domingo, 31 de agosto de 2003

Spamesia (114)

Na terça-feira, a enxurrada continuou, e de tal maneira que tive de cortar o download de mensagens vindas do netc com um tamanho superior a x bytes, para que a caixa de correio enchesse e os vírus começassem a voltar para trás. Os vírus e tudo o mais, naturalmente. É que quando o número de mensagens atinge as 212, chegou a altura de tomar medidas drásticas.

No meio da avalanche de lixo, apareceu um spam com o título de "Increase Your Length==========>", e eu abreviei:

Aumente o seu comprimento

Aumente o seu comprimento
de maneira simples e eficaz
basta que se nos entregue
e à nossa mesa de estiramento
é certo que dói um bocadinho
mas sem esforço nada se faz

Spamesia (113)

E para compensar pela ausência de spamesia estes dias todos, ou então, vistas as coisas por outro prisma, para massacrar sadicamente o juízo de quem teve uns dias de alívio, hoje o spamema é grande. Porquê? Bem, porque se refere ao spam de segunda-feira, e na segunda-feira eu recebi nada menos que 156 mensagens-lixo. Sim, 156. Leram bem.

Foi quase tudo vírus, claro. E chegou-me quase tudo do endereço netc, como é hábito. Em tempos, a netc foi uma empresa decente, com um serviço de qualidade dentro dos condicionalismos do acesso "gratuito" à internet (gratuito, o tanas, mas isso é outra conversa). Mas depois, as leis do liberalismo económico ditaram a transformação daquilo em Vizzavi e o serviço caiu a pique. E depois ainda, o liberalismo económico transferiu a gestão dos serviços de email para a IOL, e aí aconteceu a catástrofe: o spam aumentou imediatamente em flecha (o meu triplicou de um dia para o outro), e começaram a acontecer situações como a desta semana: eles deixaram infectar os seus servidores e não só desataram a cuspir vírus para as caixas de correio dos clientes, como ainda desataram a enviar vírus em nome dos clientes, que têm os computadores limpinhos da Silva.

Vivam o liberalismo económico e as leis do mercado! Vivóóó!

Mas que se lixe, passemos à spamesia. No meio da enxurrada de vírus, peguei num spam legítimo, que trazia o título de "Fwd: the reunion":

A reunião

Entraram uns após outros, afogados em gravatas
com sorrisos de fixador entrelaçados ao gel
e pastas com papéis postas sobre a mesa
Sentaram-se, fazendo ranger o couro das cadeiras
murmurando circunspectos murmúrios aos ouvidos vizinhos
Prepararam-se para a soneca habitual de duas horas
enquanto o chefe debitava relatórios e projecções

O chefe chegou atrasado em passos largos, como sempre
Era em tudo um pouco mais que os demais
a gravata afogava-o um pouco mais
o gel fixava-lhe o sorriso um pouco mais em tons de branco
a cadeira em que rangia um pouco mais
era um pouco mais alta que as demais
O chefe era o chefe, um pouco mais chefe que os demais

A reunião começou com os atrasos habituais
procuravam-se estratégias de médio prazo
modos de atrair investimento
maneiras de continuar o crescimento
O chefe falava, os outros apenas dormiam
porque nenhum deles se atrevia a dizer
algo que ao chefe talvez não agradasse
apresentavam relatórios se alguém lhos pedia
mas as ideias guardavam-nas bem
não fosse alguém descobrir que elas existiam

A reunião acabou com toda a gente satisfeita
o chefe porque ninguém pusera em causa a sua chefia
e os outros porque estavam ali e não lá fora
onde a fome que provocavam era morte todos os dias

Pico-entrevista à Janela Indiscreta

OK, estou de volta. E como já há muito tempo que devo esta pico-entrevista (e a seguinte), aqui vai ela sem mais delongas.

Fui fazer pergunta à Janela Indiscreta, aquele blog que mais parece um suplemento cultural diário, onde aparece tudo e mais alguma coisa e muito raramente é desinteressante. Até quando responde a perguntas provocatórias. Também é um blog colectivo, portanto tivemos direito não a uma mas a três respostas:

LM - Qual é a diferença entre uma janela indiscreta e uma bisbilhoteira à janela?
Janela Indiscreta - A Marta foi rápida e concisa: “Uma janela indiscreta alberga 6 bisbilhoteiros!”
O Luís resolveu brincar com os cortinados: “A única diferença entre a janela e a bisbilhoteira à janela é que por vezes esta pode bisbilhotar discretamente, entre os frisos dos estores ou dos cortinados.”
A Cristina desfez a pergunta e voltou a dar as cartas: “A diferença entre a curiosidade e a coscuvelhice? A curiosidade é uma coisa boa, faz-nos pensar, dar voltas à cabeça. A coscuvelhice é puro vício para quem se empanturra com a vida dos outros.”
Os restantes indiscretos estão algures de papo para o ar e desconfio que estão bem.
Quanto ao narrador, defenestra-se já aqui!


Defenestraram-se bem, não se defenestraram?

segunda-feira, 25 de agosto de 2003

Spamesia (112)

Os spammers não descansam ao domingo, essa é que é essa. E ontem mandaram-me nada menos que 37 mensagens. Claro, com tão grande número torna-se mais fácil encontrar um título que diga alguma coisa aqui ao homem da reciclagem. Desta vez foi "What happened to you?"

Que te aconteceu?

Que te aconteceu nestes anos em que não nos vimos?
Dantes, usavas as coisas com a alegria de uma onda
mas agora desapareces dentro do fato
e parece que é a gravata que te usa a ti

Que te aconteceu?
Como deixaste que o tempo te estragasse assim?

Blogger unsucked

Bem, a coisa voltou a funcionar, agora com uns botõezinhos novos para que quem não sabe HTML possa meter negritos, itálicos e links.

Pelos vistos, fico. Mas a pico-entrevista seguinte, que estava preparada para sair hoje à tarde, vai ter de ficar para amanhã, que um homem não é de ferro...

Blogger sucks!

Peço desculpa a todos os visitantes da Lâmpada Mágica, mas o Blogger passou-se, as páginas de edição ficaram completamente inoperacionais no meu Mozilla e enquanto não voltarem a funcionar, não haverá mais posts na Lâmpada porque o BlogThis!, que é o que estou a utilizar agora, só dá para postar, não permite, por exemplo, corrigir algum engano.

Se os meninos não corrigirem o problema, a Lâmpada simplesmente fechará portas.

domingo, 24 de agosto de 2003

Spamesia (111)

Ontem, sábado, desceu a quantidade de lixo na minha mailbox: foram 27 mensagens, quase todas ou com títulos pouco aproveitáveis ou com títulos já utilizados. Resolvi ir pelo desafio, e peguei numa que falava de um "HAZEL Fan Club zzvkrhct". Deitei fora o zzvkrhct e traduzi:

Clube de fãs da aveleira

A aveleira tem um clube de fãs
que não gostam da aveleira
gostam é muito de avelãs

sábado, 23 de agosto de 2003

Spamesia (110)

Ontem foram mais 35, dos quais 6 eram vírus. Gosto dos vírus! São fáceis de evitar por quem não usa programas patetas como o Outlook e têm títulos porreiros, como "Thank you!"

Obrigado

Obrigado
por me deixares encostar
a cabeça ao teu peito
nos dias de fúria
escutar um coração a bater
é o princípio da cura

sexta-feira, 22 de agosto de 2003

Spamesia (109)

Mais um dia de vírus, com um total de mensagens-lixo de 33, das quais 8 eram vírus. Optei por uma das outras, no entanto. Dizia ela que "It's simply too small...", não sei a quê nem me interessa. Só me interessa que é um bom título para fazer um spamema de FC:

É simplesmente pequeno demais

A milénios daqui
quando das ruínas do que somos
finalmente brotar aquilo que poderíamos ser
os sábios do tempo irão debruçar-se
sobre os motivos, as razões, as condições
que nos levaram a fazer o que fazemos

Depois de décadas de reuniões
a resposta surpreenderá a maioria
(se bem que se tivessem criado
uma máquina do tempo
e tivessem vindo cá falar connosco
a surpresa rapidamente se esfumaria)

Parece que o problema é que o nosso cérebro
é muito simplesmente pequeno de mais

quinta-feira, 21 de agosto de 2003

Spamesia (108)

Ontem foi dia de vírus. Andam por aí umas quantas epidemias, e ontem recebi uma série de emails com coisas anexadas cheias de bichezas digitais. Foram 29 exemplares de spam normal e 6 vírus. Não me incomoda: não uso software susceptível de ser infectado por anexos deste género, e sempre são mais títulos por onde escolher. E escolhi precisamente o título de 3 dos vírus: "Re: Details"...

Detalhes

Uma pincelada de verde numa paisagem de cinza
um fugaz brilho no olhar
um pedido de desculpa
um soldado que se recusa a disparar
um ponto avermelhado suspenso ao lado da Lua
um sorriso, duas palavras ditas em voz branda
uma bolacha numa boca sequiosa de alimento
uma gota de água em lábios empoeirados
um aperto de mão ou, melhor, um abraço
um telefonema
um poema

Detalhes, só detalhes
mas que fazem toda a diferença

Pico-entrevista ao Bloque dos Marretas

Quem não conhece o Blogue dos Marretas, onde convivem dois velhos ranhetas com um animal bacano e onde aparece de vez em quando um cozinheiro sueco que, milagrosamente, toda a gente entende e uma janice bem menos chanada do que seria de esperar, por qualquer razão?

Pois foi precisamente os Marretas que fui pico-entrevistar, e com aquela dúvida que, não tenho dúvidas, nos assalta a todos:

LM - Onde anda a Miss Piggy?
Blogue dos Marretas - A Miss Piggy, como porca assumida, anda a banhos no Rio Lis. E a fazer campanha contra as bandeiras azuis.

Quem me respondeu foi o Animal, tal como ele próprio esclarece logo a seguir, numa inconfidência que, julgo, ele não levará a mal: "Resposta da responsabilidade do Animal. O Statler faria uma dissertação sócio-afectiva sobre o paradeiro do Professor Boaventura e da sua nefasta influência sobre a mentalidade suína, e o Waldorf diria que a porca andava a vender a alma para passar a noite com o Figo ou o Beckam..."

Esperam-se as confirmações ou infirmações dos aludidos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2003

Spamesia (107)

E chegámos a ontem, terça-feira, dia em que o número de spams deu um pulo até aos 30, a que se veio juntar um vírus. Dos títulos melhores, resolvi pegar num "Re: My sister", que deve certamente ser pornográfico. Não sei, não abri, mas deve ser. Quanto a mim, inventei uma irmã:

A minha irmã

A minha irmã é uma mulher linda de olhos verdes
e cabelos negros em torno do rosto como asas de corvo
A minha irmã tem duas filhas, iguaizinhas a ela
como duas cópias perfeitas de pele perfeita
A minha irmã é como eu, menos a violência
que me leva a cerrar os punhos e a gritar, tantas vezes

A minha irmã nunca nasceu, só a sua sombra
me assombra os sonhos quando a Lua está cheia

Spamesia (106)

Segunda-feira voltei a ter mais spam, incluindo mais um anúncio de uma série de anúncios a coisas ligadas às artes plásticas que tenho recebido de há algumas semanas a esta parte. Um dia ainda pego num dos títulos com que esses spams me chegam, mas por agora inclinei-me mais para algo que fala de "Tech Ticket". Em inglês, este título tem um som interessante, com ou sem um "Yo!" antes ou depois. Em português, nem tanto, mas dá para escrever qualquer coisa, mesmo assim:

O bilhete tecnológico

Prometeram-me um bilhete
para viajar para a utopia
robótica de um futuro
submerso em tecnologia
e em que o dia a dia
da carne fosse uma paz
silenciosa e amena
entre papoilas e sorrisos

Mas quando me deram
o bilhete, arrepiei-me
e desmoronei-me para dentro
de mim mesmo

O bilhete era uma moeda

Spamesia (105)

No domingo, foram mais 20, os spams que me chegaram. Dos 19 títulos, escolhi aquele que dizia "i like that!"

Gosto disso!

Abri-te a porta, disfarçado de poeta
e tu entraste como se nada fosse
com o sorriso do costume flutuando-te nos olhos

Gosto disso!

terça-feira, 19 de agosto de 2003

Pico-entrevista ao Cruzes-Canhoto!

O pico-entrevistado de hoje tem um nome que começa com a mesma letrinha em forma de anzol com que eu tembém tenho tentado desde que me conheço fisgar os interlocutores. A entrevista talvez explique o que leva alguém a chamar Cruzes-Canhoto a um blog:

LM - Que têm as cruzes a ver com os canhotos?
Cruzes-Canhoto! - Tudo: É sabido que canhoto era eufemismo de diabo, de modo que cruzes/canhoto representam as duas faces da mesma moeda. Além do mais, o caminho da esquerda era considerado a via de Satanás e nos cruzamentos punha-se sempre uma cruz, para impedir Belzebu de aparecer e de encaminhar o peregrino no caminho errado, o da esquerda.
Temos também de nos lembrar que o crucificado, Jesus, virá no final dos tempos e colocará à sua direita quem estiver para ser salvo, e na canhota quem sofrerá danação eterna.
Não nos esquecemos ainda dos jogos de azar, como a lotaria, em que a organização fica com os canhotos, e o totoloto/totobola, em que tem de se entregar as cruzes à organização.
Mas, por outro lado, nada: Que cruz poderá ter alguém que é obrigado a passar com a mão por cima da tinta que derramou no papel?


As pico-entrevistas são cultura, pensavam o quê?

Spamesia (104)

Sábado, o número subiu para 20, de novo com uma qualidade nos títulos que deixa muito a desejar. O melhor era claramente o "Dont deny", com erro ortográfico e tudo. A escolha foi, portanto, inevitável:

Não negues

Não negues que te interessa a violência
a inocência de quem te escuta não é tão grande
que não te encontre nas palavras sede de sangue

Não negues que te exalta um mundo exangue
perdido entre a fome e um terror sem nome
entre minas e as miras telescópicas das carabinas

Não negues que te agrada o cheiro a fumo
e o lume, e as nuvens negras cor de morte
e os gritos das mulheres que se erguem de ruínas

Não negues, presidente, não te atrevas a negar
que as cornucópias que te adornam as gravatas
só conseguem produzir assassínios e bravatas

Spamesia (103)

Na sexta-feira, foram só 19 spams, todos com títulos fracos. O menos mau talvez tenha sido o "Anti-Aging miracle." Pelo menos foi o que eu escolhi.

O milagre contra o evelhecimento

Envelhecer é como deixar
de ver a pouco e pouco
mas é também pouco a pouco
que podemos dar o troco
ao implacável caminhar da entropia
basta viver o dia-a-dia
de cabeça totalmente vazia

O milagre contra o envelhecimento
é erguer muralhas contra o pensamento

Que fez a Carla Matadinho?!

OK, estou morto de curiosidade. Alguma alma caridosa faz o favor de me dizer que foi que fez a Carla Matadinho ontem? É que ontem tive mais de 120 visitas ao blog, quase todas à procura da mulher, e hoje, em hora e meia, já foram mais de 20. Isto não é normal!... Alguma coisa aconteceu à miúda...

Mas o quê, caramba? O quê?...

E com isto, na volta, amanhã quando o sol nascer aqui a Lâmpada Mágica já passou as 5000 visitas! Viva a Lâmpada Mágica! Vivóóóóóó!...

segunda-feira, 18 de agosto de 2003

Pico-entrevista ao ENE COISAS

OK, agora que Portugal já não arde (muito), agora que já ficou para trás este período terrível, em vários sentidos, da vida deste país, já me sinto à vontade para regressar às pico-entrevistas, coisas em que o bom-humor e uma certa futilidade provocatória tem predominado e deverá continuar a predominar. Interrompi-as porque não as sentia apropriadas ao momento que atravessávamos. Retomo-as agora porque é chegada a hora de fazer os possíveis por regressar ao normal.

E regresso com o ENE COISAS. Foi por puro acaso — era o pico-entrevistado seguinte —, mas não podia ser mais adequado recomeçar estes posts com quem me deu a ideia de os fazer. Aqui fica a pergunta e a resposta:

LM - Que é preciso para que as n coisas se transformem em n+1 coisas?
ENE COISAS - As ene coisas são sempre ene mais um, porque por detrás das ene coisas está sempre um Ene ;-)

É o raio do alfabeto a estragar a matemática, é o que é...

Spamesia (102)

Quinta-feira, o número de spams subiu a 31, e entre eles veio um com o título de "I did research!"

Pesquisei

Pesquisei tudo o que pude
sobre o meu livro favorito
e descobri que em cada página
ele contém um mundo inteiro

Manadas de ácaros pastam
em prados de bactérias
e os fungos lançam hifas
em busca do ácido das dedadas

Maravilhei-me uma vez mais
com o meu livro favorito

Mas depois, ao pesquisar
o livro de que menos gostei
descobri que em cada página
ele contém um mundo igual

Foi como descobrir o ponto
onde se origina todo o mal

Spamesia (101)

Na quarta-feira, o número de spams subiu a 29, e houve também vários títulos aproveitáveis. Decidi-me pelo "meanders":

Meandros

Há alturas em que a vida parece serpentear entre margens distantes
como um rio que se desfaz em meandros de águas barrentas
mas os motivos do serpenteio são eles próprios sinuosos
pode acontecer que a vida tenha chegado a uma vasta planura
um longo trajecto pantanoso, sem um rumo definido
só mosquitos e sanguessugas e destroços a boiar na corrente fraca
sem que o ar parado estremeça em sons mais fortes que murmúrios
mas também se pode dar o caso de as margens se erguerem em falésias
ruidosas, furiosas, alcantiladas e rugosas, que gritam apontando dedos
para longe, como que a dizer «Vai-te daqui! Desaparece!
Vai corroer as bases da falésia do outro lado! Fora, fora, fora!»
e no lugar da pacatez sinuosa das águas calmas
a vida aqui estremece em espumas e rebentações
e os meandros são criaturas assustadas, fugindo de margem para margem
num fragor de pânico e remoinhos e borbotões e nuvens de gotinhas
Até que não aguentam mais, e então despenham-se em longas cataratas

Spamesia (100)

Eis um número redondinho. Mais redondo que isto, só o zero. Uma redondura de efeméride. A melhor comemoração da efeméride teria acontecido através de um spamema de arromba, incontestavelmente bestial, transbordando qualidade em cada palavra. Mas infelizmente só havia 18 títulos por onde escolher (foram 19, os spams da passada terça-feira, mas um não tinha título) e poucos eram decentes. Além disso, quem faz os spamemas não é tipo para fazer coisas "de arromba, incontestavelmente bestiais, transbordando qualidade em cada palavra". Portanto, fiquem-se com "plastics". Ou antes, com:

Plástico

Sento-me na cadeira de plástico
agarro no comando de plástico
que comanda a televisão de plástico
ligo-a e sorvo um sumo dum copo de plástico
vejo nela um programa de plástico
e alegro-me com uma alegria de plástico

Regresso à normalidade

Pronto, este blog vai regressar à normalidade. Regressa já a seguir a spamesia e nos próximos dias voltarão também as pico-entrevistas. Mais tarde, tenciono também concluir a série de posts que aqui pus sobre o prémio ARGOS. Espero só que os finalistas deste ano sejam anunciados, o que deverá acontecer lá para dia 22 ou 23.

sábado, 16 de agosto de 2003

Parece que acabou. Terá acabado?

Parece que o pesadelo acabou. Pelo menos, acabou num por enquanto ainda fumegante — a ver vamos o que acontecerá quando as temperaturas voltarem a subir, já no início da próxima semana.

Agora, aqui na cidade que teve fogo a norte e a oeste, mas nunca esteve sequer vagamente ameaçada, chegou a hora de varrer as cinzas. No terraço de minha casa fui encontrar duas folhas de eucalipto calcinadas mas ainda inteiras, por entre uma camada de cinzas variadas que enegrecem o chão. Voaram pelo menos 10 km até chegar cá. Acho que vou guardá-las de recordação.

Não que precise de lembretes para reavivar a memória destes dias...

Parece que... sim?!

Bem, acabou. 24 de vocês e um de mim votaram, e o resultado foi que:

- 9 de vocês acha que sim, que a spamesia dava um livro;
- 8 de vocês acha que só parte da spamesia dava um livro;
- 7 de vocês e um de mim acha que não, que a spamesia não dava um livro.

Bem, estou lisonjeado. E se calhar a spamesia até dava um livro, afinal de contas. Mas antes de arranjar certezas, vou continuar a fazer perguntas noutros sítios. E obrigado a todos os 24 que participaram na sondagem!

sexta-feira, 15 de agosto de 2003

A sondagem termina dentro de horas

Um breve post, só para avisar que a sondagem acerca da spamesia termina dentro de horas e que por enquanto o equilíbrio entre as três opções é quase absoluto. O que é uma suspresa bastante agradável, confesso...

quinta-feira, 14 de agosto de 2003

Ponto da situação

Chovem cinzas em Portimão. O sol brilha com a luz amarela do apocalipse.

quarta-feira, 13 de agosto de 2003

Spamesia (99)

Amanhã é o grande dia, mas ontem também não foi mau. 33 spams, e um com um dos títulos simples que eu prefiro: "Tautology". A imagem que vejo da minha janela tratou do resto:

Tautologia

Debaixo da Lua vermelha o mundo é de fumo
debaixo do mundo de fumo a Lua é vermelha
debaixo da Lua de fumo vermelho é o mundo
debaixo do fumo vermelho o mundo é a Lua
debaixo do mundo da Lua vermelho é o fumo

terça-feira, 12 de agosto de 2003

Fumos

Portimão está de novo coberta de fumo. Uma vez mais os olhos ardem, em reflexo daquilo que se passa a norte, não sei se no concelho de Silves, se no concelho de Portimão, se no concelho de Monchique.

Ao mesmo tempo, o Cherne faz demagogia em directo na televisão, e a única coisa que eu tenho para lhe dizer é: "vai pró /&%/&(/#%&!"

Mais fogo em Langton

Mais uma vez, tenho de vos enviar até à Formiga de Langton, para vos mostrar a verdadeira imagem das coisas. A fotografia do Algarve em chamas, datada dos princípios do incêndio, ainda ele estava muito longe de Aljezur (que é aquela mancha mais clara, na costa ocidental e um pouco mais a norte, perto da massa branca das nuvens), é, como todas as fotografias, a imagem mais clara que pode haver. Por estas horas, passava eu, de carro, pela Via do Infante entre o nó de Portimão, encerrado ao trânsito para obras, e o nó de Alvor. As chamas viam-se da estrada, em pleno dia. Mas não se via um único bombeiro ou outro qualquer protector civil. E muito menos um governante.

Nada mais há a dizer, pois não?

segunda-feira, 11 de agosto de 2003

Spamesia (98)

Ao fim de 98 spamemas, aconteceu que escolhi um título que já tinha escolhido antes e só dei por isso quando fui gravar o ficheiro em que spamesiei, franzindo o sobrolho ao deparar com a informação de que o ficheiro já existia. Ao fim de muitos títulos, perde-se-lhes o rasto...

Pois é: dos 33 spams de ontem, aquele que achei mais inspirador trazia o título de "good idea", e eu, sem reparar que já tinha escrito aqui uma "boa ideia", repeti a dose:

Boa ideia

— Uma ideia — dizias-me tu —
que me dirias de estender as mãos
fazer brilhar os olhos um pouco
encurvar os cantos dos lábios
talvez entreabri-los, um pouco
e deixar que a testa se estique
puxando para cima, um pouco
a linha suave das sobrancelhas?

— Boa ideia — respondo-te eu —
Mas, diz-me, como é que isso se faz?

"A ignorância é uma calamidade"

Leiam, meninos, leiam, o post do AntColony com esse título. E aproveitem para ver o quão calamitosa pode ser a ignorância, com uma fotografia que já está terrivelmente desactualizada. Está aqui.

domingo, 10 de agosto de 2003

Spamesia (97)

Ontem chegaram-me à caixa de correio 33 spams, e neles havia vários com títulos bastante aproveitáveis. Indecidi-me por um, "Vital", que acabou por se decidir sozinho num spamema fantástico:

Vital

Vital tinha nas mãos o destino do mundo
era uma bola com reflexos cor de cinza

Vital não sabia que as mãos lhe seguravam
o destino das coisas naquela bola de metal

Vital pouco sabia, falando com franqueza
era pouco inteligente, e também era surdo-mudo

Teria sido vital que alguém explicasse a Vital
que aquela bola guardava as vidas de toda a gente

Mas ninguém o fez — como fazê-lo? — e Vital
farto daquela coisa monótona e lisa atirou-a ao mar

A bola afundou-se com um ruído gutural

Quando a onda chegou, Vital tentou gritar
mas não podia
era surdo-mudo
e morreu com um grito gutural encravado na garganta

sábado, 9 de agosto de 2003

Spamesia (96)

E pronto, cheguei a ontem, sexta-feira. Pus a spamesia em dia, contra fumos e suores. Amanhã terei apenas o spam de hoje para tratar, que o de ontem, as 37 mensagens de ontem, acabou de ser despachado através de um "Maybe we can try?" que eu traduzi e adaptei ligeiramente para aquele que é, de muito longe, o mais extenso spamema desta série:

Talvez pudéssemos tentar?

Bem sei que é difícil resistir à tentação
de encolher os ombros
afinal de contas
as coisas não permitem respostas simples
são demasiado complexas
novelos formados por demasiados fios
demasiado embaraçados

Bem sei que é mais fácil voltar costas
do que pôr o cérebro a funcionar
pensar gasta um terço da energia do corpo
e um terço do bife com batatas
é muito bife com batatas
sem ele, como aproveitar até ao fim
a tontura dos néons e da batida sincopada
do disco sound?

Bem sei que o futuro só se pode conhecer
verdadeiramente
no momento em que se transforma em presente
e que para tentar prevê-lo há que ter em conta
uma multidão de factores
tão desorganizada como qualquer outra multidão

Bem sei que mudar as coisas
é trabalho a mais para uma pessoa só
e que encontrar almas gémeas
é tarefa para durar uma vida inteira

Bem sei que há demasiados idiotas
demasiados filhos da puta
demasiados assassinos escondidos por trás de todos os fanatismos
ou mascarados com fatos e gravatas de executivo
demasiado que fazer e demasiado pouco tempo
demasiado pouco tempo

Bem sei que para transformar um homem num incendiário basta um fósforo
e que para apagar os fogos que ele ateia
é preciso sangue, suor, lágrimas
gritos e raivas, vidas inteiras

Bem sei que não vale a pena
que é inútil
que as leis de entropia têm encontro marcado com a vitória
mas, para podermos olhar-nos no espelho de consciência limpa
(é só uma ideia louca, só uma ideia)
talvez pudéssemos tentar?...

Viver no inferno

Portimão está debaixo duma densa nuvem de fumo. No sul da cidade, a zona mais afastada do incêndio, a garganta arranha e os olhos lacrimejam e piscam de forma quase involuntária. O calor espalha-se em ondas de suor pelas costas nuas, e as garrafas vazias de água acumulam-se ao lado da secretária.

Viver nas margens do inferno é assim. No inferno, ali uns quilómetros para norte, é só um pouco mais quente, há só um pouco mais de fumo, e em vez da música e do palavreado inconsequente do rádio, os sons que se ouvem são gritos e o crepitar da lenha.

Spamesia (95)

Quinta-feira, e continua a fazer um calor insuportável, sob quase todos os aspectos, enquanto a mailbox se vê invadida com mais 38 spams e um vírus, demonstrando à saciedade as vantagens que há na imaterialidade. Escolhi precisamente o vírus, que vinha disfarçado de "Rights reserved.", ainda que trouxesse, como todos trazem, o rabo de fora.

Direitos reservados

Os direitos estão todos reservados
mas os tortos, esses, falam pelos cotovelos

Qualquer dia, desatam à bofetada
tão certo como serem todos filhos de mãe

Spamesia (94)

Mais um dia e chegamos a quarta-feira, dia em que recebi 34 spams e um vírus. Por entre títulos repetidos, inaproveitáveis e já reaproveitados, apareceu-me um "It was good to meet you.". E eu fiz um spamemazito pequenino:

Foi bom conhecer-te

Foi bom conhecer-te
mas agora, que já não te conheço
não sei se tenho força
para fazer tudo outra vez

Spamesia (93)

E se na segunda foram 38, na terça, um dia a mais, foram 37, um spam a menos. Um deles apareceu-me à frente parecendo mostrar dons divinatórios: "You have been depressed lately!", mas não peguei nele. Em vez disso, preferi um mais inócuo "It's time to change":

É altura de mudar

É altura de mudar
pegar num rectângulo de mar
e levá-lo comigo
para outro lugar

Para que um sítio passe a lar
basta o mar

Spamesia (92)

Segunda-feira o país já estava coberto de fumo, mas na sua indiferença habitual os spammers não descansaram e encheram-me a caixa de correio com 38 exemplos do seu labor. Entre eles, veio um com um título simples: "Growth". E eu, traduzi à minha maneira:

Crescimento

Chega um momento em que as cinzas se depositam sobre a terra
por vezes ajudadas pela chuva
uma chuva negra de mortalhas e xailes de viúvas
Nesse momento, os olhos já secos fecham-se em cofres
junto com os cacos das vidas destruídas
e os cimos dos montes só conseguem ver
as costas curvadas dos que se vão embora.

Mas se uma aragem sopra
só com força suficiente para destapar as mãos da terra
aparece no negrume um ponto verde em forma de folha

É a natureza que recomeça o seu eterno crescimento

sexta-feira, 8 de agosto de 2003

Spamesia (91)

Domingo houve mais spam, mas os títulos foram piores. Dos 26, pouco mais se aproveitou que um:

Muito prazer

Gosto em conhecer, muito prazer
é sempre bom ver alguém a fazer
o que é preciso que haja alguém a fazer
em vez de perder tempo a dizer
que é preciso fazer, que é preciso fazer

Spamesia (90)

Hoje o fogo chegou ao Algarve e a mata ardeu esta tarde a alguns quilómetros daqui, na serra de Monchique. E eu, continuo triste. Mas continuemos a pôr em dia a spamesia... Sábado foi um dia fraco: só 16 spams, e desses poucos tinham títulos inspiradores. Talvez o mais interessante tenha sido "FLORINDA'S pics kiqnvzsihe", e eu deitei fora o kiqnvzsihe para escrever:

As fotografias da Florinda

A Florinda pensava que era linda
e ria, ou sorria, sempre que lhe pediam uma fotografia
Mas as fotografias que tiravam à Florinda
mostravam uma rapariga que era tudo menos linda
A Florinda não se reconhecia, não compreendia
e entristecia, pois olhava-se ao espelho
e a Florinda que lá via era a Florinda linda que se sabia

Um dia decidiu que não mais tiraria uma fotografia
e nem sequer para as suas velhas fotografias olharia

E foi então que, pouco a pouco, as Florindas das fotografias
se foram transformando, ficando lindas
nas fotografias

quinta-feira, 7 de agosto de 2003

Spamesia (89)

Sexta-feira o número foi 31, com uma preponderância curiosa de promessas de aumentos milagrosos no tamanho do pénis. Banha da cobra bacteriologicamente pura, e tão nua como é possível encontrar. Mas lá no meio, havia uma:

Proposta muito interessante

Recebi uma proposta muito interessante
Tinha a ver com viagens no tempo, e eu seria
um mensageiro que levaria a verdade aos dela sedentos

Recusei

Como explicar a ausência de deus a quem dele precisa?

quarta-feira, 6 de agosto de 2003

Spamesia (88)

Quinta-feira foram 30 os spams, incluindo uma série de repetições chatas do mesmo (e provenientes de umas quantas variações do mesmo endereço). Mesmo assim, apareceu um presumível porno-spam intitulado "my naked body". Com certeza:

O meu corpo nu

O meu corpo nu é um lago de águas paradas
onde nascem cabelos como nenúfares
e a terra feita de pele respira em recantos
que mal conheço e planícies que nunca vi

Spamesia (87)

Quarta-feira houve 38 spams e alguns títulos interessantes, como:

A chegar

Está a chegar o ribombo do mar
aos vales onde o único som é o crepitar
dos troncos e os gritos brancos
de quem quer que a voz corporize em gelo

Já lá vem, mas não tem mais que som
que sopra sobre o sopro quente
das braçadas de brasas, dos esqueletos
calcinados de campas e casas

E entretanto, a água transforma-se em cinza
que se ergue em nuvens sopradas pelo vento
e o pôr de sol acontece com o sol ausente

Spamesia (86)

Na terça-feira seguinte (não esta, a outra) recebi 24 spams, com títulos em geral muito maus. O melhor que se conseguiu arranjar foi um "Improve your life aumtamynqz", que teve de ser limpo de aumtamynqzices para se poder reciclar como:

Melhora a tua vida

Melhora a tua vida
fazendo dia a dia
o que os dias suplicam que tu faças

Depois, olha os horizontes
que te cobrem
e verás que a tinta lisa das paredes
se decompôs nos verdes fractais
de uma floresta de árvores antigas
e amigas

Apesar do leve cheiro a fumo
que vem de algures
para lá do horizonte

Spamesia (85)

Tinha ficado no domingo. Não neste domingo de fogo que passou, mas no outro da semana anterior. Na segunda-feira seguinte (não esta, mas a outra), recebi 41 mensagens de spam, entre as quais vinha uma do tipo mais benigno que existe no spam: uma mensagem a apelar à assinatura de uma petição online, para defesa de um espaço natural ameaçado, no caso o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Já agora, e caso estejam interessados, a petição está aqui. Pois a senhora que me enviou a petição intitulou a sua mensagem como "O sul, o sol, o sal". Não se deita fora um título destes, não é?

O sul, o sol, o sal

No sal do sul, o sol saliva
sonolentamente
em salvas de saudades
pelas selvas silenciosas
de Ceilão

Saberão elas desta solidão?

Voltei

Olá. Voltei.

Não que tenha andado por fora, propriamente. Se bem que às vezes apeteça ir embora, não saí daqui. Mas abandonei o blog. Os blogs. É que perante o que se tem passado nos últimos dias, neste país e noutros que partilham connosco um clima e, em grande medida, uma atitude perante as coisas, a futilidade da escrita bloguiana assaltou-me com maior acutilância do que é hábito. Por isso, resolvi ficar calado.

Mas agora voltei.

É que já tenho demasiado spam por tratar na minha caixa de correio electrónico...

sábado, 2 de agosto de 2003

Pico-entrevista ao Um pouco mais de Sul

Vamos lá ver se é desta. Por qualquer motivo, que se calhar tem a ver com o calor, ou se calhar tem mais a ver com a incompetência da EDP, a minha cidade anda com falhas na energia eléctrica, à terceiro mundo. Vou mais uma vez tentar pôr esta pico-entrevista no ar, mas se não conseguir fica para amanhã.

OK, então fui pico-perguntar coisas ao Um pouco mais de Sul, blog colectivo e algarvio. Respondeu-me o JFM da seguinte forma:

LM - Não tens medo que de tanto pedires um pouco mais de Sul acabes por cair ao mar?
Um pouco mais de Sul - A blogosfera tem uma gravidade próxima de zero daí a inexistência do conceito de queda.

Toma lá que já almoçaste!...

sexta-feira, 1 de agosto de 2003

Uma questão de letras

Neste país é assim: passa-se metade do ano no inverno e a outra metade no inferno.

A Wikipedia

Já conhecia a coisa, mas há dias, por causa de um parecer jurídico americano que fazia um uso extenso dela, resolvi passar a conhecê-la melhor. Afinal de contas, quando algo que pretende ser uma enciclopédia online, livre e construída pelos próprios cibernautas sai da internet e começa a entrar no mundo burocrático dos papéis jurídicos, é sinal de que o hobby ganhou importância e relevância.

A Wikipédia de língua inglesa é, como seria de esperar, a maior, mas está longe de ser a única. É que o projecto é multinacional e multilingue, e há wikipédias em 39 línguas. A inglesa tem mais de 140 mil verbetes e artigos bastante elaborados e completos; a de língua portuguesa, por outro lado, é a 17ª maior, com 909 entradas, atrás de línguas tão irrelevantes internacionalmente como a interlíngua, o latim, o finlandês ou o Catalão. Pior: a nossa está pejada de lixo, cheia de páginas vazias. Muito, muito pior: a espanhola é uma wikipédia com pés, cabeça e quase 5 mil artigos!

E que seria necessário para pôr a nossa wikipédia a funcionar? Bem, por exemplo que cada luso-blogger se abstraísse do seu umbigo todos os dias aí por uns 15 minutos e adicionasse à Wikipédia alguma informação que caísse dentro da sua esfera de conhecimentos. Afinal de contas, dizem por aí que nós somos um grupo de elite, logo se calhar sabemos algumas coisas de alguns assuntos. Enfim, há essa esperança, pelo menos...

E quem fala de bloggers, pode também falar de visitantes não-bloggers. É muito mais fácil adicionar conteúdos à Wikipédia do que fazer um blog, quase tão fácil como pôr um comentário num blog. E mais: ao contrário do que acontece nos blogs, a Wikipédia tem tudo explicado...

Sim, porque tá bem que não consigamos fazer algo tão bom como o original inglês. Mas tão mau, também, é vergonhoso!... Falamos e escrevemos uma das mais importantes línguas do mundo, que diabo!

Pico-Entrevista a Na Trilha de Möbius

A pico-entrevista de hoje foi feita aos rapazes da Trilha de Möbius. São muitos, os tipos, e um deles sou eu, de modo que a resposta é múltipla a uma pergunta muito pouco simples, como tento que seja quase sempre:

LM - Já encontraram o Möbius, ou continuam às voltas pela trilha dele sem ver ninguém?
Na Trilha de Möbius (Luís Rodrigues) - Com tanta conversa sobre a definição de FC, podia jurar que andamos ali às voltas. Estamos feitos num oito de tanto caminhar, e do Möbius nem sinal.
Na Trilha de Möbius (João Ventura) - O Moebius nunca se encontra porque existe na segunda dimensão!


Eu, se não fosse o chato de serviço (o gajo das perguntas, portanto), teria respondido algo como:

"Bem, às vezes tenho ouvido passos, do outro lado da Trilha, mas o resto da malta fala tão alto e gesticula tanto, que não dá para perceber se é o Möbius ou não".

Como sou o chato de serviço, não respondi nada...

Spamesia (84)

Domingo fui dar com a minha caixa do correio extravazada, com bocadinhos de spam caídos no chão, transformados em gotas que reflectiam a minha cara distorcida, como se feitas de mercúrio. A contagem era de 46, e até um spam em espanhol havia: "Pensaste en tu hijo?" Porsupuesto!...

Pensaste no teu filho?

Pergunto-te em silêncio
porque só em silêncio se fazem
as perguntas que relevam

Quando fizeste um filho
pensaste no teu filho?
ou só tinhas olhos para o homem
que te rodeava com um mar de suor e sal e sangue?

Spamesia (83)

Ora bem... tinha ficado onde? Ah, já sei! Na sexta-feira. Depois da sexta-feira, sem grande surpresa, chegou o sábado, e o número de spams baixou para 24. 24 é um bom número, rola bem na boca - vin-te-e-qua-tro, e ingere-se sem provocar azia, slurp, haaa. Nesses 24 vinha um spam a pedir "cheer me up". Óptima ideia:

Anima-me

Desce do teu vento, cabelo brilhando
em gotas de orvalho
montada no dorso de uma semibreve
com a cor da tua voz
e ri-me ao ouvido, em dó sustenido
maior de sétima

Sopra-me as palmas das mãos com
sussurros, e anima-me!