domingo, 29 de abril de 2018

Lido: An Incident at the Luncheon of the Boating Party

Depois de uma fantasia urbana e de algo entre o weird fiction e a fantasia rural, Allen M. Steele é o responsável por trazer a ficção científica a este número da F&SF. Mais especificamente, uma história de viagem no tempo.

Por vezes acusa-se aqueles que se dedicam à ficção científica de produzirem mero escapismo autorreferencial, totalmente desenraizado do ambiente cultural que não se confine aos limites do género. Há que admitir que em certos casos essa acusação tem razão de ser; uma parte da FC é em grande medida isso mesmo, voltada para dentro, para os seus próprios tropos, tendências e clichés e indiferente ao que se passa à sua volta. Mas acusar todo o género disso é sinal de ignorância ou má-fé, porque muitas outras obras não podiam ser mais diferentes desse retrato.

Exemplos abundam, e este An Incident at the Luncheon of the Boating Party é um deles. Conta, na primeira pessoa, a história de uma investigadora de um tal Centro de Pesquisa do Cronoespaço que viaja pelo espaçotempo até perto da Paris de finais do século XIX numa missão de baixo risco para investigar as circunstâncias que rodearam a criação de um quadro famoso, conhecido em inglês como Luncheon of the Boating Party e em português como O Almoço dos Barqueiros. O artista? Pierre-Auguste Renoir. Imagens do quadro encontram-se facilmente em qualquer pesquisa pelo título no Google, mas os preguiçosos podem encontrar uma reprodução, por exemplo, no site do Smithsonian.

A história é divertida, cheia de ritmo, não muito complexa no que à ficção científica diz respeito (e menos ainda no que toca a histórias de viagem no tempo, que às vezes conseguem ser autênticos novelos) e portanto absolutamente compreensível por qualquer leitor minimamente competente, apesar de explorar um dos paradoxos possíveis nos ciclos temporais. Mas é acima de tudo uma claríssima homenagem a Renoir e à sua arte.

Na verdade, das três primeiras histórias deste número da revista, esta é de longe a mais consciente e aberta ao exterior, culturalmente falando. A isso soma-se um enredo bem construído e bastante bem escrito, com tudo no sítio certo, além de uma dose razoável de bom humor, e o resultado é um conto francamente bom.

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