Quando vos parece que o mundo não vos quer bem. Quando os problemas parecem empilhar-se. Quando contrariedades se sucedem a desgostos e estes a desapontamentos. Quando só querem chorar, ou gritar, ou mandar tudo à merda, ou bater em alguém. Quando querem partir pratos. Quando um dia de sol é como uma afronta. Quando sentem uma gargalhada alheia quase como insulto. Nesses dias, sabem quais são?, venham até à Lâmpada, ou ao Yutube ou seja qual for o sítio onde podem encontrar este vídeo, e vejam-no do princípio ao fim.
Se a vida deste rapaz, as dificuldades que teve de ultrapassar para estar ali a fazer o que fez, se o seu sorriso, se sobretudo o seu sorriso, não reduzirem os vossos problemas à sua verdadeira dimensão, nada o fará.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Lido: El Boleto
El Boleto, do espanhol Juan Vicente Mañanas Abad, é um conto que consiste, em partes iguais, da transcrição de um interrogatório policial de um dos dois protagonistas, que se segue à morte da mulher deste, e do relato, feito em primeira pessoa pelo outro protagonista, do que aconteceu no dia em que a mulher morreu. Tudo porque a mulher de um era colega de trabalho do outro, e com ele participava numa sociedade para comprar bilhetes de lotaria. E porque dessa vez o bilhete que a sociedade comprou foi premiado. É um conto que, pese embora a forma interessante como está construído, que conta a história de forma não sequencial, saltando entre o relato em primeira pessoa e a impessoalidade do interrogatório, não me agradou por aí além. Não por só marginalmente ser ficção científica (a única parte realmente FC é alguém apanhar uma nave para Marte), mas por a história em si ser tão banal. Isto poderia ter pouca importância caso tivesse havido espaço para desenvolver bem cenário e personagens, mas foi o caso. Apesar do interesse da estrutura que só por si (e por estar bem conseguida, claro) faz com que não seja um mau conto, não o achei nada de especial. Razoável apenas. Podem lê-lo clicando aqui.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Lido: The Dark Man
The Dark Man é um poema de Joe Haldeman sobre um tal "dark man", para o qual as nossas vidas de homens banais não passam de meros instantes. Deixou-me indiferente, tanto o tema como a sua concretização. E é só o que tenho a dizer sobre este texto.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Lido: Uma História Banal
Uma História Banal (bib.), de Bertrand Solet, é um conto curto de ficção científica juvenil cujo principal ponto de interesse é, a meu ver, o facto de conter uma história dentro de outra, numa espécie de camadas de cebola. Numa das camadas, um rapaz futurista, para grande desagrado do pai, gasta o seu tempo a "ler" histórias de ficção cienífica. Na verdade, trata-se mais de ouvir pois, de uma forma algo semelhante aos atuais audiobooks, os livros no futuro razoavelmente longínquo em que vive "falam". A outra camada da cebola é constituída por uma dessas histórias de FC que o rapaz vai absorvendo, uma história mirabolante passada entre a Terra e um tal planeta Ferox (e mais um par de planetas com nomes igualmente... hm... evocativos, chamemos-lhes assim), onde vivem uns extraterrestres maus como as cobras.
É um continho que se aceita enquanto FC juvenil, em especial tendo-se em conta que foi escrito há quase quarenta anos, e que tem esse detalhe estrutural que lhe confere algum interesse, mas que, se for olhado com olhos adultos, pode parecer francamente mau. Abstraindo-me por um momento da minha condição de adulto, tentando lembrar-me do miúdo que fui aos 8-10 anos, julgo que acharia o conto razoável. Bom? Duvido. Apenas razoável.
É um continho que se aceita enquanto FC juvenil, em especial tendo-se em conta que foi escrito há quase quarenta anos, e que tem esse detalhe estrutural que lhe confere algum interesse, mas que, se for olhado com olhos adultos, pode parecer francamente mau. Abstraindo-me por um momento da minha condição de adulto, tentando lembrar-me do miúdo que fui aos 8-10 anos, julgo que acharia o conto razoável. Bom? Duvido. Apenas razoável.
Lido: Sede de Sangue
Sede de Sangue (bib.) é um conto bastante interessante do meu conterrâneo Manuel Teixeira Gomes que, a princípio, não se entende muito bem o que faz numa antologia de literatura fantástica. É que parece um conto puramente realista, quase diria mesmo neorrealista se não fosse bastante anterior a esse movimento, porque em vez de se passear airosamente pelo etéreo (e muito aborrecido) mundo dos condes e das baronesas, desce à terra, ao povo e aos vícios. O narrador é um observador entediado e vagamente jornalista, e o que ele observa é a lenta decadência do protagonista, um tal Trovas, que de comerciante de sucesso que começa por ser acaba reduzido a taberneiro e proxeneta. É nesta fase, próximo do fim, que o conto se torna claramente fantástico, pois a vida dissoluta das tabernas e bordéis, como se sabe, atrai todo o tipo de pessoas... ou até de coisas que não o são. Um conto muito interessante, embora o texto propriamente dito, crivado de regionalismos e de palavras hoje em dia muito desusadas, possa criar problemas a alguns leitores.
sábado, 24 de setembro de 2011
Lido: Memorias
Memorias é um belo, bem escrito e pungente conto de ficção científica do argentino Eduardo J. Carletti, que descreve os últimos meses da vida de um certo Diego Aguilar, um milionário excêntrico de um futuro razoavelmente próximo, cujo passatempo de colecionar imagens, surgido após uma devastadora tragédia pessoal, acabou por converter-se na fonte da sua riqueza. Na primeira página do conto Diego é diagnosticado com uma forma incurável de cancro, e o resto da história conta-nos o que ele faz com o tempo de vida que lhe resta, como põe toda a fortuna à disposição dos cientistas que tentam conceber a tempo uma forma desesperada de cura, ou talvez de simples fuga à morte, e vai-nos indicando de uma forma muitíssimo bem conseguida os comos e os porquês das opções tomadas pelo protagonista. De tal modo que o final é surpreendente sem o ser. Na verdade, é quase inevitável de tão lógico. Um conto muito bom. Podem lê-lo aqui.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Lido: Elephant
Elephant, de Simon Ings, é um estranho conto de ficção científica cujo protagonista participa de um projeto de investigação sobre a sinestesia, esse bizarro curtocircuito que acomete os cérebros de algumas pessoas e as leva a associar a determinados estímulos sensoriais características que seriam próprias de outros. Uma cor que vem associada a um certo acorde, por exemplo. Ou uma palavra que traz sempre consigo um cheiro. Coisas assim.
Ambientado no Brasil (e com demasiados erros de português nos nomes das coisas, infelizmente), o conto aborda a sinestesia como uma forma de revelar a verdadeira natureza do mundo. Mas o projeto em que o protagonista participa falha, e ele próprio perde o contacto com o comezinho da vida acabando afundado num falhanço que também é pessoal, o que contribui para que o tom geral do conto seja de melancolia. Isso e o estilo da prosa, mais impressionista do que explanatória, que sugere muito e pouco afirma, faz com que não seja um conto fácil de ler.
Pessoalmente, acabei-o sem saber bem o que pensar. Em geral, isso tem um de dois resultados possíveis: ou é história que me vai acompanhar durante bastante tempo, que me vai deixar a matutar nela de quando em quando, ou então é história que dias depois de lida está esquecida. Não posso afirmá-lo, ainda, mas suspeito que esta será das rapidamente esquecidas. Não me parece que me tenha intrigado o suficiente para não o ser.
Ambientado no Brasil (e com demasiados erros de português nos nomes das coisas, infelizmente), o conto aborda a sinestesia como uma forma de revelar a verdadeira natureza do mundo. Mas o projeto em que o protagonista participa falha, e ele próprio perde o contacto com o comezinho da vida acabando afundado num falhanço que também é pessoal, o que contribui para que o tom geral do conto seja de melancolia. Isso e o estilo da prosa, mais impressionista do que explanatória, que sugere muito e pouco afirma, faz com que não seja um conto fácil de ler.
Pessoalmente, acabei-o sem saber bem o que pensar. Em geral, isso tem um de dois resultados possíveis: ou é história que me vai acompanhar durante bastante tempo, que me vai deixar a matutar nela de quando em quando, ou então é história que dias depois de lida está esquecida. Não posso afirmá-lo, ainda, mas suspeito que esta será das rapidamente esquecidas. Não me parece que me tenha intrigado o suficiente para não o ser.
domingo, 18 de setembro de 2011
Lido: A Mais Brilhante das Visões
A Mais Brilhante das Visões (bib.) é uma longa noveleta de ficção científica de Clifford D. Simak que nos fala de um mundo futuro em que a Terra se especializou na produção de literatura para consumo de uma miríade de espécies alienígenas, ávidas por essa peculiar capacidade humana que é mentir, contando histórias. Mas não estamos a falar de literatura como a conhecemos hoje. Não há propriamente escritores; há técnicos operadores de máquinas de produção de literatura. O protagonista é um desses técnicos, e luta por sobreviver sem conseguir vender histórias porque a sua máquina está obsoleta e não tem dinheiro para comprar um modelo aperfeiçoado.
Ou pelo menos, é esta a aparência das coisas.
É uma história que reflete sobre os limites da criatividade humana, ou, vendo-a por outro prisma, sobre os limites da automatização das atividades humanas. A meio século de distância da época em que foi escrita, mostra alguns elementos de ingenuidade, mas apesar disso ainda se mantém bastante atual. Até por que existem, hoje em dia, alguns campos de criação que são fortemente influenciados pela sofisticação das máquinas que neles são usadas. A fotografia é um bom exemplo. Além disso, trata-se de um daqueles contos "de escritor", um daqueles contos em que os escritores se viram um pouco para dentro, debruçando-se sobre a condição de o ser e sobre tudo o que isso implica, e isso torna-o mais ou menos intemporal. Um escritor ver-se-á nele refletido. Um leitor que sinta curiosidade sobre o mundo dos que escrevem também encontrará nele esse motivo acrescido de interesse.
Creio ser já claro que gostei bastante. E o meu pai, então, tê-lo-ia adorado: o conto reflete quase na perfeição algumas ideias que ele tinha sobre a relação entre a máquina e o homem. Só é pena a tradução.
Ou pelo menos, é esta a aparência das coisas.
É uma história que reflete sobre os limites da criatividade humana, ou, vendo-a por outro prisma, sobre os limites da automatização das atividades humanas. A meio século de distância da época em que foi escrita, mostra alguns elementos de ingenuidade, mas apesar disso ainda se mantém bastante atual. Até por que existem, hoje em dia, alguns campos de criação que são fortemente influenciados pela sofisticação das máquinas que neles são usadas. A fotografia é um bom exemplo. Além disso, trata-se de um daqueles contos "de escritor", um daqueles contos em que os escritores se viram um pouco para dentro, debruçando-se sobre a condição de o ser e sobre tudo o que isso implica, e isso torna-o mais ou menos intemporal. Um escritor ver-se-á nele refletido. Um leitor que sinta curiosidade sobre o mundo dos que escrevem também encontrará nele esse motivo acrescido de interesse.
Creio ser já claro que gostei bastante. E o meu pai, então, tê-lo-ia adorado: o conto reflete quase na perfeição algumas ideias que ele tinha sobre a relação entre a máquina e o homem. Só é pena a tradução.
sábado, 17 de setembro de 2011
Lido: O Canhão Monstruoso
O Canhão Monstruoso (bib.) é um texto de Júlio Verne, extraído de uma obra de 1879 que não li e nem sei se está traduzida por cá: Les Cinq Cents Millions de la Bégum. A história, pelo menos a do excerto, debruça-se sobre a ética da guerra, descrevendo-nos o confluto de opiniões entre o protagonista, um francês chamado Marcel, e um cientista alemão, mais que um pouco louco, Herr Schultze de seu nome, a propósito da demonstração de um canhão especial, cujas munições teriam a capacidade de eliminar toda a população de uma cidade, deixando esta relativamente intacta. Embora a forma tecnológica de que a ideia se reveste seja completamente diferente, trata-se da mesmíssima abordagem que levou ao desenvolvimento da bomba de neutrões quase um século mais tarde, e é bem possível que esse desenvolvimento tenha originado conversas semelhantes à que está aqui descrita. Para mim, foi esse o principal ponto de interesse deste excerto que, embora não me pareça que funcione lá muito bem como conto, me deixou curioso a respeito do romance completo.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Lido: O Defunto
O Defunto (bib.) é uma noveleta de Eça de Queirós que se desenvolve em torno de um triângulo amoroso muito caracteristicamente romântico. Algures em Espanha, e em tempos há muito idos, uma senhora, jovem e bela, casada com um homem intratável e doentiamente ciumento, é sem que o saiba alvo da paixão de um jovem arrebatado que por ela se enamora sem nunca sequer ter trocado duas palavras com o alvo da sua paixão. E este, para mim, é o principal ponto fraco da história. Mas é amplamente compensado pela forma magnífica como está escrito e por quase todo o resto do enredo. O marido ciumento repara na paixão platónica do jovem e decide atraí-lo a uma cilada, numa propriedade que tem fora da cidade, e aí matá-lo. Mas a caminho da cilada, o apaixonado depara com um enforcado que com ele fala e o convence a aceitar a sua ajuda e a partir desse momento o conto encaminha-se para o desfecho.
É quase tudo muito bom, e achei especialmente curioso o surgimento do enforcado. Não se trata de um fantasma: existe um corpo físico, um cadáver que é animado para cumprir um desígnio. Ou seja, Eça utiliza uma criatura sobrenatural que mostra uma faceta diferente, mais divina do que infernal (e com muito mais inteligência própria), daquilo que hoje em dia se conhece como zombie. Apesar do fundo católico não ser propriamente do meu agrado, acho este zombie muito mais interessante do que as criaturas descerebradas que o cinema transformou em clichés. Gostei bastante.
É quase tudo muito bom, e achei especialmente curioso o surgimento do enforcado. Não se trata de um fantasma: existe um corpo físico, um cadáver que é animado para cumprir um desígnio. Ou seja, Eça utiliza uma criatura sobrenatural que mostra uma faceta diferente, mais divina do que infernal (e com muito mais inteligência própria), daquilo que hoje em dia se conhece como zombie. Apesar do fundo católico não ser propriamente do meu agrado, acho este zombie muito mais interessante do que as criaturas descerebradas que o cinema transformou em clichés. Gostei bastante.
Lido: Reality Show
Reality Show é um conto do espanhol José Carlos Canalda que, como o título deixa claro, se debruça sobre o maravilhoso (?) mundo dos reality shows. E fá-lo com ironia e em jeito de ficção científica. Um gozo, uma sátira, ainda que esta me pareça não poucas vezes algo exagerada.
Segundo reza o conto, um tal Juan García, que tem como profissão a seleção dos participantes nos mais importantes reality shows do seu país, depara a páginas tantas com um homenzinho que procura convencê-lo de que é extraterrestre ou, mais propriamente, marciano. Mas não um marciano do nosso Marte, que como toda a gente sabe é um planeta desprovido de marcianos. Um marciano proveniente de um universo alternativo. E consegue. Mas não propriamente da forma que o García esperava.
É um continho despretensioso que se lê bem, apesar do tal exagero no gozo que aparece aqui e ali, e o final, surpreendente, é eficaz. Não sendo obra-prima nenhuma, também não me parece que seja mau, se bem que o humor que contém, como sempre acontece, não funcione com todos os leitores. Comigo funcionou. Se querem saber se funciona convosco, basta que o leiam.
Segundo reza o conto, um tal Juan García, que tem como profissão a seleção dos participantes nos mais importantes reality shows do seu país, depara a páginas tantas com um homenzinho que procura convencê-lo de que é extraterrestre ou, mais propriamente, marciano. Mas não um marciano do nosso Marte, que como toda a gente sabe é um planeta desprovido de marcianos. Um marciano proveniente de um universo alternativo. E consegue. Mas não propriamente da forma que o García esperava.
É um continho despretensioso que se lê bem, apesar do tal exagero no gozo que aparece aqui e ali, e o final, surpreendente, é eficaz. Não sendo obra-prima nenhuma, também não me parece que seja mau, se bem que o humor que contém, como sempre acontece, não funcione com todos os leitores. Comigo funcionou. Se querem saber se funciona convosco, basta que o leiam.
Lido: Breeding Ground
Breeding Ground é uma noveleta de Stephen Baxter, parte de uma série de histórias curtas e longas ambientadas no universo ficcional dos Xeelee. Trata-se de ficção científica dura e militar, uma space opera das que são mesmo FC, ambientada num futuro distante repleto de tecnologia exótica e criaturas mais exóticas ainda. Já tinha lido outras histórias ambientadas neste universo e pelo menos de uma (On the Orion Line) gostei bastante.
Desta não, porém.
A história acompanha um grupo de soldados e não soldados que procura sobreviver depois de a nave em que seguiam ter sido destruída. Para isso refugia-se no interior de uma gigantesca nave orgânica, uma "Spline". E o que se segue é um relato com muito pouco interesse do deambular do grupo ao longo do interior da Spline. Para quem leu outras histórias do mesmo universo a imaginativa tecnologia poucas novidades traz, as personagens são tão achatadas como é comum acontecer na pior FC, e o próprio enredo pareceu-me francamente mal amarrado. Uma bela desilusão, portanto. Suponho, em todo o caso, que é possível que esta história tenha interesse quando integrada na sequência geral das histórias Xeelee. Não as conheço suficientemente bem para poder afirmá-lo, mas é possível. Isoladamente é que não me convenceu.
Desta não, porém.
A história acompanha um grupo de soldados e não soldados que procura sobreviver depois de a nave em que seguiam ter sido destruída. Para isso refugia-se no interior de uma gigantesca nave orgânica, uma "Spline". E o que se segue é um relato com muito pouco interesse do deambular do grupo ao longo do interior da Spline. Para quem leu outras histórias do mesmo universo a imaginativa tecnologia poucas novidades traz, as personagens são tão achatadas como é comum acontecer na pior FC, e o próprio enredo pareceu-me francamente mal amarrado. Uma bela desilusão, portanto. Suponho, em todo o caso, que é possível que esta história tenha interesse quando integrada na sequência geral das histórias Xeelee. Não as conheço suficientemente bem para poder afirmá-lo, mas é possível. Isoladamente é que não me convenceu.
sábado, 3 de setembro de 2011
Lido: Le. Pra:
Le. Pra: (bib.) é uma longa noveleta de uma ficção científica algo fantasiosa, de Clifford D. Simak, que tem como protagonista um homem socialmente isolado à exceção de um sobrinho, de alguns vizinhos que evita, e de outros conhecimentos que basicamente o incomodam, um homem que vive para um seu passatempo que acabara por transformar também em negócio: uma coleção de selos que lhe atravanca o apartamento ao ponto de mal se conseguir mexer lá dentro. Mas não se trata duma coleção de selos vulgar, sublinhe-se. São selos provenientes de planetas distantes, concebidos por raças alienígenas e tão estranhos como seria de esperar. Selos que, sem que seja explicado como, ultrapassam as distâncias interestelares para lhe chegar à caixa do correio em cartas e encomendas que por vezes incluem objetos mais estranhos ainda do que eles.
Às tantas, uma dessas encomendas vai operar uma mudança fundamental na vida do nosso protagonista, pois traz consigo a propriedade mágica (e toda a tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia, não é verdade?) de organizar o que à sua volta está desorganizado. Seja roupa suja, seja um quarto desarrumado, seja um apartamento mergulhado no mais profundo dos caos... seja até outras coisas menos palpáveis.
Achei a ideia curiosa, mas julgo que o texto é um pouco longo demais e o desfecho irónico (ou mesmo satírico) cai algo de paraquedas no contexto da história. Os melhores finais surpresa são aqueles que são preparados desde o início e mesmo assim apanham os leitores em contrapé, e não é o que acontece aqui. Não gostei muito desta história, portanto, mas também não cheguei a desgostar.
Às tantas, uma dessas encomendas vai operar uma mudança fundamental na vida do nosso protagonista, pois traz consigo a propriedade mágica (e toda a tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia, não é verdade?) de organizar o que à sua volta está desorganizado. Seja roupa suja, seja um quarto desarrumado, seja um apartamento mergulhado no mais profundo dos caos... seja até outras coisas menos palpáveis.
Achei a ideia curiosa, mas julgo que o texto é um pouco longo demais e o desfecho irónico (ou mesmo satírico) cai algo de paraquedas no contexto da história. Os melhores finais surpresa são aqueles que são preparados desde o início e mesmo assim apanham os leitores em contrapé, e não é o que acontece aqui. Não gostei muito desta história, portanto, mas também não cheguei a desgostar.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Lido: Prisioneiro do Épouvante
Prisioneiro do Épouvante (bib.) é um extrato de um romance de Júlio Verne, Robur, o Conquistador. Este, proto-FC, é uma espécie de versão aérea das Vinte Mil Léguas Submarinas, na qual o protagonista se vê aprisionado a bordo de uma extraordinária máquina que pode funcionar como navio, submarino e avião e que é comandada por Robur, um quezilento, arrogante e totalitário génio muito semelhante ao Capitão Nemo. O extrato corresponde à parte do romance em que o protagonista, não muito depois de se ver aprisionado, começa a dar-se conta das capacidades do aparelho, com crescente espanto e no meio de peripécias aventureiras e planos de fuga apenas esboçados. Não é particularmente interessante, até porque não funciona lá muito bem como conto. O romance é bastante melhor.
Lido: Os Canibais
Os Canibais (bib.) é uma longa noveleta de Álvaro do Carvalhal que tem elementos de horror e um leve travo a proto-FC mas que no essencial é um melodrama bastante clássico, ainda que temperado de sátira. A base da história é um aristocrático triângulo amoroso entre uma dama que se perde de amores por um tal visconde de Aveleda e um seu pretendente, um tal D. João. Este é consumido por ciúmes e por planos de vingança violenta, mas o mistério reside naquele. É que ao que tudo indica o homem é feito de pedra, embora acabe de uma forma bastante... hm... orgânica, digamos assim.
Quanto à sátira, ela revela-se sobretudo nos apartes irónicos que o autor vai deixando ao longo de toda a narrativa, através dos quais desconstrói a própria história que conta e o modo como a conta o que, para um conto de meados do século XIX, é digno de nota. Foi este pormenor que mais me interessou nesta noveleta. O reverso da medalha, contudo, é que o autor, ao mesmo tempo que desmascara o ridículo da trama e até mesmo do estilo literário que emprega, utiliza esse estilo e desenvolve essa trama. Ou seja, não é por ser apontado a dedo pelo próprio autor que o ridículo desaparece. O estilo é empolado, hiperadjetivado, bastante aborrecido, e a trama é de um romantismo tão açucarado que ameaça causar diabetes... pelo menos até se chegar ao desfecho, a segunda mais interessante parte da história, ainda que prejudicada por sofrer de galopante inverosimilhança.
Suponho que esta história terá sido na época uma pedrada no charco, tendo decerto contribuído para tornar Carvalhal um autor maldito. E isso, na verdade, é o suficiente para a tornar relevante no contexto do fantástico português, em particular do oitocentista. Não posso dizer que me tenha agradado muito — se não houvesse mais motivos, histórias mui aristocráticas costumam encher-me de tédio — mas esta é das tais leituras que são obrigatórias para ter ideias sólidas sobre o que foi e é o fantástico português e quais as influências que mais impactaram sobre autores contemporâneos como António de Macedo. Não terá sido leitura muito prazerosa, portanto, mas foi bastante instrutiva.
Quanto à sátira, ela revela-se sobretudo nos apartes irónicos que o autor vai deixando ao longo de toda a narrativa, através dos quais desconstrói a própria história que conta e o modo como a conta o que, para um conto de meados do século XIX, é digno de nota. Foi este pormenor que mais me interessou nesta noveleta. O reverso da medalha, contudo, é que o autor, ao mesmo tempo que desmascara o ridículo da trama e até mesmo do estilo literário que emprega, utiliza esse estilo e desenvolve essa trama. Ou seja, não é por ser apontado a dedo pelo próprio autor que o ridículo desaparece. O estilo é empolado, hiperadjetivado, bastante aborrecido, e a trama é de um romantismo tão açucarado que ameaça causar diabetes... pelo menos até se chegar ao desfecho, a segunda mais interessante parte da história, ainda que prejudicada por sofrer de galopante inverosimilhança.
Suponho que esta história terá sido na época uma pedrada no charco, tendo decerto contribuído para tornar Carvalhal um autor maldito. E isso, na verdade, é o suficiente para a tornar relevante no contexto do fantástico português, em particular do oitocentista. Não posso dizer que me tenha agradado muito — se não houvesse mais motivos, histórias mui aristocráticas costumam encher-me de tédio — mas esta é das tais leituras que são obrigatórias para ter ideias sólidas sobre o que foi e é o fantástico português e quais as influências que mais impactaram sobre autores contemporâneos como António de Macedo. Não terá sido leitura muito prazerosa, portanto, mas foi bastante instrutiva.
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