Os contos tradicionais fartaram-se de viajar ao longo dos séculos, na companhia de comerciantes e mercadores, exércitos invasores ou bandos de fora-da-lei, emigrantes e refugiados, aventureiros, enfim, todas as espécies de nómadas, de gente que anda de um lado para o outro, levando consigo as histórias que aprendeu e transmitindo-as a quem nunca as tinha ouvido. Assim, as recolhas de contos tradicionais, mais ou menos alterados por quem as fez, e quase independentemente do país em que tenham sido feitas, estão repletas de histórias que são meras variantes umas das outras, e até de histórias praticamente idênticas. E isso torna-se particularmente claro quando se lê praticamente em simultâneo duas recolhas do género feitas por pessoas diferentes em dois países diferentes e em dois momentos diferentes. E é isso o que eu tenho vindo a fazer com este livro dos Irmãos Grimm e com o livro do Adolfo Coelho.
Já por várias vezes identifiquei em histórias de Adolfo Coelho versões de histórias de Grimm que tinha lido antes ou que já conhecia de miúdo. Mas este A Elsa Esperta é diferente: é praticamente uma cópia a papel químico de uma história lida há algum tempo no livro português, A Machadinha. Bem... exagero: a cópia não é assim tão perfeita. Há algumas diferenças, uma maior elaboração dos motivos neste conto dos Grimm, mais rodeios, mais gente a descer à adega, em suma, a história é contada de forma menos direta. Mas o enredo básico é precisamente igual e o resultado final também, e por isso praticamente tudo o que eu disse sobre o conto português se aplica ao alemão. Com um senão: o conto português era razoavelmente divertido; este nem por isso. Provavelmente porque eu já conhecia a "punch-line".
Contos anteriores deste livro:
sexta-feira, 31 de agosto de 2018
Lido: Kapapa
Antes de começar a escrever este texto estive a puxar pela memória, tentando lembrar-me se alguma vez tinha lido alguma coisa de José Luandino Vieira. É autor que tem presença há muitos anos na biblioteca dos meus pais, e por isso conheço-lhe bem o nome de o ver a passear-se pelas estantes cá de casa. Até me lembro de ter ido com os velhotes a um ou dois lançamentos de livros seus na biblioteca cá da terra. Mas não me consigo lembrar se esse conhecimento superficial do autor chegou alguma vez a transmutar-se em conhecimento de alguma obra sua até ao momento em que li Kapapa. Não consigo mesmo.
Mas sei que o texto deste livro não faz soar campainhas na lembrança, não do texto propriamente dito, que isso seria sempre altamente improvável (até porque, como vem escrito na ficha técnica do livro, "esta narrativa faz parte do romance Águas-do-Mar, o Guerrilheiro, inédito por incineração"), mas de estilo literário. E isso leva-me a concluir que provavelmente terá sido este o meu primeiro contacto com a prosa de Luandino.
Trata-se, pelo menos aqui, de uma prosa muito elaborada, muito poética, ajoujada sob o peso de tantas imagens, num português salpicado de termos africanos não sei ao certo de que língua ou línguas, mas provavelmente do kimbundo, ou não fosse o Luandino luandino se não de origem (nasceu em Portugal, em Vila Nova de Ourém) pelo menos de coração. Esta tensão entre o português e as línguas de Angola é o que está subjacente ao conto (pois de conto de trata, mesmo sendo extrato de romance incinerado; este é um daqueles livrinhos com tema marítimo publicados em formato muito reduzido por ocasião da Expo'98, e tem 50 páginas) e a resistência do protagonista à influência da língua europeia serve como espelho do colonialismo e da luta de libertação do povo de Angola, ou não tivesse estado o próprio Luandino profundamente empenhado nessa luta.
Em pano de fundo, uma trama marítima (na qual o mar se metamorfoseia em rio e vice-versa), pois o protagonista é pescador e parte para o mar desconhecido no seu barco de pesca, onde é confrontado com uma tormenta. Uma tormenta tão alegórica como tudo o resto, pois a referência é a luta de libertação de Angola e a forma como cada indivíduo, cada angolano, a ela reage — ou não fosse essa epopeia marítima pessoal fundida ao longo do conto com cenas de guerrilha propriamente dita. E eu, apesar de ter compreendido a ideia geral (acho) e de simpatizar com a ideologia subjacente, não gostei particularmente do conto. Convenhamos também que não pertenço ao público-alvo: o público a que este texto se destina é angolano e eu sou português, faltando-me portanto o conhecimento sobre os mais que muitos termos angolanos que Luandino usa, o que tornou o texto, a espaços, quase totalmente impenetrável. A prosa poética já por si tende a exigir mais do leitor do que a prosa objetiva; quando está repleta de termos desconhecidos, então...
Mas exemplifiquemos para perceberem do que falo. Escolhendo mais ou menos ao calhas, a páginas tantas (11) lê-se o seguinte: "As águas vungutavam, a canoa já dava de dançar, aproada; saltei, ximbiquei só de passar aqueles sete dibucos, ondas de senga do baixio até a canoa ficar menguenando no princípio do mar [...]" Percebem? E o texto é todo mais ou menos assim. Imagino que para um angolano com este substrato linguístico (que nem todos o têm; diferentes zonas de Angola têm diferentes línguas nacionais e nem todas sequer são línguas bantas) isto faça pleno sentido; para mim, português, faz muito pouco.
Este livro está disponível gratuitamente no site do Instituto Camões, aqui.
Mas sei que o texto deste livro não faz soar campainhas na lembrança, não do texto propriamente dito, que isso seria sempre altamente improvável (até porque, como vem escrito na ficha técnica do livro, "esta narrativa faz parte do romance Águas-do-Mar, o Guerrilheiro, inédito por incineração"), mas de estilo literário. E isso leva-me a concluir que provavelmente terá sido este o meu primeiro contacto com a prosa de Luandino.
Trata-se, pelo menos aqui, de uma prosa muito elaborada, muito poética, ajoujada sob o peso de tantas imagens, num português salpicado de termos africanos não sei ao certo de que língua ou línguas, mas provavelmente do kimbundo, ou não fosse o Luandino luandino se não de origem (nasceu em Portugal, em Vila Nova de Ourém) pelo menos de coração. Esta tensão entre o português e as línguas de Angola é o que está subjacente ao conto (pois de conto de trata, mesmo sendo extrato de romance incinerado; este é um daqueles livrinhos com tema marítimo publicados em formato muito reduzido por ocasião da Expo'98, e tem 50 páginas) e a resistência do protagonista à influência da língua europeia serve como espelho do colonialismo e da luta de libertação do povo de Angola, ou não tivesse estado o próprio Luandino profundamente empenhado nessa luta.
Em pano de fundo, uma trama marítima (na qual o mar se metamorfoseia em rio e vice-versa), pois o protagonista é pescador e parte para o mar desconhecido no seu barco de pesca, onde é confrontado com uma tormenta. Uma tormenta tão alegórica como tudo o resto, pois a referência é a luta de libertação de Angola e a forma como cada indivíduo, cada angolano, a ela reage — ou não fosse essa epopeia marítima pessoal fundida ao longo do conto com cenas de guerrilha propriamente dita. E eu, apesar de ter compreendido a ideia geral (acho) e de simpatizar com a ideologia subjacente, não gostei particularmente do conto. Convenhamos também que não pertenço ao público-alvo: o público a que este texto se destina é angolano e eu sou português, faltando-me portanto o conhecimento sobre os mais que muitos termos angolanos que Luandino usa, o que tornou o texto, a espaços, quase totalmente impenetrável. A prosa poética já por si tende a exigir mais do leitor do que a prosa objetiva; quando está repleta de termos desconhecidos, então...
Mas exemplifiquemos para perceberem do que falo. Escolhendo mais ou menos ao calhas, a páginas tantas (11) lê-se o seguinte: "As águas vungutavam, a canoa já dava de dançar, aproada; saltei, ximbiquei só de passar aqueles sete dibucos, ondas de senga do baixio até a canoa ficar menguenando no princípio do mar [...]" Percebem? E o texto é todo mais ou menos assim. Imagino que para um angolano com este substrato linguístico (que nem todos o têm; diferentes zonas de Angola têm diferentes línguas nacionais e nem todas sequer são línguas bantas) isto faça pleno sentido; para mim, português, faz muito pouco.
Este livro está disponível gratuitamente no site do Instituto Camões, aqui.
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
Lido: As Três Línguas
Muito curto, com duas páginas, pouco mais, este As Três Línguas é um conto tradicional que parece ter sido pouco alterado pelos Irmãos Grimm. Trata-se de uma fábula contaminada de catolicismo sobre os mal-entendidos da inteligência ou da falta dela, protagonizada por um rapaz cujo pai o achava burro porque ele "não conseguia aprender nada". Só que o rapaz na realidade aprendia, não o que o pai queria que aprendesse, é certo, mas as línguas dos animais. Pelo menos três. E essa aprendizagem leva-o a subir radicalmente na vida; no fim acaba em papa, nem mais nem menos.
É um conto tradicional muito típico, que corresponde bastante de perto ao que se encontra também nas recolhas feitas em Portugal: uma narrativa simples e apressada, temperada pelo maravilhoso, que pinta os acontecimentos de uma vida a pinceladas largas e traz consigo uma lição de moral, no caso a de que nem todos os conhecimentos são óbvios à primeira vista. Essa é a boa; há outra, mais negativa, pois esta história também pode ser interpretada como querendo passar a ideia que mais vale confiar na sorte e nos dons que as divindades (neste caso, claramente, o deus cristão) nos atribuem do que fazer algum esforço para se alcançar o que se deseja.
Contos anteriores deste livro:
É um conto tradicional muito típico, que corresponde bastante de perto ao que se encontra também nas recolhas feitas em Portugal: uma narrativa simples e apressada, temperada pelo maravilhoso, que pinta os acontecimentos de uma vida a pinceladas largas e traz consigo uma lição de moral, no caso a de que nem todos os conhecimentos são óbvios à primeira vista. Essa é a boa; há outra, mais negativa, pois esta história também pode ser interpretada como querendo passar a ideia que mais vale confiar na sorte e nos dons que as divindades (neste caso, claramente, o deus cristão) nos atribuem do que fazer algum esforço para se alcançar o que se deseja.
Contos anteriores deste livro:
Lido: Invasão Alienígena
Quando se reúnem contos de diversos autores numa publicação única, seja revista, antologia ou qualquer outra variante do mesmo tema, é inevitável que o resultado tenha alguma desigualdade. Não só há sempre uns contos melhores que outros, como há também inevitavelmente alguns autores que ressoam melhor ou pior com cada um dos leitores da obra. Este facto é tão intrínseco a este tipo de publicações, e pouco importa se o tema é livre, se existe tema comum ou até se as histórias pertencem a um universo partilhado, que nem valeria a pena fazer-lhe menção, se não se desse o caso de ser mencionado com frequência de forma depreciativa quando as pessoas falam de revistas ou antologias.
E se não se desse também o caso de por vezes se exagerar na dose.
É este último o caso deste Invasão Alienígena, antologia temática sobre aquilo que a intitula, título que só por si já indica imediatamente que estamos perante ficção científica. Foi organizada e publicada em ebook por Ademir Pascale, que também contribui com um conto (a que chama introdução, mas que não deixa por isso de ser conto). O volume virtual inclui contos que vão do excelente, Nas Catacumbas de Luiz Bras, ao péssimo, Invasão Retomada de Macelo Bighetti, incluindo tudo o que se possa imaginar de permeio, e até um erro de casting, O Hóspede de Flávia Muniz, e é prejudicado por essa variabilidade tão intensa, demonstrando que não, contrariamente ao que por vezes se sugere não é por as antologias serem temáticas que elas ganham mais coesão interna. Nem em universo partilhado existe verdadeira coesão quando a qualidade dos textos varia brutalmente entre uns e outros. Pelo contrário, uma antologia de tema livre com textos de um nível de qualidade regular (e para isto não importa se elevado, médio ou baixo) é uma publicação coesa.
Esta não o é, bem longe disso. Creio que nem chega a ser uma antologia mediana, apesar dos contos bons que contém. Por outro lado, e como eu digo sempre, basta que numa publicação exista um conto excelente ou dois ou três bons para essa publicação ter valido plenamente a pena, e é o que acontece aqui. Bastaria o conto do Luiz Bras para dar a esta Invasão Alienígena razão para existir, mas ainda há os do Gian Danton, do Claudio Parreira, do Roberto Causo e até do Gerson Lodi-Ribeiro, apesar de ser talvez o pior conto dele que eu já li, a contribuir para que valha a leitura.
Eis o que achei dos contos individualmente considerados:
E se não se desse também o caso de por vezes se exagerar na dose.
É este último o caso deste Invasão Alienígena, antologia temática sobre aquilo que a intitula, título que só por si já indica imediatamente que estamos perante ficção científica. Foi organizada e publicada em ebook por Ademir Pascale, que também contribui com um conto (a que chama introdução, mas que não deixa por isso de ser conto). O volume virtual inclui contos que vão do excelente, Nas Catacumbas de Luiz Bras, ao péssimo, Invasão Retomada de Macelo Bighetti, incluindo tudo o que se possa imaginar de permeio, e até um erro de casting, O Hóspede de Flávia Muniz, e é prejudicado por essa variabilidade tão intensa, demonstrando que não, contrariamente ao que por vezes se sugere não é por as antologias serem temáticas que elas ganham mais coesão interna. Nem em universo partilhado existe verdadeira coesão quando a qualidade dos textos varia brutalmente entre uns e outros. Pelo contrário, uma antologia de tema livre com textos de um nível de qualidade regular (e para isto não importa se elevado, médio ou baixo) é uma publicação coesa.
Esta não o é, bem longe disso. Creio que nem chega a ser uma antologia mediana, apesar dos contos bons que contém. Por outro lado, e como eu digo sempre, basta que numa publicação exista um conto excelente ou dois ou três bons para essa publicação ter valido plenamente a pena, e é o que acontece aqui. Bastaria o conto do Luiz Bras para dar a esta Invasão Alienígena razão para existir, mas ainda há os do Gian Danton, do Claudio Parreira, do Roberto Causo e até do Gerson Lodi-Ribeiro, apesar de ser talvez o pior conto dele que eu já li, a contribuir para que valha a leitura.
Eis o que achei dos contos individualmente considerados:
- Carta do Futuro
- Nas Catacumbas
- Invasão Retomada
- Todo o Silício do Mundo...
- O Grande Besouro
- O Dia em que Eles Cansaram de Esperar
- Perdidão
- Infiltrado
- O Hóspede
terça-feira, 28 de agosto de 2018
Lido: Já Sinto
Conhecem o termo terrir? É uma palavra de cunho relativamente recente que serve para designar aquelas narrativas que unem temas típicos do terror (o macabro, o sanguinolento, o sobrenatural e as suas medonhas criaturas, etc.) à comédia ou pelo menos a uma abordagem bem-humorada à coisa. Pois bem: Já Sinto, conto cujo protagonista de chama Jacinto, é uma dessas narrativas.
Neste conto curto macabro de Carina Portugal, Jacinto é um coveiro, à primeira vista humano, cuja principal responsabilidade parece ser impedir que os mortos-vivos, apropriadamente desmiolados, saiam das tumbas, ou pelo menos do cemitério, e se ponham a vaguear pela cidade à procura dos miolos que lhes faltam. Talvez não todos os dias, mas pelo menos na noite de 31 de outubro, véspera do dia de todos os santos. Como faz ele isso? À pazada, claro está, embora tenha outros métodos lá dele se a pazada não for suficiente. E é isso o que o conto conta.
E conta-o em geral bem, embora haja alguns detalhes que uma revisão feita por um revisor ou editor que soubesse do seu ofício não deixaria passar. Exemplo: a frase "O olhar de alguns mortos voltaram-se de imediato para ele" é incorreta porque é o olhar que se volta, não os mortos, logo devia ser "voltou-se" e não "voltaram-se". Mas sim, o conto está engraçado e de um modo geral bem escrito.
Conto anterior deste livro:
Neste conto curto macabro de Carina Portugal, Jacinto é um coveiro, à primeira vista humano, cuja principal responsabilidade parece ser impedir que os mortos-vivos, apropriadamente desmiolados, saiam das tumbas, ou pelo menos do cemitério, e se ponham a vaguear pela cidade à procura dos miolos que lhes faltam. Talvez não todos os dias, mas pelo menos na noite de 31 de outubro, véspera do dia de todos os santos. Como faz ele isso? À pazada, claro está, embora tenha outros métodos lá dele se a pazada não for suficiente. E é isso o que o conto conta.
E conta-o em geral bem, embora haja alguns detalhes que uma revisão feita por um revisor ou editor que soubesse do seu ofício não deixaria passar. Exemplo: a frase "O olhar de alguns mortos voltaram-se de imediato para ele" é incorreta porque é o olhar que se volta, não os mortos, logo devia ser "voltou-se" e não "voltaram-se". Mas sim, o conto está engraçado e de um modo geral bem escrito.
Conto anterior deste livro:
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
Lido: Maelstrom
Na opinião que deixei ao primeiro livro desta série de Peter Watts, Starfish, queixei-me de que a ficção científica tendeu demasiado, ao longo da sua história e pesem embora algumas exceções relevantes, a ignorar o mundo submarino quando comparado com as regiões exteriores ao nosso planeta. E saudei esse livro por ir contra a corrente. Tinha portanto a expetativa de que este Maelstrom continuasse na senda do livro anterior, dedicando às regiões submersas da Terra a atenção que lhes é devida.
Pois enganei-me.
Maelstrom retoma a história onde Starfish a deixou e, embora no primeiro post eu tenha conseguido não deixar spoilers quase nenhuns, a partir daqui isso torna-se impossível. Estão avisados? Querem mesmo assim continuar? Então vamos lá.
No fim de Starfish, quem tem poder para isso decide tomar uma opção drástica para tentar conter a infeção da nossa biosfera pelos organismos da biosfera abissal, designados como ßehemoth, pois, segundo as conclusões da investigação, não fazer nada, deixar os simbiontes à solta, iria causar uma catástrofe à escala global. E a contenção terá de ser rápida: é que análises ao sangue dos tripulantes da estação de monitorização mostram-nos já irremediavelmente contaminados. A solução? Fazer-se explodir um engenho nuclear perto da estação e, portanto, da dorsal Juan de Fuca, garantindo assim que nenhuma daquelas pessoas, nada que esteja contaminado, voltará algum dia à superfície. Mas aquelas pessoas não são nem passivas nem estúpidas, muito menos ingénuas; pelo contrário, tudo nas suas vidas as dotou de doses substanciais de paranoia, e o plano falha.
Porque os aquanautas fogem. Talvez não todos (não fica claro), mas pelo menos dois, e em particular um, a protagonista do livro (e da série, aparentemente): Lennie Clarke, uma mulher vítima de abuso, tornada anfíbia para sobreviver nas profundezas, o que acaba por dar uma inestimável ajuda à sua sobrevivência, com uma abordagem muito niilista ao mundo que a fez como fez mas com uma inabalável determinação em sobreviver. Essa determinação leva-a a vir dar à costa Oeste da América do Norte, onde a situação geopolítica já não é a que temos hoje (o futuro de Watts é profundamente distópico, e já o era antes mesmo da emergência ecológica ser declarada) e a geográfica também não, pois a explosão em Juan de Fuca desencadeou um gigantesco terramoto acompanhado de tsunami, que arrasou e alterou profundamente a costa pacífica da América do Norte. De qualquer forma ela seria irreconhecível, pois está transformada numa gigantesca zona de ninguém onde se acumulam milhares e milhares de refugiados vindos da Ásia e do Pacífico, em sobrevivência precária.
O gigantesco campo de refugiados está isolado do resto do continente, mas Lennie Clarke é uma mulher cheia de recursos e, auxiliada pelo seu equipamento anfíbio, escapa, penetrando pelo território do nosso Canadá dentro, contaminando todos os lugares que toca. E não é ela o único vetor do cataclismo, pois o ciberespaço de Watts é uma autêntica selva de IAs virais, todas a procurar sobreviver e multiplicar-se enquanto se defendem e escondem dos bots e dos operadores humanos que tentam identificá-las e eventualmente exterminá-las, e um dos principais vetores do romance é o que vai acontecendo no Maelstrom, um redemoinho de organismos cibernéticos, descendente longínquo (ou talvez não tão longínquo assim) da internet que hoje temos, onde Lennie Clarke se transforma em meme, usado por uma linhagem de vírus para se multiplicar mais eficazmente, o que vai ter como consequência que os agentes encarregados de a apanhar para controlar a disseminação do ßehemoth ficam praticamente cegos.
E o romance é isso: uma caçada em que Lennie Clarke é simultaneamente presa, caçadora e vetor de catástrofe, ao mesmo tempo inocente e culpada, celebridade involuntária quando se torna absolutamente por acaso ícone da contracultura, da contestação ao status quo. É essa caçada que serve de motor ao romance, mas a ela junta-se uma elaboração do universo ficcional tão detalhista como seria de esperar da ficção científica mais dura e uma reflexão muito interessante sobre a moralidade do assassínio seletivo para a (incerta) salvação de milhões e os dilemas a que uma decisão dessas pode levar quem tem necessidade de a tomar.
Simultaneamente, a construção do futuro de Watts também tem vastos motivos de interesse. O paralelismo que ele faz entre a evolução biológica e a muito acelerada evolução dos sistemas virais de software é fascinante, faz pensar e podia perfeitamente ser usada para ensinar a ligação que existe entre o acaso, as mutações e a sobrevivência dos mais aptos, e a própria tensão entre a biosfera normal e aquela que a invade com o surgimento do ßehemoth tem aspetos interessantíssimos, em especial para leitores ligados de uma forma ou de outra às ciências biológicas (como é o meu caso).
Em suma, este é outro livro de ficção científica bastante bom, e de que gostei bastante apesar do meu desapontamento com o abandono quase completo dos espaços subaquáticos em prol de ambientes mais comuns na FC em geral e no ciberpunk em particular. E sim, tal como o volume anterior também este está disponível para download ou leitura, em vários formatos, no site do autor, sob a mesma licença Crative Commons. Toca a ler.
Pois enganei-me.
Maelstrom retoma a história onde Starfish a deixou e, embora no primeiro post eu tenha conseguido não deixar spoilers quase nenhuns, a partir daqui isso torna-se impossível. Estão avisados? Querem mesmo assim continuar? Então vamos lá.
No fim de Starfish, quem tem poder para isso decide tomar uma opção drástica para tentar conter a infeção da nossa biosfera pelos organismos da biosfera abissal, designados como ßehemoth, pois, segundo as conclusões da investigação, não fazer nada, deixar os simbiontes à solta, iria causar uma catástrofe à escala global. E a contenção terá de ser rápida: é que análises ao sangue dos tripulantes da estação de monitorização mostram-nos já irremediavelmente contaminados. A solução? Fazer-se explodir um engenho nuclear perto da estação e, portanto, da dorsal Juan de Fuca, garantindo assim que nenhuma daquelas pessoas, nada que esteja contaminado, voltará algum dia à superfície. Mas aquelas pessoas não são nem passivas nem estúpidas, muito menos ingénuas; pelo contrário, tudo nas suas vidas as dotou de doses substanciais de paranoia, e o plano falha.
Porque os aquanautas fogem. Talvez não todos (não fica claro), mas pelo menos dois, e em particular um, a protagonista do livro (e da série, aparentemente): Lennie Clarke, uma mulher vítima de abuso, tornada anfíbia para sobreviver nas profundezas, o que acaba por dar uma inestimável ajuda à sua sobrevivência, com uma abordagem muito niilista ao mundo que a fez como fez mas com uma inabalável determinação em sobreviver. Essa determinação leva-a a vir dar à costa Oeste da América do Norte, onde a situação geopolítica já não é a que temos hoje (o futuro de Watts é profundamente distópico, e já o era antes mesmo da emergência ecológica ser declarada) e a geográfica também não, pois a explosão em Juan de Fuca desencadeou um gigantesco terramoto acompanhado de tsunami, que arrasou e alterou profundamente a costa pacífica da América do Norte. De qualquer forma ela seria irreconhecível, pois está transformada numa gigantesca zona de ninguém onde se acumulam milhares e milhares de refugiados vindos da Ásia e do Pacífico, em sobrevivência precária.
O gigantesco campo de refugiados está isolado do resto do continente, mas Lennie Clarke é uma mulher cheia de recursos e, auxiliada pelo seu equipamento anfíbio, escapa, penetrando pelo território do nosso Canadá dentro, contaminando todos os lugares que toca. E não é ela o único vetor do cataclismo, pois o ciberespaço de Watts é uma autêntica selva de IAs virais, todas a procurar sobreviver e multiplicar-se enquanto se defendem e escondem dos bots e dos operadores humanos que tentam identificá-las e eventualmente exterminá-las, e um dos principais vetores do romance é o que vai acontecendo no Maelstrom, um redemoinho de organismos cibernéticos, descendente longínquo (ou talvez não tão longínquo assim) da internet que hoje temos, onde Lennie Clarke se transforma em meme, usado por uma linhagem de vírus para se multiplicar mais eficazmente, o que vai ter como consequência que os agentes encarregados de a apanhar para controlar a disseminação do ßehemoth ficam praticamente cegos.
E o romance é isso: uma caçada em que Lennie Clarke é simultaneamente presa, caçadora e vetor de catástrofe, ao mesmo tempo inocente e culpada, celebridade involuntária quando se torna absolutamente por acaso ícone da contracultura, da contestação ao status quo. É essa caçada que serve de motor ao romance, mas a ela junta-se uma elaboração do universo ficcional tão detalhista como seria de esperar da ficção científica mais dura e uma reflexão muito interessante sobre a moralidade do assassínio seletivo para a (incerta) salvação de milhões e os dilemas a que uma decisão dessas pode levar quem tem necessidade de a tomar.
Simultaneamente, a construção do futuro de Watts também tem vastos motivos de interesse. O paralelismo que ele faz entre a evolução biológica e a muito acelerada evolução dos sistemas virais de software é fascinante, faz pensar e podia perfeitamente ser usada para ensinar a ligação que existe entre o acaso, as mutações e a sobrevivência dos mais aptos, e a própria tensão entre a biosfera normal e aquela que a invade com o surgimento do ßehemoth tem aspetos interessantíssimos, em especial para leitores ligados de uma forma ou de outra às ciências biológicas (como é o meu caso).
Em suma, este é outro livro de ficção científica bastante bom, e de que gostei bastante apesar do meu desapontamento com o abandono quase completo dos espaços subaquáticos em prol de ambientes mais comuns na FC em geral e no ciberpunk em particular. E sim, tal como o volume anterior também este está disponível para download ou leitura, em vários formatos, no site do autor, sob a mesma licença Crative Commons. Toca a ler.
Lido: Arco-Íris da Gravidade
Não sei bem que livro será mais aconselhável como introdução à escrita de Thomas Pynchon, mas suspeito que este Arco-Íris da Gravidade será dose demasiado pesada para iniciar a maioria das pessoas, e falo não só em sentido figurado mas também num sentido muito literal: a edição portuguesa é um mastodonte de 1021 páginas de linhas longas e razoavelmente apertadas e quase quilo e meio de peso, e esse gigantismo reflete-se na estrutura do próprio romance, o qual contém um imenso conjunto de personagens, várias das quais desaparecem por completo ao longo de centenas de páginas para reaparecerem de repente mais tarde, aparentemente caídas do céu por não terem unhas.
Não há grande complexidade na história básica (uma busca, entre os últimos anos da II Guerra Mundial e os anos subsequentes à guerra, de uma arma secreta alemã, um misterioso aparelho chamado schwarzgerät, o qual estaria instalado num foguete V2 com um número de série especial), mas as ramificações dessa história e tudo o que Pynchon decide somar-lhe transformam o romance num autêntico labirinto.
Leitores e estudiosos com muito mais paciência (e tempo disponível) do que eu já se dedicaram a escalpelizar detalhadamente todo o manancial de influências, temas, piscadelas de olho, detalhes estruturais, trocadilhos e jogos de palavras e dezenas de eteceteras que o romance contém, portanto só falarei aqui de algumas coisas muito básicas e de um punhado de ideias que a sua leitura me deixou. É livro que dá para teses de doutoramento em literatura; isto é uma opinião pessoal de leitura num blogue.
O livro divide-se em quatro partes. A primeira, com as suas 238 páginas, já tem o tamanho de muitos romances e desenrola-se em Inglaterra, mais especificamente em Londres em pleno Blitz. Esta primeira parte define o tom do romance, centrando-se numa investigação, levada a cabo pelos agentes de uma agência de guerra psicológica, sobre a relação existente entre os pontos de impacto das V2 alemães e os locais dos encontros sexuais daquele que é, pelo menos na aparência, o protagonista do romance: Slothrop, um agente secreto americano e que parece ter capacidades premonitivas. Já aqui, como se vê, surge pelo menos a sugestão de algo de fantástico, algum piscar do olho, até, à ficção científica, mas o tom do texto acaba por ser muito mais alucinatório ou onírico do que concreto. E irónico, e sem tabus, e por aí fora. Pós-moderno, em suma.
A segunda parte que, com meras 132 páginas (também muitos livros há que são mais curtos do que isso) é a mais breve das quatro, tem lugar ainda durante a guerra, num casino situado na Riviera francesa, região já libertada pelas forças aliadas, para onde Slothrop é enviado por motivos que nunca chegam a ficar claros (de resto, a falta de clareza é uma constante no livro todo), e onde a sensação mais relevante é a de uma imensa paranoia. De novo temos episódios que tanto podem ser encarados como alucinatórios quanto podem ser vistos sob o prisma do fantástico ou até, de raspão, da ficção científica.
A terceira parte é de longe a maior das quatro, com as suas 450 páginas, e consiste de uma infindável deambulação do Slothrop pela Alemanha destruída do pós-guerra enquanto procura o tal schwarzgerät e vai encontrando umas personagens bizarras atrás das outras (sendo ele próprio uma das mais bizarras), numa multiplicidade de episódios que continuam a mostrar o mesmo caráter alucinatório que se encontra em partes anteriores, interrompidos frequentemente por canções. Foi esta parte do livro que mais contribuiu para a impressão geral que ele me deixou, como de resto é natural dada a sua extensão.
Por fim, a quarta parte conclui o livro com mais 192 páginas. Esta é a parte mais complexa de todas. São várias as personagens que tínhamos perdido de vista durante centenas de páginas e reencontramos aqui, o romance ganha uma não-linearidade bastante intensa, pois não só Slothrop é assaltado por alucinações (ou episódios de presciência, talvez?) que nos levam a, entre outros sítios, uma distopia fascista futurista, a parte do romance em que ele roça mais claramente na ficção científica, como mais tarde a ação se transfere para os anos 70, entrecortada por numerosos regressos aos tempos da guerra. Tudo isto salpicado por histórias aparentemente laterais a todo o enredo, cada uma mais bizarra do que a outra e todas elas mais ou menos fantásticas. Slothrop desintegra-se numa espécie de loucura paranoica e alucinada, numa dissolução pessoal que espelha em grande medida a dissolução social e económica que o rodeia.
Eu respeito bastante o que Pynchon tentou fazer aqui. O tema da desintegração pessoal, ligado à desintegração social provocada pela guerra, qualquer guerra, a sugestão de que tempos enlouquecidos promovem a loucura individual, é algo que me parece muito bem sucedido neste livro ao mesmo tempo que ressoa comigo, ou seja não só respeito como gosto. O mesmo se passa com uma irreverência generalizada, que percorre todo o livro, uma ironia corrosiva que procura subverter tudo. Outras coisas há de que não gosto por aí além, mas respeito na mesma, em especial o labirintismo do enredo, o imenso novelo de pontas que Pynchon deixa soltas durante páginas e mais páginas e mais páginas para voltar a amarrar (nem sempre de forma particularmente definitiva, há que dizê-lo) mais à frente. Mas isto tem uma forte ligação a algo de que definitivamente não gosto.
É que acabo a leitora com a sensação de que o livro podia ter pouco mais de metade das páginas que tem sem que com isso se perdesse grande coisa. Não foram raros os momentos, em especial naquela interminável terceira parte, em que interrompi a leitura e fechei o livro, farto de mais uma deambulação irrelevante, de mais um diálogo que nada acrescenta, de mais uma nota de paranoia a somar-se a dezenas de outras. Assaltado por uma intensa sensação de que não estava a obter nada da leitura, de que estava apenas a perder tempo.
Juntando a isso uma omnipresente temática metafísica, que costuma dizer-me pouco ou nada, uma tradução que ora tem momentos de puro génio (e não o digo só para ser simpático; há soluções de tradução verdadeiramente geniais), especialmente nos muitos poemas que pontilham o livro, ora se perde numa selva de eles e elas e seus e anglicismos semânticos (as genialidades mencionadas acima levam-me a suspeitar que isto aconteceu por falta de tempo para fazer uma revisão cuidada; traduzir um livro destes é trabalho duríssimo e muito demorado e eu nem invejo o tradutor nem lhe censuro realmente as falhas, digo apenas que elas acabam por ter o seu impacto na experiência global de leitura) e também, porque também tem relevância, uma experiência física de leitura francamente incómoda (experimentem segurar durante muito tempo num livro com quase quilo e meio de peso), o resultado é um daqueles livros a que reconheço a qualidade mas cuja leitura me deu comparativamente pouco. Não posso dizer que não tenha gostado, globalmente, mas este livro de Pynchon ficou muito, muito longe de se transformar num dos meus livros preferidos. Seja como for, não é livro para ser compreendido por inteiro à primeira, portanto decerto que tem facetas que me passaram despercebidas. Não sei é se algum dia voltarei a ele; a vida é mais curta que comprida.
Este livro foi comprado.
Não há grande complexidade na história básica (uma busca, entre os últimos anos da II Guerra Mundial e os anos subsequentes à guerra, de uma arma secreta alemã, um misterioso aparelho chamado schwarzgerät, o qual estaria instalado num foguete V2 com um número de série especial), mas as ramificações dessa história e tudo o que Pynchon decide somar-lhe transformam o romance num autêntico labirinto.
Leitores e estudiosos com muito mais paciência (e tempo disponível) do que eu já se dedicaram a escalpelizar detalhadamente todo o manancial de influências, temas, piscadelas de olho, detalhes estruturais, trocadilhos e jogos de palavras e dezenas de eteceteras que o romance contém, portanto só falarei aqui de algumas coisas muito básicas e de um punhado de ideias que a sua leitura me deixou. É livro que dá para teses de doutoramento em literatura; isto é uma opinião pessoal de leitura num blogue.
O livro divide-se em quatro partes. A primeira, com as suas 238 páginas, já tem o tamanho de muitos romances e desenrola-se em Inglaterra, mais especificamente em Londres em pleno Blitz. Esta primeira parte define o tom do romance, centrando-se numa investigação, levada a cabo pelos agentes de uma agência de guerra psicológica, sobre a relação existente entre os pontos de impacto das V2 alemães e os locais dos encontros sexuais daquele que é, pelo menos na aparência, o protagonista do romance: Slothrop, um agente secreto americano e que parece ter capacidades premonitivas. Já aqui, como se vê, surge pelo menos a sugestão de algo de fantástico, algum piscar do olho, até, à ficção científica, mas o tom do texto acaba por ser muito mais alucinatório ou onírico do que concreto. E irónico, e sem tabus, e por aí fora. Pós-moderno, em suma.
A segunda parte que, com meras 132 páginas (também muitos livros há que são mais curtos do que isso) é a mais breve das quatro, tem lugar ainda durante a guerra, num casino situado na Riviera francesa, região já libertada pelas forças aliadas, para onde Slothrop é enviado por motivos que nunca chegam a ficar claros (de resto, a falta de clareza é uma constante no livro todo), e onde a sensação mais relevante é a de uma imensa paranoia. De novo temos episódios que tanto podem ser encarados como alucinatórios quanto podem ser vistos sob o prisma do fantástico ou até, de raspão, da ficção científica.
A terceira parte é de longe a maior das quatro, com as suas 450 páginas, e consiste de uma infindável deambulação do Slothrop pela Alemanha destruída do pós-guerra enquanto procura o tal schwarzgerät e vai encontrando umas personagens bizarras atrás das outras (sendo ele próprio uma das mais bizarras), numa multiplicidade de episódios que continuam a mostrar o mesmo caráter alucinatório que se encontra em partes anteriores, interrompidos frequentemente por canções. Foi esta parte do livro que mais contribuiu para a impressão geral que ele me deixou, como de resto é natural dada a sua extensão.
Por fim, a quarta parte conclui o livro com mais 192 páginas. Esta é a parte mais complexa de todas. São várias as personagens que tínhamos perdido de vista durante centenas de páginas e reencontramos aqui, o romance ganha uma não-linearidade bastante intensa, pois não só Slothrop é assaltado por alucinações (ou episódios de presciência, talvez?) que nos levam a, entre outros sítios, uma distopia fascista futurista, a parte do romance em que ele roça mais claramente na ficção científica, como mais tarde a ação se transfere para os anos 70, entrecortada por numerosos regressos aos tempos da guerra. Tudo isto salpicado por histórias aparentemente laterais a todo o enredo, cada uma mais bizarra do que a outra e todas elas mais ou menos fantásticas. Slothrop desintegra-se numa espécie de loucura paranoica e alucinada, numa dissolução pessoal que espelha em grande medida a dissolução social e económica que o rodeia.
Eu respeito bastante o que Pynchon tentou fazer aqui. O tema da desintegração pessoal, ligado à desintegração social provocada pela guerra, qualquer guerra, a sugestão de que tempos enlouquecidos promovem a loucura individual, é algo que me parece muito bem sucedido neste livro ao mesmo tempo que ressoa comigo, ou seja não só respeito como gosto. O mesmo se passa com uma irreverência generalizada, que percorre todo o livro, uma ironia corrosiva que procura subverter tudo. Outras coisas há de que não gosto por aí além, mas respeito na mesma, em especial o labirintismo do enredo, o imenso novelo de pontas que Pynchon deixa soltas durante páginas e mais páginas e mais páginas para voltar a amarrar (nem sempre de forma particularmente definitiva, há que dizê-lo) mais à frente. Mas isto tem uma forte ligação a algo de que definitivamente não gosto.
É que acabo a leitora com a sensação de que o livro podia ter pouco mais de metade das páginas que tem sem que com isso se perdesse grande coisa. Não foram raros os momentos, em especial naquela interminável terceira parte, em que interrompi a leitura e fechei o livro, farto de mais uma deambulação irrelevante, de mais um diálogo que nada acrescenta, de mais uma nota de paranoia a somar-se a dezenas de outras. Assaltado por uma intensa sensação de que não estava a obter nada da leitura, de que estava apenas a perder tempo.
Juntando a isso uma omnipresente temática metafísica, que costuma dizer-me pouco ou nada, uma tradução que ora tem momentos de puro génio (e não o digo só para ser simpático; há soluções de tradução verdadeiramente geniais), especialmente nos muitos poemas que pontilham o livro, ora se perde numa selva de eles e elas e seus e anglicismos semânticos (as genialidades mencionadas acima levam-me a suspeitar que isto aconteceu por falta de tempo para fazer uma revisão cuidada; traduzir um livro destes é trabalho duríssimo e muito demorado e eu nem invejo o tradutor nem lhe censuro realmente as falhas, digo apenas que elas acabam por ter o seu impacto na experiência global de leitura) e também, porque também tem relevância, uma experiência física de leitura francamente incómoda (experimentem segurar durante muito tempo num livro com quase quilo e meio de peso), o resultado é um daqueles livros a que reconheço a qualidade mas cuja leitura me deu comparativamente pouco. Não posso dizer que não tenha gostado, globalmente, mas este livro de Pynchon ficou muito, muito longe de se transformar num dos meus livros preferidos. Seja como for, não é livro para ser compreendido por inteiro à primeira, portanto decerto que tem facetas que me passaram despercebidas. Não sei é se algum dia voltarei a ele; a vida é mais curta que comprida.
Este livro foi comprado.
domingo, 26 de agosto de 2018
Lido: Amo-te Para Sempre
Há uma verdade, daquelas insofismáveis, daquelas verdades universais sem contestação possível, de que muito mais gente devia ter consciência: não é por alguém aparecer na televisão com maior ou menor regularidade que tem alguma coisa a dizer. Exemplo: o Fernando Alvim. O Fernando Alvim construiu uma carreira com base na rádio e na gandamaluquice temperada de romantismo, lançando pseudópodes para todos os lados, e fez ele muito bem. É um entrevistador competente, profissionalmente simpático, o que o levou a ter algum êxito em talk-shows e programas do género, e construiu uma persona pública, que parece ser genuína mas na verdade não tenho como saber até que ponto corresponde à realidade, que o tornou até certo ponto figura de um certo culto em certos setores. Certo. Mas nada disto implica que seja bom escritor. Ou até que o que ele escreve tenha algum interesse.
A ideia que quero exprimir acima pode ser resumida numa frase: não é por alguém ter algum destaque numa atividade que deve ter destaque em outras. E não é relevante se esse destaque é merecido ou não.
Amo-te Para Sempre é um conto escrito em parágrafo único, em modo de escrita torrencial, palavrosa, uma confissão de amor absoluto salpicada de piadolas na qual o Alvim se mostra igual a si mesmo: um gandamaluco temperado de romantismo. A persona pública está escarrapachada no texto, sem qualquer novidade, o que faz com que provavelmente aqueles que são fãs dessa persona gostem do conto, e aqueles para quem a persona é pelo menos indiferente não gostem. Como me incluo neste segundo grupo, creio que não será difícil perceber-se o que retirei da leitura do conto: sim, o português é correto, sim, há no conto um despretensiosismo, uma forma de manter coerência relativamente à personagem que o Alvim-figura-pública inevitavelmente será, e isso tem o seu apelo, mas no fundamental o texto deixou-me indiferente. É conto para ler, encolher ombros e esquecer.
Este ebook, como todos os desta coleção, foi distribuído gratuitamente.
A ideia que quero exprimir acima pode ser resumida numa frase: não é por alguém ter algum destaque numa atividade que deve ter destaque em outras. E não é relevante se esse destaque é merecido ou não.
Amo-te Para Sempre é um conto escrito em parágrafo único, em modo de escrita torrencial, palavrosa, uma confissão de amor absoluto salpicada de piadolas na qual o Alvim se mostra igual a si mesmo: um gandamaluco temperado de romantismo. A persona pública está escarrapachada no texto, sem qualquer novidade, o que faz com que provavelmente aqueles que são fãs dessa persona gostem do conto, e aqueles para quem a persona é pelo menos indiferente não gostem. Como me incluo neste segundo grupo, creio que não será difícil perceber-se o que retirei da leitura do conto: sim, o português é correto, sim, há no conto um despretensiosismo, uma forma de manter coerência relativamente à personagem que o Alvim-figura-pública inevitavelmente será, e isso tem o seu apelo, mas no fundamental o texto deixou-me indiferente. É conto para ler, encolher ombros e esquecer.
Este ebook, como todos os desta coleção, foi distribuído gratuitamente.
Lido: Azul Cobalto e o Enigma
Quando um escritor escreve contos integrados numa série, em especial se se destinam a ser publicados de forma dispersa, em revistas ou antologias, uma das coisas mais difíceis que tem de fazer é encontrar um ponto de equilíbrio na informação que fornece aos leitores sobre o universo ficcional, que lhe permita nem aborrecer aqueles que já conhecem as obras anteriores e portanto já estão familiarizados com as suas regras, nem deixar às aranhas aqueles que estão a contactar pela primeira vez com o universo. É uma arte delicada, tanto mais que diferentes séries e até diferentes obras terão necessariamente pontos de equilíbrio divergentes, dependendo do grau de afastamento da realidade ficcional relativamente à realidade consensual, do grau em que cada história específica se contém em si mesma, do grau de desenvolvimento pretendido para as personagens, e por aí fora.
Gerson Lodi-Ribeiro nem sempre o fez bem: em algumas das opiniões que fui deixando aqui na Lâmpada expressei a ideia de que ele tendia a exagerar para o lado da explanação a leitores novos, o que tinha como consequência que aqueles que já conheciam as histórias anteriores do mesmo universo ficcional acabavam por ser sujeitos a alguma informação redundante, o que reduzia o impacto das histórias novas. Mas neste Azul Cobalto e o Enigma (bibliografia) parece-me que acertou em cheio na dose.
Trata-se de uma história longa, uma novela, integrada na série dos Três Brasis. Nesta série, o Gerson mistura a história alternativa com o vampirismo científico, postulando a existência de uma segunda espécie inteligente no planeta, uma espécie naturalista de vampiro, sem nada de sobrenatural, cujo último espécime conhecido se alia, na época do Brasil colonial, aos escravos revoltados de Palmares e estes aos invasores holandeses do nordeste brasileiro, funcionando como agente secreto, sabotador e assassino dos palmarinos, e ajudando assim a criar uma linha temporal alternativa na qual aquilo que conhecemos hoje como Brasil é dividido em três estados: Palmares, a Nova Holanda e o Brasil propriamente dito, que aqui corresponde apenas à metade sul (mais coisa, menos coisa) do país.
A grande maioria dos contos desta série passa-se no passado, à boa maneira da história alternativa, desenvolvendo e explorando o universo ficcional alternativo gerado com a presença do "filho-da-noite", como é conhecida a sua personagem, tida como último representante da espécie. Azul Cobalto e o Enigma é uma das raras exceções, tendo lugar num futuro indeterminado (ou talvez no presente, visto que uma das características desta linha temporal alternativa é um desenvolvimento tecnológico mais acelerado do que na nossa realidade, em grande medida propulsionado pelas potências sul-americanas) em que a humanidade já se espalhou pelo espaço, com colónias em estações orbitais e estações de pesquisa tripuladas em locais tão remotos como Europa, o satélite de Júpiter.
E o enredo é no essencial uma caçada. É que os serviços secretos brasileiros têm há muito a ambição de se livrar da constante dor de cabeça que o filho-da-noite encarna, e finalmente chegaram ao ponto em que a evolução tecnológica é capaz de contrabalançar as vantagens biológicas de que o agente palmarino sempre dispôs. Portanto, quando as informações disponíveis permitem localizá-lo, passam ao ataque. A história é, portanto, movimentada, cheia de peripécias e de guinadas no enredo, com várias surpresas, bastante bem concebida e bem escrita, pese embora uma certa pegada pulpesca. Uma história bem contida em si própria, capaz de fornecer novas camadas aos leitores que já conhecem a série e o seu ambiente e personagens, mas sem por isso deixar de fornecer uma experiência rica aos recém-chegados a este universo ficcional.
E no final, que fica razoavelmente em aberto, oferece pistas para eventuais continuações da série, agora em ambiente bem mais relacionado com a ficção científica pura e dura (tal como esta história, de resto) do que com a história alternativa que predominava de início. Tudo muito bom. Julgo que esta é uma das melhores histórias do Gerson Lodi-Ribeiro, autor de uma das mais extensas obras da FC lusófona. E, naturalmente, também do livro em que se insere.
Contos anteriores deste livro:
Gerson Lodi-Ribeiro nem sempre o fez bem: em algumas das opiniões que fui deixando aqui na Lâmpada expressei a ideia de que ele tendia a exagerar para o lado da explanação a leitores novos, o que tinha como consequência que aqueles que já conheciam as histórias anteriores do mesmo universo ficcional acabavam por ser sujeitos a alguma informação redundante, o que reduzia o impacto das histórias novas. Mas neste Azul Cobalto e o Enigma (bibliografia) parece-me que acertou em cheio na dose.
Trata-se de uma história longa, uma novela, integrada na série dos Três Brasis. Nesta série, o Gerson mistura a história alternativa com o vampirismo científico, postulando a existência de uma segunda espécie inteligente no planeta, uma espécie naturalista de vampiro, sem nada de sobrenatural, cujo último espécime conhecido se alia, na época do Brasil colonial, aos escravos revoltados de Palmares e estes aos invasores holandeses do nordeste brasileiro, funcionando como agente secreto, sabotador e assassino dos palmarinos, e ajudando assim a criar uma linha temporal alternativa na qual aquilo que conhecemos hoje como Brasil é dividido em três estados: Palmares, a Nova Holanda e o Brasil propriamente dito, que aqui corresponde apenas à metade sul (mais coisa, menos coisa) do país.
A grande maioria dos contos desta série passa-se no passado, à boa maneira da história alternativa, desenvolvendo e explorando o universo ficcional alternativo gerado com a presença do "filho-da-noite", como é conhecida a sua personagem, tida como último representante da espécie. Azul Cobalto e o Enigma é uma das raras exceções, tendo lugar num futuro indeterminado (ou talvez no presente, visto que uma das características desta linha temporal alternativa é um desenvolvimento tecnológico mais acelerado do que na nossa realidade, em grande medida propulsionado pelas potências sul-americanas) em que a humanidade já se espalhou pelo espaço, com colónias em estações orbitais e estações de pesquisa tripuladas em locais tão remotos como Europa, o satélite de Júpiter.
E o enredo é no essencial uma caçada. É que os serviços secretos brasileiros têm há muito a ambição de se livrar da constante dor de cabeça que o filho-da-noite encarna, e finalmente chegaram ao ponto em que a evolução tecnológica é capaz de contrabalançar as vantagens biológicas de que o agente palmarino sempre dispôs. Portanto, quando as informações disponíveis permitem localizá-lo, passam ao ataque. A história é, portanto, movimentada, cheia de peripécias e de guinadas no enredo, com várias surpresas, bastante bem concebida e bem escrita, pese embora uma certa pegada pulpesca. Uma história bem contida em si própria, capaz de fornecer novas camadas aos leitores que já conhecem a série e o seu ambiente e personagens, mas sem por isso deixar de fornecer uma experiência rica aos recém-chegados a este universo ficcional.
E no final, que fica razoavelmente em aberto, oferece pistas para eventuais continuações da série, agora em ambiente bem mais relacionado com a ficção científica pura e dura (tal como esta história, de resto) do que com a história alternativa que predominava de início. Tudo muito bom. Julgo que esta é uma das melhores histórias do Gerson Lodi-Ribeiro, autor de uma das mais extensas obras da FC lusófona. E, naturalmente, também do livro em que se insere.
Contos anteriores deste livro:
sábado, 25 de agosto de 2018
Lido: Os Sapatos Negros
Há certas histórias que satisfazem plenamente por motivos que à partida parecem indefiníveis, e com outras — em muito maior número — acontece o mesmo, mas pelo avesso: esses motivos indefiníveis levam a que as histórias não satisfaçam plenamente. Com o conto Os Sapatos Negros, de Carina Portugal, aconteceu não me satisfazer por inteiro, por motivos que a princípio não compreendi.
É que a história está bem escrita, é interessante e tem alguma sofisticação estrutural, com uma analepse a quebrar no sítio certo a linearidade do tempo narrativo. Não será uma obra-prima, mas é história que à partida deveria ser mais satisfatória do que acabou por ser. Uma história de horror com vagas influências lovecraftianas, que começa com uma tentativa falhada de invocar um monstro qualquer das profundezas do Tejo e se transforma depois numa história de perseguição e provável assassínio da rapariga responsável (inconscientemente) por a evocação ter falhado. Tudo bastante bem feito. Então porque foi que a história não me satisfez?
OK, há um certo tom de deus ex-machina na forma como as coisas correm bem a uma determinada personagem, mas não me parece que isso seja suficiente, pois as regras de um universo mágico como aquele que a história cria permitem-no. Fiquei na mesma. Tive de pensar. Depois descobri: faltam-me motivações. Falta-me o que faz mover aquele que procura invocar o monstro, falta-me perceber o que o liga a uma espécie de fantasma que surge junto a ele e o trata com um tom mal velado de ameaça. Falta-me essa informação, que nem subtilmente é sugerida, para que o conto conclua de forma realmente satisfatória. Podia ser um conto bastante bom, se me fornecesse essa conclusão; não fornecendo, julgo que se fica pelo mediano.
É que a história está bem escrita, é interessante e tem alguma sofisticação estrutural, com uma analepse a quebrar no sítio certo a linearidade do tempo narrativo. Não será uma obra-prima, mas é história que à partida deveria ser mais satisfatória do que acabou por ser. Uma história de horror com vagas influências lovecraftianas, que começa com uma tentativa falhada de invocar um monstro qualquer das profundezas do Tejo e se transforma depois numa história de perseguição e provável assassínio da rapariga responsável (inconscientemente) por a evocação ter falhado. Tudo bastante bem feito. Então porque foi que a história não me satisfez?
OK, há um certo tom de deus ex-machina na forma como as coisas correm bem a uma determinada personagem, mas não me parece que isso seja suficiente, pois as regras de um universo mágico como aquele que a história cria permitem-no. Fiquei na mesma. Tive de pensar. Depois descobri: faltam-me motivações. Falta-me o que faz mover aquele que procura invocar o monstro, falta-me perceber o que o liga a uma espécie de fantasma que surge junto a ele e o trata com um tom mal velado de ameaça. Falta-me essa informação, que nem subtilmente é sugerida, para que o conto conclua de forma realmente satisfatória. Podia ser um conto bastante bom, se me fornecesse essa conclusão; não fornecendo, julgo que se fica pelo mediano.
quarta-feira, 22 de agosto de 2018
Em julho falou-se de...
E cá está, atrasada como já estava previsto, a lista de obras de ficção científica (ou com alguma coisa a ver com o género) que receberam atenção durante o mês de julho. É mais um dos posts que estão reunidos sob a tag de leituras fc e se referem ao material compilado no Ficção Científica Literária. Mais informações sobre o que isto é, qual a sua metodologia, objetivos e limitações podem ser encontradas aqui, como quem costuma visitar a Lâmpada já deve começar a estar farto de saber, mas como aparecem sempre por aí uns novos, que talvez fiquem confusos sem ela, esta notazinha tem de vir sempre a abrir.
E como sempre, seguem as listas já a seguir e há alguns comentários no fim deste post.
Ficção portuguesa:
Ficção brasileira:
Ficção internacional:
Não-ficção internacional:
Em geral, os números diminuiram um pouco em relação ao mês anterior. Será em parte fruto do verão setentrional e das férias que vêm com ele, as quais terão diminuído ainda mais a já habitualmente fraca componente portuguesa destas listas, mas em parte foi culpa minha. Por duas vias: por um lado, não publiquei rigorosamente nada ao longo de todo o mês de julho, quando em junho ainda tinha publicado algumas — poucas — coisas, e por outro lado a intensidade do trabalho que me levou a interromper a atividade na Lâmpada também me levou a algumas interrupções no trabalho no Ficção Científica Literária, o que fez com que tivesse chegado a agosto com um atraso de vários dias no material que lá ia sendo divulgado. Esse material atrasado, que deveria constar destas listas de julho, só virá a aparecer nas de agosto.
Mesmo assim, dá para ver que as tendências de junho se mantiveram inalteradas em julho. O material brasileiro continua a aparecer em quantidade aceitável, embora menor, ao passo que no português continua a habitual miséria franciscana. Dois livros do Saramago, um dos quais só com boa vontade se relaciona com a história alternativa, e uma distopia de outro autor, são pouquíssimo para um mês inteiro de leituras, mesmo que a este número haja que acrescentar uma antologia de organização internacional (e com preponderância de material estrangeiro, motivo pelo qual foi integrada na ficção internacional) que inclui material português. Enquanto a lista de material português não passar dos 10 por mês, como acontece regularmente com o brasileiro, não ficarei satisfeito.
Também será relevante notar que o mundinho de pessoas que se afirmam ligadas à ficção científica portuguesa só não produziu neste mês um rotundo zero por causa da tal antologia. Nem os restantes autores mencionados têm alguma coisa a ver com o fandom, nem as opiniões aos restantes livros vieram do fandom tal como ele é geralmente encarado.
E no mês anterior foi a mesmíssima coisa. (Provavelmente: não sei bem se a Raquel Pereira, responsável pelas opiniões sobre os livros da Ana Cláudia Dâmaso, tem ou não alguma ligação ao dito-cujo fandom. Julgo que não, mas não garanto.)
Eloquente?
Quanto ao material internacional, desta feita não temos nenhum autor a ser alvo de 5 ou mais opiniões. O máximo é quatro, alcançadas por Octavia Butler (com dois livros), Madeleine l'Engle (com três livros), Marissa Meyer (com quatro livros) e Philip Reeve (também com quatro livros). Talvez também tenha interesse sublinhar que estes últimos três correspondem à leitura de séries, o que não se passa com Octavia Butler nem, no mês anterior, com Dick e Scalzi. Segundo a minha experiência, um autor que consegue sustentar um público sem recorrer (pelo menos em exclusivo) ao estratagema das séries é um autor a ter mais em conta do que o oposto, pois há uma fração dos leitores que podem gostar muito da série A ou B mas não é por isso que se vão predispor a ler outras coisas do mesmo autor, i. e., a existência de público para uma série não implica necessariamente que esse público exista também para o autor quando ele escreve coisas fora da série. Especialmente quando essas outras coisas pertencem a outros géneros. Vi muito disso, por exemplo, em fãs das Crónicas de Gelo e Fogo desapontados com os livros (ou os contos) de ficção científica ou horror do Martin.
E pronto, quanto a julho estamos conversados. Segue-se agosto e aí tentarei já não me atrasar. Mas sem garantias.
E como sempre, seguem as listas já a seguir e há alguns comentários no fim deste post.
Ficção portuguesa:
- O Homem Domesticado, de Nuno Gomes Garcia
- Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago
- História do Cerco de Lisboa, de José Saramago
Ficção brasileira:
- Espelho dos Olhos, de Nicolas Catalano
- Shiroma: Matadora Ciborgue, de Roberto de Sousa Causo
- Uma História de Ouro e Sangue, de Manuel Filho
- Tempo Incerto, de Mauro Franco
- O Presidente Negro, de Monteiro Lobato
- Guerra Justa, de Carlos Orsi
- O Orangotango Marxista, de Marcelo Rubens Paiva
- Diário 2116, de Bruno H. S.
- As Quimeras da Guerra, de Ricardo A. S. Santos
- B9, de Simone Saueressig
- Paris-Brest, de Alexandre Staut
Ficção internacional:
- Steampunk Internacional, org. ?? (inclui contos portugueses)
- O Guia do Mochileiro da Galáxia, de Douglas Adams
- Guerra Americana, de Omar El Akkad
- O Poder, de Naomi Alderman
- Eu, Robô, de Isaac Asimov
- Fundação, de Isaac Asimov
- Fundação e Império, de Isaac Asimov
- Farenheit 451, de Ray Bradbury (3x)
- A Parábola do Semeador, de Octavia E. Butler (3x)
- Kindred: Laços de Sangue, de Octavia E. Butler
- Poeira Lunar, de Arthur C. Clarke (2x)
- Transiência, de Arthur C. Clarke (conto)
- Jogador nº 1, de Ernest Cline
- A Seleção, de Kiera Cass
- O Sol Caiu, de C. J. Cherryh
- Dark Matter, de Blake Crouch
- Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick
- O Tempo Desconjuntado, de Philip K. Dick
- Sonhos Elétricos, de Philip K. Dick
- Um Planeta no seu Giro Veloz, de Madeleine l'Engle (2x)
- Um Vento à Porta, de Madeleine l'Engle
- Uma Dobra no Tempo, de Madeleine l'Engle
- Os Últimos Jedi, de Jason Fry
- Um Sopro de Neve e Cinzas, de Diana Gabaldon
- Terra das Mulheres, de Charlotte Perkins Gilman
- A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula K. Le Guin
- Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (2x)
- Flores Para Algernon, de Daniel Keyes (2x)
- A Incendiária, de Stephen King (2x)
- Solaris, de Stanislaw Lem
- Death's End, de Cixin Liu
- O Problema dos Três Corpos, de Cixin Liu
- The Dark Forest, de Cixin Liu
- A Noite dos Humanos, de David Llwellyn
- Sou o Número Quatro, de Pittacus Lore
- Warcross, de Marie Lu
- O Corpo Dela e Outras Partes, de Carmen Maria Machado
- A Ilusão do Tempo, de Andri Snær Magnason
- LoveStar, de Andri Snær Magnason
- Santuário dos Ventos, de George R. R. Martin e Lisa Tuttle
- O Milésimo Andar, de Katharine McGee
- Cinder, de Marissa Meyer
- Cress, de Marissa Meyer
- Scarlet, de Marissa Meyer
- Winter, de Marissa Meyer
- A Cidade & A Cidade, de China Miéville
- Os Seis Finalistas, de Alexandra Monir (2x)
- Utopia, de Thomas More
- Carbono Alterado, de Richard Morgan
- 1984, de George Orwell
- A Darkling Plain, de Philip Reeve
- Infernal Devices, de Philip Reeve
- Máquinas Mortais, de Philip Reeve
- Predator's Gold, de Philip Reeve
- Felicidade Para Humanos, de P. Z. Reizin
- Green Mars, de Kim Stanley Robinson
- Tormenta de Fogo, de Brandon Sanderson
- Encarcerados, de John Scalzi
- A Nuvem, de Neal Shusterman (2x)
- O Homem Invisível, de Robert Silverberg (conto)
- Abandonados em Andrômeda, de Clark Ashton Smith (conto)
- Piquenique na Estrada, de Arkádi e Boris Strugátski
- Guerra: E se Fosse Aqui?, de Janne Teller (conto)
- A Ilha Misteriosa, de Jules Verne
- A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Jules Verne
- Vinte Mil Léguas Submarinas, de Jules Verne
- Matadouro 5, de Kurt Vonnegut
- A Máquina do Tempo, de H. G. Wells (2x)
- Os Caminhos Para a Liberdade, de Colson Whitehead
- Quando a Luz se Apaga, de Nick Clark Windo (2x)
- O Templo do Passado, de Stefan Wul
- A 5ª Onda, de Rick Yancey
Não-ficção internacional:
- A Verdadeira História da Ficção Científica, de Adam Roberts (3x)
- A Cruzada Mascarada, de Glen Weldon
- Damn Fine Story, de Chuck Wendig
Em geral, os números diminuiram um pouco em relação ao mês anterior. Será em parte fruto do verão setentrional e das férias que vêm com ele, as quais terão diminuído ainda mais a já habitualmente fraca componente portuguesa destas listas, mas em parte foi culpa minha. Por duas vias: por um lado, não publiquei rigorosamente nada ao longo de todo o mês de julho, quando em junho ainda tinha publicado algumas — poucas — coisas, e por outro lado a intensidade do trabalho que me levou a interromper a atividade na Lâmpada também me levou a algumas interrupções no trabalho no Ficção Científica Literária, o que fez com que tivesse chegado a agosto com um atraso de vários dias no material que lá ia sendo divulgado. Esse material atrasado, que deveria constar destas listas de julho, só virá a aparecer nas de agosto.
Mesmo assim, dá para ver que as tendências de junho se mantiveram inalteradas em julho. O material brasileiro continua a aparecer em quantidade aceitável, embora menor, ao passo que no português continua a habitual miséria franciscana. Dois livros do Saramago, um dos quais só com boa vontade se relaciona com a história alternativa, e uma distopia de outro autor, são pouquíssimo para um mês inteiro de leituras, mesmo que a este número haja que acrescentar uma antologia de organização internacional (e com preponderância de material estrangeiro, motivo pelo qual foi integrada na ficção internacional) que inclui material português. Enquanto a lista de material português não passar dos 10 por mês, como acontece regularmente com o brasileiro, não ficarei satisfeito.
Também será relevante notar que o mundinho de pessoas que se afirmam ligadas à ficção científica portuguesa só não produziu neste mês um rotundo zero por causa da tal antologia. Nem os restantes autores mencionados têm alguma coisa a ver com o fandom, nem as opiniões aos restantes livros vieram do fandom tal como ele é geralmente encarado.
E no mês anterior foi a mesmíssima coisa. (Provavelmente: não sei bem se a Raquel Pereira, responsável pelas opiniões sobre os livros da Ana Cláudia Dâmaso, tem ou não alguma ligação ao dito-cujo fandom. Julgo que não, mas não garanto.)
Eloquente?
Quanto ao material internacional, desta feita não temos nenhum autor a ser alvo de 5 ou mais opiniões. O máximo é quatro, alcançadas por Octavia Butler (com dois livros), Madeleine l'Engle (com três livros), Marissa Meyer (com quatro livros) e Philip Reeve (também com quatro livros). Talvez também tenha interesse sublinhar que estes últimos três correspondem à leitura de séries, o que não se passa com Octavia Butler nem, no mês anterior, com Dick e Scalzi. Segundo a minha experiência, um autor que consegue sustentar um público sem recorrer (pelo menos em exclusivo) ao estratagema das séries é um autor a ter mais em conta do que o oposto, pois há uma fração dos leitores que podem gostar muito da série A ou B mas não é por isso que se vão predispor a ler outras coisas do mesmo autor, i. e., a existência de público para uma série não implica necessariamente que esse público exista também para o autor quando ele escreve coisas fora da série. Especialmente quando essas outras coisas pertencem a outros géneros. Vi muito disso, por exemplo, em fãs das Crónicas de Gelo e Fogo desapontados com os livros (ou os contos) de ficção científica ou horror do Martin.
E pronto, quanto a julho estamos conversados. Segue-se agosto e aí tentarei já não me atrasar. Mas sem garantias.
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
Mais um pouco de feira do livro
Aproveitando uma noite magnífica, daquelas em que não dá mesmo para fazer mais nada além de sair para a rua e desfrutar dela, voltei realmente a dar um salto à feira do livro e, inevitavelmente, voltei para casa com mais dois.
O chato é que vi pelo menos mais um que também chamou por mim com uma canção de sereia e só lá ficou porque já tinha estes dois na mão e... enfim... quando começam a pesar muito começo a sentir-lhes o peso na carteira. A feira fecha na sexta. Tenho poucos dias para decidir se ainda lá vou mais uma vez ou não.
Indecisões...
Bibliomanias...
Desta feita só vieram para casa livros da Relógio d'Água, talvez a editora profissional que — a par da Saída de Emergência — melhor trabalho tem vindo a fazer recentemente no campo da ficção científica, o que não deixa de ser algo surpreendente em vista do seu historial. Agradavelmente surpreendente, sublinhe-se.
Relatório Minoritário e Outros Contos não era livro que eu tivesse assim muita curiosidade por ler, porque já conheço a maior parte destas histórias. Mas lá está: é Philip K. Dick e eu pelo-me por contos, portanto não resisti.
Já a Quinta Estação, por outro lado, é um dos vários livros publicados recentemente em Portugal que me despertaram muita curiosidade e que mais tarde ou mais cedo hão de encontrar o caminho até à minha biblioteca (e acabar por ser lidos, se não me der alguma solipampa antes de ter oportunidade). Este foi agora; o da Carmen Maria Machado foi há dias. Os outros virão a seu tempo. N. K. Jemisin, de resto, acabou de ganhar o seu terceiro Hugo consecutivo de melhor romance, o que acontece pela primeira vez na história do prémio. Ela tornou-se, como se reza o cliché, incontornável, entrando na categoria dos autores que há que ler pelo menos uma vez na vida. O meio caminho está andado: o livro já cá cante. Veremos quando será percorrido o resto.
O chato é que vi pelo menos mais um que também chamou por mim com uma canção de sereia e só lá ficou porque já tinha estes dois na mão e... enfim... quando começam a pesar muito começo a sentir-lhes o peso na carteira. A feira fecha na sexta. Tenho poucos dias para decidir se ainda lá vou mais uma vez ou não.
Indecisões...
Bibliomanias...
Desta feita só vieram para casa livros da Relógio d'Água, talvez a editora profissional que — a par da Saída de Emergência — melhor trabalho tem vindo a fazer recentemente no campo da ficção científica, o que não deixa de ser algo surpreendente em vista do seu historial. Agradavelmente surpreendente, sublinhe-se.
Relatório Minoritário e Outros Contos não era livro que eu tivesse assim muita curiosidade por ler, porque já conheço a maior parte destas histórias. Mas lá está: é Philip K. Dick e eu pelo-me por contos, portanto não resisti.
Já a Quinta Estação, por outro lado, é um dos vários livros publicados recentemente em Portugal que me despertaram muita curiosidade e que mais tarde ou mais cedo hão de encontrar o caminho até à minha biblioteca (e acabar por ser lidos, se não me der alguma solipampa antes de ter oportunidade). Este foi agora; o da Carmen Maria Machado foi há dias. Os outros virão a seu tempo. N. K. Jemisin, de resto, acabou de ganhar o seu terceiro Hugo consecutivo de melhor romance, o que acontece pela primeira vez na história do prémio. Ela tornou-se, como se reza o cliché, incontornável, entrando na categoria dos autores que há que ler pelo menos uma vez na vida. O meio caminho está andado: o livro já cá cante. Veremos quando será percorrido o resto.
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Em junho falou-se de...
Pois é, este vem bastante atrasado, e na verdade só aparece porque foi sendo escrito ao longo de vários dias, caso contrário não haveria tempo para ele. Consequências do que vem explicado aqui e aqui, como quem costuma acompanhar a Lâmpada e a viu parada durante mais de um mês facilmente poderá perceber. Quanto aos outros, os que são novos por aqui ou têm andado afastados, vão lá ler, vá. E aproveitem também para ir ler isto para perceberem o que este post é e para dar uma vista de olhos à tag leituras fc se quiserem passar uma vista de olhos pelos outros, anteriores e, a seu tempo, posteriores.
Como de costume, primeiro seguem as listas e a seguir virão os comentários que me deu na telha fazer sobre elas.
Ficção portuguesa:
Certo parece ser que os brasileiros têm andado a fazer o que tem de ser feito. Opiniões sobre 19 obras de 18 autores, das quais só uma das obras (e nenhum autor) aparece exclusivamente por meu intermédio, são uma subida considerável e, se estes números se sustentarem no futuro, parecem-me já muito aceitáveis. É certo que nem todos os textos têm a qualidade ideal e que em certos casos a abordagem parece ser mais a de pintar tudo a cor-de-rosa do que a de fornecer opiniões sólidas, mas não é menos certo que a quantidade tem de vir primeiro. Havendo quantidade, pode fazer-se a seleção da qualidade; não havendo quantidade não há possibilidade de seleção. E isto tanto se aplica às opiniões sobre o material publicado como ao material publicado propriamente dito.
Os portugueses, por outro lado... enfim...
O lado português da medalha é todo demasiado frágil. Tanto que nem dá para destacar algum fator, porque não é só a produção de material opinativo que falta, é também a produção de ficção propriamente dita. Não é nada de novo, é certo, e eu próprio tenho contribuído para ambos os problemas (que se alimentam um ao outro, num ciclo vicioso particularmente daninho), mas o contraste com o Brasil é cada vez mais acentuado e cada vez mais deprimente. A única nota contrastante a este panorama é o aparecimento de uma opinião a algo de raro: um ensaio português, relacionado não diretamente com a FC mas com temas que lhe são muito próximos.
Quanto a leituras internacionais, os destaques deste mês vão para Naomi Alderman, com sete opiniões ao seu O Poder, para Bradbury com cinco opiniões a Fahrenheit 451, para Dick, com oito opiniões a cinco livros seus, para Ann Leckie, também com cinco opiniões a Justiça Ancilar e finalmente para Scalzi, que também recolheu cinco opiniões, mas a três livros. Nem sempre é fácil distinguir o que nestes números é realmente orgânico do que é resultado de campanhas de marketing, mas todos estes autores parecem nos dias que correm ter o seu público, especialmente — de novo — no Brasil.
E assim vamos rumo ao mês seguinte. Julho também já virá atrasado mas, tal como junho, virá. Quando é que não posso ainda saber.
Como de costume, primeiro seguem as listas e a seguir virão os comentários que me deu na telha fazer sobre elas.
Ficção portuguesa:
- Desleais, de Ana Cláudia Dâmaso
- Imprudentes, de Ana Cláudia Dâmaso
- Rebeldes, de Ana Cláudia Dâmaso
- Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago
- Objecto Quase, de José Saramago
- Trasgo, Ano 1, org. ??
- Sob os Olhos do Delírio, de Fábio de Andrade
- A Província dos Ursos de Vento, de José Beffa
- A Vingaçna das Fêmaes de Lnuaris, de Luiz Bras (conto)
- Sozinho no Deserto Extremo, de Luiz Bras (2x)
- Cela 108, de André Cáceres
- A Máquina, de Adriana Falcão (conto)
- Corrosão, de Ricardo Labuto Gondim
- O Caçador Cibernético da Rua 13, de Fabio Kabral
- Indigesto: Contos Gástricos, de Flávio Karras
- Anacrônico, de Antony Magalhães
- O Caminho do Louco, de Alex Mandarino
- Encruzilhada, de Lúcio Manfredi
- O Disco I - A Viagem, de João Carlos Marinho
- Ictus Vitae, de Eduardo da C. Mendes
- Fome, de Tibor Moricz
- Contra Tempo, de Henri B. Neto
- Elevador 16, de Rodrigo de Oliveira
- Deixe as Estrelas Falarem, de Lady Sybylla
- Guerra Americana, de Omar El Akkad
- O Poder, de Naomi Alderman (7x)
- Report on Probability A, de Brian Aldiss
- Ponto de Impacto, de Kevin J. Anderson
- Mundo sem Estrelas, de Poul Anderson
- Eu, Robô, de Isaac Asimov
- Histórias de Robôs, vol. 1, org. Isaac Asimov
- O Conto da Aia, de Margaret Atwood
- 4, 3, 2, 1, de Paul Auster
- Colony One, de Tarah Benner
- A Expansão, de Ezekiel Boone
- O Outro, de Jorge Luis Borges (conto)
- Alvorada Lunar, de Ben Bova
- Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (5x)
- A Parábola do Semeador, de Octavia E. Butler
- Kindred: Laços de Sangue, de Octavia E. Butler (2x)
- Poeira Lunar, de Arthur C. Clarke
- Armada, de Ernest Cline
- Servidão Mental, de Robin Cook
- Jurassic Park, de Michael Crichton
- Nova, de Samuel R. Delany
- Fluam Minhas Lágrimas, Disse o Policial, de Philip K. Dick
- O Homem do Castelo Alto, de Philip K. Dick
- O Tempo Desconjuntado, de Philip K. Dick (3x)
- Será que os Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? / Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick (2x)
- Sonhos Elétricos, de Philip K. Dick
- Mortalha da Lamentação, de Tommy Donbavand
- Um Planeta em seu Giro Veloz, de Madeleine l'Engle (2x)
- Os Invasores de Corpos, de Jack Finney
- A Cruz de Fogo, de Diana Gabaldon
- The Ghost Line, de Andrew Neil-Gray e J. S. Herbison
- A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula K. Le Guin
- Os Humanos, de Matt Haig
- Um Estranho numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein (2x)
- Messias de Duna, de Frank Herbert
- Submissão, de Michel Houellebecq
- Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (2x)
- O Macaco e a Essência, de Aldous Huxley
- Quando as Estrelas Caem, de Amie Kaufman e Meagan Spooner
- A Incendiária, de Stephen King (3x)
- Justiça Ancilar / Anciliary Justice, de Ann Leckie (5x)
- A Floresta Sombra, de Cixin Liu
- A Busca Onírica por Kadath, de H. P. Lovecraft
- A Tumba, de H. P. Lovecraft (conto)
- Dagon, de H. P. Lovecraft (conto)
- Uma Reminiscência do Dr. Samuel Johnson, de H. P. Lovecraft (conto)
- Warcross, de Marie Lu (2x)
- LoveStar, de Andri Snær Magnason (4x)
- Às Cegas, de Josh Malerman
- Cyberstorm, de Matthew Mather
- Cinder, de Marissa Meyer
- Cress, de Marissa Meyer
- Scarlet, de Marissa Meyer
- Winter, de Marissa Meyer
- Sobrevive, de Alexandra Oliva
- Quem Teme a Morte, de Nnedi Okorafor (2x)
- The Cure, de Robert Reed (conto)
- Destinos Divididos, de Veronica Roth
- A Missão do Contrabandista, de Greg Rucka
- O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry
- Encarcerados, de John Scalzi (3x)
- Guerra do Velho, de John Scalzi
- Head On, de John Scalzi
- Troopers da Morte, de Joe Schreiber
- Frankenstein, de Mary Shelley (2x)
- A Nuvem, de Neal Shusterman (2x)
- O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson
- Amatka, de Karin Tidbeck
- A Fire Upon the Deep, de Vernor Vinge
- Cama de Gato, de Kurt Vonnegut (2x)
- A Ilha do Dr. Moreau, de H. G. Wells
- Interferências, de Connie Willis
- Mentes Digitais, de Arlindo Oliveira
- 2001: Uma Odisseia no Espaço – Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a Criação de uma Obra-Prima, de Michael Benson (2x)
- A Verdadeira História da Ficção Científica, de Adam Roberts (2x)
Certo parece ser que os brasileiros têm andado a fazer o que tem de ser feito. Opiniões sobre 19 obras de 18 autores, das quais só uma das obras (e nenhum autor) aparece exclusivamente por meu intermédio, são uma subida considerável e, se estes números se sustentarem no futuro, parecem-me já muito aceitáveis. É certo que nem todos os textos têm a qualidade ideal e que em certos casos a abordagem parece ser mais a de pintar tudo a cor-de-rosa do que a de fornecer opiniões sólidas, mas não é menos certo que a quantidade tem de vir primeiro. Havendo quantidade, pode fazer-se a seleção da qualidade; não havendo quantidade não há possibilidade de seleção. E isto tanto se aplica às opiniões sobre o material publicado como ao material publicado propriamente dito.
Os portugueses, por outro lado... enfim...
O lado português da medalha é todo demasiado frágil. Tanto que nem dá para destacar algum fator, porque não é só a produção de material opinativo que falta, é também a produção de ficção propriamente dita. Não é nada de novo, é certo, e eu próprio tenho contribuído para ambos os problemas (que se alimentam um ao outro, num ciclo vicioso particularmente daninho), mas o contraste com o Brasil é cada vez mais acentuado e cada vez mais deprimente. A única nota contrastante a este panorama é o aparecimento de uma opinião a algo de raro: um ensaio português, relacionado não diretamente com a FC mas com temas que lhe são muito próximos.
Quanto a leituras internacionais, os destaques deste mês vão para Naomi Alderman, com sete opiniões ao seu O Poder, para Bradbury com cinco opiniões a Fahrenheit 451, para Dick, com oito opiniões a cinco livros seus, para Ann Leckie, também com cinco opiniões a Justiça Ancilar e finalmente para Scalzi, que também recolheu cinco opiniões, mas a três livros. Nem sempre é fácil distinguir o que nestes números é realmente orgânico do que é resultado de campanhas de marketing, mas todos estes autores parecem nos dias que correm ter o seu público, especialmente — de novo — no Brasil.
E assim vamos rumo ao mês seguinte. Julho também já virá atrasado mas, tal como junho, virá. Quando é que não posso ainda saber.
domingo, 12 de agosto de 2018
Feira do livro
Embora seja só a de Lisboa (e, vá, a do Porto) que faz parangonas, a realidade é que existem feiras do livro um pouco por todo o lado, umas maiores outras mais pequenas. A de Portimão tem fama de ser uma das maiores, pelo menos em volume de vendas, aproveitando para isso o bom tempo estival mas sobretudo a invasão de turistas na cidade que acontece todos os agostos, estratégia em que de resto está acompanhada por todas as outras feiras do livro do Algarve (são talvez umas dez, todas a decorrer mais ou menos ao mesmo tempo).
Todos os anos lá vou, normalmente mais que uma vez, e este ano já aproveitei uma noite bem quente para lá dar um salto. Voltei para casa com os três livros novos que estão ali na foto.
De Carmen Maria Machado já tinha lido três contos, um dos quais faz parte desta edição portuguesa de O Corpo Dela e Outras Partes. E como tinha gostado muito, assim que soube que este livro iria ser lançado arrebitei logo as orelhas. É raro, muito raro mesmo, eu comprar um livro tão pouco tempo depois de sair — geralmente espero que passe o hype — o que vos deve dar uma ideia da expetativa com que encaro este.
De Cormac McCarthy nunca li nada, o que de resto foi aqui há meses tema de conversa facebookiana entre mim e um outro Jorge (que naquela altura também ainda não tinha lido nada dele) a propósito de um outro livro. Ambos concordámos que tínhamos curiosidade, mas que o primeiro livro que leríamos seria muito provavelmente A Estrada. E cá está ela, A Estrada, pronta para ser lida.
Quanto a Dan Simmons, já li A Canção de Kali e gostei o suficiente para o incluir na listinha de melhores livros do ano de 2011 (não, o livro não é de 2011; eu é que o li em 2011). Ando há vários anos vai não vai para comprar este Hyperion porque se por um lado tenho ótima impressão do autor e o livro até foi premiado com um Hugo, pelo outro a space opera deixa-me sempre um bom bocado de pé atrás, apesar de por vezes ter boas surpresas com ela. Mas agora não resisti e lá veio o livro para casa. Este não tem edição portuguesa, e se calhar nunca terá.
É provável que ainda volte à feira do livro, que lá ficará até dia 24, até porque vi mais um ou dois livros que estiveram também quase a vir e sou capaz de não resistir à tentação de os ir buscar. Mas para já o saque é prometedor.
Todos os anos lá vou, normalmente mais que uma vez, e este ano já aproveitei uma noite bem quente para lá dar um salto. Voltei para casa com os três livros novos que estão ali na foto.
De Carmen Maria Machado já tinha lido três contos, um dos quais faz parte desta edição portuguesa de O Corpo Dela e Outras Partes. E como tinha gostado muito, assim que soube que este livro iria ser lançado arrebitei logo as orelhas. É raro, muito raro mesmo, eu comprar um livro tão pouco tempo depois de sair — geralmente espero que passe o hype — o que vos deve dar uma ideia da expetativa com que encaro este.
De Cormac McCarthy nunca li nada, o que de resto foi aqui há meses tema de conversa facebookiana entre mim e um outro Jorge (que naquela altura também ainda não tinha lido nada dele) a propósito de um outro livro. Ambos concordámos que tínhamos curiosidade, mas que o primeiro livro que leríamos seria muito provavelmente A Estrada. E cá está ela, A Estrada, pronta para ser lida.
Quanto a Dan Simmons, já li A Canção de Kali e gostei o suficiente para o incluir na listinha de melhores livros do ano de 2011 (não, o livro não é de 2011; eu é que o li em 2011). Ando há vários anos vai não vai para comprar este Hyperion porque se por um lado tenho ótima impressão do autor e o livro até foi premiado com um Hugo, pelo outro a space opera deixa-me sempre um bom bocado de pé atrás, apesar de por vezes ter boas surpresas com ela. Mas agora não resisti e lá veio o livro para casa. Este não tem edição portuguesa, e se calhar nunca terá.
É provável que ainda volte à feira do livro, que lá ficará até dia 24, até porque vi mais um ou dois livros que estiveram também quase a vir e sou capaz de não resistir à tentação de os ir buscar. Mas para já o saque é prometedor.
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
Ponto
Este é mais rápido que o último, que não há muito a dizer, pois tudo correu basicamente como previ nele: passei este mês e picos a trabalhar na tradução do primeiro dos três livros que tenho para traduzir até fevereiro e a fazer muito poucas coisas além disso. O resultado é ter mantido tudo o resto congelado à espera que eu volte a emergir, com a exceção que previ em junho e, sim, houve interrupções também aí, o que teve como consequência um atraso de vários dias, que ainda perdura, no tratamento do material. Isto só não foi zandinguice da boa porque todas as previsões tiveram por base experiências passadas. Eu já sei com o que conto e até onde chegam as minhas forças.
Mas a tradução vai correndo bastante bem e estou bastante adiantado em relação aos prazos. Não é caso para abrandar muito, no entanto: eu tenho de me adiantar aos prazos dos dois primeiros livros para conseguir cumprir o terceiro; de contrário é completamente impossível. Mas sim, está por dias... dois ou três. Depois segue-se a revisão, que me vai dar muito mais trabalho do que é hábito, cá por uns porquês, e depois mergulho no segundo dos três.
Entretanto, mesmo não podendo abrandar muito, provavelmente poderei abrandar um bocadinho, em especial durante a revisão (sempre foi atividade que me cansa a cabeça muito depressa e tenho de fazer pausas frequentes para conseguir manter a concentração), o que significa que deverá recomeçar a aparecer por aqui um post ou outro dentro de alguns dias. Não serão diários ou quase, como é hábito quando estou mais desafogado; serão mais espaçados. Mas serão.
Mas a tradução vai correndo bastante bem e estou bastante adiantado em relação aos prazos. Não é caso para abrandar muito, no entanto: eu tenho de me adiantar aos prazos dos dois primeiros livros para conseguir cumprir o terceiro; de contrário é completamente impossível. Mas sim, está por dias... dois ou três. Depois segue-se a revisão, que me vai dar muito mais trabalho do que é hábito, cá por uns porquês, e depois mergulho no segundo dos três.
Entretanto, mesmo não podendo abrandar muito, provavelmente poderei abrandar um bocadinho, em especial durante a revisão (sempre foi atividade que me cansa a cabeça muito depressa e tenho de fazer pausas frequentes para conseguir manter a concentração), o que significa que deverá recomeçar a aparecer por aqui um post ou outro dentro de alguns dias. Não serão diários ou quase, como é hábito quando estou mais desafogado; serão mais espaçados. Mas serão.
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