sábado, 29 de novembro de 2008

Semana

Semana gira, esta. Parte do que a tornou gira está aqui escarrapachado em baixo, mas houve outras partes, mais ou menos com o mesmo sentido geral, de que não vale a pena estar aqui a falar.

Enfim...

Laboralmente, foi passada a saltitar entre a tradução de um livro e leituras prévias à tradução de outro, que tem prioridade. De modo que a tradução sofreu uma forte travagem. Vai na página 442, o que significa que a semana teve um saldo de 26 páginas e que faltam 311.

No wiki, ironicamente quanto baste, a semana foi produtiva, com 196 páginas novas que fizeram o total subir a 14 855.

Quanto a leituras, como acontece sempre que tenho leituras laborais a fazer, a leitura de lazer ficou muito reduzida. Acabei apenas um conto, Afrodite 2080, de Michel Demuth, um conto de ficção científica razoavelmente bom (e bem traduzido) sobre um náufrago espacial num planeta alienígena com uma ecologia bizarra, no meio duma guerra. De caras, o melhor conto do respectivo livro até agora.

E é só. Para a semana não deverá haver muito mais, afinal hei-de continuar com leituras laborais, mas alguma coisa haverá.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Se não for muito incómodo

Caros senhores da Webboo... erm... da Wook,

Se não for muito incómodo, gostaria de vos perguntar se será possível arranjarem um tempinho, entres as vossas super-hiperbolaparabolísticas mudanças de visual e as hiper-parabolasuperfantásticas campanhas de marketing, para manterem o site a funcionar durante tempo suficiente para que um cliente, digamos, normal, faça uma encomenda, digamos, normal. Será possível fazerem-nos esse obséquio?

Sim, porque há quem se esteja perfeitamente nas tintas para melhoramentos cosméticos nos sites e para a ínfima probabilidade de arranjar livros à borla, e se interesse por coisas fora de moda como, por exemplo, conseguir ter acesso aos sites e usá-los como se usa qualquer outro.

Até porque há mais livrarias na net. E se não conseguir comprar na Webboo... erm... na Wook, santa paciência, vou comprar a outro lado.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ah, os grandes, esses próceres

«Pois é, para verem que também os grandes tropeçam». Oh, que lindo é ver um grande homem ter a humildade de reconhecer que errou. Que alegria, que coisa de elevar o coração às alturas, que êxtase quase, diria eu, religioso. Como que se vê um halo de grandeza em volta da cabeça do prócer, só mais engrandecida ainda pelo reconhecimento do erro. Como que levita mais alto acima do pedestal da estátua equestre, qual monge budista em pleno nirvana. Cavalo e tudo.

As justificações do erro também são lindas de se ler. Que era o sono, a directa, os prazos, as casas, que havia factos a latir ao ouvido béu-béu-béu a dizer que não era assim, que o «bias» é perigoso, esse malandro, e ainda por cima um «bias» anglo-saxónico, portanto com muito mais nível do que o rasteirinho e lusitaníssimo viés, que provavelmente tira macacos do nariz e cheira mal dos pés. Oh, só vos digo, oh!

Mas voltemos à terra.

Curioso é que o Bibliowiki continue a ser tratado como pouco fiável, quando a informação que dele consta, neste caso concreto, é a certa, ao contrário da desinformação do João Seixas. Curioso é que depois do ataque à credibilidade de todo um projecto, com base em dados falsos, e por alguém que nunca moveu uma palha que fosse para que sejam corrigidas as falhas, omissões e erros que um site com quase quinze mil páginas necessariamente terá, se insista na sua infiabilidade, ainda que (vá lá) mitigada pelo «caos nas edições portuguesas». Curioso que a Biblioteca Nacional continue «descredibilizada de vez», sem saber como nem porquê. Curioso que a reacção ao duplo ataque seja atirada para a conta de «frustrações», enquanto o ataque propriamente dito e outras cutucadas menores passem sem sequer um simulacro de pedido de desculpa. Curioso que, em tudo isto, o autoproclamado «grande homem», que sabe onde eu estou, tem o meu número de telefone e conhece pelo menos dois dos meus endereços de correio electrónico, nunca tenha feito a mínima tentativa de me contactar com as dúvidas que diz que teve e provavelmente continuará a ter, a menos que voltem a ser substituídas por mais certezas falsas à próxima oportunidade. Curioso, curioso, curioso e mais uma camada de curioso a cobrir o bolo.

Sim, o fandom português tem problemas. E a presunção balofa, a diarreia verbal, o achar-se que só os «grandes homens» são inteligentes enquanto todos os outros não passam duma cambada de imbecis, ao mesmo tempo que se vai escrevendo asneira atrás de asneira, estão longe de ser os menores desses problemas. No fandom, e no país em geral.

E assim ponho uma pedra neste assunto, espero. Será preciso algo de muito grave para voltar a ele. É que tenho mais que fazer. Coisas a traduzir, por exemplo. Ou fazer o que as más-línguas não fazem: tornar o Bibliowiki um site melhor, mais completo e com menos erros, uma referência para o futuro o mais completa e correcta possível, e não uma série de lamentos sobre tristes tristezas disfarçados de artigos.

Lá está o número dezoito

Meio dia e dez, segunda-feira. O que é que ao longo dos últimos meses tem acontecido sempre que é meio-dia e dez e segunda-feira? Isso mesmo: aparece aqui na Lâmpada o anúncio de que mais um capítulo de Por Vós lhe Mandarei Embaixadores foi posto no blogue do romance dez minutos antes. E hoje não é excepção, com o décimo oitavo capítulo já disponível.

Este é curtinho e lê-se num instante, limitando-se a mostrar o momento em que o dirigível pousa para se dar início às cerimónias que marcam a transferência de poder ditada pela Tona. A coisa envolve desequilíbrios vários.

domingo, 23 de novembro de 2008

Tristes tristezas seixianas

O João Seixas gosta de falar mal. De tudo, de todos, menos dele e dos amiguinhos. E o último amor de estimação do João Seixas parece ser o Bibliowiki. Em vez de contribuir para o projecto, corrigindo os erros e omissões que necessariamente nele haverá, não: compraz-se em tentar destruir a credibilidade do projecto em posts sucessivos. É a atitude habitual na personagem, que já deixou um longo rasto de carinho, amizade e consideração e certamente contribui para transformar em sucesso tudo aquilo em que ele toca, e vá lá que pelo menos se conseguiu desta vez escapar a epítetos mais contumazes, pelo menos até ver.

Mas o mais divertido é que o João Seixas, que destrata o Bibliowiki por nem sempre ser credível, incorre, ele próprio, em erros de palmatória que, se eu quisesse ser mauzinho, diria que em muito diminuem o valor dele, João Seixas, como fonte de informação fiável e inteligente acerca do que quer que seja. O caso presente: o livro Estação de Trânsito de Clifford D. Simak, que é tema do seu último post.

Neste post, o João Seixas inventa que o livro em causa é o número 200 da colecção Argonauta, e parte para o ataque cerrado à Biblioteca Nacional (que é "descredibilizada de vez", pobre coitada) e ao Bibliowiki com base nesta inventona. Ora eu, como tenho o livro, sei que em nenhum sítio se diz que ele é o número 200 da colecção Argonauta. Se o João Seixas antes de falar mal usasse a massazinha cinzenta que tem debaixo do penteado, teria talvez reparado que no livro aparece apenas uma das habituais listas de livros da colecção, no caso a da Vampiro. O lado do volume duplo ocupado pelo romance do Simak vem sem lista de livros. Porquê?

Elementar, meu caro Seixas. Porque o volume duplo não é comemorativo dos 200 volumes das colecções Vampiro e Argonauta e sim apenas da Vampiro. Porque as duas colecções não são simultâneas, tendo a Vampiro surgido primeiro. De facto, a lista de livros da Argonauta que em tempos esteve publicada no site da Livros do Brasil listava o Estação de Trânsito com o número 130-A. Suponho, dadas as datas envolvidas numa e noutra edição (e partindo do princípio que esta informação é fidedigna, e não tenho motivo nenhum para supor que não seja), que a Livros do Brasil tenha resolvido editar este livro em separado mais tarde, mas não o quis incluir na numeração habitual da Argonauta, não me perguntem porquê.

E eu ao Seixas sugeriria que em vez de procurar por todas as formas desqualificar o trabalho alheio se esforçasse por ele próprio fazer um trabalho decente, porque há poucas coisas mais deprimentes do que ler artigos incompetentes cobertos por telhados de vidro rachados, em que se procura atirar pedras aos telhados dos vizinhos.

É só uma sugestão amigável que eu faço ao Seixas. Afinal de contas, convém que o homem conserve alguma credibilidade. E não é com posts destes que a conserva, muito pelo contrário.

sábado, 22 de novembro de 2008

Semana

Aqui há tempos, tinha planeado, na minha inocência e optimismo, que esta semana seria o início dumas pequenas férias que seriam aproveitadas para fazer uma série de coisas que ando a adiar há um ror de tempo. Santa ilusão. Entretanto apareceu-me mais uma pilha de trabalho a fazer, e lá se foram as férias. Só a carteira é que agradece.

Sim, já acabei todo o trabalho com o último livro (a menos que me peçam mais alguma coisa, uma sinopse ou coisa que o valha), e já comecei a mexer num dos próximos. "Num dos próximos" porque os meses que se seguem vão ser gastos a saltar de livro em livro para conseguir cumprir prazos apertados. Já o fiz antes, e curiosamente na mesma altura do ano, entre o fim do ano passado e o princípio deste, de modo que não é nada de particularmente estranho e faz-se. Mas para já ainda só mexi num deles, a continuação do livro do Martin que acabei na semana passada. Vai na página 416, o que significa que faltam 337.

Ainda foi dando para mexer no wiki, e até de uma forma razoavelmente produtiva. As 115 páginas que foram acrescentadas nesta semana levaram o total a subir a 14 659.

E leu-se umas coisas. Leu-se Lorelei, um conto de FC de Jacqueline H. Osterrath, muito fraquinho e com uma tradução bastante deficiente, sobre um planeta aquático cuja biosfera muda radicalmente em 100 anos (!), e um explorador soltário com segredos que são calmamente aceites por quem os vai investigar. Coisas do amor. Em estrangeiro, li aquilo que era suposto ser uma crónica mas é na verdade um pequeno conto de FC humorística onde Paul di Filippo extrapola até ao absurdo uma iniciativa editorial real que, obviamente, achou ridícula: romances policiais nos quais algumas das pistas são dadas sob a forma de palavras cruzadas. Chama-se a coisa Games Writers Play, e é divertida.

Em português do Brasil, li Sob o Signo de Xoth, de Carlos Orsi Martinho, um conto lovecraftiano francamente bom, no qual se entrelaça o cthulhu mythos com a política corrupta de uma cidadezinha brasileira e suas ligações com a imprensa e clube de futebol local, num todo muito bem conseguido. E também li A Criança Prodígio, de Octávio dos Santos, que é o melhor conto dele que li até agora. Um conto bastante interessante, próximo do horror, com uma escrita mais capaz do que é hábito no autor, e um final bem conseguido, sobre, como o próprio título indica, uma criança prodígio, cujo desenvolvimento e destino é relatado por um investigador num relatório confidencial.

E foi só. Para a semana haverá mais.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Byblos

A blogosfera literária (e não só) anda por aí toda com qualquer coisa aos saltos por causa do encerramento da Byblos. E eu, como também gostava de ter qualquer coisa aos saltos, resolvi também fazer o meu comentário a esse momento de transcendental importância. Nada como estar na moda. Portanto cá vai:

Nunca lá pus os pés.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Capítulo 17

Pois é, meus amiguinhos, o décimo sétimo capítulo de Por Vós lhe Mandarei Embaixadores já está a postos para ser lido no respectivo blogue.

E é de novo um capítulo com muito que ler, no qual a Tona chega finalmente ao fim, e já se sabe se vai haver, ou não, mudanças no topo da hierarquia do Estado. Há uma série de tradições que há que cumprir, mas a presença de um ET em plena moca vai forçar a algumas alterações. Começamos finalmente a ter contacto directo com o Meneres, mais uma das personagens de primeira linha da história.

sábado, 15 de novembro de 2008

Semana

Isto de arranjar maneiras originais para começar estas notas rotineiras sobre a semana que passou começa a tornar-se um desafio tão grande que qualquer dia dou por mim a falar do desafio que é arranjar maneiras originais para começ... ops. Tarde demais.

Bem, indo directamente ao que interessa, trabalhou-se. Terminou-se a revisão, fez-se um ficheiro com nomes geográficos, mandou-se tudo à editora, combinou-se algumas coisas para o futuro, e escolheu-se o extracto do próximo livro, que será entregue, provavelmente, na segunda-feira. E de trabalho é tudo.

No wiki, a semana não terá sido propriamente um prodígio de actividade, mas sempre mexeu um bocadinho, acabando com 68 páginas novas (e também uma série de correcções e acrescentos; nem tudo o que se faz no wiki é acrescentar material novo), o que sobe o total para 14 544.

E também se leu umas coisas.

Leu-se, por exemplo, O Homicídio, de Orlando Neves, um pequeno conto fantástico e irónico que se lê bem mas não é nada do outro mundo. Com este conto conclui-se a colectânea A Condecoração, que contém alguns contos muito bons e é em geral uma boa leitura, apesar de fraquejar um pouco para o final (o que, em meu entender, é sintoma de deficiente organização dos contos; o impacto de um livro de contos também depende da forma como começa e acaba). Mas está decididamente aprovado. Também se leu A Lenda do Motoqueiro Sem Cabeça, de Martha Argel, um conto de fantasmas contado por um taxista. É um conto bem concebido e competentemente escrito, mas prejudicado por se tornar previsível cedo demais (e, nisso, o facto de ser uma espécie de actualização de uma lenda antiga não ajuda). Com ele terminei o pequeno nº 6 do fanzine FicZine, e devo dizer que gostei dos dois contos que ele contém, em especial do primeiro.

Em estrangeiro, li The Sleeping Woman, de Robert Reed, um conto absolutamente maravilhoso, na fronteira entre o mainstream e o fantástico, que conta a história de um homem que um dia chega a casa do trabalho e encontra a mulher morta. Magnificamente escrito e estruturado, este conto (uma noveleta, na verdade) foi o melhor naco de prosa que li desde há muito tempo. Também li Footnote from the Official Guide to Time Travel, um pequeno poema de Robert Frazier que, em contraste, me deixou completamente "meh".

De volta ao português do Brasil, li Derby, de Marcello Simão Branco, um conto de FC no qual dois dos últimos fãs de bola que resistem num Brasil futuro assistem a um jogo e vão-no comentando por entre longos infodumps sobre como se foi dando a decadência da coisa. Muito mauzinho, infelizmente, tanto em termos de escrita como de estrutura. Igualmente mauzinho é Tesouros da Humanidade, de Octávio dos Santos, este escrito no nosso português. Trata-se de uma prédica, com uma situação cheia de detalhes aos quais não há suspensão da descrença que resista, e que ainda por cima se transforma de reunião de um tal Comité Central Cultural Mundial (que soa tão mal!) em conferência de imprensa sem que o autor pareça aperceber-se do facto ou importar-se com ele. A ideia? O CCCM estaria encarregue de determinar quais dos tesouros culturais da humanidade deviam ser encerrados numa espécie de arca de Noé para obviar à sua destruição... o que, noutras mãos, até podia dar um conto interessante. Não é o caso.

Mas a pior coisa que li esta semana foi O Sonho Mineral, de Nathalie Ch. Henneberg, um daqueles contos cheios de tralha new age que infestaram a FC numa certa época. Este comete a proeza de incluir um menu quase completo: pirâmides, cristais vivos e com poderes, os maias (subtilmente) as esculturas da Ilha de Páscoa, enfim, a família toda. A premissa básica é que Mercúrio explode sem motivo aparente, e pedras vivas provenientes de lá caem na Terra e subjugam a humanidade, facto que vai ser investigado por um viajante no tempo vindo do ano 2700. Para estragar o que já era mau, o conto é comprido (é uma noveleta) e está pessimamente traduzido. Brr! E ainda há quem fale mal da FC portuguesa actual.

E foi só isto. E não foi pouco, methinks.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Décimo sexto

O décimo sexto capítulo de Por Vós lhe Mandarei Embaixadores acabou de ser disponibilizado no blogue destinado ao efeito, rigorosamente à hora marcada.

Trata-se de mais um capítulo relativamente curto, no qual vamos acompanhar a preparação para o fim da Tona e nos é explicado o ritual que envolve tal acontecimento. O ET, entretanto, anda muito divertido. Pois pudera!...

sábado, 8 de novembro de 2008

Semana

Lá se foi mais uma, malta. A nossa Lua lá deu mais um quarto de volta em torno da Terra, e aqui estou eu uma vez mais a discorrer um bocadinho sobre a minha semana que passou.

Passou e deu para completar umas coisas. Acima de tudo, a tradução do próximo livro do Martin, claro. Está feita e meio revista, devendo ficar completamente revista dentro de alguns dias, após o que faltará apenas escolher um extracto para o próximo volume e traduzi-lo, preparar um ficheirito com os nomes do mapa que será incluído neste, mandar tudo à editora e receber o pagamento, que é sempre uma das partes agradáveis do trabalho.

No wiki, a semana não foi muito produtiva, com apenas 33 páginas novas que fizeram subir o total para 14 476, graças também a alguma ajuda externa.

E também houve uma série de coisas lidas.

Em estrangeiro, li Bazaar of the Bizarre, de Fritz Leiber, mais uma aventura do Fafhrd e do Rateiro Cinzento que desta vez os leva a confrontar-se com uma maligna instituição comercial que vende lixo magicamente disfarçado de preciosidades. Não pude deixar de sorrir com algumas associações que me vieram à cabeça. Ainda em estrangeiro, li OpenClose, de Terry Bisson, um conto de ficção científica muito curto e divertido (e assustador, também) sobre um homem que tem problemas com a IA do carro em plena zona de segurança de um aeroporto. Nada de superlativo, mas leu-se bem. Também li Something by the Sea, de Jeffrey Ford, uma fantasia surrealista e onírica, literariamente muito forte, mas que me deixou algo insatisfeito, com a sensação de haver ali muita forma e pouco conteúdo.

Em português, mas do Brasil, li Carta à Redação, de Braulio Tavares, outro conto epistolar sobre futebol que, não sendo mau, é ainda assim muito pior do que outras histórias do autor que já li. Este é história alternativa e consta de uma carta irritada de um leitor, que faz um apanhado de uma série de acontecimentos alo-histórico-futebolísticos e termina com a melhor parte do conto: o fim. Também história alternativa é Se Cortez Houvesse Vencido a Peleja de Cozumel, de Carla Cristina Pereira. Desta vez não estamos em presença de uma carta, mas de um artigo jornalístico ficcionado, no qual a jornalista realiza um exercício de reflexão histórica alternativa sobre quais poderiam ser as consequências de não se ter dado um acontecimento determinante na história do seu mundo. É um exercício bastante interessante, com uma história alternativa dentro da história alternativa, que foge ao facilitismo de dizer "ah, e tal, é como foi no nosso mundo", comum neste tipo de estrutura.

Em português de Portugal, li mais dois dos pequenos contos de Orlando Neves: O Feliz Parto, um continho insólito sobre uma mulher cujas sucessivas gravidezes redundam sempre em abortos, e Obsceno, o maior conto do livro, no qual um enviado do Vaticano comete um faux pas divertido num país de usos culturais muito peculiares. Ambos estão bem conseguidos, mas nenhum dos dois é tão bom como outros contos do livro. Também foram dois os contos lidos de Octávio dos Santos. Prisioneiro de Guerra é um conto de FC distópica sobre, claro, um prisioneiro numa guerra infindável. Francamente mau, quer literariamente, quer em termos de concepção e enredo. O Botão é bastante melhor: apesar de continuar a ter falhas ao nível da escrita, está razoavelmente bem concebido e tem um dos melhores finais que vi em contos deste autor. Também li A Vana, de Alain Dorémieux, uma história de amor de ficção científica entre um homem e o seu animal de estimação, que apesar de irracional e proveniente de um planeta distante é igualzinho a uma mulher. Gostei da construção do conto, gostei da linguagem, mas não gostei nada nem do absurdo biológico que contém nem do final moralista. Mediano menos, portanto. Por fim, de regresso ao português do Brasil, li Vanda Volta, Vingativa (tanto V), um conto de fantasmas de Giulia Moon que achei bastante bom, em particular na forma como consegue levar o leitor por caminhos enganadores.

E foi só isto. Até à semana que vem.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Congratulations America...

... for finally opening your collective eyes. You should have listened to us at least 4 years ago, but better late than never.

Agora vamos lá a ver o que faz o Obama. Uma coisa é certa: o apoio que o homem tem não só no seu país como no mundo inteiro abre-lhe portas que nenhum outro político do planeta consegue sequer entreabrir. A última vez que se viu um líder de primeira linha com este tipo de acolhimento foi com o Gorbatchov, e o mundo mudou radicalmente com ele, e, apesar de todos os fundamentalismos, para melhor. Os americanos e os americanófilos primários gostam de dizer que quem mudou o mundo nessa época foi o Reagan, mas não foi; com outra pessoa no Kremlin, as coisas teriam ficado na mesma. E os comunistas mais básicos que culpam o Gorbatchov pela falência do "socialismo real" estão voluntariamente a fechar os olhos à falência encoberta que ele foi encontrar, causada por um sistema que como todos os sistemas totalitários dependia demasiado da figura do líder e que não tinha um líder à altura desde Lenine.

Uma das coisas mais curiosas nas sociedades humanas é que um homem sozinho nunca é motor de mudança - esta acontece a um nível mais profundo e colectivo - mas pode ser ou o seu pivô ou o seu travão. Gorbatchov foi pivô da mudança nos anos 80, uma mudança que tinha vindo a ser travada durante longos anos pela múmia paralítica do Brejnev. Obama pode ser pivô de mudança na segunda década do século XXI que já pouco falta para estar aí. E esta mudança que aí vem é uma mudança única na história do planeta, uma mudança cujo verdadeiro motor é a globalização cultural a que já vimos a assistir há décadas mas se acelerou imensamente com a popularização da internet. Não é por acaso que é entre os jovens que Obama ganha com mais clareza. O momento que atravessamos é o dealbar de uma consciência verdadeiramente planetária de que estamos nisto todos juntos, queiramos ou não, de que o planeta é só um e é de todos, de que todos somos humanos, independentemente de coisas tão irrelevantes como a nacionalidade, o sexo ou a cor da pele, gente que tem as mesmas aspirações básicas, gente que se ri, comove e irrita com as mesmas coisas, gente que começa a aperceber-se de quais são as escolhas dos vizinhos que têm impacto sobre as suas vidas, e quer ter uma palavra a dizer acerca delas, e quais não são, quais são opções íntimas de cada um que não prejudicam e portanto não dizem respeito a ninguém, gente que começa a conseguir dar a importância devida à forma como nos vemos livres dos dejectos e às pessoas que levamos ou não levamos para a cama, ao barulho que fazemos e à cor da nossa pele ou à língua que falamos.

O Obama é um sintoma do dealbar dessa consciência. É o primeiro verdadeiro líder do século XXI. Que esteja à altura do desafio é o que lhe (nos) desejo. Porque se não estiver, será mais travão do que pivô. Mas acho que está. Tenho essa esperança. Agora cabe-nos também a nós encontrar líderes a sério para Portugal e para a Europa. Enquanto não o fazemos,

Congratulations, America!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A meio, mais ou menos, outra vez

Pois, foi colocado lá no blogue mais um capítulo de Por Vós lhe Mandarei Embaixadores, e desta feita passou-se já a metade também em número de páginas (ou seja, em quantidade de texto).

O capítulo de hoje é o 15º, e trata-se de mais um capítulo razoavelmente curto, no qual o que de mais relevante acontece é que o ET finalmente acorda. E Serra vê-se imediatamente em palpos de aranha.

domingo, 2 de novembro de 2008

Escrever, para quem?

De tudo o que aqui é dito (refiro-me, naturalmente, ao filme) uma coisa, acima de todas, vale a pena reter. Está mesmo no fim. Bradbury descobriu a dado ponto da sua carreira que o escritor não escreve para Fulano ou Beltrano; escreve para si próprio.

Por mais que custe aos egos dos leitores, que gostam de estabelecer uma relação quase pessoal com o escritor que escreve aquelas coisas que os tocam, por vezes, tão profundamente, é isso mesmo. Escritor que tente escrever para os outros é escritor que nunca deixará de ser medíocre, que nunca deixará de se limitar à superfície das coisas. Só escrevendo para si próprio é possível atingir a grandeza. Não que escrever para si a torne inevitável, longe disso, mas é a única coisa que a torna possível.

O mistério da escrita é muitas vezes esse. Como é que se passa de algo feito para si próprio, de algo capaz de satisfazer o crítico interno, capaz de tocar o nosso próprio âmago, para algo que desperte a curiosidade, o interesse, a apreciação e, nos casos mais bem sucedidos, a devoção, de outras pessoas. Desvendar este mistério tornaria a vida de toda a gente envolvida no grande mundo da literatura muito mais fácil. Falo por mim, que apesar de ter já passado por experiências semelhantes à que o Bradbury descreve, de terminar um conto e não propriamente rebentar em lágrimas mas sentir aquele aperto no peito que é o estágio imediatamente anterior (com este conto, por exemplo; aquela avó deve andar mesmo pelo lugar para onde vão as coisas que desaparecem), nunca consegui uma ligação tão forte, nem de perto nem de longe, como a que ele consegue estabelecer com os seus leitores. E escrevo para mim. Ou seja, sou a prova viva de que isso é importante, mas não chega.

Mesmo quando escrevo disparates, escrevo-os para mim. O Por Vós lhe Mandarei Embaixadores foi escrito para me divertir (e divertiu e continua a divertir), e também para resolver um velho trauma que a escola me causou ao obrigar-me à particularmente estúpida actividade de dividir orações nos Lusíadas. Resta saber é se diverte mais alguém. E se toda aquela brincadeira em volta do Camões tem interesse para alguém além de mim.

sábado, 1 de novembro de 2008

Semana

Olá cá estou eu, sete dias mais velho, sem brise nem contínuo. Foi uma semana algo atípica, pois na prática interrompi o trabalho durante um dia e tal para tratar de algumas coisas que queria resolver antes de Novembro.

Ainda assim, o livro está agora traduzido até à página 376, mais 46 do que na semana passada, faltando 14 para o fim. Durante a próxima semana será terminado, e começará a ser revisto, embora a revisão talvez só se conclua na outra semana a seguir. Seja como for, está quase.

No wiki mexeu-se, e o número de páginas é agora 14 443, o que quer dizer que a semana deu um lucro de 148. Ainda não terminou a transferência dos dados do antigo site estático para o wiki, mas está cada vez mais quase.

E também houve leituras e coisas que acabaram de ser lidas.

Terminei A Invenção de Leonardo, um romance de história alternativa de Paul J. McAuley que parte duma premissa instigante: e se Leonardo DaVinci tivesse dedicado a quase totalidade do seu génio à engenharia, levando a uma revolução industrial antecipada e deslocada da Inglaterra para Florença? Com este ponto de partida conseguir-se-iam escrever histórias magníficas, mas parece-me que não é o caso. McAuley vai pelo caminho mais fácil, montando uma teia de peripécias digna de um blockbuster de Hollywood, num excesso de fogo de artifício perfeitamente desnecessário. A tradução/revisão, cheia de gralhas, também não ajuda, e se não fosse a caracterização de uma Florença submersa, literal e figuradamente, nas invenções de Leonardo, que realmente está muitíssimo bem feita, a opinião sobre o livro seria má. Essa caracterização é o que acaba por, apesar de tudo, tornar a leitura interessante, embora aqueles que se pelam por livros que não páram um segundo, façam ou não sentido, tenham certamente opinião diferente da minha.

Também li A Minha Querida Pátria, Jogo do Botão, Rifão de Fernão Tanoeiro e Chamada Geral, quatro poemas de Mário-Henrique Leiria, dos quais não gostei lá muito. São os últimos textos da colectânea Novos Contos do Gin, livro repleto de brilhantismo, com uma série de mini-contos, vinhetas e contos curtos muitíssimo bons, exemplares até, e também com poemas que, em geral, me pareceram bastante piores. Se alguém me perguntasse, aconselharia vivamente a leitura, avisando, porém, que é bom manter presente a época em que foi sendo escrito: os últimos estertores da ditadura. Muitos dos contos do MHL ganham toda uma nova profundidade se nos lembrarmos desse facto.

Quanto a outras leituras, li O Rude Esporte Humano, conto de ficção científica de Adriana Simon e Gerson Lodi-Ribeiro, e não gostei. Um conto muito fraquinho, ocupado em grande parte por um imenso infodump, e que parece deixar demasiados pontos de fragilidade lógica em toda a situação que descreve. Lodi-Ribeiro é um escritor com provas dadas, mas aqui não esteve bem. Este terá sido mesmo o pior conto com participação sua que eu li até agora. Também li A Redução, mais um dos pequenos contos de Orlando Neves, entre o horror, o fantástico e o surrealismo. Aqui vamos encontrar uma gravidez anormal, e, embora outros contos do livro sejam melhores, este também não é mau. Em estrangeiro, li The Price of Pain-Ease de Fritz Leiber, um conto curioso que não é apenas mais uma aventura do Fafhrd e do Rateiro Cinzento, mas vai para lá disso. Por fim, li A Dama da Chuva, de Octávio dos Santos, um conto de fantasmas fracote, muito prejudicado por se tornar previsível desde a primeira página. Misericordiosamente, só tem três.

E pronto. Para a semana há mais.