sexta-feira, 28 de junho de 2013

Lido: The Evolution of Trickster Stories Among the Dogs of North Park After the Change

The Evolution of Trickster Stories Among the Dogs of North Park After the Change é o longo título de uma noveleta de Kij Johnson, extraordinariamente bem concebida e executada, que parte de um ponto de partida interessante: e se de repente os animais passassem mesmo a falar, como nas fábulas? Johnson não perde muito tempo com os outros animais; dá apenas uns apontamentos, aqui e ali, destinados a informar o leitor de que a mudança terá sido mais lata do que apenas nos cães. Mas é nestes que se concentra, contando uma história cheia de camadas sobre a reação das pessoas ao verem-se de repente obrigadas a conviver com "escravos", como Johnson lhes chama, que, apesar de terem quatro patas, são tão capazes de raciocínio e comunicação como as pessoas propriamente ditas. Fá-lo em capítulos curtos, todos eles iniciados por uma breve história da lavra dos próprios cães, parte de um folclore de tradição oral recém-adquirido, e centrados em Linna, uma rapariga que se apieda dos cães expulsos de casa pelos antigos donos e forçados a viver em dois parques da zona da cidade em que mora, e que por isso os alimenta... até que acaba por fazer mais do que isso.

Há nesta história um conteúdo metafórico forte, uma reflexão bastante profunda sobre a nossa capacidade de relação com o Outro, uma forma subtil de abordar o tema e o trauma da escravatura. Na verdade, este conto só podia ser proveniente de uma sociedade tão marcada pela escravatura como a americana. E não nos deixa (a nós, os que pertencem ao grupo que antes era proprietário, mesmo que nem todos o tivéssemos sido) em muito bom estado; não nos representa a uma luz propriamente favorável. Mas a verdade é que não posso dizer que Johnson não é realista nesse retrato amargo.

Há aqui muita política, um claro assumir de uma opinião própria relativamente aos direitos que o Outro deve ter, seja esse Outro quem ou o que for. Num momento em que tantos elegem o vazio (pelo menos o vazio aparente) como valor a promover, é refrescante ver que uma história com tanto (e, sim, há que dizê-lo: com tão bom) conteúdo ainda consegue ser publicada e quase vencer um dos mais importantes galardões da literatura fantástica. Muito, muito bom.

Textos anteriores deste livro:

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