domingo, 14 de janeiro de 2018

Lido: O Presente

Ray Bradbury, mesmo nos seus contos menores, e especialmente num certo período da carreira, consegue com frequência transmitir um intenso sentido de maravilhamento, aquele assombro sonhador e deslumbrado com o universo que há quem diga estar no âmago da experiência de ficção científica. Não sou propriamente dessa opinião — penso que a FC se enraíza em mais do que isso — mas o que é facto é que em Bradbury esse fator é muito importante. E este conto curto, O Presente (bibliografia), é disso um excelente exemplo.

Esta é uma história natalícia. Acompanhamos uma família em viagem para Marte (turística, ao que parece). Uma família de pai, mãe e filho que, porque o natal os vai apanhar em trânsito, e sem querer privar o miúdo da experiência da quadra, tenta levar consigo uma árvore de natal. Mas não consegue: a bagagem, com a árvore, excede os limites de peso. Mas lá conseguem desenrascar qualquer coisa... e qualquer coisa melhor ainda que um mero pinheiro.

É um conto menor, é certo. Mas a perícia narrativa de Bradbury está nele plenamente presente. Tudo está no seu lugar próprio, tudo é conciso mas não apressado, e toda a informação necessária para o pleno desfrute da história vai sendo oferecida em pequeníssimas migalhas ao longo do conto, sem nunca chegar sequer a ameaçar estragar a reviravolta final, em volta da qual tudo está construído. Em Bradbury, e especialmente no Bradbury desta fase, "menor" é equivalente a "bom".

Contos anteriores deste livro:

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