quarta-feira, 24 de março de 2010

Lido: Mutación

Mutación é um pequeno conto de Ricardo Manzanaro, espanhol, que mostra como um cientista isola em ratos uma mutação que os converte em vampiros. De seguida, vai verificar se o mesmo gene mutado existe noutras amostras de sangue que tem no laboratório e tem uma enorme surpresa... que se transforma em gargalhadas quando fica a saber de onde tinham vindo essas amostras. É um conto francamente divertido e bem concebido, a sétima história publicada no sítio que já vai sendo do costume.

Lido: Um Encontro na Praia

Um Encontro na Praia é mais um pequeno conto fantástico de José Saramago. Numa praia, algures, rodeado de gente, um homem repousa. Mas de repente dá por si sozinho, acompanhado apenas por um chimpanzé e, sem motivo aparente, põe-se a relatar-lhe tudo aquilo de que é feita a condição humana. Um continho muito bem concebido, muito melancólico, muito bem escrito. E muito cético relativamente ao homem, também; um ceticismo envolto numa certa perplexidade. Dos melhores textos do livro a que pertence.

terça-feira, 23 de março de 2010

Lido: Os Longos Anos

Os Longos Anos (bib.) é um magnífico conto de FC de Ray Bradbury. Num planeta Marte abandonado por quase todos, um homem, já idoso, mantém uma vida familiar aparentemente normal até que um seu velho amigo astronauta aterra, vindo duma longa exploração pelos planetas exteriores. É este que repara em que algo não está como seria natural: embora o amigo mostre as marcas do tempo, o mesmo não acontece com a mulher e os três filhos, que se apresentam tão novos como ele os recordava. É uma história magnífica sobre a solidão e o abandono, e também sobre os limites do humano, sobre a humanidade que pode ser insuflada nas máquinas (pelo menos na FC). E sobre o poder do génio criativo. Um dos grandes contos do livro em que se inclui e que, depois de um parêntesis humorístico, o devolve à atmosfera melancólica em que se encerra.

Lido: Point of K(No)w Return

Como não gostar duma noveleta de ficção científica que tem como personagem, ainda que muito secundária, um psicólogo (!) de rabo de cavalo chamado George Candeias? Pois é precisamente o que acontece a Point of K(No)w Return (bib.) de Gerson Lodi-Ribeiro.

Trata-se duma história integrada no universo ficcional do jogo Taikodom, e sofre alguns constrangimentos por isso. Em particular, por se esforçar por fornecer, numa extensão bastante curta de texto, uma quantidade imensa de informação sobre o universo, sobre a sequência de acontecimentos que levaram à diáspora humana pelas estrelas através de pontos de salto (buracos de verme, certamente) que é postulado existirem nos vários sistemas estelares e até no espaço interstelar, sobre a tecnologia envolvida, sobre as várias sociedades de humanos (spacers — oriundos de habitats artificiais, belters — oriundos de asteróides, e gente oriunda de superfícies planetárias) e as rivalidades existentes entre elas, etc., etc. Assim constrangido, é notável que Ribeiro tenha conseguido construir uma história com pés e cabeça sobre a primeira nave intestelar tripulada a penetrar num ponto de salto e aquilo que lhe acontece depois. O tema teria certamente sido melhor explorado num romance inteiro, mas que jogador se disporia a ler um romance para ficar com uma ideia do que está na base do jogo que se prepara para jogar?

Ou seja: se for vista apenas como uma obra literária, esta noveleta sabe a pouco. Mas se encarada como parte de um todo que vai muito além de si mesma, ou até da literatura de FC, é um pequeno texto notável.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Lido: O Terror

Sim, eu sei que ainda há dias houve um post com este título. Não estou a ficar maluco. É que O Terror (bib.) é também o título da coletânea de Arthur Machen em que O Terror, a novela, se insere. Aqui falo do livro como um todo.

E que dizer do livro como um todo? Que contém dois textos de duas fases bem distintas da vida do autor, separados por mais de vinte anos, mas que são curiosamente homogéneos no tipo de abordagem que seguem: há um mistério de cariz sobrenatural, numa zona rural do País de Gales, e um cavalheiro bem instalado na vida dedica-se a desvendá-lo. Que o primeiro desses dois textos na sequência do livro, aquele que foi escrito mais tarde, é muito melhor do que o segundo, que foi escrito mais cedo. Que, no entanto, é muito prejudicado pelo prefácio de Manuel João Gomes porque, sendo uma história de mistério, parte da sua força depende desse mistério não ser desvendado até ao final, e o prefácio torpedeia-o com grande eficácia ao falar duma sua adaptação ao cinema. Quem tenha visto o filme, ou até o conheça apenas de ouvir falar, depressa compreende o que se passa na novela. Não que o prefácio, o texto em si, seja mau. Mas nunca devia ter sido publicado como prefácio, mas sim como posfácio. Às vezes há detalhezinhos aparentemente insignificantes como este que têm um impacto considerável na experiência de leitura, prejudicando seriamente uma edição. Mas enfim, o livro vale a pena, apesar disso.

O que eu achei de cada um dos textos:

  1. O Terror
  2. A Pirâmide de Fogo

Lido: A Pirâmide de Fogo

A Pirâmide de Fogo (bib.) é uma noveleta de Arthur Machen que relata misteriosos acontecimentos que têm lugar numa determinada região do País de Gales. Uma rapariga desaparece, e na propriedade de um amigo do protagonista da história surgem estranhos sinais de origem desconhecida. Olhos desenhados em muros e pedras grupos de pedras todas iguais, dispostas de maneira a formar figuras e símbolos. Incentivado pelo amigo, que teme que aquilo sejam sinais feitos por ladrões que planeiem roubar-lhe a baixela, o protagonista vai investigar, e o que descobre não tem nada a ver com ladrões, mas sim com algo de muito mais antigo.

É mais uma história de mistério, esta escrita em finais do século XIX, com grandes pontos de contacto com os policiais da época e posteriores. A investigação é o fulcro da história, e desta feita é à investigação que a história se resume. Aqui não há nenhum retrato social digno de nota, não há personagens cativantes, há apenas o uso como material de mistério das velhas lendas existentes nas regiões influenciadas pelas culturas célticas sobre criaturas demoníacas anteriores ao homem que habitam na floresta e nas profundezas da terra. Esse uso não está mal sucedido, mas o conto também não é nada de especial. Pareceu-me mediano.

Lido: Detritos

Detritos é mais um dos contos/capítulos de António Eça de Queiroz que giram à volta do tal Lamas. Este é bastante curto e completamente terra-a-terra, falando duma bizarra sessão de truca-truca (ou talvez nem isso, talvez só de truca) que o dito Lamas terá tido em Espinho enquanto jovem personagem. Continuo a reservar uma opinião para mais tarde.

Lido: War, Ice, Egg, Universe

War, Ice, Egg, Universe é uma noveleta de ficção científica de G. David Nordley, autor que desconhecia. E é uma daquelas histórias de que eu gosto mesmo: Uma espécie alienígena inteligente algo semelhante aos nossos crustáceos, habitante de um mundo com estranhas regras topológicas no qual se sobe para o centro e se cai para o exterior, está em guerra, entre uma fação teologicamente motivada e, obviamente, obscurantista e barbárica, e uma outra que procura defender-se através da pesquisa e da ciência, expandindo os limites do conhecimento e procurando assim sobreviver. Seguimos um membro desta espécie, envolvido numa escavação no gelo para tentar encontrar pedraleve (lightstone) que possa ser usada no fabrico de aparelhos voadores, à medida que ele vai sendo encarregue de pesquisas de último recurso cada vez mais desesperadas, até que encontra não a pedraleve que procurava mas algo melhor: alienígenas. Nós.

Aquilo que me agradou particularmente nesta história não foi a guerra, que histórias de guerra existem aos milhares e esta, enquanto tal, está longe de ser das melhores. Foi a magnífica criação de um mundo, que quem conhece bem o que anda aí a girar pelo espaço reconhece com alguma facilidade apesar da bizarria da topologia local (ou, melhor, por causa dela), mas deixará os outros a coçar as cabeças ao longo de toda a história e para lá dela. E foi uma criação de ETs muito bem sucedida, apesar da maior falha do conto: a psicologia do protagonista ser mais humana do que a de muitos membros da nossa espécie. Sem entrar em explicações desnecessárias, deixando aos conhecimentos do leitor a tarefa de entender ou não, Nordley constrói um belo cenário de ficção científica hard e elabora nele uma história bem concebida. E o fim, em que tudo no futuro da sociedade do nosso ET muda por causa do primeiro contacto com uma espécie para ele alienígena, tem profundas implicações para a nossa própria espécie. Muito bom.

domingo, 21 de março de 2010

Lido: Perto da Morte

Perto da Morte (bib.) é um conto curto de horror (enfim... mais ou menos) de Richard Matheson, que mostra uma visita dum cliente a um gato-pingado para contratar o funeral da esposa. É só isso: a conversa entre os dois, com o gato-pingado a mostrar-se profissionalmente compungido e o cliente apropriadamente contristado. O conto, em si, não será propriamente mau, mas a verdade é que se trata de um conto de efeito surpresa que não causa nenhuma surpresa porque o desfecho se adivinha quase desde o início, o que não é nada, nada bom. Para isso muito contribui um título perfeitamente disparatado. E não, a culpa não é do tradutor: o título original é tão estupidamente revelador como o traduzido. Somando tudo, o resultado é bem fraquinho.

Lido: A Verdadeira História de uma Descoberta

A Verdadeira História de uma Descoberta é um conto de Arsénio Mota no qual um meteorologista, um belo dia, descobre que tem pernas e que estas servem para caminhar. E é o que passa a fazer, mergulhando a pé na cidade, tornando-se quase missionário no modo como fala desse recém-adquirido gosto. E as pernas vão-se desenvolvendo com o passar do tempo. E as outras partes do corpo mirrando. Sim, o conto tem esse tipo de fantasia surrealista. E é bastante interessante até chegar ao fim. O problema é o fim. É que fazer um final em aberto não é tão fácil como pode parecer à primeira vista: há que ter muito cuidado para fazer com que os leitores percebam que aquilo, apesar de ser deixado em aberto, é mesmo um fim, e não uma interrupção arbitrária na história, feita no ponto em que o autor ficou sem imaginação para mais. Infelizmente, é isso mesmo que este parece. Não um fim em aberto, mas uma história abandonada naquele ponto. E isso estraga-a com grande eficácia. Pena.

sábado, 20 de março de 2010

Lido: Rato da Esquina Rosada

Rato da Esquina Rosada é certamente dos melhores contos de Rhys Hughes que eu já li. Passa-se num peculiar bar chamado A Patranha, bar mal frequentado, célebre pelos duelos musicais que nele por vezes têm lugar, e universalmente desconhecido por ser, durante parte do dia, "um bar de metamorfos, frequentado por coisomens". A páginas tantas (bem... na verdade é logo na primeira) aparece por lá um tal Tin Dylan, tão desprovido de senso como de talento, e resolve provocar quem se deixe provocar a fazer com ele um duelo musical. E a história vai por aí fora, deliciosamente imaginativa mas ao mesmo tempo controlada, sem nunca escapar ao fio condutor que o autor lhe traçou, o que nem sempre se pode dizer das histórias de Hughes. Muito bom.

Lido: Chu-bu e Sheemish

Chu-bu e Sheemish é um pequeno e muito divertido conto de fantasia do Lorde Dunsany, que nos conta a rivalidade que surgiu de repente quando, no templo do velho ídolo (ou deus menor) Chu-bu, foi colocado um ídolo mais novo, chamado Sheemish. Chu-bu, evidentemente, considera tal ato uma afronta e tudo faz para desacreditar e humilhar Sheemish, ao passo que este lhe paga na mesma moeda. E fá-lo com tal eficiência que os poderes de ambos se anulam, e tudo decorre como se nenhum dos dois deuses ali estivesse... exceto quando ambos têm a mesma ideia para se sobrepor ao outro: fazer um milagre. Até o milagre que congeminaram foi o mesmo: um tremor de terra. Ops! Um conto duma ironia deliciosa, que se lê dum fôlego. Muito giro.

Lido: Cuestion de Timing

Cuestion de Timing é um ternurento continho do colombiano Cesar Heredia, sobre um velhote que procura recuperar um amor antigo de décadas. Está bastante bem escrito e tão bem concebido, organizado com tal subtileza, que quem não estiver com atenção facilmente passa sem dar por isso pelo momento em que o conto se equilibra e que constitui o seu fulcro. Depois, ao chegar ao fim, exclama para os seus botões "espera lá", e lá tem de voltar atrás para perceber. Um belo exemplo de FC soft, como podem constatar no mesmo sítio a que nos últimos tempos tem sido hábito ir para ler contos em castelhano: aqui. É a sexta história.

Lido: Vendem os Deuses o que Dão

Vendem os Deuses o que Dão é uma crónica de José Saramago que glosa o verso de Pessoa que lhe fornece o título, concretizando-o. Ou seja: no fundo, há um pequeno conto fantástico encerrado na crónica. Um conto em que os deuses interagem de facto com os seus escolhidos, oferecendo-lhes o que muito bem entendem e exigindo mais tarde o respetivo pagamento através das consequências que a oferta tem sobre a vida do escolhido. É um texto mais profundo do que parece à primeira vista. Ainda mais vindo de um ateu.

Lido: As Cidades Silenciosas

As Cidades Silenciosas (bib.) é um conto de Ray Bradbury que acompanha um tal Walter Gripp, homem solitário que aparece numa cidade marciana e se descobre bem mais solitário do que julgava, pois a cidade está abandonada, cheia de coisas mas vazia de pessoas. Depois de ter a reação natural em quem se vê de repente dono de tudo, a solidão ataca-o, e resolve tentar encontrar mais pessoas noutras cidades. Começa, portanto, a ligar para todos os números da lista telefónica na esperança de que em algum alguém atenda. E isso realmente acontece... e logo uma mulher. Gripp, que já se vê na pele de um novo Adão, corre à procura dela... mas a mulher que encontra não é exatamente como estava à espera.

Este conto é curioso porque é um conto divertido escrito com base numa situação que nada tem de divertido, e também porque o local em que se encontra na sequência do livro de que faz parte leva-o a constituir um corte abrupto na atmosfera opressiva que o livro adquire nas últimas páginas. O efeito é certamente propositado, mas deixa-me algo ambivalente. O conto não deixa de mostrar a mestria habitual de Bradbury, mas não consigo evitar a sensação de que não se encaixa lá muito bem ali. Em todo o caso, lido isoladamente é um bom conto.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Lido: O Terror

O Terror (bib.) é uma novela de Arthur Machen, ambientada na mesma época em que foi escrita, durante a I Guerra Mundial. É com a guerra como pano de fundo que se começam a suceder em vários locais da Grã-Bretanha estranhos acontecimentos que culminam com a morte duma pessoa aqui, duas ou três ali, outra acolá, gerando um clima de medo generalizado. A guerra faz levantar suposições de sabotagem e agentes inimigos, e a presença militar nos locais desses acontecimentos, bem como a censura que é imposta à imprensa, contribuem para lhes dar credibilidade. A história acompanha vários desses acontecimentos numa certa região do País de Gales, e, à maneira das histórias de mistério da época, as especulações e investigações que algumas pessoas vão fazendo por conta própria, tentando encontrar a origem daqueles factos misteriosos.

É uma história bastante boa, com fortes pontos de contacto quer com os policiais contemporâneos, quer com as histórias de proto-FC que se faziam na época: foca-se principalmente no desafio intelectual que constituem os acontecimentos misteriosos e não tanto nas personagens, sem no entanto deixar de esboçar um retrato bastante interessante da sociedade galesa contemporânea e do estado de paranoia gerado por uma guerra que, embora se desenrolasse em palcos mais ou menos distantes, não deixava de ter forte impacto sobre os britânicos. E no fim, como mandam as regras dos livros de mistério, este é desvendado, embora o leitor que pegue no livro em que a novela se insere e o leia em sequência (e não seja totalmente ignorante sobre cinema) já tenha a obrigação de o ter adivinhado logo desde o início.

terça-feira, 16 de março de 2010

Lido: Telhado Roto

Julgo que começo a entender o que António Eça de Queiroz pretende fazer com os seus contos/capítulos: um romance em mosaicos centrado no seu protagonista, um tal Lamas. Talvez. Seja como for, este Telhado Roto é um conto com uma forte atmosfera de realismo mágico em que, sob o pretexto de descrever o casarão da família, se fala dos seus antepassados aristocráticos. E muito desaparafusados. Curioso, mas enquanto não tiver a certeza sobre a natureza do livro não entrarei em apreciações qualitativas que vão além disto.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Lido: At Dorado

At Dorado é um sofisticado conto de FC hard de Geoffrey A. Landis, cujo único ponto fraco é o cliché das personagens e do seu ambiente mais comezinho. A protagonista é uma empregada de bar numa estação/porto espacial em órbita à volta da embocadura dum buraco de verme, o qual é usado como autoestrada espacial para navegar pelo espaço e pelo tempo. Obedecendo fielmente ao cliché, os "navegantes" (tratados mesmo por sailors, para sublinhar o paralelismo com os embarcadiços do presente no planeta Terra) têm uma mulher (ou um homem... também os há homossexuais) em cada porto, e usam as escalas entre cada travessia de um buraco de verme para passar algum tempo com ela ou com ele, nunca se esquecendo de reservar algum desse tempo para frequentar um dos bares locais. Mas o marido da protagonista, um navegador que mais parece estivador, é diferente, ou pelo menos ela julgava que sim. E é nesse ambiente que acontece um naufrágio, que uma nave aparece pelo buraco de verme feita em pedaços. A nave em que o navegador partira.

Assim contado, o conto não parece nada de especial. Mas a ligação de toda esta banalidade com o ambiente extraordinário dos buracos de verme e dos paradoxos espaçotemporais que eles podem gerar está muitíssimo bem conseguida. É esse, a navegação através dos buracos de verme e tudo o que a rodeia, o verdadeiro tema do conto, mas tudo o resto, por mais cliché que seja, acrescenta-lhe camadas de complexidade e interesse. O fim, em especial, é muito, muito bom: ao mesmo tempo paradoxal e completamente humano. Nota-se que gostei? Pois foi.

Lido: A Ignorância

A Ignorância é um romance de Milan Kundera sobre, entre outras coisas, a experiência do desenraizamento, em especial aquele provocado pela imigração. Os fios condutores do romance, bastante ténues, diga-se de passagem, são as duas personagens principais e a forma como cada uma encara o regresso à República Checa natal décadas depois de de lá terem saído, anos depois da transformação do país em mais uma pequena economia capitalista. À volta delas, Kundera tece uma teia de encontros e desencontros, entendimentos e incompreensões, intercaladas de digressões mais ou menos filosóficas sobre isto e aquilo e aqueloutro.

Tendo passado alguns anos fora do meu país, consigo compreender o que Kundera pretende aqui dizer. A experiência de desenraizamento, de se ser um estranho numa terra estranha e, pior um pouco, um estranho na própria terra quando a ela se regressa (até ao ponto de se sentir que já não se tem uma terra, propriamente) não me é alheia. Houve, portanto, alguma identificação pessoal com o livro, e julgo que qualquer pessoa que tenha passado pela mesma experiência também a sentirá.

Mas foi só isso que obtive dele. E isso é muito pouco.

Em termos puramente literários, não achei que o romance fosse mau. É um livro que apesar da profusão de apartes e rodeios acaba por ser bastante contido. Kundera nunca perde o controlo da história que quer contar, o que certamente aconteceria com um escritor medíocre que pusesse, desta forma, mãos a esta obra. A escrita não se perde em lirismos tolos e é eficaz. Ou seja, analisando as coisas friamente, o livro é bem capaz de ser bom.

Mas causou-me um alheamento que só não foi total por causa da pequena identificação pessoal de que falei acima.

Tirando isso, nada ressoou cá dentro. Absolutamente nada. O umbiguismo das personagens e da própria escrita, o olhar permanentemente apontado para dentro, tão comum num certo mainstream moderno, e de que parte do público leitor tanto gosta, entediaram-me soberanamente. As digressões "filosóficas" pareceram-me banais e desprovidas de imaginação e até, aqui e ali, de reais conhecimentos. As personagens, gente chata e sem qualquer interesse. Sim, achei o livro chatíssimo. Quase insuportavelmente chato. Nem o conservadorismo típico de Kundera conseguiu irritar-me, arrancar-me ao bocejo. Uma perfeita seca.

Mas não posso dizer que não recomendo este livro. Quem gosta de escrita umbiguista é provável que goste dele. Quem viveu ou continua a viver parte da vida longe da sua terra também. Mas sem garantias.

Lido: Presa

Presa é um conto de horror de Richard Matheson. Conta o que acontece a uma mulher que compra um boneco zuni (tribo índia originária do sudoeste dos EUA, pertencente aos povos Pueblo) para oferecer ao namorado, a efígie de Aquele que Mata, o Grande Caçador. Segundo a lenda (que vem a revelar-se verdadeira), o boneco aprisiona o espírito de um grande e muito maligno guerreiro, impossibilitado de sair de lá por uma corrente de ouro. E o conto descreve o que acontece quando o boneco cai ao chão e a corrente sai do sítio, fazendo com que o boneco ganhe vida.

O conto pareceu-me bom. Bem concebido, com um final adequadamente ameaçador e razoavelmente bem escrito. Mas fez-me lembrar tempos antigos, em que eu ficava noite fora a ver episódios de séries de horror na televisão e só me ria. Para mim, aquilo era comédia. É o problema das histórias concebidas para provocar determinados efeitos: as pessoas são diferentes e reagem de forma diferente aos estímulos com que as confrontam. E, embora eu acredite piamente que esta história consegue provocar o efeito pretendido em muitos leitores, a mim deu para rir. Há detalhes no que o boneco faz que esfrangalharam por completo a suspensão da descrença, e uma vez desfeita essa ilusão só restou ao conto a técnica na construção da história e o ridículo da situação. Na verdade, é o que me acontece com boa parte do horror: é muito mais fácil transformar-se em comédia do que assustar-me ou arrepiar-me. Ou seja: o conto pareceu-me bom, mas comigo falhou redondamente. Não tanto porque o conto seja assim ou assado, mas porque eu sou como sou.

Lido: Ponte Franca

Ponte Franca é um conto mainstream e epistolar de Arsénio Mota. A quem não sabe o que é um conto (ou qualquer outra obra) epistolar, esclareço que se trata de um conto (ou romance, ou...) contada através de um ou mais documentos em princípio não-literários. Normalmente são cartas, daí o nome, embora também por vezes apareçam recortes de jornais, entradas em diários, até emails. Neste caso é uma carta, na qual um cidadão agradece a um Senhor Presidente, não se sabe de quê mas possivelmente da câmara, o facto de ter retirado dos passeios duma ponte as redes laterais de proteção e reduzido a altura dos parapeitos. No fim, revela-se o porquê do agradecimento, embora não seja difícil adivinhá-lo muito antes. É um conto irónico e bem concebido e executado. Um bom conto, portanto.

domingo, 14 de março de 2010

Lido: O Rei Mais Louco: Henri Christophe

O Rei Mais Louco: Henri Christophe é a última das histórias de Rhys Hughes em que ele ficcionaliza (e por vezes surrealiza) a vida de pessoas reais. Desta feita o tratamento cai sobre Henri Christophe, personagem tão colorida como todas as outras que aparecem neste grupo de histórias. No mundo real, Christophe chegou à ilha de Hispaniola como escravo, participou ativamente nas revoltas que acabaram por resultar na revolução haitiana e na independência do país, do qual se tornou um dos líderes principais durante o breve período em que este foi governado por Dessalines. Após o assassínio daquele que foi o primeiro governante do Haiti independente, Henri Christophe criou um estado no norte do Haiti, do qual se proclamou primeiro presidente e mais tarde rei, embarcando numa política megalómana de construção de palácios e castelos, enquanto mantinha com o sul (uma república dirigida por um antigo companheiro da revolução chamado Alexandre Pétion) um estado de guerra quase constante. Como sempre, a história de Hughes segue a história real nos seus traços gerais, mas inventa pormenores falsos e surrealiza-a. Um exemplo disso é a explicação dada para a loucura de Christophe ter sido tolerada pelo seu povo durante década e meia: Christophe teria um buraco no crânio causado por um ferimento sofrido durante a guerra de independência dos EUA, através do qual a sua loucura saía e ia infetar todos os que estivessem ao seu alcance. São pormenores deste género que fazem com que este seja um dos contos que li com mais agrado nesta parte do livro.

domingo, 7 de março de 2010

Lido: A Coroação do Sr. Thomas Shap

A Coroação do Sr. Thomas Shap, do Lorde Dunsany, é um belíssimo conto que nos mostra o que acontece quando o Thomas Shap do título, banalíssimo e burocratíssimo vendedor, fechado a tudo o que seja fantasia e imaginação, descobre que, afinal, a imaginação existe. E o que lhe acontece é ir construindo na cabeça (ou será numa realidade paralela?) um mundo inteiro de fantasia, onde ele, desprovido de qualquer tipo de poder no mundo real, é rei e senhor de tudo e de todos. Gostei imenso deste conto, que antecipa uma série de tendências mais recentes na literatura, e até noutras artes: algum surrealismo, a FC que lida com mundos virtuais, com universos paralelos e com estados mentais alterados, etc. E que nos mostra o ditador megalómano que pode existir na mais banal das criaturas. E que está muito bem escrito.

Lido: Una Realidad Perfecta

Una Realidad Perfecta, do argentino Fernando A. Cao, é uma pequena vinheta de ficção científica, misturada com mais do que uns toques de terror, na qual um homem é atraído a uma demonstração duma realidade virtual particularmente avançada. Mas não se vai achar exatamente onde supunha. Não é um grande conto — é muito difícil transformar textos tão curtos em grandes contos —, mas é curioso. E, para mim, o mais curioso é ver as semelhanças que tem com um mini-conto meu, que publiquei há 10 anos na revista Paradoxo. Chamava-se RV, e tinha muitos pontos de contacto com esta história argentina, que podem ler aqui. É a quinta.

Lido: A Vida Suspensa

A Vida Suspensa é uma crónica de José Saramago que, não sendo ficção científica, tem tudo a ver com ela. É uma reflexão sobre a suspensão de vida que Saramago propõe aos seus leitores: "Imagine o leitor," começa, "que, por obra e graça dessas drogas em que a química diariamente se desentranha, era posto no estado de vida suspensa, quer dizer, de morte adiada". Depois descreve o estado e as reações que supõe que o leitor teria. Pessoalmente, teria preferido ler o desenvolvimento do tema numa obra realmente ficcional, mas compreendo que o mais certo seria não caber no restrito espaço de que Saramago dispunha para as suas crónicas. O que não evita que este texto me tenha sabido a pouco.

Lido: Os Observadores

Os Observadores (bib.) é mais um dos tais continhos muito pequenos de Ray Bradbury que são usados para interligar os maiores no livro de que faz parte. Este, contudo, funciona perfeitamente sozinho, e na verdade precede o livro em alguns anos. Talvez por isso, é dos contos em que mais se sente a antiguidade, em especial na utilização de soluções tecnológicas que hoje nos parecem algo absurdas. Mas isso pouca importância tem: o importante é a atmosfera de desespero que é criada quando os colonos de Marte são informados de que na velha Terra, que já começavam a esquecer, rebentou a guerra e que são lá necessários. Não sendo dos melhores contos do livro, é nele muito importante.

sábado, 6 de março de 2010

Lido: Relatório Minoritário

Relatório Minoritário (bib.) é, como devem saber, uma noveleta de ficção científica de Philip K. Dick, que deu origem ao filme homónimo de 2002. Como de certeza a maior parte das pessoas viu o filme sem ter lido o conto, começo por dizer que aquele é mais do que uma adaptação deste. Na verdade, aquilo que une história e filme é pouco mais do que a ideia-base, magnífica, diga-se de passagem: num futuro próximo, a descoberta de mutantes precognitivos é aplicada à prevenção do crime, fazendo com que este praticamente desapareça. Mas nenhum sistema é perfeito, e é a imperfeição deste sistema que tanto noveleta como filme exploram, ainda que de duas formas bastante diferentes.

Dick é frequentemente um escritor absolutamente brilhante nas ideias, e foi isso que o guindou à posição invejável que ocupa na ficção científica mundial do século XX. Isso e uma abordagem muito própria, profundamente paranoica, que o ajudou a criar os seus típicos enredos cheios de reviravoltas, em que só raramente, muito raramente, as coisas são o que parecem. Mas também é frequentemente um escritor pobre na execução literária dessas ideias e desses enredos, em especial na sua ficção mais curta. Esta história é disso bom exemplo.

Ao lê-la, não consegui nunca libertar-me da sensação de que faltavam coisas. De que tudo se passava depressa demais. Inverosimilmente depressa demais. De que as personagens nunca chegam a passar de esboços grosseiros, todas elas. De que aquela matéria-prima daria um excelente romance ou no mínimo novela, mas que era demasiado rica para ser comprimida num conto. E eu gosto de contos. Só posso imaginar o que sentirá quem normalmente não é grande apreciador de ficção curta.

Em todo o caso, não deixa de ser um livro com interesse. Sim, porque se trata de um livro. Em vez de aproveitar o ensejo do filme para publicar uma coletânea de contos em que este fosse peça central (e nem teria de inventá-la, visto que há publicadas várias coletâneas intituladas Minority Report, tanto nos EUA como no Reino Unido, e o conto foi também incluído noutros livros do autor), a Presença preferiu arranjar um papel grossíssimo, usar um tipo de letra enorme, e publicar apenas a noveleta. E isso é, de longe, o que esta edição tem de pior.

Chama-se a isto uma oportunidade perdida.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Lido: A Estátua

Continuo a ter bastante dificuldade em falar sobre os textos de António Eça de Queiroz. Este, A Estátua, pode ser que seja um conto. Mas também pode ser que não. Pode ser parte de um romance em mosaicos, ou de algo mais estranho. Confesso que ainda não percebi. A Estátua começa como uma reflexão umbiguista, que é interrompida por um sonho apropriadamente onírico sobre um miúdo que desenha coisas. E é só. Está bem escrito, mas como conto não é nada.

Também ainda não percebi se gosto ou não; pode ser que com a continuação da leitura isto comece a fazer sentido. Para já, estou apenas confuso.

Lido: With Caesar in the Underworld

With Caesar in the Underworld é uma novela de história alternativa de Robert Silverberg, o penúltimo texto da sua série de ficção curta Roma Eterna, que postula a sobrevivência do Império Romano bem para lá do seu prazo de validade no mundo real, num mundo em que o cristianismo nunca chega a desenvolver-se. A novela passa-se no equivalente ao nosso ano de 529, numa época em que o Império Romano já se encontrava dividido nas suas duas metades oriental e ocidental (divisão que aconteceu de facto, na nossa linha temporal; a metade ocidental caiu em 476; a oriental só veio a cair definitivamente no século XV, derrotada pelos otomanos), independentes mas com relações amistosas. Uma época em que a metade ocidental enfrenta a ameaça de tribos bárbaras provenientes da Germânia, sem ter um imperador à altura, naquilo que parece um prenúncio do fim.

É a esta situação que chega um grego, homem estranho que, apesar de vir a Roma como embaixador do império do oriente encarregado de negociar uma cooperação militar contra os bárbaros, não se coíbe de manifestar um considerável fascínio pelo submundo da Cidade Eterna, local subterrâneo, sede de todos os vícios e cultos secretos. Este grego vai arrastar Faustus, o protagonista da novela, membro dum ramo empobrecido da família imperial e funcionário, para uma exploração do submundo. Com eles vai também um hebreu para o qual o submundo não tem segredos, e César Maximilianus, filho mais novo do moribundo imperador e melhor amigo e companheiro de patuscadas de Faustus.

É uma história bem construída, digna dos pergaminhos do autor, um dos grandes nomes da ficção científica americana. Tem boas personagens, o leitor é conduzido através do enredo com mão segura e, embora nalgumas passagens a história pareça sofrer de algum excesso de informação, esta acaba por revelar-se fundamental para a reavaliação completa do que ficou para trás que o desfecho provoca. Tudo muito bem feito, tudo muito natural. Desconfio mesmo que até quem não costuma gostar muito de história alternativa consegue ler esta novela com agrado, desde que tenha algum apreço por ficção histórica e/ou por questões palacianas e lutas pelo poder.

Os lamentáveis adversários do AO

Aquele que já foi em tempos um jornal de referência mas se vai transformando aos poucos em mais um desperdício de celulose, o Público, achou por bem abrir hoje as suas páginas a uma iniciativa contra o acordo ortográfico promovida por intermédio do facebook. O artigo é típico artigo de pasquim: nos antípodas do equilíbrio que o jornalismo a sério exige, só dá voz a uma parte, funcionando não como um artigo informativo mas como uma peça de propaganda. E as coisas que nele se dizem...

Deuses!

Afirmam-se coisas como "os tradutores vão perder trabalho porque os brasileiros são mais baratos", por exemplo. Nem pergunto de que bola de cristal o autoproclamado zé-ninguém (a acreditar no artigo, é ele que afirma que não é ninguém, que é um anónimo) que é entrevistado para fazer aquela peça desencantou tal certeza futurológica. Digo apenas que este tradutor que aqui escreve não está nada preocupado. Porque este tradutor que aqui escreve sabe qual é a diferença entre língua e ortografia, e sabe que não é por alterarem-se algumas regras na forma de se escrever a língua que desaparecem os seus dialetos. Por isso, com exceção de algumas áreas muito particulares e extremamente restritas em que o facto de Portugal e Brasil falarem dialetos diferentes da mesma língua não tem importância, o mais certo é que o AO não tenha absolutamente nenhum impacto sobre o trabalho que os tradutores venham a ter no futuro.

Aliás, dá-me uma grande vontade de rir sempre que vejo este tipo de panicozinhos mais ou menos corporativos. Diz muito sobre as pessoas que são por eles assaltadas que em vez de acharem que uma abertura abre um potencial de crescimento até aí fechado, partam sistematicamente do princípio de que a única consequência possível dessa abertura é serem submersos pela invasão. Diz, nomeadamente, que se acham piores que os outros. Que sabem que não têm qualidade suficiente para competir. Que se veem medíocres, incapazes de apresentar um trabalho com qualidade suficiente para resistir às investidas, sejam elas reais ou imaginárias.

Mas há coisas mais ridículas. O homem afirma que esta alteração ortográfica é "profundíssima", dando a entender que não tem comparação com as anteriores. Para azar dele, a profundidade é contabilizável. O "profundíssimo" dele corresponde a 1,6% das palavras que escrevemos. Em cada 100 palavras, há entre uma e duas que sofrem alterações. Num romance de tamanho razoável, com cem mil palavras, haverá cerca de mil e seiscentas que se alteram. Ou menos ainda, pois as palavras que são alteradas são na sua grande maioria palavras pouco utilizadas. Isso pode, aliás, verificar-se com algum rigor, contando as palavras que mudam em textos escritos com o acordo implementado. Este post, por exemplo. Ele talvez seja demasiado pequeno para obter um resultado estatisticamente válido — para isso convém que os números não sejam pequenos demais — mas pode servir como indicação. Portanto vamos lá: o post tem 779 palavras; O AO altera um total de 11 delas. 1.41%, portanto.

Ui, que profundidade!

E quem saiba alguma coisa sobre como foi a reforma ortográfica de 1911, quem tenha alguma vez lido um texto escrito com a ortografia anterior, parte-se a rir quando vê chamar "profundíssima" a esta. Isto é uma reforma pouco mais que insignificante, mesmo comparando-se à de 1911. E outras línguas há que passaram por alterações ortográficas muito mais "profundíssimas" do que aquela por que a nossa passou em 1911. Mudando, por exemplo, de alfabeto. Isso é um pouco mais profundo do que tirar umas letras não pronunciadas daqui e uns acentos dali, não?

Mas o pior é mesmo que usem a mentira para apelar ao mais rasca sentimento patrioteiro de quem não tem conhecimentos suficientes para saber que é mentira. O pior é mesmo a desonestidade sistemática de que os mais histéricos anti-AO têm dado bastas provas. E este artigo do Público não é exceção, quando o tal autoproclamado zé-ninguém afirma que o AO afeta "exclusivamente um lado". Isto nem sequer é uma meia verdade: é factualmente falso, uma mentira completa. O AO não afeta exclusivamente um lado; afeta todas as pessoas que se exprimem em português escrito.

Uma oposição minimamente séria ao acordo poderia dizer que o AO afeta três vezes mais a escrita euro-africana do que a escrita brasileira, visto que esta tem 0,5% das palavras alteradas. Claro que quem é favorável ao dito poderia contrapor com a cedência brasileira durante as alterações de 1971-1973, por exemplo, que foi muito maior do que isso. Mas uma oposição que falasse a verdade ao menos seria séria. Esta, que aquele lamentável simulacro de artigo no Público propagandeia, não é séria. É mentirosa. E mais lamentável ainda do que o próprio artigo.

PS (escrito mais tarde e por isso fora das contas acima): Já agora, no facebook há também uma página exclusivamente sobre o acordo ortográfico, aqui, um grupo de gente favorável ao AO, aqui, uma página sobre a língua portuguesa, aqui. Até há uma "causa", pequena, é certo (e quem é que precisa duma causa a defender uma lei aprovada e promulgada? Nem eu aderi a ela.), a favor do acordo ortográfico. Aqui. Mas nada disto interessa ao Público.