sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Lido: O Obus de Newton

O Obus de Newton (bibliografia) é uma novela retrofuturista de Telmo Marçal que, entre Lisboa e a Amazónia, conta uma movimentada história de conspirações cruzadas centradas num projeto secreto do governo português, ainda monárquico nas vésperas do ano 2000, ainda imperial, com o controlo intacto sobre a colónia brasileira, ao qual o título faz referência. A história segue as peripécias de vários anos da vida de um tal Henrique do Patrocínio, à vez agente secreto, conspirador, assassino, fugitivo e por aí fora, mostrando com toda a subtileza o seu impacto individual sobre a história da nação ao mesmo tempo que traça um relato bastante sólido das tensões sociais no Portugal alternativo comum aos contos deste livro. A prosa, muitíssimo cuidada, talvez o seja até em excesso, de quando em vez, embora compense esse excesso com achados magníficos em outros trechos. Desnecessárias, no entanto, e mesmo prejudiciais ao fluir da narrativa, são as notas de rodapé a explicar brevissimamente quando, no mundo real, tiveram lugar certos desenvolvimentos científicos, culturais ou políticos. Desnecessárias porque nada adiantam à novela, limitando-se a exibir o trabalho de casa do autor. Que importa, para uma história que se passa num final alternativo do século XX, que a primeira exploração hidroelétrica date de 1881? Que importa que Bell tenha criado o microfone no século XIX? Nem que estes factoides tivessem verdadeiro impacto no enredo se justificaria, a meu ver, interromper o fluxo de leitura com a sua explicação em nota de rodapé, e quando não têm, como é o caso, as notas tendem mesmo a tornar-se irritantes. Como dizia o outro, não havia qualquer necessidade.

Mas os rodapés não deixam de ser pormenores de uma prosa francamente boa, sem qualquer sombra de dúvida entre as melhores que o livro a que pertence desvendou até ao momento.

Contos anteriores deste livro:

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