domingo, 12 de junho de 2011

L'11: O BE? Não. A responsabilidade.

Para encerrar esta série de posts sobre as legislativas de há uma semana, tinha prometido umas ideias sobre o Bloco de Esquerda. Acabei por decidir que não valia a pena. Porque já tinha aqui dito por que motivos o Bloco ia perdendo o meu voto, e penso que isso resume bastante bem a minha opinião sobre os motivos por que perdeu o voto de muitas outras pessoas. Em retrospetiva, acrescentaria apenas o apoio a Manuel Alegre à lista de erros dos últimos meses. Não porque o BE não devesse participar em alternativas unitárias contra candidatos da direita, mas porque na primeira volta de umas eleições presidenciais em que o candidato "dos outros" tem à partida uma vantagem considerável é mais importante fornecer o máximo de opções possíveis "aos nossos" para trazer o máximo possível "dos nossos" às mesas de voto e conseguir assim forçar uma segunda volta, do que partir logo para soluções unitárias. A unidade faz-se depois, em redor do candidato que passar à segunda volta. Seja ele qual for.

E não vale a pena também porque já se escreveu mais que muito sobre a derrota do BE nas últimas eleições. Não só cretinadas, como coisas certas; não só opiniões enviesadas, estúpidas e destrutivas, como pontos de vista objetivos, inteligentes e construtivos. Para quê somar mais uma voz à cacofonia? Não vale a pena.

Mas vou falar de responsabilidade. Um bocadinho.

Primeiro, da responsabilidade dos outros.

Há poucas coisas mais dignas de desprezo do que as criaturas que metem a pata na poça e não assumem a responsabilidade por a pata cair na poça. É não só desprezível como infantil (foi ele que patiu o vaso, mamã!, diz o bebezinho lavado em lágrimas, tentando escapar-se ao açoite). É não só infantil como cobarde. É não só cobarde como contraproducente, não só porque quem tem olhos na cara deixa de respeitar a criatura, como porque criatura que assim age é criatura que nada aprende com erros que não assume, e portanto é criatura que voltará a cometê-los à primeira oportunidade.

Tem-se visto muito disso. Em primeiro lugar, e acima de tudo, naquelas criaturas do PS para as quais a culpa da derrota é... do BE e do PCP. Claro, claro. É que está-se mesmo a ver que o PS não teve nada a ver com o banho que levou nas urnas, que ele se deveu aos mauzões da "esquerda radical".

Bardamerda.

Mas se estas criaturas do PS vêm em primeiro lugar e acima de tudo, não estão sozinhas na atitudezinha. Também há gente do partido em que eu votei a entrar pela mesma via. Diria mesmo que há demasiada gente no partido em que votei a entrar por essa via.

E aqui chegamos à responsabilidade pessoal. À minha.

Em tempos que já lá vão, fui membro de um partido político. Acabei por sair, jurando para nunca mais. Porque não tenho personalidade de ativista. Porque não tenho puto de paciência para aturar os idiotas sectários que existem em todos os partidos. Porque pensava, penso e sempre pensarei pela minha própria cabeça. Porque, precisamente porque penso, não sou criatura de rebanho. Nunca me limitarei a balir em resposta ao ritmo definido pelo líder, seja ele qual for. De modo que saí convencido de que os partidos não eram para mim, de que, sendo um homem de ideias independentes, o lugar que me era próprio era a independência partidária.

Só que ao ver a quantidade de idiotices que foram sendo ditas, fora e dentro do BE, no rescaldo desta derrota, e a enorme falta de inteligência da própria campanha, não tanto do BE (a campanha em si até foi boa; as parvoíces vieram antes) mas da generalidade dos partidos, dei por mim a pensar. E há dias resumi esse pensamento num paragrafozito que enviei a quem me segue nas redes sociais:

Um motivo para as pessoas inteligentes se meterem nos partidos e participarem ativamente deles: não os deixar entregues a idiotas. É que, afinal de contas, é (quase) sempre gente dos partidos que nos governa. Se ficarem neles só os cretinos, vamos mal.
Pois é. E quem diz pessoas inteligentes, diz todas aquelas que pensam pela própria cabeça. Como eu. Mesmo quando a inteligência não é muita, quem a usa para pensar tem mais capacidade para ter contribuições válidas e úteis do que quem se limita a balir em apoio ao chefe. Ou seja, se calhar, gente como eu tem a responsabilidade de participar no sistema partidário. Na medida das possibilidades e do tempo disponível. Sabendo perfeitamente que há limitações, quer pessoais, quer do próprio sistema, que não permitirão um envolvimento muito profundo.

E como gosto de agir em consonância com o que penso, acabei de preencher e enviar o formulário de pré-adesão ao BE.

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