domingo, 25 de junho de 2017

Lido: O Alma-Grande

O Alma-Grande é um conto que se passa, segundo nos diz Miguel Torga, "em terra de judeus", e tem como protagonista um homem cuja função social é abreviar o sofrimento dos moribundos. Como? Matando-os quando já a esperança de sobrevivência se esgotou. Não nos conta a vida desse homem, o Alma-Grande do título, mas um momento fulcral dessa vida quando, pela primeira vez, o que faz lhe ataca a consciência, depois de um moribundo lhe pedir que espere, pedido esse que primeiro rejeita mas depois se vê constrangido a aceitar, o que vai ter consequências gravosas pois o moribundo acaba por deixar de o ser, sobrevivendo, e vai querer vingança.

A história é muito bem escrita, narrada com mão segura, mas gerou em mim uma dúvida por desconhecer tal prática de eutanásia ritual entre os judeus, mesmo que Torga a explique subtilmente como forma de defesa de uma comunidade criptojudaica em meio católico contra a descoberta e a mais que provável perseguição que essa descoberta ocasionaria, e por haver um claro moralismo no desfecho do conto: será ele antissemita? Será uma manifestação de preconceito de Torga, mais que provavelmente originado em histórias contadas e espalhadas pelas igrejas cristãs ao longo dos séculos? Não sei a resposta a esta pergunta, apesar de à primeira vista me parecer que será positiva, pese embora toda a ambiguidade que o conto acaba por conter. Mas sei que ela, a pergunta, me estragou o fruir do conto.

Quanto ao primeiro motivo que me levou a ler a antologia que o inclui, saber se pode ou não ser enquadrado na literatura fantástica... bem... é certo que há nele uma aproximação ao horror psicológico, mas não creio que seja suficiente.

Contos anteriores deste livro:

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