segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Lido: A Máscara da Morte Vermelha

A Máscara da Morte Vermelha (bibliografia) é um breve conto de Edgar Allan Poe que, um pouco em jeito de conto de fadas, relata a forma como um príncipe de um reino nunca nomeado (o que é também típico dos contos de fadas), confrontado com uma terrível epidemia chamada morte vermelha, que assolava os seus domínios sem que parecesse ser possível pôr-lhe travão, achou por bem recolher-se, e à sua corte, numa abadia acastelada, isolando-a do mundo, na esperança de que a doença acabasse por morrer por si no exterior sem chegar a afetá-los.

E daqui para a frente há spoilers. Estão avisados.

Não será difícil de antecipar, sendo Poe quem é, e sendo esta história de horror, que as coisas não correm exatamente como o príncipe pretendia. Numa festa, aparece um misterioso mascarado que pode ser, ou não, uma figura sobrenatural, e o lindo sonho de sobrevivência do príncipe vai por água abaixo.

Sem que seja das melhores de Poe, é muito curioso como esta história tem paralelo com o curso característico de todas as alienações. Podemos procurar fugir do mundo, refugiando-nos em territórios confortáveis, seja na imaginação, na literatura, no futebol, nas drogas, no álcool, seja onde for, que o mundo consegue sempre arranjar maneira de nos relembrar da sua existência, batendo-nos no ombro para nos dizer que na verdade só ele tem real solidez. As fantasias, as fugas, são sempre temporárias e frágeis, castelos de cartas prontos a ruir ao primeiro sopro. Mais tarde ou mais cedo, por mais que se feche os olhos, há que abri-los para o feio rosto da realidade.

E é por, não dizendo isto, dizer isto, que este é um bom conto. Não apenas uma história, mas arte. Boa literatura.

Conto anterior deste livro:

Sem comentários:

Enviar um comentário

Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de idiotas. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.