasiado da figura do líder e que não tinha um líder à altura desde Lenine.

Uma das coisas mais curiosas nas sociedades humanas é que um homem sozinho nunca é motor de mudança - esta acontece a um nível mais profundo e colectivo - mas pode ser ou o seu pivô ou o seu travão. Gorbatchov foi pivô da mudança nos anos 80, uma mudança que tinha vindo a ser travada durante longos anos pela múmia paralítica do Brejnev. Obama pode ser pivô de mudança na segunda década do século XXI que já pouco falta para estar aí. E esta mudança que aí vem é uma mudança única na história do planeta, uma mudança cujo verdadeiro motor é a globalização cultural a que já vimos a assistir há décadas mas se acelerou imensamente com a popularização da internet. Não é por acaso que é entre os jovens que Obama ganha com mais clareza. O momento que atravessamos é o dealbar de uma consciência verdadeiramente planetária de que estamos nisto todos juntos, queiramos ou não, de que o planeta é só um e é de todos, de que todos somos humanos, independentemente de coisas tão irrelevantes como a nacionalidade, o sexo ou a cor da pele, gente que tem as mesmas aspirações básicas, gente que se ri, comove e irrita com as mesmas coisas, gente que começa a aperceber-se de quais são as escolhas dos vizinhos que têm impacto sobre as suas vidas, e quer ter uma palavra a dizer acerca delas, e quais não são, quais são opções íntimas de cada um que não prejudicam e portanto não dizem respeito a ninguém, gente que começa a conseguir dar a importância devida à forma como nos vemos livres dos dejectos e às pessoas que levamos ou não levamos para a cama, ao barulho que fazemos e à cor da nossa pele ou à língua que falamos.

O Obama é um sintoma do dealbar dessa consciência. É o primeiro verdadeiro líder do século XXI. Que esteja à altura do desafio é o que lhe (nos) desejo. Porque se não estiver, será mais travão do que pivô. Mas acho que está. Tenho essa esperança. Agora cabe-nos também a nós encontrar líderes a sério para Portugal e para a Europa. Enquanto não o fazemos,

Congratulations, America!

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