quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Lido: Mort Cinder

Mort Cinder é mais um da série de álbuns de banda desenhada que li no outono passado e me reavivaram, de uma forma bastante inesperada, o interesse pelo género. Contudo, este, do argentino Hector German Oesterheld e do uruguaio Alberto Breccia, começou por parecer não ir de encontro às minhas preferências. E isso também seria inesperado, uma vez que a premissa do livro deveria agradar-me: uma série de histórias centradas no protagonista Mort Cinder, um imortal que foi vivendo momentos fulcrais da história humana e passa por mirabolantes aventuras acompanhado por um velho arqueólogo. O que há para não gostar?

Bem, há a parte gráfica da coisa que, por menos que eu me sinta capaz de a avaliar, umas vezes agrada-me, outras nem por isso. E o estilo que Breccia aqui usa está bem longe da linha clara dos franco-belgas que me satisfaz mais plenamente o sentido estético.

Mas como, apesar disso, o estilo gráfico também me parece muito adequado às histórias que aqui se contam, essa dessintonia entre ele e o meu gosto não chegaria para me levar a não gostar particularmente deste álbum. O que me pôs o pé atrás no início da leitura foi, portanto, sobretudo outra coisa: a estrutura da primeira história de maior fôlego.

A segunda das histórias de Mort Cinder é quase como se fosse a primeira pois aquela que realmente abre o livro é muito curta e funciona basicamente como preâmbulo. E faz lembrar as histórias pulp de super-heróis em algumas das suas piores características. O vilão, em especial, mau como as cobras, é um cientista enlouquecido pela ambição, que não para perante nada para levar a sua avante. Como se não bastasse esse cliché, o malandro ainda tem um gostinho especial por longas exposições de todas as malfeitorias que vai fazer aos heróis, dando a estes, claro, tempo para se prepararem e se lhe oporem. Tão típico!

E tão parvo.

Tivesse todo o livro sido assim, e eu teria terminado a leitura muito desapontado com ele.

Mas não, felizmente. Todas as outras histórias (são ao todo nove) são muito melhores do que essa, chegando até a tocar temas bastante profundos de uma forma muito adulta e, não raro, bastante subtil, mesmo sem perder o caráter de aventura inerente a toda a premissa.

Como consequência, fui gostando cada vez mais do livro à medida que lhe ia virando as páginas e, quando cheguei ao fim, descobri que tinha gostado bastante. Se aquela segunda história fosse melhor, teria até gostado muito e este livro teria entrado para a lista restrita das melhores leituras do ano. Assim, ficou perto mas não chegou lá.

Mas não dei nada por mal empregado o dinheiro que gastei nele.

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