sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Lido: To a Prehistoric Huntsman Dead From Exposure
To a Prehistoric Huntsman Dead From Exposure é um curto poema de Steven Utley. Não lhe encontro grande interesse. O poema é uma pergunta, irónica, e muito pouco ciencio-ficcional, o que não teria grande importância se não se desse o caso de estar publicado numa Asimov's. Não achei nem bom, nem mau, antes pelo contrário. Achei-o muito olvidável. Numa interjeição: meh.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Lido: A Caverna do Fim do Mundo
A Caverna do Fim do Mundo (bib.) é um conto curto de ficção científica pós-apocalíptica e juvenil, de Christian Grenier. Num mundo subterrâneo que sofre com excesso de população, jovens aventuram-se a penetrar numa caverna recém-descoberta, que os mais velhos afirmam poder ser perigosa e até, terror dos terrores, ter ligação com a mortífera superfície. É um tipo de enredo bastante explorado, em especial durante os anos da Guerra Fria (e este conto data dessa época), e que até chegou algumas vezes ao cinema: num planeta cuja superfície foi de tal modo contaminada por algum tipo de apocalipse que deixou de poder suportar a vida humana, a humanidade sobrevive encerrada em bolsas no subsolo... durante tanto tempo que o medo da superfície se entranha na psique coletiva e a vida cavernícola passa a ser encarada como o estado natural da espécie. Apesar de muito explorada, a ideia pode dar boas histórias, mas parece-me que está longe de ser o caso desta. Talvez por a dirigir a um público jovem, talvez por limitações de espaço, o autor não perdeu muito tempo a desenvolver (ou até a pensar, parece-me) o ambiente e as personagens, e houve vários detalhes que me fizeram torcer violentamente o nariz. No geral, pareceu-me um conto bastante fraco.
Lido: A Reencarnação Deliciosa
A Reencarnação Deliciosa (bib.) é um conto de Aquilino Ribeiro que se ambienta algures na Palestina, possivelmente em tempos bíblicos, e trata sobre uma velha. Velha essa que era mesmo muito, muito velha. E que um belo dia é visitada por um mendigo que lhe pede abrigo. Quem tenha tido algum contacto com contos mais ou menos bíblicos e milagreiros começa logo aqui a adivinhar para onde se dirige a história, e Aquilino não desaponta. O mendigo é, de facto, um feiticeiro capaz de operar milagrosas transformações, e após ser bem atendido, sentindo-se grato, decide realmente pagar a amabilidade com a satisfação de um desejo. Que pede a velha? Ser rapariga. Mas é na concretização do desejo e no que dela resulta que surge no conto alguma surpresa e humor, arrancando-o a uma banalidade de enredo que de outro modo seria completa. Isso, e o facto de, como seria de supor atendendo ao autor, estar muito bem escrito, faz com que se trate de um conto com interesse, muito embora não me satisfaça por inteiro. Nem o gosto, nem as expetativas que sobre ele tinha.
sábado, 22 de outubro de 2011
Lido: Polvillo Verde
Polvillo Verde, da venezuelana Ruth N. Abello é um pequeno conto cujo principal interesse está no final, o que tem o efeito de dificultar o ato de se falar dele sem revelar demasiado. Gira em volta de um homem que toma pós. Toxicodependente? É o que se vai descobrir no decorrer do conto. Algures entre o realismo, a fantasia e uma ficção científica bastante suave, tem algum interesse se bem que não me pareça propriamente uma obra prima. Podem avaliar por vocês mesmos indo até aqui e descendo ao segundo conto.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
É de levar as mãos à cara e bradar aos céus
A Leya Brasil não achou por bem enviar-me exemplares da Guerra dos Tronos, depois de ter adaptado (?) ao português do Brasil a minha tradução feita para português de Portugal. É uma cortesia comum, mas eles não a tiveram. Não me perguntem porquê. Não sei. Suspeito, mas de saber sabido não sei.
Por conseguinte, da adaptação só conheço os trechos que vão vazando aqui e ali. E alguns são de levar a cara às mãos e de bradar aos céus.
Então não é que o seguinte trecho, que julgo ser inteiramente compreensível no Brasil:
foi deturpado como:
Acredita-se?
Soube desta coisa estapafúrdia através deste blogue, cujo autor se escandaliza, e com toda a razão, com aquela estupidez do limão-siciliano num mundo onde não existe Sicília. Já para não falar da deturpação da cadência do original, que procurei preservar na tradução para português.
Decididamente, a tradução que os brasileiros estão a ler não é a minha.
PS - Dizem-me que os livros seguintes, A Fúria dos Reis e A Tormenta de Espadas já não sofrem deste tipo de problemas. Sem os livros, não posso confirmar. Mas espero bem que assim seja!
Por conseguinte, da adaptação só conheço os trechos que vão vazando aqui e ali. E alguns são de levar a cara às mãos e de bradar aos céus.
Então não é que o seguinte trecho, que julgo ser inteiramente compreensível no Brasil:
Há ali cem tipos de erva, ervas amarelas como limão e escuras como índigo, ervas azuis e ervas cor de laranja, e ervas que são como arcos-íris
foi deturpado como:
Há ali cem tipos de plantas, amarelas como limão-siciliano e escuras como índigo, azuis e cor de laranja, e as que são como arco-íris.
Acredita-se?
Soube desta coisa estapafúrdia através deste blogue, cujo autor se escandaliza, e com toda a razão, com aquela estupidez do limão-siciliano num mundo onde não existe Sicília. Já para não falar da deturpação da cadência do original, que procurei preservar na tradução para português.
Decididamente, a tradução que os brasileiros estão a ler não é a minha.
PS - Dizem-me que os livros seguintes, A Fúria dos Reis e A Tormenta de Espadas já não sofrem deste tipo de problemas. Sem os livros, não posso confirmar. Mas espero bem que assim seja!
Lido: A Fazenda-Relógio
A Fazenda-Relógio (bib.) é um conto de Octavio Aragão no qual o steampunk toma um caminho muito interessante: nas plantações do interior cafeeiro do Brasil, a economia baseada no trabalho escravo é abalada pela introdução de autómatos a vapor e montados em carris. Com uma premissa tão interessante, achei pena que o conto fosse tão curto. Com toda a franqueza, o cenário e até mesmo o enredo propriamente dito (a revolta dos antigos escravos, de súbito numa situação em que não têm donos mas tampouco têm meios de subsistência, as reações da escrava de casa grande e dos fazendeiros, etc., etc.), mereciam uma concretização mais extensa, no mínimo uma noveleta longa, mas provavelmente até um romance. Porque há aqui potencial para uma obra maior, que o conto não é. Não é um mau conto, entenda-se; é até um conto de qualidade acima da média, embora não muito. Mas o material de base permitia criar algo muito melhor. O conto é apressado e, em muitos aspetos, superficial, e o autor vê-se nele obrigado a despejar informação que numa obra mais extensa podia ir sendo introduzida aos poucos, ao mesmo tempo que tudo quanto no conto é superficial poderia ser aprofundado e melhor explorado. Numa frase, há demasiado enredo e ambientação para uma obra tão curta. Como consequência, ao terminar a leitura fiquei com a sensação de ter tomado contacto com uma oportunidade mal aproveitada. Mas lá está: não seria o primeiro nem o último conto a ver-se expandido para uma obra mais ampla. Espero sinceramente que isso aconteça. A ideia merece-o.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Uma breve nota sobre feriados
Pedimos desculpa por esta interrupção, o programa segue dentro de momentos.
Tenho uma opinião sólida sobre a questão dos feriados, e é a seguinte: Portugal é um país laico. Como tal não devia ter feriados religiosos, a menos aqueles cuja comemoração esteja tão entranhada na cultura do país que se estende muito para lá do simples âmbito religioso. Há um, e só um, feriado religioso nessas condições: o Natal. Os outros deviam ser simplesmente suprimidos. Todos. Não porque seja preciso trabalhar mais, não por causa da economia ou da crise, mas simplesmente porque Portugal é um país laico que, como tal, não deve promover nenhuma religião, mas sim dar igual liberdade a todas elas e aos crentes de todas elas para prestarem culto quando e como muito bem entenderem. É isso que significa ser um país laico. E não é com feriados católicos que há liberdade religiosa.
O que isto também significa é que os crentes da religião X devem ter a liberdade de se ausentarem do local de trabalho quando existirem motivos (o tal culto, obviamente) sem sofrerem penalizações por isso, a menos que se entre no exagero. Isto deve incluir, claro, as datas de relevo para católicos, mas também os períodos de oração dos muçulmanos, dos judeus, dos protestantes, do diabo a quatro. Liberdade religiosa é isso. Seriam faltas justificadas. Compensadas noutras alturas, mesmo que parcialmente? Com horários adaptados a cada pessoa em concreto? Provavelmente, sim, até para evitar a tentação dos chicos espertos descobrirem de repente profundos sentimentos religiosos onde horas antes só existia interesse próprio.
Agora, quanto a mudar feriados de lugar para evitar pontes, é ideia imbecil típica deste governo de idiotas. As pontes só existem porque as entidades patronais as autorizam. A começar pelo próprio Estado. Não são um direito, são uma benesse que se dá aos trabalhadores. Nada impede que deixe de se dar, já, essa benesse, sem sermos todos obrigados a comemorar o 1 de maio a 2 ou a 3. Mas não tenho dúvidas de que, precisamente porque é ideia imbecil típica deste governo de idiotas, terá grande apoio popular. Afinal, foi o povo quem elegeu este governo de idiotas.
E era isto. Voltem lá aos vossos afazeres que eu tenho um livro para traduzir.
Tenho uma opinião sólida sobre a questão dos feriados, e é a seguinte: Portugal é um país laico. Como tal não devia ter feriados religiosos, a menos aqueles cuja comemoração esteja tão entranhada na cultura do país que se estende muito para lá do simples âmbito religioso. Há um, e só um, feriado religioso nessas condições: o Natal. Os outros deviam ser simplesmente suprimidos. Todos. Não porque seja preciso trabalhar mais, não por causa da economia ou da crise, mas simplesmente porque Portugal é um país laico que, como tal, não deve promover nenhuma religião, mas sim dar igual liberdade a todas elas e aos crentes de todas elas para prestarem culto quando e como muito bem entenderem. É isso que significa ser um país laico. E não é com feriados católicos que há liberdade religiosa.
O que isto também significa é que os crentes da religião X devem ter a liberdade de se ausentarem do local de trabalho quando existirem motivos (o tal culto, obviamente) sem sofrerem penalizações por isso, a menos que se entre no exagero. Isto deve incluir, claro, as datas de relevo para católicos, mas também os períodos de oração dos muçulmanos, dos judeus, dos protestantes, do diabo a quatro. Liberdade religiosa é isso. Seriam faltas justificadas. Compensadas noutras alturas, mesmo que parcialmente? Com horários adaptados a cada pessoa em concreto? Provavelmente, sim, até para evitar a tentação dos chicos espertos descobrirem de repente profundos sentimentos religiosos onde horas antes só existia interesse próprio.
Agora, quanto a mudar feriados de lugar para evitar pontes, é ideia imbecil típica deste governo de idiotas. As pontes só existem porque as entidades patronais as autorizam. A começar pelo próprio Estado. Não são um direito, são uma benesse que se dá aos trabalhadores. Nada impede que deixe de se dar, já, essa benesse, sem sermos todos obrigados a comemorar o 1 de maio a 2 ou a 3. Mas não tenho dúvidas de que, precisamente porque é ideia imbecil típica deste governo de idiotas, terá grande apoio popular. Afinal, foi o povo quem elegeu este governo de idiotas.
E era isto. Voltem lá aos vossos afazeres que eu tenho um livro para traduzir.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Lido: Os Marcianos Divertem-se
Os Marcianos Divertem-se (bib.) é um pequeno romance satírico de Fredric Brown sobre uma invasão da Terra por uns marciananos muito peculiares. Até a forma de invasão é peculiar: de um dia para o outro, o planeta vê-se repleto de criaturinhas que simplesmente aparecem e para as quais as divisões materiais do espaço parecem não ter qualquer significado. Como se não bastasse, são uns sacaninhas irreverentes e insultuosos. Tratam toda a gente por "Zé", troçam abertamente das pessoas, divertem-se a divulgar segredos e a enfurecer os mais pacatos, etc. Como o próprio Brown diz, por intermédio de Mário-Henrique Leiria, o tradutor:
Ou seja: são precisamente o tipo de criatura que hoje em dia se costuma encontrar em certos locais da internet. Trolls.
Assim descritos os marcianos, já se imagina o que o romance é: o relato do que acontece quando essas excelsas pilhas de qualidades chegam ao nosso planeta e das consequências que tem a sua permanência. Por vezes irónico, por vezes sarcástico, por vezes datado (o livro é de 1955, afinal de contas). Há, claro, crítica social e de costumes a rodos, até porque é precisamente essa a ideia, mas parte dela tinha bem mais relevância há 56 anos do que tem hoje. E trata-se mais de uma sátira do que de ficção científica propriamente dita. Mas gostei. Não me parece que o humor funcione com toda a gente, mas comigo funcionou: nunca despreguei bandeiras a rir, mas sorri várias vezes e até soltei uma ou outra gargalhadinha.
Quanto à tradução, há trechos de pura genialidade, mas globalmente desiludiu-me um pouco. Mário-Henrique Leiria era um bom tradutor, um dos melhores que passaram pelas traduções de FC em Portugal, mas aqui, à parte esses trechos, não me parece que tivesse estado ao seu melhor nível.
Acontece aos melhores.
Este livro foi comprado.
«Todos, sem excepção se mostravam arrogantes, atribiliários, bárbaros, contrariantes, corrosivos, diabólicos, exasperantes, execráveis, ferozes, guinchadores, grosseiros, hostis, injuriosos, impudentes, irascíveis, jactanciosos, korriganescos. Eram lúbricos, malfeitores, niilistas, odiosos, ofensivos, pérfidos, perniciosos, perversos, quereladores, rebarbativos, sarcásticos, truculentos, ulcerantes, vexatórios, visigóticos, xenófobos e zumbidores ao ponto de tornar doido todo aquele que entrasse em contacto com eles.»
Ou seja: são precisamente o tipo de criatura que hoje em dia se costuma encontrar em certos locais da internet. Trolls.
Assim descritos os marcianos, já se imagina o que o romance é: o relato do que acontece quando essas excelsas pilhas de qualidades chegam ao nosso planeta e das consequências que tem a sua permanência. Por vezes irónico, por vezes sarcástico, por vezes datado (o livro é de 1955, afinal de contas). Há, claro, crítica social e de costumes a rodos, até porque é precisamente essa a ideia, mas parte dela tinha bem mais relevância há 56 anos do que tem hoje. E trata-se mais de uma sátira do que de ficção científica propriamente dita. Mas gostei. Não me parece que o humor funcione com toda a gente, mas comigo funcionou: nunca despreguei bandeiras a rir, mas sorri várias vezes e até soltei uma ou outra gargalhadinha.
Quanto à tradução, há trechos de pura genialidade, mas globalmente desiludiu-me um pouco. Mário-Henrique Leiria era um bom tradutor, um dos melhores que passaram pelas traduções de FC em Portugal, mas aqui, à parte esses trechos, não me parece que tivesse estado ao seu melhor nível.
Acontece aos melhores.
Este livro foi comprado.
Lido: Freefall
Freefall é um conto de ficção científica de Michael Bateman que, embora difira em muitos pormenores, ressoa estranhamente com um conto meu, publicado em 2002, No Vento Frio de Tharsis. Já não é a primeira vez que me acontece ver temas que tratei em histórias minhas tratados independentemente em contos de outros autores. Desta vez a minha saiu primeiro (esta é de 2003), mas nem sempre isso acontece, e é sempre muito estranho. É como se as ideias andassem por aí a flutuar numa espécie de noosfera exterior aos nossos cérebros, à espera de serem apanhadas por qualquer autor que estenda a mão. E se forem vários a fazê-lo, elas não se fazem rogadas.
Além de estranho, é incómodo. Porque este tipo de coincidência costuma dar pratinho cheio aos idiotas da má-língua. Quantas vezes viram já acusações de plágio atiradas a torto e a direito, mesmo que não haja a mais pequena hipótese do autor X ter contactado com a obra do autor Y antes de escrever a sua? Pois.
Como é óbvio, evidente e cristalino, Bateman não me plagiou. Mas o ambiente dos desportos radicais está lá, o risco também, a ambientação em outros planetas idem aspas, as conversas com uma mulher contrária à ideia de pôr a vida em risco por algo que ela não compreende igualmente por lá andam, etc. Quase toda a base dos contos é igual, embora os pormenores sejam diferentes. No meu, o protagonista faz parapente, no de Bateman faz algo de semelhante ao bungee jumping; no meu a mulher fica na Terra, no dele parte com o protagonista para o espaço; no meu o protagonista vai para Marte, no dele para Júpiter; no meu, a história é contada do ponto de vista do protagonista, no dele do da mulher.
E sim, é claro que, apesar da estranheza e do incómodo, gostei do conto. É um bom conto de FC, bem construído e bem executado.
Além de estranho, é incómodo. Porque este tipo de coincidência costuma dar pratinho cheio aos idiotas da má-língua. Quantas vezes viram já acusações de plágio atiradas a torto e a direito, mesmo que não haja a mais pequena hipótese do autor X ter contactado com a obra do autor Y antes de escrever a sua? Pois.
Como é óbvio, evidente e cristalino, Bateman não me plagiou. Mas o ambiente dos desportos radicais está lá, o risco também, a ambientação em outros planetas idem aspas, as conversas com uma mulher contrária à ideia de pôr a vida em risco por algo que ela não compreende igualmente por lá andam, etc. Quase toda a base dos contos é igual, embora os pormenores sejam diferentes. No meu, o protagonista faz parapente, no de Bateman faz algo de semelhante ao bungee jumping; no meu a mulher fica na Terra, no dele parte com o protagonista para o espaço; no meu o protagonista vai para Marte, no dele para Júpiter; no meu, a história é contada do ponto de vista do protagonista, no dele do da mulher.
E sim, é claro que, apesar da estranheza e do incómodo, gostei do conto. É um bom conto de FC, bem construído e bem executado.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Lido: É Preciso Matar o Spoq
É Preciso Matar o Spoq (bib.) é um conto de uma espécie de ficção científica muito fantasiosa, de Christian Grenier, tão surreal que se torna difícil descrevê-lo de forma que lhe faça justiça. Parece (e sublinho: parece) ter lugar num universo paralelo, ou num qualquer lugar que transcende o conceito de universo, criado pelo tal spoq a que o título faz referência, onde vivem criaturas que parecem ser humanas mas que possuem poderes (de telecinese e teleportação, por exemplo), e que está cada vez mais enxameado por "spoquitos", malcheirosas criaturas de nove patas que causam problemas onde quer que apareçam e que são, também eles, criados pelo spoq. O conto acompanha a viagem de descoberta do protagonista quando parte para tentar matar o spoq. É um conto juvenil, cheio de humor e de imaginação, e como tal é interessante, embora não cumpra os requisitos mais exigentes da ficção científica "adulta" e "séria". Porque privilegia a aventura e a imaginação ao rigor científico. Mas não me parece que isso tenha muita importância. É um conto de FC juvenil interessante, e só não é mais que interessante porque não me parece que o final esteja ao nível do resto do conto.
domingo, 9 de outubro de 2011
Lido: O Mistério da Árvore
O Mistério da Árvore (bib.) é um muito poético conto curto de Raul Brandão que, em jeito de história de fadas, fala de um reino governado por um rei tão malvado que tinha feito secar a água das fontes. No reino havia uma árvore, também ela há muito seca, onde eram há séculos enforcados os condenados à morte. A esse reino chega um dia um casal de mendigos, que muito se amam, e que por isso mesmo (e por serem mendigos) afrontam o rei e são condenados a morrer enforcados na tal árvore. E é o que acontece. Mas o amor é vida e a árvore, morta, ganha vida.
Trata-se de um conto muito bonito, muito doce, muito romântico, mas cuja verdadeira força está no magnífico uso da língua que nele é feito, não propriamente na história que conta (que nem me parece que seja nada de especial). Além disso, tem o tamanho certo. Se fosse maior sairia da dimensão típica dos contos populares de caráter maravilhoso que lhe servem de inspiração, e seria mais difícil evitar que a prosa poética começasse a cansar. Assim, tudo parece estar no sítio que lhe é próprio. Gostei bastante, mesmo não sendo este o tipo de conto que mais me costuma agradar. E recomendo, exceto a quem ache que só as histórias sombrias valem a pena.
Trata-se de um conto muito bonito, muito doce, muito romântico, mas cuja verdadeira força está no magnífico uso da língua que nele é feito, não propriamente na história que conta (que nem me parece que seja nada de especial). Além disso, tem o tamanho certo. Se fosse maior sairia da dimensão típica dos contos populares de caráter maravilhoso que lhe servem de inspiração, e seria mais difícil evitar que a prosa poética começasse a cansar. Assim, tudo parece estar no sítio que lhe é próprio. Gostei bastante, mesmo não sendo este o tipo de conto que mais me costuma agradar. E recomendo, exceto a quem ache que só as histórias sombrias valem a pena.
Lido: Planetas
Planetas, do mexicano Ricardo Bernal, é um pequeno conto sobre terrestres e marcianos cujo principal interesse parece estar no texto propriamente dito. Não parece nele haver uma ideia, além de uma certa (e muito disparatada) equivalência entre ciência e magia, e tampouco existe uma história propriamente dita. Além de um texto, numa prosa algo poética, que não me parece maltratar a língua castelhana, não encontrei nada neste continho. Para alguns leitores um texto de boa qualidade é suficiente. Para mim não é. Não gostei. Não aconselho, mas se quiserem podem lê-lo aqui. É logo o primeiro.
Lido: A Canção de Kali
A Canção de Kali (bib.), de Dan Simmons, é um romance que já acabei de ler há algum tempo (praticamente dois meses) mas do qual, por um motivo ou por outro, só agora arranjei tempo para falar. Se o mesmo acontecesse com certos outros livros isso causar-me-ia problemas. Há histórias que começam a desvanecer-se da memória assim que o livro se fecha, quando não é ainda com ele aberto, e falar delas alguns meses mais tarde torna-se quase impossível. Mas não é o caso deste romance.
Como o título sugere, a ação desenrola-se principalmente na Índia. O protagonista é um americano, casado com uma emigrante indiana, que é encarregado de investigar o misterioso aparecimento de um novo manuscrito escrito por grande poeta indiano que consta estar morto. Para isso embarca com a mulher e uma filha pequena num avião para Calcutá, uma das maiores cidades da Índia (e do mundo), descrita como um lugar caótico, repleto de miséria e sujidade e centro de um culto à deusa hindu da destruição, Kali, consorte do deus da morte, Shiva.
Mas Simmons, com esta matéria-prima nas mãos, resiste à tentação da facilidade. Não mergulha o leitor de cabeça e à bruta no horror sobrenatural que se poderia supor. Pelo contrário, meio romance é passado em pleno realismo, com não mais que subtis indicações de que algo de realmente invulgar se passa naquela cidade, algo que transcende as simples consequências do sobrepovoamento e do subdesenvolvimento. Algo que não se explique apenas com crime organizado e seitas religiosas clandestinas e fanáticas.
É em boa parte por causa dessa pintura de um cenário inteiramente realista, ao mesmo tempo que vai preparando o leitor para o que está para vir, que este livro está tão bem conseguido. Por causa da subtileza que percorre todo o romance, por ter todos os fios que constituem a trama tão bem amarrados. Por estar muito bem escrito, com um ritmo impecável, com tudo no sítio. No que acontece ao protagonista e sua família, nas várias personagens que se vão cruzando com eles, no retrato — nada lisongeiro — da cidade de Calcutá e da própria Índia, não parece haver nada a mais nem nada a menos. Tudo está onde e como deve estar.
Achei A Canção de Kali dos melhores livros que li nos últimos anos. E é dos poucos livros que recomendo sem reservas a quase qualquer leitor, sejam quais forem os seus gostos, à exceção de quem não goste de livros perturbadores. Porque A Canção de Kali, pese embora toda a sua subtileza, é um livro perturbador. Ou talvez por causa dessa subtileza. É mais fácil acreditar que por trás das aparências algo de negro se move quando essas aparências são tão palpáveis do que quando a descrença é violentada desde o início com as tentativas desajeitadas de chocar com que tantos autores menores se comprazem. E Simmons, basta este livro para o dizer, e bastaria mesmo que nada mais de bom tivesse escrito ao longo de toda a carreira, não é um autor menor.
Este livro foi comprado.
Como o título sugere, a ação desenrola-se principalmente na Índia. O protagonista é um americano, casado com uma emigrante indiana, que é encarregado de investigar o misterioso aparecimento de um novo manuscrito escrito por grande poeta indiano que consta estar morto. Para isso embarca com a mulher e uma filha pequena num avião para Calcutá, uma das maiores cidades da Índia (e do mundo), descrita como um lugar caótico, repleto de miséria e sujidade e centro de um culto à deusa hindu da destruição, Kali, consorte do deus da morte, Shiva.
Mas Simmons, com esta matéria-prima nas mãos, resiste à tentação da facilidade. Não mergulha o leitor de cabeça e à bruta no horror sobrenatural que se poderia supor. Pelo contrário, meio romance é passado em pleno realismo, com não mais que subtis indicações de que algo de realmente invulgar se passa naquela cidade, algo que transcende as simples consequências do sobrepovoamento e do subdesenvolvimento. Algo que não se explique apenas com crime organizado e seitas religiosas clandestinas e fanáticas.
É em boa parte por causa dessa pintura de um cenário inteiramente realista, ao mesmo tempo que vai preparando o leitor para o que está para vir, que este livro está tão bem conseguido. Por causa da subtileza que percorre todo o romance, por ter todos os fios que constituem a trama tão bem amarrados. Por estar muito bem escrito, com um ritmo impecável, com tudo no sítio. No que acontece ao protagonista e sua família, nas várias personagens que se vão cruzando com eles, no retrato — nada lisongeiro — da cidade de Calcutá e da própria Índia, não parece haver nada a mais nem nada a menos. Tudo está onde e como deve estar.
Achei A Canção de Kali dos melhores livros que li nos últimos anos. E é dos poucos livros que recomendo sem reservas a quase qualquer leitor, sejam quais forem os seus gostos, à exceção de quem não goste de livros perturbadores. Porque A Canção de Kali, pese embora toda a sua subtileza, é um livro perturbador. Ou talvez por causa dessa subtileza. É mais fácil acreditar que por trás das aparências algo de negro se move quando essas aparências são tão palpáveis do que quando a descrença é violentada desde o início com as tentativas desajeitadas de chocar com que tantos autores menores se comprazem. E Simmons, basta este livro para o dizer, e bastaria mesmo que nada mais de bom tivesse escrito ao longo de toda a carreira, não é um autor menor.
Este livro foi comprado.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Lido: Perfect Pilgrim
Perfect Pilgrim é uma noveleta de Jom Grimsley que nos apresenta uma ficção científica francamente mística. Num futuro distante em que a Humanidade está bastante alterada em relação ao que é hoje e mostra uma miríade de formas e condições, um rapaz vindo de um mundo distante chega a Sha-Nal, planeta sagrado e centro do universo, para uma peregrinação. Aí vai deparar com uma viagem de descoberta, de si e da sociedade que o rodeia, que não é nada do que estava à espera.
É uma história que me desde o início joga fortemente com o sentido de estranhamento comum a muita FC, mas que a meu ver não o faz lá muito bem. É tudo demasiado. São abordados demasiados temas, desde a descoberta de si mesmo às questões de identidade de género, passando pelos limites do humano, pela ideia de alma e reencernação, por mais uma série de coisas, e tudo num espaço demasiado reduzido, não permitindo que nenhuma delas seja devidamente explorada, embora tanha de reconhecer que o misticismo subjacente à noveleta me teria afastado dela mesmo que não contivesse tanta coisa.
Demasiado. Demasiado em demasiados aspetos, menos... na história propriamente dita. Essa existe a menos, e só podia ser assim, porque com tanto estranhamento no espaço duma noveleta pouco resta para desenvolver uma história. Ou personagens com alguma riqueza.
Quem se delicie com a estranheza, aqueles cujo foco de atenção principal sejam as ideias, provavelmente gostarão desta história. Quem se interesse mais pelo resto quase de certeza não gostará. E eu, intermédio como sou, não tendo desgostado por completo não posso dizer que tenha gostado.
É uma história que me desde o início joga fortemente com o sentido de estranhamento comum a muita FC, mas que a meu ver não o faz lá muito bem. É tudo demasiado. São abordados demasiados temas, desde a descoberta de si mesmo às questões de identidade de género, passando pelos limites do humano, pela ideia de alma e reencernação, por mais uma série de coisas, e tudo num espaço demasiado reduzido, não permitindo que nenhuma delas seja devidamente explorada, embora tanha de reconhecer que o misticismo subjacente à noveleta me teria afastado dela mesmo que não contivesse tanta coisa.
Demasiado. Demasiado em demasiados aspetos, menos... na história propriamente dita. Essa existe a menos, e só podia ser assim, porque com tanto estranhamento no espaço duma noveleta pouco resta para desenvolver uma história. Ou personagens com alguma riqueza.
Quem se delicie com a estranheza, aqueles cujo foco de atenção principal sejam as ideias, provavelmente gostarão desta história. Quem se interesse mais pelo resto quase de certeza não gostará. E eu, intermédio como sou, não tendo desgostado por completo não posso dizer que tenha gostado.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Lido: A Chegada dos Marcianos
A Chegada dos Marcianos (bib.), de H. G. Wells, é um extrato do clássico A Guerra dos Mundos, como o título sugere a qualquer pessoa que conheça alguma coisa sobre a história da ficção científica. Trata-se, como também será fácil adivinhar, do início desse romance. E o início desse romance é dos melhores e mais célebres inícios de romance que alguma vez se escreveram. Por conseguinte, para quem já conhece alguma FC, este texto nada traz de novo, apesar de ser excelente. Mas o livro em que se insere é destinado à juventude e os leitores jovens são leitores pouco experientes, por definição. Muitos não terão tido contacto com Wells antes deste extrato; a muitos desses o extrato despertará a curiosidade. E eu acho muito bem.
domingo, 2 de outubro de 2011
Lido: A Princesinha das Rosas
A Princesinha das Rosas (bib.) é um conto curto de Fialho de Almeida que gira em torno de pescadores e ondinas. No entanto, aquilo que mais interesse despertou ao autor não parece ter sido tanto a história como o tratamento do texto propriamente dito. É que aquela pouco ultrapassa o relato lendário, com tudo o que é comum encontrar-se no conto popular. Este, contudo, é elaborado, burilado, poder-se-á mesmo dizer florido. Prosa poética em estado puro e, enquanto tal, de grande qualidade. Quem goste de prosa poética tem aqui, portanto, fartura de interesse com que se regalar; quem prefira uma história interessante, bem construída e com algo de inovador, contudo, não veio bater a boa porta, embora no caso de ainda não conhecer este aspeto do bestiário fantástico da nossa terra é provável que também aqui ache motivos de interesse mais que suficientes para terminar a leitura satisfeito. Pessoalmente, e pese embora apreciar a qualidade do texto, não gostei muito do conto. Foi um daqueles contos que comecei a esquecer ainda durante a leitura. Daqui a dias já não deve restar nada.
sábado, 1 de outubro de 2011
Um choque e um ano de diferença
Há um ano tive um choque. Não sei bem quando foi, embora talvez ficasse a saber se me desse ao trabalho de ir investigar. Mas não vale a pena. Sei que foi em outubro, provavelmente na segunda quinzena, e isso basta. Faz de conta que foi a um e que faz hoje um ano.
Há um ano, portanto, tive um choque. A roupa, que tinha passado vários anos a encolher cada vez mais, estava a escassear, e decidi que tinha de ir comprar mais, portanto arranjei um dia livre e pus-me a percorrer lojas. Cheguei ao fim do dia estarrecido: em nenhuma tinha encontrado alguma coisa que me servisse. Em. Nenhuma.
Eu não me achava assim tão gordo. Os meus 114 quilos não se notavam lá muito, pensava eu, e até mo diziam de vez em quando. Sim, gordo estava, claro, até porque me sentia pesadão, me faltava o fôlego depois de andar umas centenas de metros, desatava a suar com qualquer palha mexida, enfim, tinha todos os sinais de aviso da obesidade. Mas não me achava assim tão gordo que não fosse capaz de arranjar roupa que me servisse, caramba!
Há um ano desfez-se a ilusão. E há um ano decidi emagrecer. Para isso, limitei-me a fazer duas coisas. Um pouco mais de exercício físico foi uma. Nada de especial: uns passeios de vez em quando, um deixar o carro em casa quando não é indispensável, essas coisas. Não me entreguei aos caça-níqueis que são os ginásios, e não saltei de anos de completo sedentarismo para uma vida armada em desportista. Aumentei só um pouco a atividade. Mas fiz também uma segunda coisa: deixei de enfardar. Em vez de comer até me sentir farto, passei a comer até ter o suficiente, ou um pouco menos. Até ficar sem fome. Não deixei de comer nada; continuei a comer tudo o que comia, mas menos (na verdade houve até uma coisa que passei a comer mais: pistácios. Raio de vício, esse). Só isso, nada mais.
Resultado?
Um ano mais tarde, tenho 97 quilos. Ainda tenho peso a mais, mas já não estou obeso. O pneu ainda cá está, mas algo desinsuflado. A barriga reduziu-se a um vestígio. 17 quilos a menos fazem diferença nessas coisas. E ganhei agilidade, resistência, qualidade de vida. Roupa que não me servia há anos voltou a servir. Numa palavra, rejuvenesci.
É bom, rejuvenescer. E é a segunda vez que me acontece. A primeira foi quando deixei de fumar. Perder peso é parecido. Aconselho.
Há um ano, portanto, tive um choque. A roupa, que tinha passado vários anos a encolher cada vez mais, estava a escassear, e decidi que tinha de ir comprar mais, portanto arranjei um dia livre e pus-me a percorrer lojas. Cheguei ao fim do dia estarrecido: em nenhuma tinha encontrado alguma coisa que me servisse. Em. Nenhuma.
Eu não me achava assim tão gordo. Os meus 114 quilos não se notavam lá muito, pensava eu, e até mo diziam de vez em quando. Sim, gordo estava, claro, até porque me sentia pesadão, me faltava o fôlego depois de andar umas centenas de metros, desatava a suar com qualquer palha mexida, enfim, tinha todos os sinais de aviso da obesidade. Mas não me achava assim tão gordo que não fosse capaz de arranjar roupa que me servisse, caramba!
Há um ano desfez-se a ilusão. E há um ano decidi emagrecer. Para isso, limitei-me a fazer duas coisas. Um pouco mais de exercício físico foi uma. Nada de especial: uns passeios de vez em quando, um deixar o carro em casa quando não é indispensável, essas coisas. Não me entreguei aos caça-níqueis que são os ginásios, e não saltei de anos de completo sedentarismo para uma vida armada em desportista. Aumentei só um pouco a atividade. Mas fiz também uma segunda coisa: deixei de enfardar. Em vez de comer até me sentir farto, passei a comer até ter o suficiente, ou um pouco menos. Até ficar sem fome. Não deixei de comer nada; continuei a comer tudo o que comia, mas menos (na verdade houve até uma coisa que passei a comer mais: pistácios. Raio de vício, esse). Só isso, nada mais.
Resultado?
Um ano mais tarde, tenho 97 quilos. Ainda tenho peso a mais, mas já não estou obeso. O pneu ainda cá está, mas algo desinsuflado. A barriga reduziu-se a um vestígio. 17 quilos a menos fazem diferença nessas coisas. E ganhei agilidade, resistência, qualidade de vida. Roupa que não me servia há anos voltou a servir. Numa palavra, rejuvenesci.
É bom, rejuvenescer. E é a segunda vez que me acontece. A primeira foi quando deixei de fumar. Perder peso é parecido. Aconselho.
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