sábado, 21 de abril de 2012

Les bons esprits se rencontrent

Li há dias alguém dizer que a maioria das pessoas que conhece prefere ler segundo a antiga ortografia.

Tenho a certeza absoluta de que é a mais pura das verdades. Mas a maioria das pessoas que eu conheço prefere ler coisas bem escritas e bem elaboradas, seja qual for a ortografia. Tanto lhes dá se é a moderna, se é a antiga, se é a portuguesa, se é a brasileira, se é, até, a orthographia pseudo ethymologica anterior a 1911. Para isso, estão-se basicamente nas tintas, e são suficientemente inteligentes e flexíveis para saltar de uma para outra sem qualquer dificuldade (ou sem grande dificuldade quando é a anterior a 1911, que é a que mais se afasta de todas as outras). Porque o que a maioria das pessoas que eu conheço quer mesmo é ler coisas interessantes, escritas em bom português.

Mas repito: não tenho a mínima dúvida de que o que a tal pessoa de que falei no princípio disse é a mais absoluta das verdades. É que les bons esprits se rencontrent. Great minds think alike. E etc.

E o inverso também é verdadeiro.

4 comentários:

  1. Há a questão de sensibilidade artística. Se existisse um pénis entre cada parágrafo isso iria certamente distrair-me da leitura. Mas não sendo extremista, se houvesse erros ortográficos, ainda que "mudos" também distrairia. Algo como "har" em vez de "ar."

    E quem não gosta do Acordo (muita gente, como o senhor referiu) irá distrair-se sempre. A sua mente irá reverter para o Acordo, quer queira quer não.

    Eu falo por experiência, larguei a leitura do Acácia ao fim de três páginas. E conheço muitos casos assim.

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  2. Não há questão nenhuma de sensibilidade artística. Os casmurros anti-AO não têm nem mais nem menos "sensibilidade artística" do que os que são capazes de se adaptar.

    A questão que existe é apenas uma: rigidez mental. É a única coisa que explica o facto de que, embora todos nós tenhamos aprendido a ler segundo as regras antigas, uns se adaptam com a maior facilidade às novas, e outros não.

    Já aconteceu o mesmo em 1911. E acontecerá sempre que se fizer uma atualização ortográfica. É natural.

    Mas ser natural não implica que a língua portuguesa tenha de ficar refém dos seus utilizadores mais inflexíveis. A inflexibilidade, a resistência à mudança, a casmurrice, é uma sentença de morte para a língua.

    Os que não se conseguem adaptar não irão transformar a nossa língua num fóssil, por mais que tentem fazê-lo.

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  3. É natural no nosso país. Quantos efectivamente fizeram Acordos? A Inglaterra recusou três já.

    Nós sempre fomos um país sofredor de alterações forçadas à língua. Daí que o nosso povo vá com a desculpa do: "A mudança é natural." Claro que é, então não a forcem. Eliminar grafemas não é algo com bons resultados.

    E o que diz o senhor ao facto de só ter havido dois filólogos na elaboração do Acordo? E do facto de nunca ter sido entregue o vocabulário comum? E da esmagadora maioria do povo estar contra? E linguistas, também.

    Não estamos numa democracia? Mudanças à língua merece no mínimo um referendo.

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  4. Tem havido milhares de reformas ortográficas por este mundo fora. Só no século XX houve centenas. Houve até línguas que mudaram de ALFABETO.

    E já que me fala de Inglaterra, o inglês que se escreve hoje não é idêntico ao que se escrevia há 100 anos. Houve várias atualizações ortográficas em vários países anglófonos ao longo do último século. Pequenas, é certo, mas existiram. Ainda recentemente houve uma polémica por causa da abolição de um apóstrofo.

    E já agora, era bom que as pessoas que querem ter opinião sobre isto soubessem o mínimo. E o mínimo é, por exemplo, saber que uma coisa é a língua, outra MUITO DIFERENTE são as convenções ortográficas com que ela se escreve.

    Quanto ao "facto" de só terem havido dois filólogos na elaboração do acordo, é mentira.

    A esmagadora maioria do povo estar contra é outra mentira. A esmagadora maioria do povo está-se nas tintas. E a esmagadora maioria do povo que acha que está contra foi de tal maneira aldrabada por graçamouras que julga que vai ter de passar a escrever "fato" em vez de "facto". Quanto aos linguistas, a maioria não está contra o acordo: têm dúvidas sobre certos aspetos pontuais do acordo. E isso, até os que são globalmente favoráveis à nova ortografia têm.

    Se mudanças à língua merecem no mínimo um referendo, toca a referendar esse "mudanças merece" que você aí põe. Isso sim, é uma mudança à língua. ;) Passar-se a escrever "ato" conforme se pronuncia não é.

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