Já nem sei há quanto tempo criei conta no twitter, mas foi muito antes de aquilo se transformar no esgoto a céu aberto que é hoje. Tive lá conversas giríssimas, ri, irritei-me, voltei a rir, fiz amigos e conheci gente. Houve lá uma comunidade.
Essa comunidade começou a desfazer-se há anos quando o clima geral começou a tornar-se feio. Houve quem tivesse perdido a pachorra e ido embora, ou simplesmente deixado de publicar. Houve quem tivesse perdido a pachorra e desatado a disparatar. Houve quem tivesse tentado continuar a manter vivo o espírito comunitário, mas sem grande sucesso.
A compra do twitter pelo "fundamentalista da livre expressão" Elon Musk, que hoje (ontem?) baniu o Stephen King por lhe ter chamado First Lady, o que mostra bem o que ele pensa da livre expressão (se és nazi podes exprimir-te livremente, se não és, rua) e também demonstra que não faz a mais pequena ideia de como funciona a dinâmica da internet, a compra do twitter por essa nódoa ambulante, dizia, destruiu o pouco que ainda restava.
Como consequência, eu saí. Até certo ponto.
Havia bem mais de um ano que não punha nada no twitter mas continuava a ir lá porque há contas que seguia, queria continuar a seguir, mas se recusavam a sair.
Isso terminou ontem. O twitter implementou uma alteração aos termos de serviço que diz basicamente que para o usar as pessoas têm de concordar em deixar que os seus dados e aquilo que produziram seja usado para o treino de uma IA. E eu não deixo. Tenho zero confiança que aquela escumalha cumpra as regras e não use os meus dados, quer eu aceite, quer não aceite — não é assim que os fascistas funcionam —, mas se o fizer ao menos não será com a minha cumplicidade.
A conta foi desativada. A conta do bibliowiki, inativa há mais tempo que a minha conta principal, ainda que por outros motivos, também. Tenho pena de perder o contacto, mesmo unidirecional, com aquelas pessoas que queria continuar a seguir (era sobretudo informação), mas paciência. O cano de esgoto em que o twitter se transformou fez-me deixar de participar, a obrigatoriedade de contribuir para o treino de uma IA nazi foi o prego final.
Isto aconteceu ontem. De ontem em diante, qualquer @jorgecandeias que apareça no twitter não serei eu, mesmo que tente fingir ser. De ontem em diante, qualquer @bibliowiki que lá surja nada terá a ver com isto.
O Facebook está como o twitter estava até ontem: mantenho a conta, visito-a ocasionalmente, mas não participo. E é perfeitamente possível que acabem por se sair com alguma que me leve a fazer o mesmo que fiz com o twitter.
Cada vez mais, quem queira contactar comigo nas redes sociais tem uma hipótese: o fediverso. Mastodon, Friendica, o que for, que a grande vantagem dessa rede de redes é todas comunicarem umas com as outras. Ou o Bluesky, onde não estou, não estarei, mas existe uma ponte que o liga ao fediverso. Estou nessa ponte. Se vocês também estiverem, poderemos comunicar.
Mas este post é sobre o twitter. É para dizer que, por aquilo que me diz respeito, o twitter morreu de vez.