Desta vez ao domingo, que ontem não me apetecia escrever nem uma linha (acontece, e quando acontece não fale a pena forçar, desde que se possa não o fazer), eis a semana que passou numa penada. Ou em duas ou três.
Trabalho? Acabou. O livro está traduzido, revisto e enviado ao editor, alguns dias antes do prazo terminado. Segue-se, claro, o próximo. 757 páginas de texto miudinho, denso e quase sem margens, que irão ser divididas em dois volumes, cada um, imagino, mais perto das 400 do que das 350.
Ah, sim, e claro que há versejos. Nem podia deixar de haver. O que vale é que é só um. Comprido, mas só um.
O wiki esteve amodorrado. Não passaram de 16 as páginas que se estrearam na última semana, aumentando o total para 16 480.
E quanto a leituras, acabei dois livros e li mais umas coisas.
Com O Povo Branco, terminei O Grande Deus Pã, de Arthur Machen. O conto é capaz de ter sido aquele que mais me agradou de entre os quatro que compõem o livro. Consta de um longo texto "escrito" por uma rapariga adolescente, rodeado por um prólogo e um epílogo que situam o leitor no que toca a quem e o quê é a rapariga. Particularmente bem sucedido é o modo como Machen altera o estilo para dar "voz" à rapariga, e o próprio texto desta é muito interessante, funcionando quase como pot-pourri de contos maravilhosos do folclore britânico, cheio de magia e criaturas fantásticas da floresta. Mesmo muito bom. E é um óptimo fecho para um livro de que acabei por gostar, apesar de por vezes me ter aborrecido bastante, em especial no primeiro conto.
E com Planeta que Nada tem Para Dar, de Olga Larionova, terminei Poção de Marte, antologia de FC&F soviética. O texto de Larionova é uma noveleta de ficção científica que acompanha a exploração de um planeta que vamos aos poucos reconhecendo no espaço, ainda que não no tempo, por parte de uma espécie alienígena metamórfica e totalitária. Apesar da história ter aspectos interessantes, em particular se tivermos em conta o contexto em que foi escrita, não me agradou lá muito. O mesmo posso dizer da antologia como um todo: nem o romance que lhe empresta o título, nem os contos que o acompanham, são propriamente maus. Mas tampouco são bons, antes reúnem aspectos interessantes e falhas num todo que acaba por ser mediano.
Além destes dois livros, li também Curse of the Immortal's Husband, poema de Bruce Boston que não me pareceu lá muito bem conseguido, e dei um bom avanço num romance bastante grosso que já me acompanha há algum tempo.
E é só isto. Para a semana há mais.
domingo, 28 de junho de 2009
sábado, 27 de junho de 2009
Respondam lá a isto
sábado, 20 de junho de 2009
Semana
E pronto, lá se passou mais uma semaninha, entre descanso, um artigo complicado e comprido e (algum) desbaste no email acumulado. E calor, montes de calor, e de mudanças malucas de temperatura também, daquelas que deixam um tipo derreado, sem vontade de fazer nada.
Em todo o caso, sempre se foi fazendo qualquer coisinha, por exemplo, no wiki, que cresceu mais 62 páginas. Tem agora 16 466.
E leu-se também umas coisas, claro. E até se acabou uma delas: o número 324 da revista Asimov's. Não a acabei lendo algo de que valha a pena falar aqui — críticas a livros saídos nos States há uns anos —, mas o número em si é típico da Asimov's: uma ou duas coisas muito boas, mais uma ou duas boas e o resto, quase tudo, suficientemente interessante para fazer com que a revista valha muito a leitura. Pessoalmente, destaco The War on Treemon, de Nancy Kress, e The Ice, de Steven Popkes, como os melhores textos e Etiquette With Your Robot Wife, de Bruce Boston, como o mais divertido.
Noutras leituras, li Cultos da Carga da Ilha do Beijo Picante, de Rhys Hughes, uma excelente prosa metaliterária composta por uma autêntica cebola de histórias metidas dentro umas das outras e em tensão mútua, com uma revolta do leitor lá metida no meio. Achei muitíssimo curiosa a semelhança que esta história de Hughes tem com O Deus das Gaivotas, que escrevi com o meu pai e está publicada na colectânea Por Universos Nunca Dantes Navegados. Hughes faz rebelar-se o leitor enquanto nós sofremos a revolta da personagem, e também vai mais longe do que nós na exploração do absurdo da ideia, mas há mesmo assim muitos pontos de contacto entre as duas histórias. Mal posso esperar que o meu pai leia isto para ver o que diz.
Também li O Sinistro, de Carlos Patati, um misto de ficção científica e horror, com umas ideias bem interessantes, em especial a ideia principal: tatuagens que funcionam como uma espécie de rede neuronal artificial e complementar ao cérebro biológico, e que põem os tatuados em contacto com os monstros lovecraftianos. Mas apesar da ideia interessante, não gostei particularmente da sua concretização, que muito teria sido ajudada por uma revisão atenta ao texto. Há partes incompreensíveis, onde parecem faltar palavras, há erros ortográficos e gralhas, há trechos onde o estilo perde solidez, enfim... é pena.
Também li São Asas, crónica de Saramago sobre uma estátua de Camões, que achei muito esquecível. A crónica, não a estátua.
E li Encontro Nocturno, de Bradbury, outro conto que mistura a ficção científica e o horror, no qual um terrestre, recém-instalado no morto planeta Marte, se encontra com o fantasma de um marciano vindo de um passado em que a sua civilização se mostrava viva e pujante. Ou talvez fosse o marciano a encontrar-se com o fantasma do terrestre vindo do futuro. De uma forma ou de outra, uma coisa é certa: o conto é muitíssimo bom.
O Final do Verão é a outra história de Bradbury que li esta semana. Outra boa história, esta é praticamente mainstream, embora contenha um certo ambiente fantasmagórico, e conta uma escapadela sexual duma jovem geralmente muito composta e aprumada.
Si Tan Solo, de Gerardo Horacio Porcayo, é um poema em prosa sobre o sonho. Não me agradou por aí além.
Por fim, e também em estrangeiro, li The Convert, de Simon Ings, uma noveleta escrita numa linguagem muito rica em metáforas, sobre um homem que recebe como implante um sentido artificial que o informa sobre o fluxo do dinheiro e para isso se associa a um milionário com uma saúde mental algo débil. O mais curioso desta história é passar-se quase toda no Brasil, e por isso aparecerem coisas em português no texto inglês, mas que eu ache isso o mais curioso já mostra que não gostei lá muito do que li. Não gostei da caracterização das personagens, por exemplo, e como isso é boa parte do conto...
E pronto. Para a semana haverá mais.
Em todo o caso, sempre se foi fazendo qualquer coisinha, por exemplo, no wiki, que cresceu mais 62 páginas. Tem agora 16 466.
E leu-se também umas coisas, claro. E até se acabou uma delas: o número 324 da revista Asimov's. Não a acabei lendo algo de que valha a pena falar aqui — críticas a livros saídos nos States há uns anos —, mas o número em si é típico da Asimov's: uma ou duas coisas muito boas, mais uma ou duas boas e o resto, quase tudo, suficientemente interessante para fazer com que a revista valha muito a leitura. Pessoalmente, destaco The War on Treemon, de Nancy Kress, e The Ice, de Steven Popkes, como os melhores textos e Etiquette With Your Robot Wife, de Bruce Boston, como o mais divertido.
Noutras leituras, li Cultos da Carga da Ilha do Beijo Picante, de Rhys Hughes, uma excelente prosa metaliterária composta por uma autêntica cebola de histórias metidas dentro umas das outras e em tensão mútua, com uma revolta do leitor lá metida no meio. Achei muitíssimo curiosa a semelhança que esta história de Hughes tem com O Deus das Gaivotas, que escrevi com o meu pai e está publicada na colectânea Por Universos Nunca Dantes Navegados. Hughes faz rebelar-se o leitor enquanto nós sofremos a revolta da personagem, e também vai mais longe do que nós na exploração do absurdo da ideia, mas há mesmo assim muitos pontos de contacto entre as duas histórias. Mal posso esperar que o meu pai leia isto para ver o que diz.
Também li O Sinistro, de Carlos Patati, um misto de ficção científica e horror, com umas ideias bem interessantes, em especial a ideia principal: tatuagens que funcionam como uma espécie de rede neuronal artificial e complementar ao cérebro biológico, e que põem os tatuados em contacto com os monstros lovecraftianos. Mas apesar da ideia interessante, não gostei particularmente da sua concretização, que muito teria sido ajudada por uma revisão atenta ao texto. Há partes incompreensíveis, onde parecem faltar palavras, há erros ortográficos e gralhas, há trechos onde o estilo perde solidez, enfim... é pena.
Também li São Asas, crónica de Saramago sobre uma estátua de Camões, que achei muito esquecível. A crónica, não a estátua.
E li Encontro Nocturno, de Bradbury, outro conto que mistura a ficção científica e o horror, no qual um terrestre, recém-instalado no morto planeta Marte, se encontra com o fantasma de um marciano vindo de um passado em que a sua civilização se mostrava viva e pujante. Ou talvez fosse o marciano a encontrar-se com o fantasma do terrestre vindo do futuro. De uma forma ou de outra, uma coisa é certa: o conto é muitíssimo bom.
O Final do Verão é a outra história de Bradbury que li esta semana. Outra boa história, esta é praticamente mainstream, embora contenha um certo ambiente fantasmagórico, e conta uma escapadela sexual duma jovem geralmente muito composta e aprumada.
Si Tan Solo, de Gerardo Horacio Porcayo, é um poema em prosa sobre o sonho. Não me agradou por aí além.
Por fim, e também em estrangeiro, li The Convert, de Simon Ings, uma noveleta escrita numa linguagem muito rica em metáforas, sobre um homem que recebe como implante um sentido artificial que o informa sobre o fluxo do dinheiro e para isso se associa a um milionário com uma saúde mental algo débil. O mais curioso desta história é passar-se quase toda no Brasil, e por isso aparecerem coisas em português no texto inglês, mas que eu ache isso o mais curioso já mostra que não gostei lá muito do que li. Não gostei da caracterização das personagens, por exemplo, e como isso é boa parte do conto...
E pronto. Para a semana haverá mais.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Questões de grande velocidade (QGV)
Toda esta confusão de politiquices à volta do TGV fez-me lembrar uma crónica que publiquei em Junho de 2001, há precisamente oito anos, no jornal onde trabalhava. Fui relê-la. Se não fosse pelos algarvios se terem entretanto calado com o TGV, podia escrevê-la hoje.
Não sabem do que estou a falar, pois não? Podia mandar-vos comprar Os Pés e a Cabeça, mas vocês mandavam-me bugiar, e com razão. De modo que aqui a têm. Digam lá se eu não sou um compincha.
Não sabem do que estou a falar, pois não? Podia mandar-vos comprar Os Pés e a Cabeça, mas vocês mandavam-me bugiar, e com razão. De modo que aqui a têm. Digam lá se eu não sou um compincha.
Tudo a Grande Velocidade (TGV)
Não, TGV não significa "tudo a grande velocidade". É uma sigla francesa que vem de "train de grande vitesse", ou seja, "comboio de grande velocidade", ou seja, CGV.
Parece que a coisa atinge um bué (palavra que consta do novo dicionário da língua portuguesa, portanto não me batam) de quilómetros por hora e que se houvesse disso no Algarve nos poria em Lisboa num par de horas, o que é sem dúvida um contraste interessante com as 4 ou 5 que as sacolejadeiras da CP levam actualmente a carregar-nos até ao barco trans-Tejo.
Viva o CGV, então?
Bem, parece que é caro. Há quem diga mesmo que é bué de caro. E parece que por ser assim tão caro só cá chega daqui a uns 20 anos, mais coisa menos coisa, se chegar a chegar cá.
Há umas semanas, vimos os autarcas e empresários algarvios em coro a exigir o CGV, menos os do PSD, que esses nunca fazem coro com os do PS, por uma questão de princípio. Acho bem. É bom manter os princípios.
Mas sabem o que vai acontecer?
Se chegar a ser aprovado o plano que traz o CGV para o Algarve daqui a 20 anos, mais ano menos ano, nem um tostão furado será entretanto investido na melhoria da linha de CPV (Comboio de Pequena Velocidade). Ou seja, ficaremos atolados durante mais vinte anos (mais ano menos ano) no mesmíssimo atoleiro ferroviário em que estamos agora, com um serviço de qualidade fraquinha, lento, sacolejante, incómodo, obsoleto e, feitas as contas a todos os defeitos, caro.
Será que vale a pena?
Não será melhor que se modernize a linha actual, se lhe ponha duas vias, se actualize o material circulante para que entre Faro e Portimão se passe a poder viajar em uma hora e se consiga chegar a Lisboa em 3, e tudo isso já, em vez de ficar mais vinte anos à espera duma miragem de grande velocidade (MGV) que pode ir por água abaixo à primeira contrariedade orçamental?
Como naquele programa chatíssimo da televisão de aqui há anos, você decide.
domingo, 14 de junho de 2009
Semana
Ontem esqueci-me de semanar, no afã de acabar a tradução, semano hoje.
Não que haja muito a dizer da semana que passou. Foi, como é hábito em mim sempre que um trabalho está com o fim próximo, dedicada quase em exclusivo a dar-lhe esse mesmo fim. Não que tenha terminado por completo, claro, ainda falta a revisão. Mas por qualquer motivo encaro sempre a revisão como um sucedâneo do trabalho verdadeiro. Um sucedâneo importante, sem dúvida, mas sucedâneo mesmo assim.
O wiki cresceu um bocadinho, mas continua bastante parado. Tem agora mais 20 páginas do que há uma semana, e mais 16 404 do que no momento em que nasceu.
E nem as leituras foram abundantes. Antes pelo contrário.
Li A Luz Mais Interior, noveleta de horror de Arthur Machen, de que não gostei tanto como da Novela da Chancela Negra. É mais uma história de investigação sobrenatural, uma daquelas histórias que tipicamente parecem inspiradas pelo velho adágio sobre a curiosidade ter morto o gato. Neste caso não mata, propriamente, mas apenas porque o protagonista recua no último momento depois de ser avisado por uma personagem secundária que não recuou. Está bem escrita, sem dúvida, e bem delineada, mas não me prendeu.
E li Afinador de Pianos, conto de fantasia de Victor Kolupaev que gira em volta de um afinador de pianos muito especial. Magicamente muito especial. O conto leva-o a percorrer uma série de apartamentos afinando os pianos consoante as características das famílias que os possuem e das pessoas que, nessas famílias, mais usam os instrumentos. É um bom conto, apesar de ser bastante capaz de irritar solenemente os leitores que odeiam histórias humanistas.
E foi isto que li esta semana. Até à próxima.
Não que haja muito a dizer da semana que passou. Foi, como é hábito em mim sempre que um trabalho está com o fim próximo, dedicada quase em exclusivo a dar-lhe esse mesmo fim. Não que tenha terminado por completo, claro, ainda falta a revisão. Mas por qualquer motivo encaro sempre a revisão como um sucedâneo do trabalho verdadeiro. Um sucedâneo importante, sem dúvida, mas sucedâneo mesmo assim.
O wiki cresceu um bocadinho, mas continua bastante parado. Tem agora mais 20 páginas do que há uma semana, e mais 16 404 do que no momento em que nasceu.
E nem as leituras foram abundantes. Antes pelo contrário.
Li A Luz Mais Interior, noveleta de horror de Arthur Machen, de que não gostei tanto como da Novela da Chancela Negra. É mais uma história de investigação sobrenatural, uma daquelas histórias que tipicamente parecem inspiradas pelo velho adágio sobre a curiosidade ter morto o gato. Neste caso não mata, propriamente, mas apenas porque o protagonista recua no último momento depois de ser avisado por uma personagem secundária que não recuou. Está bem escrita, sem dúvida, e bem delineada, mas não me prendeu.
E li Afinador de Pianos, conto de fantasia de Victor Kolupaev que gira em volta de um afinador de pianos muito especial. Magicamente muito especial. O conto leva-o a percorrer uma série de apartamentos afinando os pianos consoante as características das famílias que os possuem e das pessoas que, nessas famílias, mais usam os instrumentos. É um bom conto, apesar de ser bastante capaz de irritar solenemente os leitores que odeiam histórias humanistas.
E foi isto que li esta semana. Até à próxima.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
O Bloco e o Algarve
Há algumas coisas na política portuguesa que me causam perplexidade. Bem, minto, há montes de coisas na política portuguesa que me causam perplexidade (e a portuguesa, mesmo assim, é melhor do que outras que há por este mundo fora). Geralmente é uma perplexidade má, do estilo "mas como é que isto é possível, neste mundo e nesta época?!" Mas nalguns casos é uma perplexidade boa. Coisas que não compreendo, mas que me agradam mesmo sem compreender.
Uma dessas coisas é a força que o Bloco de Esquerda tem no Algarve.
O Bloco não tem estruturas locais particularmente visíveis, nenhum dos seus dirigentes de maior relevo é oriundo da região, não há no Algarve nenhum dos factores que costumam associar-se ao Bloco, e, no entanto, olhando para o país todo, vê-se que é no Algarve que o Bloco obtém maior percentagem, praticamente 15%. Só o distrito de Setúbal lhe chega perto, também acima dos 14%. No meu concelho, Portimão, chega mesmo aos 17%, e na freguesia de Portimão, isto é, na cidade propriamente dita, aproxima-se dos 17,5%.
O que é que explica isto? Não faço a mínima ideia. Ou por outra, tenho umas ideias vagas com as quais tenho especulado ao longo dos anos. Já aqui tinha falado delas. Mas, embora Portimão continue a ser dos sítios em que o Bloco tem mais força, este fenómeno bloquista no Algarve estendeu-se agora a todo o litoral. À grande cidade de 300 mil habitantes (dois milhões e meio quando o Verão corre bem aos hoteleiros), com 5 km de largura e 100 km de extensão que é o litoral algarvio nos dias que correm.
Se calhar é isso que explica o Bloco no Algarve. Mas olhem que era coisa que, se eu fosse sociólogo, muito me interessaria estudar.
Já agora, e num aparte, se nas eleições legislativas os resultados do Algarve fossem estes, teríamos uma distribuição de deputados muito interessante:
PSD: 27.39%, 3 deputados
PS: 24.98%, 3 deputados
BE: 14.95%, 1 deputado
CDU: 10.35%, 1 deputado
E de em vez de 8 fossem 9, o partido seguinte a eleger alguém seria o CDS. Giro, não é?
Uma dessas coisas é a força que o Bloco de Esquerda tem no Algarve.
O Bloco não tem estruturas locais particularmente visíveis, nenhum dos seus dirigentes de maior relevo é oriundo da região, não há no Algarve nenhum dos factores que costumam associar-se ao Bloco, e, no entanto, olhando para o país todo, vê-se que é no Algarve que o Bloco obtém maior percentagem, praticamente 15%. Só o distrito de Setúbal lhe chega perto, também acima dos 14%. No meu concelho, Portimão, chega mesmo aos 17%, e na freguesia de Portimão, isto é, na cidade propriamente dita, aproxima-se dos 17,5%.
O que é que explica isto? Não faço a mínima ideia. Ou por outra, tenho umas ideias vagas com as quais tenho especulado ao longo dos anos. Já aqui tinha falado delas. Mas, embora Portimão continue a ser dos sítios em que o Bloco tem mais força, este fenómeno bloquista no Algarve estendeu-se agora a todo o litoral. À grande cidade de 300 mil habitantes (dois milhões e meio quando o Verão corre bem aos hoteleiros), com 5 km de largura e 100 km de extensão que é o litoral algarvio nos dias que correm.
Se calhar é isso que explica o Bloco no Algarve. Mas olhem que era coisa que, se eu fosse sociólogo, muito me interessaria estudar.
Já agora, e num aparte, se nas eleições legislativas os resultados do Algarve fossem estes, teríamos uma distribuição de deputados muito interessante:
PSD: 27.39%, 3 deputados
PS: 24.98%, 3 deputados
BE: 14.95%, 1 deputado
CDU: 10.35%, 1 deputado
E de em vez de 8 fossem 9, o partido seguinte a eleger alguém seria o CDS. Giro, não é?
Resultados
Bem, então os resultados parece que foram mais ou menos assim:
Partido Popular Europeu: 10 deputados;
Partido Socialista Europeu: 7 deputados;
Esquerda Unida Europeia: 5 deputados.
Ou então, vistos de outra forma, foram assim:
Esquerda (PS, BE, CDU, MRPP, PH, POUS): 49.80%
Direita (PSD, PP, PPM, PNR): 40.82%
Voto de protesto (brancos e nulos): 6.63%
Pequeninos que não se sabe muito bem se são esquerda ou direita (MEP, MPT, MMS): 2.76%
Ou então, vistos ainda de outra forma, foram assim:
Centrão (PS, PSD, MEP, MPT, MMS, PH): 61.51%
Esquerda (BE, CDU, MRPP, POUS): 22.74%
Direita (PP, PPM, PNR): 9.13%
Voto de protesto: 6.63%
Ou vistos ainda de uma última forma, foram assim:
Pessoas que se estão nas tintas: 62.95%
Pessoas que se interessam o suficiente pelo país para arrancar o traseiro do sofá: 37.05%.
Bem, OK, não resisto. Só mais uma:
Votos expressos por pessoas: 99.63%
Votos expressos por cavalgaduras xenófobas: 0.37%
Partido Popular Europeu: 10 deputados;
Partido Socialista Europeu: 7 deputados;
Esquerda Unida Europeia: 5 deputados.
Ou então, vistos de outra forma, foram assim:
Esquerda (PS, BE, CDU, MRPP, PH, POUS): 49.80%
Direita (PSD, PP, PPM, PNR): 40.82%
Voto de protesto (brancos e nulos): 6.63%
Pequeninos que não se sabe muito bem se são esquerda ou direita (MEP, MPT, MMS): 2.76%
Ou então, vistos ainda de outra forma, foram assim:
Centrão (PS, PSD, MEP, MPT, MMS, PH): 61.51%
Esquerda (BE, CDU, MRPP, POUS): 22.74%
Direita (PP, PPM, PNR): 9.13%
Voto de protesto: 6.63%
Ou vistos ainda de uma última forma, foram assim:
Pessoas que se estão nas tintas: 62.95%
Pessoas que se interessam o suficiente pelo país para arrancar o traseiro do sofá: 37.05%.
Bem, OK, não resisto. Só mais uma:
Votos expressos por pessoas: 99.63%
Votos expressos por cavalgaduras xenófobas: 0.37%
sábado, 6 de junho de 2009
Semana
Olá a todos, caros nãoseiquantos leitores, aqui o mordomo dos sábados dá-vos as boas vindas a mais um. Isto hoje vai ser rápido, que tenho de ir ali. Onde? Ali.
O livro está cada vez mais quase traduzido. Faltam agora 54 páginas para o fim. Na próxima nota semanal deverei dizer que "o livro está traduzido". Ou então que "o livro acaba-se hoje". Não sei, e mesmo se soubesse não vos diria; afinal há que manter algum suspense nestas coisas.
O wiki, depois de duas semanas parado, mexeu finalmente um tudo-nada. 4 páginas novas, acrescentadas ontem. Não faço prognósticos para a semana; tanto pode voltar ao crescimento rápido como continuar na modorra dos últimos tempos. É com ele.
E agora as leituras.
Uma das coisas que li esta semana foi mais um conto totalmente surreal de Rhys Hughes, Horizonte Eterno, no qual um tal Luís Rodrigues (de onde é que eu conheço este nome? Hm...), navegador, depois de ser lançado borda fora do seu veleiro por piratas, entra numa tórrida relação amorosa com uma deusa e percorre meio mundo em surreais peripécias, entre as quais se destaca o problemático aparecimento de um segundo horizonte, mais próximo de nós do que o original. Divertido, mas de novo senti falta de um fio condutor mais firme para gostar realmente desta história.
Noutra versão da língua portuguesa li Toda Forma de Amor, de Carlos Orsi, um conto de ficção científica com toques de horror sobre uma mulher que tem um encontro poético com uma misteriosa personagem que responde pela alcunha de Grafo. Cheio de ideias sofisticadas sobre matemática, computação e literatura, é um conto explanatório clássico, que até tem uma versão modernizada do cientista louco da velha FC do início do século XX. É um esforço competente e bem desenvolvido, mas confesso que não gostei muito, provavelmente porque põe a ideia à frente de tudo o mais.
Voltando à minha versão do português, li As Palavras, de Saramago, uma crónica que se debruça sobre as palavras (óbvio) e a comunicação em tempos de ditadura. Também não gostei por aí além.
A coisa mais curta que li esta semana foi Os Gafanhotos, de Bradbury, mais um dos tais contos que têm mais importância para o livro do que valor como textos independentes.
E mudando finalmente de língua encontra-se a jóia da semana. The Ice, novela de Steven Popkes, conta a história dum clone clandestino duma lenda do hóquei sobre o gelo. É uma história excelente sobre a identidade e as relações interpessoais, sobre aquilo que somos e até que ponto isso é determinado pelos genes que herdamos ou pelas escolhas que fazemos ao longo da vida. Muito bom.
E pronto, post feito, resta ir ver se não houve alguma gralha a enfiar-se nele à má-fila, etiquetá-lo e clicar em "publicar mensagem".
O livro está cada vez mais quase traduzido. Faltam agora 54 páginas para o fim. Na próxima nota semanal deverei dizer que "o livro está traduzido". Ou então que "o livro acaba-se hoje". Não sei, e mesmo se soubesse não vos diria; afinal há que manter algum suspense nestas coisas.
O wiki, depois de duas semanas parado, mexeu finalmente um tudo-nada. 4 páginas novas, acrescentadas ontem. Não faço prognósticos para a semana; tanto pode voltar ao crescimento rápido como continuar na modorra dos últimos tempos. É com ele.
E agora as leituras.
Uma das coisas que li esta semana foi mais um conto totalmente surreal de Rhys Hughes, Horizonte Eterno, no qual um tal Luís Rodrigues (de onde é que eu conheço este nome? Hm...), navegador, depois de ser lançado borda fora do seu veleiro por piratas, entra numa tórrida relação amorosa com uma deusa e percorre meio mundo em surreais peripécias, entre as quais se destaca o problemático aparecimento de um segundo horizonte, mais próximo de nós do que o original. Divertido, mas de novo senti falta de um fio condutor mais firme para gostar realmente desta história.
Noutra versão da língua portuguesa li Toda Forma de Amor, de Carlos Orsi, um conto de ficção científica com toques de horror sobre uma mulher que tem um encontro poético com uma misteriosa personagem que responde pela alcunha de Grafo. Cheio de ideias sofisticadas sobre matemática, computação e literatura, é um conto explanatório clássico, que até tem uma versão modernizada do cientista louco da velha FC do início do século XX. É um esforço competente e bem desenvolvido, mas confesso que não gostei muito, provavelmente porque põe a ideia à frente de tudo o mais.
Voltando à minha versão do português, li As Palavras, de Saramago, uma crónica que se debruça sobre as palavras (óbvio) e a comunicação em tempos de ditadura. Também não gostei por aí além.
A coisa mais curta que li esta semana foi Os Gafanhotos, de Bradbury, mais um dos tais contos que têm mais importância para o livro do que valor como textos independentes.
E mudando finalmente de língua encontra-se a jóia da semana. The Ice, novela de Steven Popkes, conta a história dum clone clandestino duma lenda do hóquei sobre o gelo. É uma história excelente sobre a identidade e as relações interpessoais, sobre aquilo que somos e até que ponto isso é determinado pelos genes que herdamos ou pelas escolhas que fazemos ao longo da vida. Muito bom.
E pronto, post feito, resta ir ver se não houve alguma gralha a enfiar-se nele à má-fila, etiquetá-lo e clicar em "publicar mensagem".
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Olha, olha, cortaram nas taxas
Como diria o outro, porreiro, pá!
Recebi hoje uma mensagenzinha a informar que as taxas suplementares de que falava neste post foram anuladas. Fui ver, e é verdade: os livros estão, na Amazon, ao mesmo preço a que estão na Lulu. O Os Pés e a Cabeça está a $13.49 (€10.72), o Por Universos Nunca Dantes Navegados está a $25.11 (€19.96).
O segundo vale a pena. O primeiro nem por isso.
Recebi hoje uma mensagenzinha a informar que as taxas suplementares de que falava neste post foram anuladas. Fui ver, e é verdade: os livros estão, na Amazon, ao mesmo preço a que estão na Lulu. O Os Pés e a Cabeça está a $13.49 (€10.72), o Por Universos Nunca Dantes Navegados está a $25.11 (€19.96).
O segundo vale a pena. O primeiro nem por isso.
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