sábado, 28 de fevereiro de 2009

Semana

O tempo passa depressa quando um tipo anda ocupado. Liga-se a televisão, vê-se que está a dar o top+, e percebe-se com um misto de espanto e choque que já se está outra vez no sábado. Depois olha-se para trás, tenta-se perceber o que a semana trouxe de novo à vida e ao que dela se derrama para o mundo. E percebe-se.

Pois desta vez foram mais 50 páginas do "livrito" do Martin, que fizeram baixar o número das que faltam para 181. Já passou de meio e ainda nem o pequeno Fevereiro chegou ao fim.

Foi também um belo avanço no wiki, que se contabilizou em 190 páginas novas que fizeram subir o total para 15794. Muito material brasileiro, ou pelo menos editado no Brasil, muita Intempol. Não que os bibliowikianos brasileiros se tenham mexido muito, há que dizer.

E foi ainda uma série de leituras.

Fechei, com uns artigos de que não vale a pena falar, a leitura do número 611 da Fantasy & Science Fiction, que inclui um conto absolutamente magnífico e dois ou três muito bons. Mesmo contando com aqueles que não me agradaram muito, foi uma óptima leitura que valeu bem a pena. Bastaria The Sleeping Woman para fazer com que a leitura desta revista valesse bem a pena.

Não Havendo Notícias não há Novidade é uma noveleta de Pierre Christin, de uma ficção científica algo space-operática, sobre um jornalista que descobre uma cacha capaz de abalar os alicerces do império galáctico. Trata-se de uma bela parábola sobre o colonialismo e o poder da informação e da imprensa, que tem ainda o bónus de jogar bem com a evolução tecnológica: na sociedade contemporânea ao jornalista, as notícias são transmitidas de uns mundos para os outros instantaneamente, mas a cacha que o jornalista descobre tem origem em acontecimentos antigos, que tinham sido transmitidos séculos antes por via electromagnética, ou seja, à velocidade da luz. Bastante bom.

A Cidade é uma crónica/conto alegórica de José Saramago, que se socorre de um ambiente fantástico para falar de si próprio e do seu processo de auto-conhecimento. Um bocado meh, há que dizê-lo.

Verão Foguete é um pequeníssimo conto de Ray Bradbury sobre os efeitos meteorológicos que uma pequena cidade sofre quando se dá o lançamento de foguetes das imediações. E sim, é ficção científica: foi escrito oito anos antes do Sputnik. Nada de superlativo, e algo atropelado pela realidade, este conto vale mais pelo efeito que tem no livro que abre do que por si próprio.

Amizade é um conto mainstream de S. Y. Agnon de que francamente não gostei. Mesmo. Um homem irascível começa por se irritar com Fulano e Beltrano, para depois se perder na cidade onde mora, sem conseguir lembrar-se da rua em que mora, e acabar por encontrar a casa nos olhos de um rapaz. Mesmo descontando o cheirinho algo fétido a pedofilia gay, fecha-se o conto a pensar "hm... e daí?" Um belo bah.

My Night With Aphrodite é um divertido poema de Tim Pratt, sobre um one-night stand com a deusa Afrodite, após o qual a deusa se revela a mais típica das mulheres, torcendo o nariz a todas as insignificâncias e acabando, evidentemente, na rua. Gostei! Sou um malandro, mea culpa.

O Grande Roubo é outro conto mainstream, este de Ray Bradbury, um conto ternurento sobre um roubo de um maço de misteriosas cartas de amor que uma velhota guardava há décadas, e que vai desembocar na concretização de um velho amor impossível. Muito bem escrito e executado, apesar do tema não ser propriamente aquele que mais me desperta o interesse (e na verdade já li outros contos semelhantes). Mas é bom.

E foi isto. Para a semana, que provavelmente chegará sem que eu dê por isso, haverá mais.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Semana

Eis-nos no fim de mais uma semana, a primeira com um certo cheirinho a primavera. Já há luz lá fora, já os dias se esticam. Até já andei na rua de manga curta, sem sofrer com isso espirros ou arrepios.

Mas a maior parte do tempo é passada aqui, com este livro que tenho em frente aberto na minha frente, a tratar de transformar páginas bem escritas em inglês em páginas o mais bem escritas possível em português. A semana terminou com 231 páginas em falta, o que quer dizer que ao longo dela se traduziram 44. Só. Pouco, muito pouco, graças a dois dias em que não me deixaram dormir e estive, na prática, com o cérebro desligado.

Há vizinhos que deviam ser mergulhados em alcatrão e penas e corridos da cidade à pedrada.

Outra parte do tempo é passada às voltas com o wiki, que está neste momento com 15 604 páginas, o que significa 86 novidades relativamente a uma semana atrás. Foram vários autores, vários romances e uma antologia e respectivo conteúdo, basicamente.

Outra parte do tempo é passada a ler. Ler, que é ao mesmo tempo prazer e trabalho, porque para um tradutor ler na sua língua é fundamental para a manter oleada e livre de impurezas, para evitar que nela se vão insinuando aos poucos expressões e modos de dizer característicos da língua de origem.

Não que tenha lido muitas coisas. Mas ainda li Cidade Verde, Algures em Marte; Marte Algures no Egipto, uma introdução que Bradbury escreveu muitos anos depois das Crónicas Marcianas, e que é uma leitura interessantíssima por mostrar o modo como o autor concilia para si próprio o seu Marte imaginário com o Marte muito diferente que nos é revelado pela ciência. Pode não se concordar com algumas das afirmações que ele ali faz, e eu não concordo, mas achar-se na mesma este pequeno texto fascinante.

Ainda li O Alpendre, de Herman Melville, um conto que me parece cumprir à risca os preceitos do fantástico todoroviano, por deixar o leitor na dúvida sobre a realidade daquilo que lhe é contado. Um grande aplauso à tradução é inevitável, embora não tenha gostado particularmente do conto em si.

Ainda li Junk DNA, de Rudy Rucker e Bruce Sterling, uma noveleta de ficção científica sobre as peripécias que rodeiam a descoberta de uma forma de expressar o ADN lixo, isto é, aquelas porções do nosso código genético que separam (e unem) os genes e aparentemente estão desprovidas de informação útil. Também não gostei lá muito: a maior parte do texto é dedicado às peripécias que rodeiam a criação e manutenção de uma empresa de tecnologia de ponta criada para explorar essa descoberta, que espelham rigorosamente o ambiente das dot-coms no início do século XXI, um ambiente que de FC nada tem, apesar de apimentado por quantidade apreciável de termos em jargão de geneticista, e o final pareceu-me forçado e algo disparatado.

E li Casa Dividida, um conto inclassificável de Ray Bradbury, que conta um momento de passagem num grupo de jovens amigos que se costumam juntar para contar uns aos outros histórias de terror. Mas a noite que o conto descreve é uma noite especial, por marcar a iniciação sexual de um desses jovens ao mesmo tempo que acontece uma morte na família. Historia belissimamente bem construída, plena de subtileza, e francamente perturbadora.

E foi só isso. Espero que a semana que agora começa seja (bastante) mais produtiva. Para já, tenho aqui quatro páginas que sobraram de ontem.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sobre o tema do momento

Sim, por paradoxal que pareça aos desatentos, o tema do momento não é a crise económica, mas sim os casamentos homossexuais. Eu, francamente, nem percebo porque se está a discutir isto: se as pessoas são iguais perante a lei, o que parece que são, em teoria, e se estamos perante adultos na posse integral das suas faculdades que se querem casar, não entendo onde é que possa estar o motivo de polémica: casem-se e pronto.

Talvez valha a pena republicar o que já escrevi sobre o assunto em 2006, aqui, na sequência de uma sondagem feita pela equipa do Pedro Magalhães. A mim não perguntaram nada, mas eu resolvi responder na mesma às perguntas que eles não me fizeram. E a pergunta sobre isto foi:

P: Acha que duas pessoas do mesmo sexo devem poder...
Ao que eu respondi:

R: Casar. Do mesmo modo que não me meto no que fazem as instituições privadas, muito menos penso que tenho o direito de meter-me no que fazem indivíduos adultos e conscientes das suas acções. Se é casar que querem, pois que casem e sejam felizes. Também acho, já agora, que se preferirem "formar uniões com os mesmos direitos legais de um casamento" ou "formar uniões só com alguns dos direitos legais de um casamento", ou nenhuma das anteriores, também deviam poder fazê-lo.
Poderia ter escrito isto hoje. A minha posição sobre o assunto não mudou um milímetro. Já agora, há uma segunda pergunta implícita na discussão actual, e a sondagem de 2006 também interrogou as pessoas sobre ela:

P: Acha que pessoas homossexuais devem poder adoptar crianças?
Eu respondi que:

R: Estou nos 8% que não sabem. Acho que aqui as crianças se sobrepõem aos direitos individuais dos adultos. Não fosse isso, responderia claramente que sim. Mas não sei que efeitos tem sobre as crianças serem educadas por casais homossexuais, se é que tem alguns. Precisava de saber mais para responder a esta.
Pois aqui, hoje, já responderia de forma diferente. Continuo a achar que as crianças se sobrepõem aos direitos individuais dos adultos. Continuo a achar que é provável que na sociedade em que vivemos as crianças tenham a vida facilitada se integrarem uma família com pai e mãe, o que me leva a achar que, provavelmente, em igualdade de circunstâncias, talvez seja preferível que a criança seja adoptada por uma família dessas. Mas o que acontece é que a alternativa a ser-se adoptado é viver em instituições, que são coisas impessoais, por vezes com pessoal muito mal preparado até para lidar com os miúdos, quanto mais para lhes dar os afectos e estabilidade de que precisam. Os adoptantes, por outro lado, têm a sua vida e personalidade rigorosamente escrutinada durante longos meses antes de poderem adoptar. Não são pessoas quaisquer; são pessoas preparadas para o desafio que qualquer adopção (qualquer filho, aliás) representa. E isto leva-me agora a apoiar sem reservas a adopção por casais homossexuais. Precisamente porque aquilo que mais interessa é o superior interesse da criança.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A entrevista

Quem está a ler isto no Odisseias Fantásticas provavelmente já sabe, visto que a coisa está publicada dois posts abaixo. Mas quem lê na Lâmpada ou nalgum feed RSS próprio provavelmente ainda não, de modo que cá vai.

Foi publicada ontem à noite (ou hoje de madrugada, não sei bem), no Correio do Fantástico, uma entrevista comigo. Nela fala-se de literatura fantástica em geral e do meu romance, Por Vós lhe Mandarei Embaixadores, de blogues e de publicação electrónica, de influências e atracções. Se quiserem saber o que penso sobre esses assuntos, basta seguir os links. Ou parte do que penso. Não é numa entrevista só que o tema se esgota, e ao relê-la não consegui evitar pensar "aqui podia ter dito mais isto ou aquilo" e "isto ficava mais claro se tivesse sido expresso assim ou assado". Mas uma coisa é certa, e aí temos uma vantagem inegável da publicação electrónica sobre a publicação em papel, ou mesmo a rádio e televisão: tudo o que eu escrevi em resposta às perguntas que me foram enviadas está lá, sem cortes nem amputações. Não são muitas as entrevistas dadas a outros meios em que se pode dizer o mesmo.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Semana

E pronto, de volta ao trabalho e ao Martin. Acabou-se o que era doce, blá, blá, blá, aquelas coisas banais que se dizem quando se volta ao trabalho e ao Martin. O horizonte de eventos é agora 2 de Abril. Dá. Faltam 275 páginas, o que provavelmente significa que antes de Abril já estou com o Martin todo despachado (ou antes: à espera do Dance, como montes de outra gente) e de volta à outra senhora.

No wiki, a semana lucrou 41 novas páginas, o que levou o total a subir a 15 518. Uma dessas páginas novas apela à colaboração de todos. Trata-se de um sítio onde a ideia é reunir tudo quanto seja eventos com data marcada no fantástico em português, informação que geralmente se encontra dispersa por aí, quando as coisas não se limitam mesmo a passar despercebidas. Bora enchê-la?

Quanto a leituras, li Biblioteca Requintada, mais um belo conto de Zoran Zivkovic que acompanha as desventuras dum snobe literário que, para seu espanto e horror, encontra um livro de bolso na sua estante. Um livro de bolso, imagine-se! Claro que se vai desfazer dele imediatamente. Mas descobre que não é assim tão fácil. Um conto repleto de ironia, e que ainda por cima funciona como o laçarote que ata todos os outros contos do livro numa unidade (motivo pelo qual, suponho, há quem chame romance a este conjunto de contos). E claro que é o último conto do livro que, portanto, também terminei. Este chama-se Biblioteca (claro) e é muito bom e muito recomendável, apesar de algumas falhas de tradução: embora a tradutora, croata, tenha um conhecimento excelente da língua portuguesa, ele não é perfeito, e aqui e ali nota-se a sua condição de estrangeira. Mas, àparte essas falhas, até faz em geral um bom trabalho.

Também li Impossível Amor, uma noveleta de ficção científica de Jean-Pierre Andrevon com um título que descreve o texto. É, claro, sobre uma história de amor impossível entre um homem normal e uma mulher hipersensitiva, e o fulcro do conto é a descoberta gradual de quem é a mulher e do que se passa com ela. Literariamente muito bom, como, aliás, é timbre do autor (os dois livros dele publicados na Caminho são magníficos). E bem traduzido, o que é espantoso atendendo ao facto do tradutor ser o mesmo que fez um péssimo trabalho em vários dos outros contos do livro.

Por fim, li mais uma noveleta, esta em estrangeiro: Watching Matthew, de Damon Knight. Trata-se de um exercício de estilo na segunda pessoa, contado pelo fantasma de um gémeo morto que acompanha a vida do gémeo sobrevivente, resumida em breves episódios dispersos no tempo. Não posso dizer que tenha gostado por aí além desta história fantástica: pareceu-me ter mais literatura do que conteúdo, o que é sempre um desequilíbrio que causa algum engulho neste leitor que aqui escreve.

E até para a semana.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Somnium

O que é mais divertido nos sonhos é aquela bizarra mistura de genialidade e estupidez de que muitos são feitos. Querem um exemplo? Então está bem, cá vai um exemplo.

Hoje sonhei com corridas de cavalos. Não umas corridas quaisquer, com os cavalos devidamente montados por jóqueis vestidos de calças brancas e jaquetas multicoloridas e com aqueles ridículos bonezinhos redondos na cabeça. Não. Era uma corrida de cavalos muito especial. Eu conduzia um deles. Reparem que não disse que o "montava". Não. Conduzia-o. À distância, indicando o sítio para onde ele devia correr com movimentos de mãos. Ou de uma mão, pelo menos.

O sonho não entrou em detalhes, que eu me lembre. Mas o meu eu acordado imagina eléctrodos implantados no cérebro dos animais e a mão a funcionar assim como uma espécie de Wii, emitindo as suas ordens através de uma qualquer radiação electromagnética. Os amigos dos animais não gostariam de vê-la concretizada, mas a ideia é bestial. Ou será que não é?

Sim, agora entra a parte estúpida da coisa. É que o alcance da mão era limitado. Muito limitado. De modo que o condutor do cavalo tinha de ir a correr atrás dele, o que a modos que estraga um bocadinho todo o conceito. Um bocadinho só.

Já se riram tudo?

No sonho, fiquei para trás e perdi o controlo ao cavalo. Claro. Parece que o bicho entrou em pânico e pisoteou alguém. Recuperei-o quando consegui aproximar-me o suficiente, mas quando passei pelo sítio onde o cavalo tinha ficado descontrolado, fui atacado por uma turba que me arreou uma enorme carga de porrada. E, evidentemente, assim que me deram o primeiro sopapo voltei a perder o controlo do cavalo, que desatou a escoicear o público mais à frente. Nessa altura acordei. Não sei se teria acabado no hospital, na morgue ou noutra surra quando chegasse ao sítio do segundo descontrolo. Boa coisa não seria de certeza. É também essa a natureza dos pesadelos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Odisseias Fantásticas

Como provavelmente já saberão quase todos os leitores deste blogue mais interessados nestas coisas, tornei-me editor do Odisseias Fantásticas. Para quem não sabe, trata-se de um blogue que agrega aquilo que se vai postando noutros blogues ligados de uma forma ou de outra ao fantástico, sob todas as suas vertentes. E eu, enquanto editor, o que tenho de fazer é gerir as pertenças: verificar se os candidatos reúnem condições para se tornarem membros, identificar novos blogues com potencial, lidar com blogues inactivos ou extintos, esse tipo de coisa. Não é muito trabalho, espero — não tenho tempo para coisas que me dêem muito trabalho (como o estado meio dormente da própria Lâmpada atesta, aliás) — embora ainda seja algum nesta fase inicial, até as coisas entrarem em velocidade de cruzeiro. Seja como for, já sabem: se conhecem ou têm algum blogue que julguem poder inserir-se ali bem, avisem. O editor agradece.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fechado o trabalho no romance

Há dez minutos, com a publicação do índice do romance, fechei o trabalho no blogue Por Vós lhe Mandarei Embaixadores. Não pretendo voltar a mexer-lhe, embora tencione responder aos comentários que por lá sejam eventualmente colocados, para lá de lhe acrescentar alguma informação relativa à edição em papel quando ela ficar pronta.

Relativamente a esta, não há novidades. O empecilho continua a ser a capa, claro. Tenho andado a fazer experiências, mas ainda nenhuma me satisfez. No entanto, há progressos. O que quer dizer que a capa acabará por ser feita, demore o tempo que demorar. Seja como for, aquilo que pretendia fazer com o livro foi feito em cacos com o atraso na outra capa, de modo que agora já não há propriamente pressa. Mas julgo que antes do fim de Fevereiro, ou em Março, talvez tenha alguma novidade a este respeito.

Nessa altura, logo voltarei a falar do livro por minha iniciativa. Até lá, espero que se divirtam. E se for com aquela história, melhor.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Semana

Ui. Já passou mais uma? Deixem-me cá deslocar os maxilares num enorme bocejo e fazer estalar todas as outras articulações do corpo numa espreguiçadela que valha por semanas e semanas de trabalho contínuo. Ah! Já está.

Sim, estive sem fazer nenhum. Um Homo sapiens não é uma máquina e volta e meia precisa destes períodos de indolência. A teoria do senso comum diz que depois deles vem mais capaz de fazer o que tem de fazer. Provavelmente é verdade.

E, bem, "fazer nenhum" é um certo exagero, visto que o wiki continuou a crescer. Na semana que passou foram 45 as páginas novas, o que fez subir o total a 15 477. Seja como for, é pouco para uma semana sem trabalho; também no wiki houve descanso.

Na frente das leituras, li um conto de Guy de Maupassant, Um Passeio ao Campo, conto mainstream e maroto sobre umas senhoras sexualmente insatisfeitas que vão passear ao campo e conhecem uns robustos barqueiros de braços nus e bronzeados. Longe das minhas preferências, mas é boa literatura, e é bom e recomendável ler de vez em quando da boa literatura que não tem nada de fantástico. Nem que seja para ganhar ou manter alguma perspectiva.

Também li Olá, Tenho de me ir Embora, um muito bom conto fantástico de Ray Bradbury sobre o fantasma de um morto que aparece a um amigo e desabafa a sua tristeza por a mulher já não passar o tempo a chorar a sua morte. Ternurento, muito bem escrito e poético.

Li ainda Biblioteca Mínima, de Zoran Zivkovic, outro conto fantástico, no qual um escritor em crise de imaginação recebe de presente um livro muito especial. De cada vez que o abre, o conteúdo é diferente. Conto muito bem concebido, e embora eu tenha de confessar que já estava à espera do fim, Zivkovic ainda conseguiu trocar-me as voltas ao fingir seguir por outro caminho durante algum tempo.

Li ainda Lembro-me do Vento Mau do Espaço, de Daniel Walther, um conto muito mal traduzido que conta uma história em que um trio de astronautas é aprisionado por uma entidade alienígena indistinguível de uma espécie de asteróide cristalino que quer "amá-los". Faz lembrar de certa maneira o Disney no Céu Entre os Dumbos, do Barreiros, ou, dadas as datas de cada um, talvez seja mais correcto dizer que o do Barreiros lembra este. Em tema, que não em forma. O conto de Walter é bastante mais experimental em termos literários, e muito menos opressivo, apesar do tema. São abordagens. Não gostei tanto como do do Barreiros, até por causa da tradução, mas gostei.

Por fim, e em estrangeiro, li In the City of Dead Night, de Tanith Lee, uma noveleta de ficção científica pós-apocalíptica que se mistura com a fantasia no sentido do velho adágio de Clarke acerca de toda a tecnologia suficientemente avançada ser indistinguível da magia. Um casal de ladrões vai tentar roubar coisas preciosas de uma velha cidade abandonada por uma civilização extinta. À Stalker, mas com a diferença de os ladrões pertencerem a uma cultura regredida a um estado pré-industrial. Mas, tal como no Stalker, a cidade encontra-se defendida por algo que os intrusos não compreendem. O conto pareceu-me bom, embora tivesse tido dificuldade em prender-me, por algum motivo que não consegui compreender. Talvez fosse o estilo de Lee, não sei.

"Por fim", enfim. Li mais coisas; uns artigos, algumas dezenas de páginas de um romance, coisas por aqui e por ali na web, etc. Mas de artigos não me parece que valha a pena falar aqui, do romance falarei quando o terminar, e a web, por alguma razão, não costumo meter na conta de "leituras", o que é capaz de ser parvo. E o etc., é... um etc. Portanto resta-me pôr o ponto final neste post, prometendo outro para o próximo sábado.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Problemas de sono

Esta noite dormi mal. Acordei três horas cedo demais, com aquele nervoso muidinho típico de quando se tem um pesadelo obsessivo. E suor. E o lençol todo enrodilhado debaixo do corpo. Não me lembro dele, o que é uma chatice, mas sei que o tive. Normalmente, quando isto me acontece, fico na ronha e acabo por adormecer depois de acalmar, aí uma hora depois. Hoje, não. Hoje, a cabeça não parava de inventar pormenores para três histórias diferentes que me andam a chatear há uma porção de tempo. Melhor dizendo: duas andam a chatear-me há uma porção de tempo; a terceira é nova, tem menos de uma semana.

Tenho a imaginação em overdrive, é o que é.

E está visto que vou ter mesmo de escrever qualquer coisinha em breve. Senão, corro o risco de se continuarem a acumular. E então é que não durmo mesmo. Nada.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Erras-te

Há dias mandei para o meu twitter a seguinte perplexidade:
Não percebo porque raio pessoas que lêem habitualmente escrevem coisas como "fizes-te"

Seguiu-se uma breve troca de impressões com outros twitters, da qual não saiu conclusão alguma (àparte isto ser algo com uma certa tendência para causar "MEDO" às pessoas), claro. O twitter não se presta para tirar conclusões.

Também tenho lido com alarmante frequência, nos últimos tempos, desabafos apocalípticos acerca do estado miserável do português escrito em 2009. Que cada vez se escreve pior, diz-se. Que já ninguém sabe conjugar verbos, lamenta-se. Que está tudo entregue à escrita SMS, chora-se, entre baba e ranho. E a verdade é que a rapidez e imediatismo da escrita que acontece na maioria dos veículos modernos para o texto escrito não é propriamente amiga de uma grande reflexão sobre as palavras que se usam ou deixam de usar. Não se coaduna bem com preocupações estilísticas. É rápida, viva e dinâmica, aproximando mais o discurso escrito ao oral do que alguma vez esteve no passado. E, obviamente, sofre de gralhite galopante, como este blogue exemplifica na perfeição.

Mas já estão mesmo a ver que vai haver aqui um "mas", não estão?

Tenho uns leitores tão inteligentes que chega a ser ternurento.

O mas é que li ontem um conto. Quinze páginas de texto traduzido do francês e publicado, profissionalmente, em 1976. Há 33 anos, portanto. Antes de todas estas inovações, numa época em que havia em Portugal mais de 10% de analfabetos e a língua escrita era encarada com uma reverência que hoje não existe. E em que não existia nem SMS, nem twitter, nem chats, nem blogues, nem nenhum destes modernos promotores da escrita rápida. E no entanto...

No entanto, o conto contém palavras como "esforçei-me". Contém palavras como "sentar-mo-nos". Contém palavras como "tocar-mo-nos". Entre outras que, como não anotei, agora não encontro. Palavras escritas pelo tradutor e deixadas passar pelo revisor, publicadas e postas à venda. Em 1976.

Conclusões? Que se calhar uma parte importante da escrita-cada-vez-pior de hoje se deve a uma memória deficiente. A malta esquece-se das asneiras de ontem, e quando vê as de hoje parecem-lhe novas. Se calhar não são. E que, se até profissionais de escrever se saem com bacoradas deste calibre, não me devia espantar que gente que até pode ler, mas não está necessariamente habituada a escrever, as cometa.

Apesar disto, acho que continuará sempre a espantar. Ninguém me paga para ser coerente.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

E chegámos ao fim

Pois é, pois é, pois é. Tudo o que é bom tem um fim, e tudo o que é mau também. É assim que, com a publicação, há pouco, do vigésimo oitavo capítulo de Por Vós lhe Mandarei Embaixadores, termina esta longa série de posts aqui na Lâmpada e o romance fica finalmente completo no seu blogue. Fica apenas a faltar um índice, que será colocado online daqui a uma semana, e por ali o trabalho encerra-se. O blogue não, esse ficará disponível até que me dê alguma coisinha má. Ou talvez até depois de me dar uma coisinha má.

O último capítulo é muito curto, em jeito de epílogo, e faz um apanhado geral do que aconteceu aos nossos amiguinhos depois daquela Tona. E já que estamos em onda de apanhados gerais, o que acharam? Gostaram? Divertiram-se? O sistema de publicação tem pernas para andar? Digam de vossa justiça (ou até de vossa injustiça) aqui na caixinha de comentários ou nas caixinhas de comentários lá do blogue do romance ou então, se não vos apetecer escrever, um cliquezito nas estrelas já é alguma coisa.

E agora vejamos... que posso eu arranjar para alimentar a Lâmpada com regularidade, além dos posts semanais? Hm...

Hm...

Hmmmmmm......