Escrevi aqui há relativamente pouco tempo a propósito de outro texto que o ciberpunk português é um subgénero tão rarefeito que qualquer um que cometa um conto ciberpunk se arrisca a ter escrito uma das nossas melhores histórias ciberpunk. E, na verdade, uma das piores também, que a rarefação é realmente muito grande. É mais ou menos como eu ser simultaneamente o melhor escritor do meu prédio e o pior, visto ser o único.
E sim, Ricardo Dias fê-lo com este Desporto Radical. Trata-se de um conto ciberpunk muito típico e um bom bocado derivativo, que retoma o tema do fantasma na máquina que surge no filme com o apropriado título de Ghost in the Machine, e integrando também outros elementos característicos do subgénero (houve alguns detalhes que me fizeram lembrar um pouco filmes como eXistenZ ou Johnny Mnemonic; as referências do autor parecem ser sobretudo cinematográficas). Dias exibe também algumas fragilidades na construção do ambiente, exagerando com alguma frequência na descrição de, ou mera menção a, detalhes técnicos e/ou futuristas que pouco ou nada contribuem para o avançar da narrativa. Na verdade, tendem a travá-la, e é esse o principal problema da introdução deste tipo de technobabble nas histórias. Há uma técnica para conseguir estes efeitos e, ajuizando pelo exemplo, Dias não a domina bem. Outro detalhe em que faria falta algum trabalho são os diálogos. Não são maus (não são daqueles diálogos em que não é possível ver uma pessoa a falar, por exemplo), mas são pouco sólidos, faltando-lhes aquela espécie de definição que permite identificar quem é e o que pensa uma personagem pela forma como fala.
Mas apesar disso, e apesar de alguns buracos no argumento (por exemplo o facto do protagonista, um profissional treinado, levar mais tempo a perceber o que se passa do que o leitor), o conto é interessante. Um detetive da polícia é contactado discretamente pelo médico legista com quem trabalha para lhe transmitir suspeitas relativas às mortes de algumas pessoas, as quais foram identificadas como suicídios. A investigação subsequente vai revelar o tal fantasma na máquina, e o desfecho é adequado, ainda que também seja bastante previsível (e de novo o profissional treinado fica com uma imagem bastante tosca; ou não deve muito à inteligência, ou o treino foi uma treta).
O trabalho do texto, não sendo nada de extraordinário, é eficaz, e o conto desenrola-se com bom ritmo, se se descontar a areia que o excesso de technobabble mete na engrenagem. O resultado é um conto que se lê bem, talvez um pouco melhor que razoável, mesmo não trazendo grande novidade.
Um dos melhores contos ciberpunk portugueses, portanto.
E sim, Ricardo Dias fê-lo com este Desporto Radical. Trata-se de um conto ciberpunk muito típico e um bom bocado derivativo, que retoma o tema do fantasma na máquina que surge no filme com o apropriado título de Ghost in the Machine, e integrando também outros elementos característicos do subgénero (houve alguns detalhes que me fizeram lembrar um pouco filmes como eXistenZ ou Johnny Mnemonic; as referências do autor parecem ser sobretudo cinematográficas). Dias exibe também algumas fragilidades na construção do ambiente, exagerando com alguma frequência na descrição de, ou mera menção a, detalhes técnicos e/ou futuristas que pouco ou nada contribuem para o avançar da narrativa. Na verdade, tendem a travá-la, e é esse o principal problema da introdução deste tipo de technobabble nas histórias. Há uma técnica para conseguir estes efeitos e, ajuizando pelo exemplo, Dias não a domina bem. Outro detalhe em que faria falta algum trabalho são os diálogos. Não são maus (não são daqueles diálogos em que não é possível ver uma pessoa a falar, por exemplo), mas são pouco sólidos, faltando-lhes aquela espécie de definição que permite identificar quem é e o que pensa uma personagem pela forma como fala.
Mas apesar disso, e apesar de alguns buracos no argumento (por exemplo o facto do protagonista, um profissional treinado, levar mais tempo a perceber o que se passa do que o leitor), o conto é interessante. Um detetive da polícia é contactado discretamente pelo médico legista com quem trabalha para lhe transmitir suspeitas relativas às mortes de algumas pessoas, as quais foram identificadas como suicídios. A investigação subsequente vai revelar o tal fantasma na máquina, e o desfecho é adequado, ainda que também seja bastante previsível (e de novo o profissional treinado fica com uma imagem bastante tosca; ou não deve muito à inteligência, ou o treino foi uma treta).
O trabalho do texto, não sendo nada de extraordinário, é eficaz, e o conto desenrola-se com bom ritmo, se se descontar a areia que o excesso de technobabble mete na engrenagem. O resultado é um conto que se lê bem, talvez um pouco melhor que razoável, mesmo não trazendo grande novidade.
Um dos melhores contos ciberpunk portugueses, portanto.