quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Explicando redistribuição e transferências sociais às criancinhas

O nosso inteligentíssimo primeiro-ministro, coadjuvado pelos seus inteligentíssimos ajudantes, deputados e demais alaranjados parasitas, anda numa furiosa campanha para tentar acabar com tudo o que cheire vagamente a solidariedade social neste país. Porque não percebe como a coisa funciona, portanto deve ser má. Afinal, ele é inteligentíssimo. E se um crânio como sua alteza não percebe a coisa, só pode ser algo vindo direitinho das garras do Demo. T'arrenego!

O último exemplo do que digo vem de umas afirmações que passo a citar:
“A taxa de pobreza é inferior à média europeia”, antes de se considerar as prestações sociais, diz ele. E acrescenta: “Mas depois das transferências sociais, a taxa cai menos do que noutros países, de tal forma que se torna superior à média europeia. O que devemos concluir? O nosso Estado social não é suficientemente eficaz. Não faz o que deveria fazer.”
O ponto de partida para tal teoria são dados do CIES, segundo os quais, em 2010, a taxa de risco de pobreza em Portugal era, antes de transferências sociais, de 25,4% e, na UE a 27, de 26,1%, para passar depois de transferências sociais a ser de 18,0% em Portugal e 16,9% na UE-27.

Como acho que até as criancinhas devem saber alguma coisa de economia, eis-me aqui, quixotescamente (até porque não sou economista... mas tenho cérebro, o que só me dá problemas), a tentar explicar a coisa de uma forma que até as criancinhas a entendam.

Imaginem um país imaginário (ah pois) chamado Coelhistão. O Coelhistão tem 100 habitantes, nem mais, nem menos. Dos 100, 25 correm risco de pobreza antes das transferências sociais. Agora imaginem que, pelas transferências sociais, cada lingote de prata permite tirar 5 desses habitantes da pobreza e o governo coelhistanês gasta um. Quantos ficam em risco de pobreza após transferências sociais? Muito bem: 20.

Agora imaginem que o Coelhistão tem como vizinho outro país imaginário, o Lebristão. É quase igualzinho: tem 100 habitantes, 25 correm risco de pobreza antes das transferências sociais, e estas arrancam 5 a esse risco por cada lingote de prata gasto. O governo do Lebristão, no entanto, tem mais olho que o do Coelhistão e gasta dois lingotes em vez de um. Quantos habitantes ficam em risco de pobreza depois de transferências sociais? Isso mesmo: 15.

Conclusão estúpida: as transferências do Lebristão são mais eficientes do que as do Coelhistão. E a conclusão é estúpida porque a diferença está no dinheiro gasto, não na eficiência. Quem tira tais conclusões está a cometer asneira da grossa? Aldrabice? Incompetência? Cretinice? Podem escolher a explicação que mais vos agrade.

Mas esperem, eu ajudo a perceberem ainda melhor. Imaginem que o Lebristão é tal como descrito acima, mas no Coelhistão um lingote de prata tira 6 habitantes da pobreza em vez de 5. Imaginem que o Coelhistão gasta um lingote e o Lebristão gasta dois, como acima. Quantos ficam em risco de pobreza? Pois. 19 no Coelhistão, 15 no Lebristão.

Conclusão MUITO estúpida: as transferências no Lebristão são mais eficientes do que as do Coelhistão. Na verdade, as transferências no Coelhistão são mais eficientes (retiram 6 habitantes da pobreza contra 5 pelo mesmo preço), mas de novo a quantidade gasta é menor, logo a quantidade de gente resgatada também é menor. Este exemplo dá cabo das explicações mais benévolas para quem afirma coisas destas, não é? Só restam mesmo as fortes.

Ainda pensei escrever que achava que assim qualquer idiota perceberia isto, mas estaria a ser demasiado otimista. O Passos, por exemplo, nem assim lá chegaria.

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