sábado, 12 de maio de 2018

Lido: Os Informadores

É raríssimo eu comprar livros por impulso. E sempre foi, pelo menos desde que formei o gosto e comecei a ter uma ideia bastante concreta do que tem o potencial para me agradar e do que não tem. Normalmente primeiro informo-me sobre o livro, ou pelo menos sobre o autor, e só depois compro.

Nos últimos anos, no entanto, as coisas mudaram um pouco de figura. A culpa é do Bibliowiki e da permanente curiosidade que ele gerou sobre se a obra x ou y terá, ou não, cabimento sob o vasto toldo da literatura fantástica, especialmente se tiver ar de ser periférica, caso em que tendo a confiar mais no meu próprio critério do que em critérios alheios.

E daí a compra deste livro. É que no texto de orelha se fala de vampiros... e eu arrebitei logo as ditas-cujas orelhas. Apesar de Bret Easton Ellis ser um nome que não associava de todo ao fantástico e de um título como Os Informadores me parecer ter pouquíssimo a ver com vampirismo. Vai daí, lá veio o livro para casa.

Trata-se de um romance em mosaicos, uma coleção de contos interligados por uma atmosfera comum e ambientados em volta de Los Angeles. São contos sobre a incomunicabilidade humana, sobre a solidão e o isolamento de cada indivíduo na sua própria pele, no seu próprio labirinto. Contos repletos de personagens destruídas, ou talvez simplesmente vazias, que conversam muito mas raramente ouvem sequer uma palavra que os interlocutores dizem, reduzindo-se assim as interações a meros monólogos cruzados.

O fulcro da coisa parece-me evidente: Ellis fala do vazio da vida contemporânea, da futilidade das aspirações burguesas, do egoísmo epidémico, da evasão às realidades por todos os meios possíveis, químicos ou não.

E lá no meio, um dos contos é de facto sobre vampiros, vampiros dos verdadeiros, hemofágicos, imortais e tudo o mais. Que, apesar desse detalhe de serem vampiros, em nada de fundamental se distinguem das pessoas vulgares que protagonizam as outras histórias. As mesmas pessoas que lhes servem de presas.

Ellis não se propôs escrever um livro de literatura fantástica, uma história de vampiros. Não. Estes servem aqui outra função, a de sublinhar o caráter negativo, predatório, canalha, egocêntrico em extremo de toda esta gente. Não há aqui uma personagem que se salve, todas são vampiros em tudo menos nos dentes aguçados. É, parece-me, isto o que ele pretende dizer ao pôr os vampiros em cena. Que o livro acabe por ser mesmo parte da literatura fantástica é portanto efeito secundário. O que não lhe retira nem acrescenta nada, é bom dizer.

O problema é que se torna cansativo. Ao fim da terceira ou quarta história (e elas são treze) o leitor já percebeu a ideia, já sabe mais ou menos o que vai sair da próxima, já conhece as personagens mesmo nunca as tendo visto. O estilo não muda, à parte pequenas e fundamentalmente insignificantes variações, a mundovisão também não, as personalidades idem, os enredos aspas. A mesmice instala-se, interrompida apenas pelo conto protagonizado pelos vampiros, que aparecem um pouco de surpresa, e com ela vem o aborrecimento.

O resultado é um livro que não é mau, que quem goste do estilo decerto irá até considerar bom, mas que não me satisfez o suficiente. Gostei da leitura, não posso dizer o contrário, mas não muito.

Um último detalhe sobre esta edição: a capa que veem ali em cima não é capa, é uma sobrecapa usada para se sobrepor à capa original. Porquê? Porque esta trazia o título de Os Confidentes. Mesmo não sendo a tradução mais aproximada do título original, gera uma camada adicional de ironia e por isso tudo bem... até ao momento em que o livro foi adaptado a filme e este foi distribuído em Portugal com o título de Os Informadores. Lá teve a editora de correr atrás. É deprimente. Mas é assim que o raio do mercado funciona.

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