terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Lido: O Senhor dos Navegantes

O Senhor dos Navegantes (bib.) é um conto fantástico de Ferreira de Castro repleto de entrelinhas. À primeira vista, trata-se de uma história sobre um homem que vai passear para o campo, levando consigo um livro, e para numa capela isolada, sobranceira ao mar, dedicada ao Senhor dos Navegantes do título. Aí, encontra um estranho homem que mete conversa com ele, afirmando tratar-se do Senhor dos Navegantes, ele próprio (ou de deus, mais genericamente), e lhe descreve, com abundância de pormenores e de exasperação com a parvoíce das pessoas, a vida atribulada que foi tendo ao longo dos séculos. Ou por outra: as vidas, pois aparentemente terá ido reencarnando em vários indivíduos.

Mas se cavarmos mais fundo encontramos um apelo à luta contra as injustiças e a opressão. Um apelo à abertura dos olhos, ao fim da resignação com sortes tristonhas. Um apelo claro, sem qualquer ambiguidade, ainda que o resultado desse apelo a tenha. Pois às exortações do Senhor dos Navegantes para que as pessoas agarrem nas rédeas das suas vidas e decidam por si próprias os seus destinos responde a populaça com gritos de "ladrão" e "louco" e completa rejeição.

É um conto filho do seu tempo salazarista, sem dúvida. Mas, para mal dos nossos pecados, está hoje tão atual como no dia em que foi escrito. Devia ser lido, muito lido. Muito bom.

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