sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Lido: O Defunto

O Defunto (bib.) é uma noveleta de Eça de Queirós que se desenvolve em torno de um triângulo amoroso muito caracteristicamente romântico. Algures em Espanha, e em tempos há muito idos, uma senhora, jovem e bela, casada com um homem intratável e doentiamente ciumento, é sem que o saiba alvo da paixão de um jovem arrebatado que por ela se enamora sem nunca sequer ter trocado duas palavras com o alvo da sua paixão. E este, para mim, é o principal ponto fraco da história. Mas é amplamente compensado pela forma magnífica como está escrito e por quase todo o resto do enredo. O marido ciumento repara na paixão platónica do jovem e decide atraí-lo a uma cilada, numa propriedade que tem fora da cidade, e aí matá-lo. Mas a caminho da cilada, o apaixonado depara com um enforcado que com ele fala e o convence a aceitar a sua ajuda e a partir desse momento o conto encaminha-se para o desfecho.

É quase tudo muito bom, e achei especialmente curioso o surgimento do enforcado. Não se trata de um fantasma: existe um corpo físico, um cadáver que é animado para cumprir um desígnio. Ou seja, Eça utiliza uma criatura sobrenatural que mostra uma faceta diferente, mais divina do que infernal (e com muito mais inteligência própria), daquilo que hoje em dia se conhece como zombie. Apesar do fundo católico não ser propriamente do meu agrado, acho este zombie muito mais interessante do que as criaturas descerebradas que o cinema transformou em clichés. Gostei bastante.

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