sexta-feira, 31 de maio de 2013
Porque vou estar amanhã na rua
Em boa verdade, desta vez tinha ótimos motivos para ficar em casa. Tenho andado com um ataque de lumbago que ainda esta semana me obrigou a passar dois dias deitado e, embora já esteja bem melhor, se calhar ainda não devia pôr-me a andar pela cidade, sujeito a todos os frios e ventos que o clima possa decidir atirar-me para cima. E tenho a velhota doente, às voltas com uma infeção pulmonar. E tenho montes de coisas para fazer. E... e... e...
Mas vou estar amanhã na rua.
Porque este é o pior governo que o Portugal democrático já sofreu e urge pôr-lhe fim o quanto antes.
Porque, embora saiba perfeitamente que não serão só manifestações a pôr fim a esta catástrofe, todo o atrito é útil, e às vezes as manifestações até conseguem anular algumas partes da desgraça. Sem manifestações haveria TSU. Sem manifestações ainda teríamos a vergonha nacional de termos de aturar uma criatura como o Relvas como ministro. Sem manifestações, talvez o CDS não estivesse ainda com um pé dentro e outro fora do governo e da coligação.
Porque, ao contrário do que gostariam muitos dos criptofascistas que por aí andam, a democracia não se resume ao momento em que se deposita o voto numa urna, antes inclui todas as formas de participação cívica, que serão tanto mais relevantes quanto mais resultados produzirem e mais gente envolverem.
Porque quero estar em todos os espaços de unidade que possam contribuir para juntar gente de diversas sensibilidades para a ação comum contra inimigos comuns.
Porque se eu não lutar por aquilo em que acredito, ninguém lutará por mim. Aquilo em que eu acredito é aquilo em que eu acredito, não fulano ou beltrano. Esses lutarão por aquilo em que eles acreditam, que pode coincidir em parte com o que me move a mim mas só muito dificilmente coincidirá por inteiro.
Porque se com luta a vitória é incerta — mas possível —, sem luta a derrota é certa.
E, acima de tudo, porque desta vez se trata de uma manifestação europeia. São os povos da Europa que vêm para a rua, juntos, por causa de problemas que também são europeus. Contra uma política imbecil de políticos imbecis que governam não só os respetivos países mas também as instituições europeias. Estamos juntos neste barco e é juntos que temos de tomar-lhe o leme.
Nem que seja apenas para decidirmos seguir cada qual para seu lado.
E é por isto que amanhã estarei na rua. Encontramo-nos lá?
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Lido: A Árvore de Natal
A Árvore de Natal é um conto do russo Fiódor Dostoiévski sobre a baixeza humana. O que é curioso, tratando-se como se trata de um conto que vem publicado num livro de contos natalícios. Na verdade, de natalício este conto tem pouco... embora se passe quase todo numa festa de Natal, em casa de uma família da alta sociedade russa, onde decorre uma festa na qual está presente uma diversificada galeria de personagens movidas a hierarquia e interesses. O narrador é um daqueles observadores tão do agrado de alguma ficção oitocentista, que participa dos acontecimentos sem realmente neles participar, preferindo observar e registar o que vai sucedendo à sua volta. E o que sucede à volta deste é uma festa, que por pretexto é para as crianças, mas na realidade se destina a tratar de negócios entre os adultos... ainda que o objetivo não fosse exatamente abrir as portas ao principal acontecimento que o narrador acaba por relatar. Acontece que um dos convidados era um tipo com muito mais ambição do que escrúpulos e decide subir na vida seduzindo uma das crianças presentes na festa, herdeira de uma grande fortuna. É essa sedução que o conto relata a largas pinceladas; primeiro a tentativa de seduzir a própria rapariga, depois a bem sucedida sedução dos seus pais. Tudo muito nojento, mas bastante bem executado. O conto é realmente bom, embora este tipo de história-de-alta-sociedade-oitocentista tenda a encher-me de tédio.
Contos anteriores deste livro:
Contos anteriores deste livro:
sábado, 25 de maio de 2013
Lido: O Homem que Vendeu a Lua
O Homem que Vendeu a Lua (bibliografia) é uma novela de Robert A. Heinlein sobre um tal D. D. Harriman, empresário e visionário, que tem um sonho: ir à Lua. Americana até à medula, a história é praticamente uma ode ao capitalismo triunfante, se bem que, paradoxalmente, não tenha grande história. Limita-se a descrever as trapaças, falcatruas, revezes (embora nenhum realmente fatal) e jogos de bastidores que Harriman faz, sofre e executa para levar a sua avante. Nunca há, na verdade, a mínima dúvida de que ele vai acabar por levar a sua avante, mais tarde ou mais cedo, ainda que existam algumas subtilezas — as únicas subtilezas que esta história contém, aliás — sobre o que isso significa ao certo, em especial no final.
Personagens? Nem vê-las. As personagens secundárias não chegam sequer às duas dimensões: são simples adereços destinados a serem usados por Heinlein a seu bel-prazer. E também, em grande medida, por Harriman, embora as tais subtilezas de que falo acima não permitam que seja totalmente assim. Quanto a Harriman, tampouco é personagem. É obsessão. É ideia fixa. É um fim que justifica todos os meios.
A única coisa que esta história tem de bom, a meu ver, é a parte tecnológica, tendo em conta que foi escrita em 1950. Heinlein consegue antecipar com sagacidade a maior parte do que viria a ser o substrato tecnológico usado para as viagens verdadeiras à Lua, quase vinte anos mais tarde. Talvez também porque não se perde em grandes explicações, porque nunca ultrapassa a descrição genérica das metodologias, evitando cair na armadilha de transformar a sua ficção num manual técnico mal disfarçado. Isso sim, está bem feito. No entanto, também está já ultrapassado. Já foi feito, e o que não o foi não é possível fazer (naqueles moldes, pelo menos). Que relevância, portanto, poderá ter esta história para os dias de hoje?
A única relevância, parece-me, está na discussão do processo de Harriman. Do que pode ou não pode, do que deve ou não deve ser feito por privados. Ou seja: na parte social da história por contraponto à científica. E esta é a grande pecha da ficção científica que se concentra na ciência, perdendo de vista a ficção. Por mais relevante que possa ser para o seu tempo, depressa deixa de o ser. E se não há mais nada que a faça perdurar, morre.
Penso que esta história não morreu, mas quase, até porque julgo que a discussão dos limites e potencialidades da iniciativa privada não está aqui minimamente bem feita. É simplória. É ingénua. Endeusa algo que, como temos visto com total clareza nos últimos tempos, está muito longe de poder e dever ser endeusado. E por isso é deficiente.
Há sessenta anos, esta foi uma boa história. Não perfeita, mas boa. Hoje, contudo, está muito longe de o ser.
Personagens? Nem vê-las. As personagens secundárias não chegam sequer às duas dimensões: são simples adereços destinados a serem usados por Heinlein a seu bel-prazer. E também, em grande medida, por Harriman, embora as tais subtilezas de que falo acima não permitam que seja totalmente assim. Quanto a Harriman, tampouco é personagem. É obsessão. É ideia fixa. É um fim que justifica todos os meios.
A única coisa que esta história tem de bom, a meu ver, é a parte tecnológica, tendo em conta que foi escrita em 1950. Heinlein consegue antecipar com sagacidade a maior parte do que viria a ser o substrato tecnológico usado para as viagens verdadeiras à Lua, quase vinte anos mais tarde. Talvez também porque não se perde em grandes explicações, porque nunca ultrapassa a descrição genérica das metodologias, evitando cair na armadilha de transformar a sua ficção num manual técnico mal disfarçado. Isso sim, está bem feito. No entanto, também está já ultrapassado. Já foi feito, e o que não o foi não é possível fazer (naqueles moldes, pelo menos). Que relevância, portanto, poderá ter esta história para os dias de hoje?
A única relevância, parece-me, está na discussão do processo de Harriman. Do que pode ou não pode, do que deve ou não deve ser feito por privados. Ou seja: na parte social da história por contraponto à científica. E esta é a grande pecha da ficção científica que se concentra na ciência, perdendo de vista a ficção. Por mais relevante que possa ser para o seu tempo, depressa deixa de o ser. E se não há mais nada que a faça perdurar, morre.
Penso que esta história não morreu, mas quase, até porque julgo que a discussão dos limites e potencialidades da iniciativa privada não está aqui minimamente bem feita. É simplória. É ingénua. Endeusa algo que, como temos visto com total clareza nos últimos tempos, está muito longe de poder e dever ser endeusado. E por isso é deficiente.
Há sessenta anos, esta foi uma boa história. Não perfeita, mas boa. Hoje, contudo, está muito longe de o ser.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Lido: A Boneca do Destino
A Boneca do Destino (bibliografia) é um muito estranho romance de ficção científica de Clifford D. Simak. Um aventureiro espacial caído em desgraça é contratado por uma caçadora para uma expedição a um planeta mítico e distante, onde, julga ela, se perdeu um tal Lawrence Arlen Knight, dito o Viajante, aventureiro e explorador. Em parte por causa do desafio, em parte porque lhe permite não ser encontrado por algumas pessoas que deseja manter afastadas, o aventureiro aceita. Mesmo sendo a nave da caçadora dirigida por um navegador cego que ouve vozes, ou algo do género, e que a sua tripulação se componha de um tal "Frei Tuck" (sim, o nome é o do companheiro do Robin dos Bosques), aparentemente inútil, e com o qual o aventureiro antipatiza desde o primeiro momento. Sentimento que, aliás, é mútuo.
A este bizarro grupo de pessoas vai Simak juntar mais à frente um mais bizarro ainda planeta, que parece funcionar como uma armadilha para viajantes interstelares (nesse sentido fez-me lembrar o planeta Ahapooka, do Gerson Lodi-Ribeiro), pois pouco depois de aterrarem e sairem da nave esta é coberta por uma substância branca completamente inviolável, isolando-os da sua única forma de regressar ao espaço.
E no planeta vão, claro, encontrar outras criaturas, várias das quais robóticas, incluindo uns muito estranhos "cavalos de baloiço", robôs semelhantes a... bem... a cavalos de baloiço que, em vez de ficarem parados no mesmo sítio, usam o baloiço para se deslocarem.
Tudo muito esquisito. Muito esquisito.
E tudo muito esquemático, também. A cidade em que aterram é esquemática e quase vazia, como esquemáticas e quase vazias são as paisagens que vão atravessando na demanda para encontrarem o Viajante Knight, como esquemáticas e de certa forma igualmente vazias acabam também por ser as personalidades e as relações interpessoais que se formam. É um pouco como se Simak quisesse escrever uma alegoria (e há alguns trechos com ressonâncias bíblicas, como um vale que os viajantes encontram cheio de ossos secos) mas a tivesse deixado ou pelo esboço, ou demasiado obscura. O que, bem entendido, pode ser limitação não do autor, mas do leitor.
No fim de contas, a leitura acaba por ser agradável, mas deixa uma certa sensação de que falta qualquer coisa. Uma certa sensação de desequilíbrio. Há detalhes de uma deliciosa capacidade imaginativa, mas estes inserem-se no tal cenário esquemático que deixa algo a desejar. Há momentos em que a viagem parece esgotar-se em si mesma. Há alturas em que a história parece arrastar-se, outros em que o enredo se resolve em duas apressadas penadas.
É só no final que acaba por se descobrir que o romance tem mesmo algum conteúdo. Que é um livro sobre o sonho, sobre o desejo, sobre a ambição. Um livro muito zen que nos quer pôr a pensar sobre o que pretendemos da vida e se vale mesmo a pena fazer tudo para alcançarmos os nossos objetivos. Não creio que o faça realmente bem, mas também não acho que o faça mal. Pareceu-me um livro mediano. Muito longe da excelência de outros livros de Simak, em particular Estação de Trânsito, mas uma leitura que não torna mal empregado o tempo nela gasto.
Estes livros foram comprados.
A este bizarro grupo de pessoas vai Simak juntar mais à frente um mais bizarro ainda planeta, que parece funcionar como uma armadilha para viajantes interstelares (nesse sentido fez-me lembrar o planeta Ahapooka, do Gerson Lodi-Ribeiro), pois pouco depois de aterrarem e sairem da nave esta é coberta por uma substância branca completamente inviolável, isolando-os da sua única forma de regressar ao espaço.
E no planeta vão, claro, encontrar outras criaturas, várias das quais robóticas, incluindo uns muito estranhos "cavalos de baloiço", robôs semelhantes a... bem... a cavalos de baloiço que, em vez de ficarem parados no mesmo sítio, usam o baloiço para se deslocarem.
Tudo muito esquisito. Muito esquisito.
E tudo muito esquemático, também. A cidade em que aterram é esquemática e quase vazia, como esquemáticas e quase vazias são as paisagens que vão atravessando na demanda para encontrarem o Viajante Knight, como esquemáticas e de certa forma igualmente vazias acabam também por ser as personalidades e as relações interpessoais que se formam. É um pouco como se Simak quisesse escrever uma alegoria (e há alguns trechos com ressonâncias bíblicas, como um vale que os viajantes encontram cheio de ossos secos) mas a tivesse deixado ou pelo esboço, ou demasiado obscura. O que, bem entendido, pode ser limitação não do autor, mas do leitor.
No fim de contas, a leitura acaba por ser agradável, mas deixa uma certa sensação de que falta qualquer coisa. Uma certa sensação de desequilíbrio. Há detalhes de uma deliciosa capacidade imaginativa, mas estes inserem-se no tal cenário esquemático que deixa algo a desejar. Há momentos em que a viagem parece esgotar-se em si mesma. Há alturas em que a história parece arrastar-se, outros em que o enredo se resolve em duas apressadas penadas.
É só no final que acaba por se descobrir que o romance tem mesmo algum conteúdo. Que é um livro sobre o sonho, sobre o desejo, sobre a ambição. Um livro muito zen que nos quer pôr a pensar sobre o que pretendemos da vida e se vale mesmo a pena fazer tudo para alcançarmos os nossos objetivos. Não creio que o faça realmente bem, mas também não acho que o faça mal. Pareceu-me um livro mediano. Muito longe da excelência de outros livros de Simak, em particular Estação de Trânsito, mas uma leitura que não torna mal empregado o tempo nela gasto.
Estes livros foram comprados.
Lido: Fim-de-Semana
Fim-de-Semana é um conto de Fay Weldon, escritora inglesa de que nunca tinha lido nada. E devo dizer que não fiquei com grande vontade de ler mais alguma coisa. Sim, o conto está bem escrito, sim, percebe-se bem a ideia, mas...
... mas comecemos pelo princípio.
O conto é, basicamente, um longo queixume. O pretexto é descrever o fim-de-semana de uma família da média ou alta burguesia inglesa e alguns amigos, passado na casa de campo da família. Como a burguesia será suficientemente alta para ter uma casa de campo, mas não o suficiente para nela ter criados, quem faz tudo é a mulher. E é a mulher que seguimos, na sua labuta, no seu ressentimento, nas suas ideiazinhas de burguesa dona-de-casa perfeita, ai meu deus que eu não descanso, nas suas rivalidadezinhas, inimizadezinhas, irritaçõezinhas com outras mulheres, e ai meu deus que há tanto para fazer, nos putos, na preparação da comida, nos vou-jás, nos agora-não-possos, nos...
Arre!
Insuportável. Insuportável, quer a autora, a vida da protagonista. Mas o que é realmente insuportável é a protagonista. E o conto. Porque boa parte daquele afã só existe porque ela quer. Porque ela quer passar a imagem de dona de casa perfeita. Deseja a autora que comiseremos com a pobre. Só que a pobre é uma burguesa estúpida, com uma vida que ela própria complica e que mesmo assim é muito mais fácil do que as de milhões e milhões de oturas mulheres. O problema dela é atarefar-se na casa de campo, coisa que a grande maioria não faz porque não tem posses para casas de campo. A sério? Quero lá saber das crisezinhas dos privilegiados. E assim, um conto que a autora provavelmente desejava que fosse uma denúncia do machismo da sociedade transforma-se num exercício de autocomiseração que não desperta a solidariedade de ninguém.
Exceto, talvez, de quem se identificar com a personagem: outras burguesinhas com vontade de passar a imagem de donas de casa perfeitas. Em suma: bah!
Contos anteriores desta publicação:
... mas comecemos pelo princípio.
O conto é, basicamente, um longo queixume. O pretexto é descrever o fim-de-semana de uma família da média ou alta burguesia inglesa e alguns amigos, passado na casa de campo da família. Como a burguesia será suficientemente alta para ter uma casa de campo, mas não o suficiente para nela ter criados, quem faz tudo é a mulher. E é a mulher que seguimos, na sua labuta, no seu ressentimento, nas suas ideiazinhas de burguesa dona-de-casa perfeita, ai meu deus que eu não descanso, nas suas rivalidadezinhas, inimizadezinhas, irritaçõezinhas com outras mulheres, e ai meu deus que há tanto para fazer, nos putos, na preparação da comida, nos vou-jás, nos agora-não-possos, nos...
Arre!
Insuportável. Insuportável, quer a autora, a vida da protagonista. Mas o que é realmente insuportável é a protagonista. E o conto. Porque boa parte daquele afã só existe porque ela quer. Porque ela quer passar a imagem de dona de casa perfeita. Deseja a autora que comiseremos com a pobre. Só que a pobre é uma burguesa estúpida, com uma vida que ela própria complica e que mesmo assim é muito mais fácil do que as de milhões e milhões de oturas mulheres. O problema dela é atarefar-se na casa de campo, coisa que a grande maioria não faz porque não tem posses para casas de campo. A sério? Quero lá saber das crisezinhas dos privilegiados. E assim, um conto que a autora provavelmente desejava que fosse uma denúncia do machismo da sociedade transforma-se num exercício de autocomiseração que não desperta a solidariedade de ninguém.
Exceto, talvez, de quem se identificar com a personagem: outras burguesinhas com vontade de passar a imagem de donas de casa perfeitas. Em suma: bah!
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quarta-feira, 22 de maio de 2013
Ai o que eles foram fazer!
Há, na net portuguesa, um site chamado Letra 1, que teve a infeliz ideia de me convidar para lá escrever umas coisas de vez em quando, julgo eu que sem saber lá muito bem no que se ia meter e que este gajo aqui da Lâmpada tem uns parafusos valentemente desenroscados.
A primeira dessas coisas fala De Empresariado e Parasitismo, e já está à vista de todos o desaparafusamento de quem a escreveu.
Aposto que já por lá estão arrependidos.
A primeira dessas coisas fala De Empresariado e Parasitismo, e já está à vista de todos o desaparafusamento de quem a escreveu.
Aposto que já por lá estão arrependidos.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Diretamente do SF Signal...
... um meme.
Não se importam que eu traduza, pois não? Então cá vai:
Regras: Para cada uma das seguintes perguntas, indique 1 ou mais títulos de ficção científica, fantasia ou horror...
1. O último livro de fc/f/h que li e de que gostei foi:
A Boneca do Destino, do Clifford D. Simak (embora não tenha gostado lá muito). Se fosse para gostar muito, o Se Acordar Antes de Morrer, do João Barreiros. E mesmo muito, muito, Forças do Mercado, do Richard Morgan.
2. O último livro de fc/f/h que li e de que não gostei foi:
Contos Assombrosos, de Steven Bauer.
3. Um livro de fc/f/h que eu recomendaria a novos leitores de fc/f/h é:
A Guerra dos Tronos, do George R. R. Martin, provavelmente. É o livro que tenho visto a destruir, ou pelo menos a atenuar, mais preconceitos contra o género. O Duna, do Frank Herbert, também parece ter o mesmo efeito, mas nos fãs de fantasia que são preconceituosos contra a ficção científica.
4. Um livro de fc/f/h que eu recomendaria a leitores experientes de fc/f/h é:
Terrarium, do João Barreiros e do Luís Filipe Silva. E ainda não acabei o Accelerando, do Charles Stross, mas também parece muito recomendável.
5. O livro de fc/f/h que mais desejo ler em seguida é:
Não sei bem, francamente. Olhando para a pilha rápida, talvez o The Scar, do China Miéville, seja o que mais curiosidade me causa. Agora não me apetece ir ver às pilhas lentas.
6. A minha série favorita de livros de fc/f/h é:
Normalmente não sou grande fã de séries; prefiro livros isolados, ou pelo menos que podem ser lidos isoladamente. Por esse motivo, a minha série favorita deve ser a Hainish, da Ursula K. LeGuin. Cada livro é autocontido, apesar de se ambientarem todos no mesmo universo, e pelo menos dois são completas obras-primas.
7. Leria qualquer coisa deste autor de fc/f/h:
Qualquer coisa é muita coisa. Não leria a lista de supermercado de ninguém, por exemplo. Mas enfim. Há uma série de autores que, em princípio, me agradam. LeGuin, Silverberg, Martin... Saramago... e muitos outros que agora tenho preguiça de listar.
8. O primeiro livro de fc/f/h que li foi:
Não faço ideia. Certamente um livro do Júlio Verne, mas não sei qual. E daí, não. O primeiro deve ter sido um livro de contos dos Irmãos Grimm. Só sei qual foi o primeiro que identifiquei com um género: A Nebulosa de Andrómeda, um livro de FC do Ivan Efrémov.
9. O livro de fc/f/h que mais me surpreende que não agrade a mais pessoas é:
Esta é uma pergunta complicada. Eu geralmente tento compreender os motivos por que as coisas não agradam a muita gente, e normalmente até julgo que consigo. Acontece-me mais ter pena dos livros não agradarem a mais gente (e a FC de que gosto cai toda aqui) do que propriamente sentir surpresa com isso. Olhem, vou dobrar um pouco as regras e responder livros de contos. Em geral.
10. O livro de fc/f/h que me surpreende que agrade a tanta gente é:
Ver acima. Toca, portanto, a dobrar as regras e responder distopias juvenis, especialmente quando formam séries. Pá, a sério. Querem distopias? Leiam o Leibowitz. O Fahrenheit. O Mundo Novo. O 1984. Tantas outras FC distópicas que foram sendo escritas ao longo das décadas, com inteligência e qualidade. Entre estes livros que estão agora na berra até pode haver alguns bons, mas quanto à maioria... nem as premissas fazem algum sentido.
11. O livro de fc/f/h mais caro que possuo é:
Não sei. Não sou esse tipo de bibliófilo, capaz de gastar fortunas por livros raros. Para mim, os livros são para ler, e o preço paga-se e esquece-se.
(até porque se não esquecesse o dinheiro que gasto em livros, provavelmente deprimia)
12. O número de livros de fc/f/h que possuo e ainda não li é:
Hah! Boa pergunta. Bem, atendendo a que tenho 135 livros por ler (fora vastas centenas na biblioteca dos meus pais) e que a maioria é de fc/f/h, estimo-os em volta de 100, mais coisa, menos coisa. Talvez mais mais coisa que menos coisa.
E é isto. Foi giro.
Não se importam que eu traduza, pois não? Então cá vai:
Regras: Para cada uma das seguintes perguntas, indique 1 ou mais títulos de ficção científica, fantasia ou horror...
1. O último livro de fc/f/h que li e de que gostei foi:
A Boneca do Destino, do Clifford D. Simak (embora não tenha gostado lá muito). Se fosse para gostar muito, o Se Acordar Antes de Morrer, do João Barreiros. E mesmo muito, muito, Forças do Mercado, do Richard Morgan.
2. O último livro de fc/f/h que li e de que não gostei foi:
Contos Assombrosos, de Steven Bauer.
3. Um livro de fc/f/h que eu recomendaria a novos leitores de fc/f/h é:
A Guerra dos Tronos, do George R. R. Martin, provavelmente. É o livro que tenho visto a destruir, ou pelo menos a atenuar, mais preconceitos contra o género. O Duna, do Frank Herbert, também parece ter o mesmo efeito, mas nos fãs de fantasia que são preconceituosos contra a ficção científica.
4. Um livro de fc/f/h que eu recomendaria a leitores experientes de fc/f/h é:
Terrarium, do João Barreiros e do Luís Filipe Silva. E ainda não acabei o Accelerando, do Charles Stross, mas também parece muito recomendável.
5. O livro de fc/f/h que mais desejo ler em seguida é:
Não sei bem, francamente. Olhando para a pilha rápida, talvez o The Scar, do China Miéville, seja o que mais curiosidade me causa. Agora não me apetece ir ver às pilhas lentas.
6. A minha série favorita de livros de fc/f/h é:
Normalmente não sou grande fã de séries; prefiro livros isolados, ou pelo menos que podem ser lidos isoladamente. Por esse motivo, a minha série favorita deve ser a Hainish, da Ursula K. LeGuin. Cada livro é autocontido, apesar de se ambientarem todos no mesmo universo, e pelo menos dois são completas obras-primas.
7. Leria qualquer coisa deste autor de fc/f/h:
Qualquer coisa é muita coisa. Não leria a lista de supermercado de ninguém, por exemplo. Mas enfim. Há uma série de autores que, em princípio, me agradam. LeGuin, Silverberg, Martin... Saramago... e muitos outros que agora tenho preguiça de listar.
8. O primeiro livro de fc/f/h que li foi:
Não faço ideia. Certamente um livro do Júlio Verne, mas não sei qual. E daí, não. O primeiro deve ter sido um livro de contos dos Irmãos Grimm. Só sei qual foi o primeiro que identifiquei com um género: A Nebulosa de Andrómeda, um livro de FC do Ivan Efrémov.
9. O livro de fc/f/h que mais me surpreende que não agrade a mais pessoas é:
Esta é uma pergunta complicada. Eu geralmente tento compreender os motivos por que as coisas não agradam a muita gente, e normalmente até julgo que consigo. Acontece-me mais ter pena dos livros não agradarem a mais gente (e a FC de que gosto cai toda aqui) do que propriamente sentir surpresa com isso. Olhem, vou dobrar um pouco as regras e responder livros de contos. Em geral.
10. O livro de fc/f/h que me surpreende que agrade a tanta gente é:
Ver acima. Toca, portanto, a dobrar as regras e responder distopias juvenis, especialmente quando formam séries. Pá, a sério. Querem distopias? Leiam o Leibowitz. O Fahrenheit. O Mundo Novo. O 1984. Tantas outras FC distópicas que foram sendo escritas ao longo das décadas, com inteligência e qualidade. Entre estes livros que estão agora na berra até pode haver alguns bons, mas quanto à maioria... nem as premissas fazem algum sentido.
11. O livro de fc/f/h mais caro que possuo é:
Não sei. Não sou esse tipo de bibliófilo, capaz de gastar fortunas por livros raros. Para mim, os livros são para ler, e o preço paga-se e esquece-se.
(até porque se não esquecesse o dinheiro que gasto em livros, provavelmente deprimia)
12. O número de livros de fc/f/h que possuo e ainda não li é:
Hah! Boa pergunta. Bem, atendendo a que tenho 135 livros por ler (fora vastas centenas na biblioteca dos meus pais) e que a maioria é de fc/f/h, estimo-os em volta de 100, mais coisa, menos coisa. Talvez mais mais coisa que menos coisa.
E é isto. Foi giro.
sábado, 18 de maio de 2013
Lido: Contos Policiais
Contos Policiais é, como o título torna óbvio, um livro de contos policiais. Ou, mais propriamente, uma pequena antologia de contos policiais. Os contos são apenas dois. Um deles é uma das primeiras histórias policiais a apresentar várias das características que mais tarde se iriam tornar autênticos clichés, e o seu protagonista é uma clara influência sobre o mais célebre de todos os detetives da literatura: Sherlock Holmes. O outro é representante de uma faceta algo diferente do género policial: a das histórias que funcionam como enigmas propostos ao leitor, desafiando-o a desvendar o sucedido antes das personagens da história.
Não sou grande fã de policiais, nem conhecedor, mas, tendo lido algumas dezenas de livros do género, julgo que este se presta melhor a romances do que a contos, em especial quando tão curtos como estes. Do que conheço, aliás, o meu subgénero preferido é o do policial negro, do qual que ambas estas histórias estão bastante longe. Em todo o caso, julgo que este livrinho até funciona razoavelmente bem como forma de apresentar o género a quem o desconhece, faltando apenas alguma espécie de enquadramento dos dois contos, quer no género, quer no contexto histórico, bastante diferente, em que foram produzidos. Existem notas biográficas e bibliográficas, mas julgo-as insuficientes.
Em suma: não me parece que se trate de um bom livro, mas também não acho que seja mau.
Eis o que achei dos dois contos:
Este livro foi comprado.
Não sou grande fã de policiais, nem conhecedor, mas, tendo lido algumas dezenas de livros do género, julgo que este se presta melhor a romances do que a contos, em especial quando tão curtos como estes. Do que conheço, aliás, o meu subgénero preferido é o do policial negro, do qual que ambas estas histórias estão bastante longe. Em todo o caso, julgo que este livrinho até funciona razoavelmente bem como forma de apresentar o género a quem o desconhece, faltando apenas alguma espécie de enquadramento dos dois contos, quer no género, quer no contexto histórico, bastante diferente, em que foram produzidos. Existem notas biográficas e bibliográficas, mas julgo-as insuficientes.
Em suma: não me parece que se trate de um bom livro, mas também não acho que seja mau.
Eis o que achei dos dois contos:
Este livro foi comprado.
A fauna no Infinitamente Improvável
Tenho andado a reparar numa tendência curiosa no material que chega e acaba publicado no Infinitamente Improvável: há por lá bicharada a dar com um pau.
A culpa é em parte minha, claro. Não só sou eu quem diz se as histórias sim ou sopas, como fui eu a inaugurar a presença de animais no ezine, com as ovelhas de Testemunhas. As intenções, juro, foram as melhores. Mas depois disso reincidi, com os mosquitos hipertecnológicos de Uma História Verdadeira, Segundo Quem ma Contou e o peixinho de prata radioativo de Quem Quer Ser Super-Herói?, o que não só já foi algo mal intencionado como me põe em primeiro plano no alinhamento dos culpados. Admito-o sem problemas. Ou com problemas, mas sem reservas. Mesmo que antes tenha aparecido O Gafanhoto do Álvaro Holstein. Mesmo assim.
Mas mais recentemente, a invasão animalesca tem sido um fartote. Especialmente sob a forma de ratazanas, oh, as ratazanas!, mas não só. E a culpa é de quem? De quem é? Do Miguel Hernâni Guimarães e da sua A Crise das Ratazanas, claro está, que eu tive de seguir com A Fome das Ratazanas. Teve mesmo de ser. E preparem-se porque o próximo conto a ser publicado também traz desses simpáticos bicharocos.
E com tanto roedor, até pode passar despercebida A Truta, do José Eduardo Lopes. Mas não devia, que não é lá por ser o primeiro peixe que merece menos atenção.
Ou seja, ele é mamíferos, ele é insetos, ele é peixes. Que virá a seguir? Passarada? Lagartagem? Alforrecas?
Atendendo aos antecedentes, já nada me surpreenderá.
E daí... se calhar surpreende.
A culpa é em parte minha, claro. Não só sou eu quem diz se as histórias sim ou sopas, como fui eu a inaugurar a presença de animais no ezine, com as ovelhas de Testemunhas. As intenções, juro, foram as melhores. Mas depois disso reincidi, com os mosquitos hipertecnológicos de Uma História Verdadeira, Segundo Quem ma Contou e o peixinho de prata radioativo de Quem Quer Ser Super-Herói?, o que não só já foi algo mal intencionado como me põe em primeiro plano no alinhamento dos culpados. Admito-o sem problemas. Ou com problemas, mas sem reservas. Mesmo que antes tenha aparecido O Gafanhoto do Álvaro Holstein. Mesmo assim.
Mas mais recentemente, a invasão animalesca tem sido um fartote. Especialmente sob a forma de ratazanas, oh, as ratazanas!, mas não só. E a culpa é de quem? De quem é? Do Miguel Hernâni Guimarães e da sua A Crise das Ratazanas, claro está, que eu tive de seguir com A Fome das Ratazanas. Teve mesmo de ser. E preparem-se porque o próximo conto a ser publicado também traz desses simpáticos bicharocos.
E com tanto roedor, até pode passar despercebida A Truta, do José Eduardo Lopes. Mas não devia, que não é lá por ser o primeiro peixe que merece menos atenção.
Ou seja, ele é mamíferos, ele é insetos, ele é peixes. Que virá a seguir? Passarada? Lagartagem? Alforrecas?
Atendendo aos antecedentes, já nada me surpreenderá.
E daí... se calhar surpreende.
Lido: Suor Engarrafado
Suor Engarrafado é um pequeno conto fantástico e surreal de António Cabral que descreve o modo como uma exploração vinícola duriense vai inovando no fabrico do vinho, de uma forma insólita, através da adição de suor. Suor esse que é recolhido das camisas dos trabalhadores, e que empresta ao vinho uma qualidade superior... de tal modo que, no decorrer da experimentação e do aprimoramento da mistura, a proporção de suor vai aumentando de tal forma que o produtor tem de montar uma operação quase industrial de fornecimento de camisas aos trabalhadores, a fim de recolher o suor que as empapa. E no fim... bem, digamos apenas que as coisas não acabam bem.
Há aqui, claro, uma forte componente alegórica. Mas o conto não se resume a ela. Está bastante bem escrito e, embora pareça ser algo escrito ao fluir das ideias, aproveitando associações inesperadas de ideias como combustível, está também bastante bem concebido. Gostei bastante deste conto.
Textos anteriores deste livro:
Há aqui, claro, uma forte componente alegórica. Mas o conto não se resume a ela. Está bastante bem escrito e, embora pareça ser algo escrito ao fluir das ideias, aproveitando associações inesperadas de ideias como combustível, está também bastante bem concebido. Gostei bastante deste conto.
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terça-feira, 14 de maio de 2013
Algumas explicações e um pedido de opinião aos estimáveis leitores
Como isto no universo anda tudo ligado, uma conversa no twitter, há umas horas, deixou-me a pensar aqui na Lâmpada. Começou com uma queixa, algo do género de "mas como é que eu sei de que livros estás tu a falar, pá?" E na sequência descobri que alguns de vocês não repararam ainda no "bib" que aparece em muitas das minhas opiniões literárias, sempre logo a seguir ao título que costuma abrir o texto propriamente dito. Com link.
Por outras palavras, descobri que se calhar falta uma explicação sobre a existência e utilidade desse "bib." Então cá vai.
O "bib" (que é abreviatura de "bibliografia") aparece ao lado de textos ou publicações que já estão listados no Bibliowiki, e o link leva à página respetiva no wiki. Logicamente, dado o âmbito do Bibliowiki, só tem "bib" aquilo que se enquadra na literatura fantástica. E porque é que eu faço essa ligação? Porque o facto de ler o conto X na publicação Y não quer dizer que seja só aí que ele pode ser encontrado, ou porque lá por ter lido a edição Z do livro Tal não significa que só exista essa. Por isso, envio o leitor interessado para uma lista que, embora muitas vezes esteja incompleta, sempre lhe dá mais alguma informação e, com alguma frequência, alternativas para a obtenção das coisas. É também por esse motivo que, quando falo num conto, não identifico o livro onde o encontrei. Deixo isso para o apanhado geral, altura em que falo do livro (ou da revista, etc.), com links internos para as opiniões sobre as histórias (ou poemas, etc.) que fui publicando ao longo da leitura. E entretanto, os "bib" vão aparecendo, para que quem queira perceber de que livro se trata ou onde as coisas estão publicadas possa investigar por si mesmo.
OK, a ideia é esta. Mas que a malta não repare no "bib" diz-me que se calhar não resulta tão bem como seria desejável.
Quando comecei a usar este esquema, pensei em alternativas. A publicação de uma imagem pequena da capa do livro, revista, etc., em que o objeto da opinião se insere foi uma dessas alternativas, mas decidi não o fazer porque por um lado me dava mais trabalho e por outro colidia com a ideia do link para a bibliografia, associando demasiado, sob o meu ponto de vista, a obra a uma publicação específica. O mesmo que escarrapachar em cada opinião o nome da publicação.
Mas, lá está, se a malta não repara no "bib"...
Portanto estou num dilema. E quando se está num dilema nada melhor do que pôr a mente coletiva a funcionar. Que vos parece tudo isto? Já tinham reparado nos "bib"s? Costumam seguir os links? Já seguiram algum? E etc.
Respostas nos comentários, no twitter, no facebook, onde vos der na realíssima gana. E obrigados antecipados.
Por outras palavras, descobri que se calhar falta uma explicação sobre a existência e utilidade desse "bib." Então cá vai.
O "bib" (que é abreviatura de "bibliografia") aparece ao lado de textos ou publicações que já estão listados no Bibliowiki, e o link leva à página respetiva no wiki. Logicamente, dado o âmbito do Bibliowiki, só tem "bib" aquilo que se enquadra na literatura fantástica. E porque é que eu faço essa ligação? Porque o facto de ler o conto X na publicação Y não quer dizer que seja só aí que ele pode ser encontrado, ou porque lá por ter lido a edição Z do livro Tal não significa que só exista essa. Por isso, envio o leitor interessado para uma lista que, embora muitas vezes esteja incompleta, sempre lhe dá mais alguma informação e, com alguma frequência, alternativas para a obtenção das coisas. É também por esse motivo que, quando falo num conto, não identifico o livro onde o encontrei. Deixo isso para o apanhado geral, altura em que falo do livro (ou da revista, etc.), com links internos para as opiniões sobre as histórias (ou poemas, etc.) que fui publicando ao longo da leitura. E entretanto, os "bib" vão aparecendo, para que quem queira perceber de que livro se trata ou onde as coisas estão publicadas possa investigar por si mesmo.
OK, a ideia é esta. Mas que a malta não repare no "bib" diz-me que se calhar não resulta tão bem como seria desejável.
Quando comecei a usar este esquema, pensei em alternativas. A publicação de uma imagem pequena da capa do livro, revista, etc., em que o objeto da opinião se insere foi uma dessas alternativas, mas decidi não o fazer porque por um lado me dava mais trabalho e por outro colidia com a ideia do link para a bibliografia, associando demasiado, sob o meu ponto de vista, a obra a uma publicação específica. O mesmo que escarrapachar em cada opinião o nome da publicação.
Mas, lá está, se a malta não repara no "bib"...
Portanto estou num dilema. E quando se está num dilema nada melhor do que pôr a mente coletiva a funcionar. Que vos parece tudo isto? Já tinham reparado nos "bib"s? Costumam seguir os links? Já seguiram algum? E etc.
Respostas nos comentários, no twitter, no facebook, onde vos der na realíssima gana. E obrigados antecipados.
Lido: Embutido
Embutido, de Alberto Pimenta, é um mini-conto, ou quiçá um poema, ou talvez uma anedotazinha, sobre um homem que, ao matutar nuns problemas que o afligiam (mas de uma forma muito elevada, sublinhe-se), sofreu o percalço de lhe cair a alma aos pés. Era sexta-feira. E já se sabe da dificuldade em arranjar quem substitua almas ao fim de semana, não é verdade?
Trata-se, como se pode ver, de um continho (poema?) fantástico francamente divertido. E acho que já escrevi mais sobre ele do que o que ele escreveu sobre si próprio.
Textos anteriores deste livro:
Trata-se, como se pode ver, de um continho (poema?) fantástico francamente divertido. E acho que já escrevi mais sobre ele do que o que ele escreveu sobre si próprio.
Textos anteriores deste livro:
- De Como Lavoisier Mostrou uma Pistola a um Guarda-Redes e Este Passou o Jogo a Dar Saltos, que lhe Custaram Vários Golos Absolutamente Defensáveis
- De Como um Tio me Levou ao Académica-Benfica e eu Bati Palmas a um Golo do Teixeira, Sem Saber que Era Gaffe
- De Como Fiz a Minha Iniciação Desportiva, Hesitando Entre a Arte de Guarda-Redes e a de Pedróbolo da Quinta do Lopes
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Lido: A Consoada
A Consoada é um continho neorrealista e natalício de Carlos Malheiro Dias. Ambientado entre gente pobre, traça um quadro trágico de amor familiar. Uma mãe e uma filha, nas vésperas de Natal, esperam o pai que anda por fora a fim de comprar à filha um par de argolas para as orelhas... mas o pai nunca mais chega, e as duas vão-se enchendo de angústias, apesar da mãe as esconder na tentativa de sossegar a filha. Nenhuma delas, no entanto, consegue evitar imaginar cenários; e se o homem foi atacado por ladrões? O drama completa-se quando o marido e pai chega, transportado a braços por outros homens, como morto.
Não desgostei. Embora seja muito curto, apenas com quatro páginas, o ambiente do conto está bem construído, com uma notável economia de meios. Apesar de haver alguma previsibilidade, em grande medida devido à necessidade de preparar as coisas para os elementos do enredo não parecerem caídos do céu por não terem unhas o que, num texto tão curto, faz com que falar-se da possibilidade de vir a dar-se o sucedido X, por isto e por aquilo, torne altamente provável que X venha mesmo a suceder, apesar disso essa previsibilidade não é completa, o que mantém de pé o interesse no conto até final. Claro: está longe de ser o tipo de história que mais me cativa. Mas não dei por mal empregado o tempo gasto a lê-la.
Contos anteriores deste livro:
Não desgostei. Embora seja muito curto, apenas com quatro páginas, o ambiente do conto está bem construído, com uma notável economia de meios. Apesar de haver alguma previsibilidade, em grande medida devido à necessidade de preparar as coisas para os elementos do enredo não parecerem caídos do céu por não terem unhas o que, num texto tão curto, faz com que falar-se da possibilidade de vir a dar-se o sucedido X, por isto e por aquilo, torne altamente provável que X venha mesmo a suceder, apesar disso essa previsibilidade não é completa, o que mantém de pé o interesse no conto até final. Claro: está longe de ser o tipo de história que mais me cativa. Mas não dei por mal empregado o tempo gasto a lê-la.
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domingo, 12 de maio de 2013
Lido: A Formiga Eléctrica
A Formiga Eléctrica (bib.) é um ótimo conto de Philip K. Dick sobre um homem que, um belo dia (ou talvez nem por isso muito belo) dá por si no hospital... e descobre que não é homem nenhum mas sim um robô humanoide, ou um androide ou, segundo a terminologia de Dick, uma formiga elétrica. Como seria de supor, uma tal descoberta vai virar-lhe a vida de pantanas, mas de uma forma que é ao mesmo tempo muitíssimo dickiana e algo datada.
O conto é de 1969, portanto são praticamente inevitáveis alguns anacronismos de monta, até porque Dick nunca foi dos autores mais atentos aos aspetos técnicos da FC que escrevia. Ora, como naquela época a tecnologia de ponta em termos de suporte físico para os programas informáticos eram cartões ou fitas perfuradas, lidas em leitores óticos, o que Dick faz é pressupor a miniaturização desse tipo de suporte, e desenvolver o conto em volta desse tipo de tecnologia. Claro que hoje isso soa algo ridículo... mas a verdade é que neste caso até funciona.
Porque não é na ideia tecnológica que Dick se foca, vai muito para além disso. O que lhe interessa é, como aliás é seu timbre, a natureza da realidade e a forma como os que intervêm na realidade dela se apercebem. Porque a formiga elétrica, quando descobre sê-lo e se informa sobre o modo como funciona, vai pôr-se a fazer experiências. Como? Manipulando a fita de dados miniatural que tem instalada no peito, a qual não é propriamente uma fita de programação, mas uma forma de criar a realidade em que o androide se move. Com resultados bizarros, mas que não poderiam ser mais dickianos.
E a ideia de Dick é, evidentemente, falar de nós. O protagonista do conto não faz ideia alguma de que não é tão humano como todos os que o rodeiam... faremos nós? Poderemos ter certeza? E mesmo que sejamos, o que nos impede de termos também algures cá dentro uma qualquer espécie de gerador de realidade? A resposta de Dick é: nada. E esta resposta, que Dick foi dando consistentemente ao longo de toda a obra, raramente fica tão clara como neste conto.
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O conto é de 1969, portanto são praticamente inevitáveis alguns anacronismos de monta, até porque Dick nunca foi dos autores mais atentos aos aspetos técnicos da FC que escrevia. Ora, como naquela época a tecnologia de ponta em termos de suporte físico para os programas informáticos eram cartões ou fitas perfuradas, lidas em leitores óticos, o que Dick faz é pressupor a miniaturização desse tipo de suporte, e desenvolver o conto em volta desse tipo de tecnologia. Claro que hoje isso soa algo ridículo... mas a verdade é que neste caso até funciona.
Porque não é na ideia tecnológica que Dick se foca, vai muito para além disso. O que lhe interessa é, como aliás é seu timbre, a natureza da realidade e a forma como os que intervêm na realidade dela se apercebem. Porque a formiga elétrica, quando descobre sê-lo e se informa sobre o modo como funciona, vai pôr-se a fazer experiências. Como? Manipulando a fita de dados miniatural que tem instalada no peito, a qual não é propriamente uma fita de programação, mas uma forma de criar a realidade em que o androide se move. Com resultados bizarros, mas que não poderiam ser mais dickianos.
E a ideia de Dick é, evidentemente, falar de nós. O protagonista do conto não faz ideia alguma de que não é tão humano como todos os que o rodeiam... faremos nós? Poderemos ter certeza? E mesmo que sejamos, o que nos impede de termos também algures cá dentro uma qualquer espécie de gerador de realidade? A resposta de Dick é: nada. E esta resposta, que Dick foi dando consistentemente ao longo de toda a obra, raramente fica tão clara como neste conto.
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Lido: A Ilha
A Ilha (bib.) é uma noveleta de horror de um tal João Henriques, que ou muito me engano ou também é pseudónimo e até suspeito que sei de quem, por via do título de uma certa e determinada curta-metragem referida na introdução. Basta juntar Jorge, como soi dizer-se. Mas, como diria a outra, isso agora não interessa nada. O que interessa é a noveleta.
E a noveleta é boa. Uma história muito interessante e bem contada sobre um homem, doente terminal, que se aventura a penetrar numa ilha da Madeira que anos antes se viu subitamente cortada da realidade em que a vida continua no resto do país e do planeta, a fim de investigar o que teria acontecido na ilha. Não é o primeiro a fazê-lo, bem entendido. Mas de todos os que o tentaram antes, nenhum regressou para levantar o véu de mistério. É como se a ilha se tivesse sumido para um outro universo qualquer. E quando lá chega, o herói, protagonista, narrador, vai descobrindo que foi mais ou menos isso o que aconteceu, que há leis da natureza que, pura e simplesmente, parecem ter deixado de funcionar tão irremediavelmente como a maquinaria humana. No fim...
Não, não vou revelar o fim.
É, como disse, uma boa história. Não isenta de falhas mas, parece-me, bastante melhor do que as anteriores. Não por acaso, também é bastante menos pulpesca do que as anteriores, ainda que o parentesco que nela se pode encontrar com as ficções lovecraftianas de horror cósmico — todas elas publicadas nas revistas pulp do tempo — justifique plenamente a sua inclusão neste livro. E por isso, foi a primeira história de que posso dizer que gostei.
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E a noveleta é boa. Uma história muito interessante e bem contada sobre um homem, doente terminal, que se aventura a penetrar numa ilha da Madeira que anos antes se viu subitamente cortada da realidade em que a vida continua no resto do país e do planeta, a fim de investigar o que teria acontecido na ilha. Não é o primeiro a fazê-lo, bem entendido. Mas de todos os que o tentaram antes, nenhum regressou para levantar o véu de mistério. É como se a ilha se tivesse sumido para um outro universo qualquer. E quando lá chega, o herói, protagonista, narrador, vai descobrindo que foi mais ou menos isso o que aconteceu, que há leis da natureza que, pura e simplesmente, parecem ter deixado de funcionar tão irremediavelmente como a maquinaria humana. No fim...
Não, não vou revelar o fim.
É, como disse, uma boa história. Não isenta de falhas mas, parece-me, bastante melhor do que as anteriores. Não por acaso, também é bastante menos pulpesca do que as anteriores, ainda que o parentesco que nela se pode encontrar com as ficções lovecraftianas de horror cósmico — todas elas publicadas nas revistas pulp do tempo — justifique plenamente a sua inclusão neste livro. E por isso, foi a primeira história de que posso dizer que gostei.
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sexta-feira, 10 de maio de 2013
Lido: O Poeta
O Poeta é um conto curto de António Cabral que, socorrendo-se de cartas que teriam sido escritas pelo protagonista à mãe analfabeta, conta a vida e traça um retrato rápido mas que não deixa de ter profundidade de um jovem inconformado, o poeta a que o título faz referência. Gostei muito deste conto. Pela forma fluida como vai saltando de eposódio em episódio, numa narrativa não linear e semiepistolar, pela prosa de qualidade e pelo modo como, apesar da brevidade consegue descrever não só uma pessoa, como todo o seu entorno social, as suas contingências, e as diversas maneiras como estas influenciaram e determinaram aquela. Quando li a primeira história deste livro fiquei na dúvida sobre se Cabral seria, ou não, um bom contador de histórias. Pois bem, já tinha poucas, mas este conto desfez as que ainda restavam. É, sim senhor.
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quarta-feira, 8 de maio de 2013
Lido: The Journey to Kailash
The Journey to Kailash é um longo poema de Mike Allen, no qual um jovem conta a história da sua relação com o padrasto. O detalhe mais que relevante é o seguinte: o padrasto é Ganesh, o elefantino deus hindu. Pareceu-me um belo poema. Por causa da ironia, a espaços bastante divertida, que é ter um deus hindu a viver uma vida de classe trabalhadora na América contemporânea. Sim. Mas também porque essa ironia se vai a pouco e pouco transformando numa espécie de desespero existencial movido a dificuldades e frustrações e abandono, fiel reflexo, afinal, da vida dessa mesma classe trabalhadora em plena crise económica. E porque ao longo de todo o poema vamos encontrando o inesperado a trocar-nos as voltas sempre que julgamos saber para onde tudo aquilo se dirige. Não é todos os dias que um texto consegue tal feito, e muito menos quando esse texto é um poema. Até no título há subtilezas; só conhecendo algumas coisas sobre a mitologia hindu (ou googlando-as) ele faz sentido.
Este impressionou-me.
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Este impressionou-me.
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Lido: De Como Lavoisier Mostrou uma Pistola a um Guarda-Redes e Este Passou o Jogo a Dar Saltos, que lhe Custaram Vários Golos Absolutamente Defensáveis
De Como Lavoisier Mostrou uma Pistola a um Guarda-Redes e Este Passou o Jogo a Dar Saltos, que lhe Custaram Vários Golos Absolutamente Defensáveis (bolas!) é, como a exuberância do título logo indica, outra crónica futrbolístico-humorística de Fernando Assis Pacheco. E o título diz quase tudo. Trata-se, de facto, de uma historieta sobre um jogo de futebol, ao qual um tal "Lavoisier" (é alcunha), pleno de desportivismo, como se vê, decide ir assistir armado de pistola, a qual passa o jogo a exibir ao guarda-redes da equipa adversária. Este, que tem cu, e portanto tem medo, prefere armar-se em frango do que em herói. E é isto. Tem a sua piada, suponho. Há algo de bom malandro, de partida bem pregada, na iniciativa do Lavoisier, que consegue levar a sua avante sem ser trancafiado na choldra como mereceria. É só mais um pequeno canalha a fazer uma pequena canalhice, num ambiente que está repleto de canalhas que, mesmo sem precisarem de pistolas, fazem canalhices muito maiores do que a sua. Mas, de novo, não é o tipo de coisa que me encha minimamente as medidas. Dá para um sorrisinho, suponho. Não para mais.
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sábado, 4 de maio de 2013
Lido: O Presente dos Magos
O Presente dos Magos é um conto de O. Henry cheio de bons sentimentos natalícios. Os protagonistas são um jovem casal, muito pobre, mas que no entanto se ama profundamente. Cada um possui apenas uma coisa que o enche de vaidade. No caso dela, é o cabelo, as longas melenas sedosas; no dele é um relógio. Mas o Natal aproxima-se e há muito mais vontade de oferecer um presente ao companheiro do que dinheiro. Que fazer?
Não revelarei o que eles fizeram; digo apenas que o conto peca por ser completamente previsível, o que em muito reduz o seu interesse. Assim que o leitor se apercebe de que o ambiente do conto é delicodoce e do que a mulher pretende fazer, o que acontece bem depressa, o final fica imediatamente claro e o bocejo instala-se. Isso não faz com que o conto passe a mau, mas...
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Não revelarei o que eles fizeram; digo apenas que o conto peca por ser completamente previsível, o que em muito reduz o seu interesse. Assim que o leitor se apercebe de que o ambiente do conto é delicodoce e do que a mulher pretende fazer, o que acontece bem depressa, o final fica imediatamente claro e o bocejo instala-se. Isso não faz com que o conto passe a mau, mas...
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Lido: O Homem que Plantava Árvores
O Homem que Plantava Árvores é um conto bucólico de Jean Giono, passado algures no sul dos Alpes franceses, sobre um homem que dedicou a vida a plantar árvores. O narrador é (ou começa por ser) um jovem que gosta de caminhar sozinho pelo campo, à aventura, e um belo dia, perdido nas montanhas desoladas, cheio de sede e sem água nem onde a consiga encontrar, depara com um pastor que o ajuda. O homem interessa-o, pelos seus modos reservados e o mistério que neles entrevê, e vai-se deixando ficar até descobrir que o passatempo do outro é plantar árvores. Passa-se tudo isto no início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial, e o conto vai depois seguindo sucessivos regressos do narrador ao mesmo local, acompanhando a transformação na paisagem operada por aquele homem isolado e pela sua imperturbável atividade ao longo das décadas, à revelia de quaisquer autoridades, cuja única ação é constatar, surpreendidas, o aparente milagre do surgimento de uma nova floresta onde antes nada existia, e mais tarde declarar essa floresta património protegido.
Trata-se não só de um conto profundamente ecológico, mas também de uma história otimista, com a clara mensagem de que alguém, sozinho, se tiver suficiente persistência e habilidade, se a isso se dedicar de corpo e alma, pode de facto mudar o mundo. Talvez seja um bom conto para os dias que vivemos, tão vazios de motivos de esperança. Talvez nos indique que o melhor lugar para os procurarmos é em nós próprios. Talvez. O que é certo é que este é um bom conto; um conto bem escrito, bem concebido e bem desenvolvido.
Curiosamente, visto que nada tem de ficção científica ou até de qualquer espécie de fantástico, esta história fez-me lembrar com insistência um conto de Bradbury, A Manhã Verde, no qual um homem, sozinho, obcecado, planta árvores em Marte ao longo de quilómetros e quilómetros e mais quilómetros, num esforço que tanto quanto sabe pode perfeitamente ser fútil, até que um belo dia a floresta brota da poeira estéril do planeta. A ânsia por levar vida a um mundo morto é a mesma, bem como o isolamento e a dedicação obstinada do protagonista. É possível que Giono tenha tido contacto com o conto de Bradbury, que antecede o seu em três anos, mas parece-me mais provável que se trate de criatividade paralela. Seja como for, são dois tratamentos diferentes da mesma ideia, embora com muito em comum. E se me perguntarem qual é melhor, eu hesitarei em dar uma resposta, pois os pontos fortes e fracos de cada uma são demasiado diferentes para permitirem uma comparação fácil.
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Trata-se não só de um conto profundamente ecológico, mas também de uma história otimista, com a clara mensagem de que alguém, sozinho, se tiver suficiente persistência e habilidade, se a isso se dedicar de corpo e alma, pode de facto mudar o mundo. Talvez seja um bom conto para os dias que vivemos, tão vazios de motivos de esperança. Talvez nos indique que o melhor lugar para os procurarmos é em nós próprios. Talvez. O que é certo é que este é um bom conto; um conto bem escrito, bem concebido e bem desenvolvido.
Curiosamente, visto que nada tem de ficção científica ou até de qualquer espécie de fantástico, esta história fez-me lembrar com insistência um conto de Bradbury, A Manhã Verde, no qual um homem, sozinho, obcecado, planta árvores em Marte ao longo de quilómetros e quilómetros e mais quilómetros, num esforço que tanto quanto sabe pode perfeitamente ser fútil, até que um belo dia a floresta brota da poeira estéril do planeta. A ânsia por levar vida a um mundo morto é a mesma, bem como o isolamento e a dedicação obstinada do protagonista. É possível que Giono tenha tido contacto com o conto de Bradbury, que antecede o seu em três anos, mas parece-me mais provável que se trate de criatividade paralela. Seja como for, são dois tratamentos diferentes da mesma ideia, embora com muito em comum. E se me perguntarem qual é melhor, eu hesitarei em dar uma resposta, pois os pontos fortes e fracos de cada uma são demasiado diferentes para permitirem uma comparação fácil.
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quarta-feira, 1 de maio de 2013
Lido: O Arqueólogo
O Arqueólogo é um conto de António Cabral que faz o leitor regressar ao Douro e aos tempos da ditadura. Falando embora de amor, apesar de ser uma daquelas histórias sobre "como nos conhecemos" que todos os casais acabam mais tarde ou mais cedo por contar a filhos ou amigos, na verdade é bastante mais que isso. A meu ver, pelo menos, o essencial aqui é a história de opressão, repleta de suspeitas e clandestinidades, sobre contactos subversivos, desejos de fuga à guerra colonial, bufos e prisões, desenfreada exploração laboral e a vida que apesar de tudo continua. Ou seja: a atmosfera carregada, opressiva, dos tempos fascistas, bastante bem retratada, é, parece-me, a verdadeira protagonista desta pequena história. Gostei bastante, apesar de mais problemas com as vírgulas (o conto começa "Viu-a pela primeira vez, através da vidraça do café") e de um ou outro arroubo poético que me pareceu algo excessivo.
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Lido: The Graven Idol's Godheart
The Graven Idol's Godheart é um poema de Rich Ristow sobre a Bateria de Bagdade, um artefacto arqueológico (ou melhor: um conjunto de artefactos) com mais de mil anos que se pensa poder ter sido usado como célula galvânica muitíssimo antes de Galvani sequer sonhar em nascer. Achei o poema muito interessante por, usando técnicas típicas da FC, postulando ser verdadeira uma hipótese científica e extrapolando a partir daí, constituir uma autêntica denúncia do charlatanismo de índole religiosa, do milenar aproveitamento pelo clero da ignorância e credulidade das massas. Francamente aprovado.
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Lido: De Como um Tio me Levou ao Académica-Benfica e eu Bati Palmas a um Golo do Teixeira, Sem Saber que Era Gaffe
De Como um Tio me Levou ao Académica-Benfica e eu Bati Palmas a um Golo do Teixeira, Sem Saber que Era Gaffe (puf... puf... estes títulos, pá!...) é uma crónica humorístico-(autobiográfico?)-futebolística de Fernando Assis Pacheco sobre aquilo que o título leva a suspeitar. Sobre o modo como um tio (dele?) levou o jovem autor (?) a um jogo da bola entre a Académica e o Benfica, e o dito jovem deu por si a torcer pela equipa adversária simplesmente porque se mostrou melhor em campo. Ridículo, não é? Pois. E de facto, a escandaleira parece ter sido geral.
Não gostei assim muito. É texto que nem chega ao sorriso aberto, muito menos à gargalhada, o que até é capaz de ter algo a ver com eu não ter essa experiência de ir à bola, em puto, com pais, ou tios, ou seja quem for. Não há identificação com a personagem nem termo de comparação. Não me desperta a mínima nostalgia nem faz lembrar nenhum episódio da minha vida. Ou seja: não sou público-alvo. Mas imagino que quem seja ache muito mais piada a isto do que eu achei.
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Não gostei assim muito. É texto que nem chega ao sorriso aberto, muito menos à gargalhada, o que até é capaz de ter algo a ver com eu não ter essa experiência de ir à bola, em puto, com pais, ou tios, ou seja quem for. Não há identificação com a personagem nem termo de comparação. Não me desperta a mínima nostalgia nem faz lembrar nenhum episódio da minha vida. Ou seja: não sou público-alvo. Mas imagino que quem seja ache muito mais piada a isto do que eu achei.
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