sexta-feira, 30 de abril de 2004

Parabéns a você...

Embora tenha sido criado a 27 de Abril de 2003, os primeiros dias deste blog foram gastos em testes, apagados de imediato, e o primeiro post legítimo da Lâmpada aconteceu fez há cerca de duas horas um ano redondinho (e bissexto). Dadas as expectativas iniciais, é caso para dizer "parabéns a você", tanto mais que nestes 366 dias se contaram quase 30 mil visitas a este blog azul, e nem todas foram minhas.

E agora? Que se segue?

A Lâmpada continua. Como e até quando, logo se verá. Um abraço a todos os que têm acompanhado este percurso, um abraço mais apertado aos que têm gostado do que aqui se tem escrito, um par de beijos na Carla, e siga a música que a malta quer é abanar o esqueleto.

Spamesia (360)

Ontem (ou, se formos rigorosos em termos de calendário, anteontem) chegou a notícia: a revolução triunfou em toda a linha. De fascistas nem sinal: ou fugiram todos, ou se reconverteram de repente em democratas de vida inteira, em actos de contorcionismo político dignos de um Houdini. Traduzindo para temas mais terrenos, de spam nem sinal. Foi todo parar ao arquivo morto. E foi aí que eu tive de ir buscar o título de hoje, porque há que ficar uns dias vigilante não vão os fachos regressar. O título? "Stolen document".

Documento roubado

Apelo de um robot emitido em todas
as frequências do sector de Proxima:

«Procuro sem sossego um documento
que me foi roubado de um lugar
de segredo

Esse documento contém os códigos
para ter acesso aos meus sentimentos

É urgente encontrar o ladrão e recuperar
o documento
pois pouco a pouco vou ficando
sem sentimentos
e um robot
sem sentimentos
é como uma estrela sem hidrogénio
definha e morre

Ajudem um pobre robot desesperado
enquanto eu choro a perda da minha
mais íntima natureza
enquanto ainda posso»

quarta-feira, 28 de abril de 2004

A bandeira colonial do Iraque

Spamesia (359)

E ontem, mais uma vez, há-de ter havido spam aos montes, suponho. Mas a verdade é que não vi mais do que 6. A revolução domina o país e os fachos fogem para o Brasil. Quanto a escolhas, "ramify"

Ramifica

Ramifica sorrisos entre ramos de bétula
ramifica cravos dos charcos de sangue seco
ramifica sonhos em pomares de azinheiras
ramifica vida entre a fúria dos canhões
ramifica capilares
para que a toda a parte chegue a seiva
que alimenta o presente e serve de pilar
a que se podem agarrar as gavinhas do amanhã

terça-feira, 27 de abril de 2004

Spamesia (358)

Ontem voltei a receber muito lixo, certamente, mas a verdade é que só vi 26 mensagens. A revolução transforma-se já em PREC. Para título do spamema do dia, escolhi aquele que falava de "Tecendo o Futuro."

Tecendo o futuro

Maria tecia o futuro
trabalhava duro e sabia
que um dia se recolheria
a esse mesmo futuro
que tecia

segunda-feira, 26 de abril de 2004

Spamesia (357)

E ontem, que foi vinte e cinco do quatro, voltei a receber muitos spams mas de novo vi muito poucos: 30. A revolução continuava. Desses poucos, peguei num que trazia o título de "abacus" e...

Ábaco

No ábaco dos meus sentimentos
somo um mais um
e por mais que procure que as contas
se abriguem ao resultado correcto
obtenho sempre o resultado de zero

Mesmo triste, ainda espero

Onde é que estavas no 25 de Abril?

O Artista Bastos nunca me fez esta pergunta, para grande desapontamento meu, mesmo que acabasse a entrevista a insultar-me de "porca fascista" para baixo. Mas os Barnabés lançaram um repto genérico, e eu aceitei-o. Quem quiser mesmo saber onde é que eu estava no 25 de Abril, pode ficar a saber aqui. E quem não quiser, vá lá na mesma e leia os outros textos. Há alguns simplesmente magníficos.

Spamesia (356)

No Sábado, 24, recebi muitos spams mas só vi 45. A revolução começava. No meio dessa malta desagradável que há que afastar rapidamente, vinha um intitulado "real", e foi esse que eu escolhi. Afinal, tem um R...

Real

Realmente não sei bem o que é real
se a substância escondida em cada sinal
se os sinais em si mesmos, o que vejo afinal

sábado, 24 de abril de 2004

Dianthus caryophyllus


Spamesia (355)

Desta vez (isto é: ontem), foram 119 as mensagens-lixo que me chegaram. Lá no meio vinha um título que não podia deixar passar: "Time in a bottle for you".

Tempo numa garrafa para si

Caro amigo, temos aqui
exclusivamente para si
alguns decilitros de tempo engarrafado
para que possa deixar de dizer que não tem tempo
para fazer tudo aquilo para que é solicitado

Não pode é beber em grande quantidade
corre o risco de entrar am laço temporal
e de sair por completo da nossa realidade

Novidade no E-nigma

A última novidade no E-nigma é a abertura de mais uma antologia digital, esta subordinada ao tema das viagens no tempo. Têm três tentativas para adivinhar o nome do organizador.

Spamesia (354)

Diga lá 123. Não é por nada - foi só a quantidade de lixo que tive o prazer de receber no dia de ontem por aqui. Que título escolhi? "Brownish"

Acastanhado

Há frases que me dizem
que me fazem sentir
acastanhado
coberto por pústulas
e por palavras esdrúxulas

Mas depois olho-me a cara
ao espelho e estou
igualzinho
ao que sempre sou
são decerto efeitos do vinho

quinta-feira, 22 de abril de 2004

Spamesia (353)

E ontem foram ainda mais: 142. Naturalmente, foi tudo para o lixo, com excepção do título de uma dessas mensagens: "Limbo".

Limbo

Um limbo é um local fascinante
onde nada está bem definido
e tudo não passa nunca de
potencialidade
Um limbo é um local onde a luz
se escoa pelos interstícios das paredes
deixando-o envolvo em cinzentos
e tons de pastel
que são assim como que casulos
de dentro dos quais espreitam as cores
vivas em que se podem tornar
Um limbo é um local sem arestas
onde todos os muros transitam
com suavidade entre o ser e o não ser
e nunca nada acaba num sítio concreto
Um limbo é, afinal, mais ou menos igual
a uma qualquer sociedade humana

quarta-feira, 21 de abril de 2004

Novidades no E-nigma

A última novidade no E-nigma é uma crítica ao romance de Greg Bear O Verão dos Dinossauros, uma espécie de sequela para O Mundo Perdido, de Arthur Conan Doyle.

Além disso, nos últimos tempos tem havido uma reformulação completa das antologias, com a abertura de (por enquanto) três novas antologias, cada uma com o seu organizador e cada uma com o seu tema: distopias (organizada por mim), surrealismo (António Candeias) e sexo (António Martins-Tuvalkin).

Os escritores que por aí haja com falta de tema ou de lugar para publicar, já sabem: a password é E-nigma.

Spamesia (352)

Ontem (e tanto tempo se passou já desde que usei pela última vez esta palavra neste contexto!) recebi mais uma valente dose de 126 spams e vírus, tendo resolvido escolher entre eles um enviado por um(a?) tal Brandi, intitulado "tangible"

Tangível

Por qualquer razão prefiro o tangível
deve ser questão de personalidade
tenho a impressão de que é impossível
pôr de verdade a mão no que é intangível
por isso é que não acredito em metade
do que me tentam vender como verdade

Spamesia (351)

Na segunda-feira foram mais 107. Decididamente, estes spammers não querem que me faltem títulos. Escolhi um "reversal" para escrever:

Reversão

Uma re versão é uma nova versão
de algo antigo e triste
como tudo o que é antigo
Mas há quem se encoste a essa tristeza
murmurando sílabas melancólicas
por entre lágrimas de saudade
São os reversionários
os inimigos declarados de todos
os revolucionários
Algo me diz que no fim de todas as coisas
a reversão não passará
mas muita água passará sob as pontes até lá

terça-feira, 20 de abril de 2004

Uma sequência de pensamentos futebolísticos

Primeiro foi o sorriso: "Ena! Finalmente fizeram alguma coisa contra a máfia da bola!"

Depois, o encolher de ombros: "Bah! Há-de ficar tudo em águas de bacalhau, como sempre."

Spamesia (350)

No domingo continuou a inundação de spam aqui por estas bandas, desta vez com o total a subir aos 113. Lá pelo meio vinha um "lifespan".

Tempo de vida

O tempo de uma vida
é um murmúrio
das galáxias

E, a propósito do post anterior...

O Miguel Vale de Almeida teve esta ideia de logotipo para as pessoas a que ele chama "radicais livres":



Gosto.

R

Apeteceu-me...

Spamesia (349)

E no sábado, pimba, 111, que é por causa das tosses. Peguei num "poet" e resolvi o assunto com:

Poeta

Um dia um amigo perguntou-me
se eu teria alguma ideia
sobre a natureza dos poetas

Respondi-lhe: «Olha, pá
eu não percebo nada disso
mas cá para mim, poeta é
quem não sabe ser
mais nada.»

Spamesia (348)

Na sexta-feira o número se spams baixou 33, fixando-se em 97. Plenty, man, como diriam os jamaicanos. E mais que suficiente para pegar em "peaceable" e tratar do assunto:

Pacífico

O lugar mais pacífico que existe
é o lugar onde nada mexe
e tudo está imóvel
e morto

Deve ser esse o objectivo
de quem faz guerras
pela paz

segunda-feira, 19 de abril de 2004

Novidade no E-nigma

Já com alguns dias, é certo, mas mais vale tarde que nunca. A última novidade no E-nigma chama-se "They Sell Souls, You Know..." e é um conto de João Seixas já com alguns anos, que abre uma janela sobre um pequeno fragmento de inferno.

A capa, como vem sendo hábito, é de Gabriel Bozano, que desta vez usou um estilo quase em jeito de banda desenhada.

Todos os envolvidos esperam que gostem.

Spamesia (347)

Na quinta quase que se batia por aqui um record qualquer: chegaram-me 130 mensagens-lixo. Cento e trinta. Em cerca de vinte e quatro horas. Quanto à escolha, recaiu sobre "meridional".

Meridional

Meridional é um local diagonal
onde o mal é sugado pelo sal
e não há nada que seja tal e qual
aquilo que apregoa o seu foral
No futuro um furo inseguro
chegará até lá, vindo de cá
e do local chamado Meridional
não restará nem anona nem fubá
é que nós por cá, todos mal
doentes, sem dentes e dementes
odiamos que outros sejam contentes

Spamesia (346)

Na quarta, foram mais 96 as mensagens-lixo que me invadiram a inbox. E entre elas escolhi uma com um título quase spielberguiano: "jaw".

Mandíbula

Parece-me que toquei na mandíbula do futuro
não tenho a certeza
mas a dentada que senti no mais fundo do peito
se não é só coisa de um qualquer defeito
é sinal de que me transformo devagar em presa
e por mais que me esmague contra o muro
dele só consigo extrair migalhas de incerteza
Há dentes por aí
afiados como um balde de cascas de conquilhas

O fascismo islâmico e a Europa

A entrevista que a Pública publicou hoje com um homem que, ao que parece, é um dos teóricos do fascismo islâmico na Europa é um documento importantíssimo e fornece, a quem tiver a capacidade de ler nas entrelinhas, pistas importantíssimas para encontrar a melhor forma de o combater. São várias e estão espalhadas pelo texto, mas vou pegar numa, que provavelmente é a mais importante. Diz Omar Bakri Mohammed que:

A América atacou o Afeganistão, a Somália, o Sudão, o Iraque, apoia regimes ditatoriais nos países árabes, estacionou tropas em território muçulmano. Há o direito de retaliar. Al-Qaeda atacou a América. É a acção e a reacção. Vocês são terroristas, nós somos terroristas. O terrorismo é a forma de agir do século XXI. [...] É legítimo.


As pistas estão todas aqui. Para milhões de muçulmanos, nascidos e educados em famílias que contam à lareira as histórias das humilhações coloniais pelos "infiéis" cristãos, esta lógica é imbatível. E quando essas mesmas pessoas assistem a esses mesmos estados a agir como grupos terroristas e a apoiar declarada ou veladamente o maior de todos esses grupos terroristas, Israel, a lógica transforma-se em certeza. Para milhões de muçulmanos não há qualquer diferença entre grupos como a Al Qaeda e os Estados Unidos, Israel ou, até certo ponto, a Europa a não ser que a Al Qaeda é deles e os "defende". A cada atentado israelita ou a cada bombardeamento americano mais se solidifica essa certeza. E mais cresce o apelo do tipo de lógica do Mohammed. A cada dia a mais de ocupação no Iraque ou na Palestina, mais força têm os movimentos de fascismo islâmico e mais cresce o prestígio e o poder de grupos como a Al Qaeda ou o Hamas.

Tudo acaba por ser uma questão de legitimidade. A violência anti-islâmica, e especialmente a violência anti-islâmica terrorista, exercida por estados cuja legitimidade está reconhecida pelas leis internacionais, oferece de bandeja aos movimentos terroristas islâmicos uma legitimidade que eles de outra forma nunca teriam. E é por isso que quando Mohammed diz:

Apoiar George Bush é uma forma de terrorismo. Apoiar a Al-Qaeda também.


Tem toda a razão.

Mas perde a razão logo na frase seguinte, quando diz:

Toda a gente está envolvida, acredite.


Isto, felizmente, é mentira. Não só porque milhões de ocidentais não apoiam os "seus" terroristas, como porque milhões de muçulmanos também não apoiam os "seus".

A única forma de travar o fascismo islâmico é dando força ao anti-fascismo islâmico. E a única forma de dar força ao anti-fascismo islâmico é através do respeito absoluto e intransigente pela legalidade, sejam as legalidades internas de cada estado, seja a legalidade internacional, através do isolamento e perseguição activa dos "nossos" terroristas e através do diálogo com os líderes muçulmanos moderados. E é acabando duma vez por todas com as ocupações de terra árabe por estrangeiros.

De outra forma, enquanto os fascismos encapuçados se mantiverem fortes no ocidente e em Israel e continuar a violência quotidiana sobre os muçulmanos, o fascismo muçulmano não parará de crescer.

O futuro, se existir, só poderá ser criado pela aliança anti-fascista do novo século: todos aqueles que recusam ao mesmo tempo Bush, Bin Laden, Sharon e quem quer que seja agora o líder do Hamas. E nisto a Europa tem todas as condições para adoptar um papel de liderança, embora seja necessário muito trabalho e provavelmente bastante mais sangue para construir as pontes que é necessário construir.

A Espanha, aliás, já começou. Que se sigam mais sinais tão claros como os que deu Zapatero.

Spamesia (345)

Na terça-feira o número de spams voltou a descer até aos 91. Lá no meio vinha um intitulado "batwing", e foi nsse mesmo que peguei.

Asa de morcego

Às vezes és como asa de morcego
um batimento
e desapareces
deixando para trás
não mais
que um resto seco de vento

E eu, sou um mosquito
pendurado do teu sangue

domingo, 18 de abril de 2004

Spamesia (344)

Na segunda-feira o número de spams subiu à antiga emergência, o que é uma maneira um pouco pateta de dizer que subiu até às 115 mensagens. A escolhida trazia o título de "Pollux".

Pollux

Para quem a vê daqui
(isto é: para quem a sabe distinguir
no meio da multidão de coisas
que cobrem o nosso céu
de mistérios em camadas sobrepostas)
Pollux não passa de uma
luzinha sumida na distância

Mas a 40 anos-luz daqui
quem sabe se outros olhos não verão
uma estrela alaranjada
um pouco mais fria que a nossa
um pouco mais escura que a nossa
um pouco mais deles que a nossa
que para eles seria apenas uma
luzinha sumida na distância

Na verdade, tudo é relativo
até mesmo o calor das estrelas

Spamesia (343)

Antes de ser outra vez ultrapassado pelo calendário, deixem-me cá tratar do spam de domingo passado, dia em que o volume de lixo foi de 78 mensagens, das quais escolhi uma que dizia "scamp".

Patife

Desde as grutas mais submarinas
às mais rarefeitas das montanhas
o planeta estremece
Se fincarem bem os pés na terra
se fizerem deles raízes, por instantes
poderão sentir os estremecimentos
Mas se procurarem uma causa
uma razão física para cada vibração
o mais provável é que não a descubram

É que o planeta estremece de indignação
porque o patife está vivo e permanece

sexta-feira, 16 de abril de 2004

Spamesia (342)

E no sábado, como foi a minha vida spamiana? Olhem, recebi 88 e escolhi um título com um erro ortográfico: "a huose is not a home".

Uma casa não é um lar

Uma casa não é um lar
se não tiver
o teu perfume no seu ar

quinta-feira, 15 de abril de 2004

Spamesia (341)

Sexta-feira foi dia de um pouco menos de spam, com o número total a baixar dos cem, mas não muito: 92. De todos estes títulos houve um que me chamou logo a atenção: "abstractor".

Abstractor

Um abstractor é um aparelho extraordinário
transforma qualquer forma numa figura geométrica
colorida em consonância com a sua natureza

Apliquei-o ao governo e o resultado foi um quadro
com muitas bolas pretas e uma bola cor de rosa

Spamesia (340)

Na quinta-feira passada houve mais uma grande pilha de 126 spams e outros bocados de lixo electrónico, que foi, como é evidente, toda a caminho do lixo, deixando apenas um título: "anatomy".

Anatomia

Depoimento número 3AB0713
falamos com o ET pela terceira vez
parece manter a anterior franqueza
e ainda não saber qual a sua natureza

"Há qualquer coisa de estranho no meu corpo, sabem?
No dia-a-dia sinto-me contente com a minha anatomia
tenho os braços e as pernas, o torso e a cabeça
nos lugares e dos tamanhos que é suposto eles terem
mas quando me emociono, ou se tenho muita pressa
parece que qualquer coisa cá por dentro se transforma
ou então que sou uma casca de outro eu com outra forma
é estranho e assusta porque não sei que quer dizer
e também não faço ideia do que posso eu fazer"

terça-feira, 13 de abril de 2004

Spamesia (339)

E na passada quarta-feira? Pois na passada quarta-feira houve 89 spams, dois dos quais me vieram tentar falar de "Order". Deviam ter qualquer coisa a ver com encomendas, mas eu preferi fazer a tradução através de outro significado da palavra:

Ordem

Na planície cujos infinitos se escondem atrás de um banco de neblina
um exército de robôs espera em sossego o momento de entrar em acção
cada um à distância de um metro e dois centímetros dos mais próximos
todos eles salpicando as nuvens com os reflexos da luz de duas estrelas
todos igualmente pardos, todos igualmente limpos, todos igualmente sós
com os seus pensamentos de máquina onde até é possível - quem sabe? -
que contemplem em silêncio a quase certeza da sua próxima destruição

Se procurarmos bem, até na ordem da espera da guerra existe desordem

Spamesia (338)

Na terça (isso mesmo), chegaram mais 88 mensagens spamesianas, das quais aproveitei um título que falava de coisas angulosas: "Re: quadrangle". Significado? Hum... pois...

Quadrângulo

No primeiro ângulo fica uma cabeça
que pensa que pensa, a pobre coitada
no segundo ângulo está uma esfera
que é pura pergunta, feita lisa e baça
no terceiro ângulo está um pentagrama
que gira ao contrário do nosso planeta
e no quarto ângulo está uma certeza
não se vê mas está lá, tenho toda a certeza

Spamesia (337)

Na segunda-feira (sim, a outra) chegou-me mais mitologia misturada em 94 mensagens-lixo. Desta vez foi "elysian", cuja tradução eu aldrabei um bocadinho para:

Elísio

No Elísio aborreço-me de morte
Será que nem depois de morto
encontro um paraíso que desperte?

Spamesia (336)

No domingo, não este que passou mas o outro anterior, houve 84 spams, entre os quais vinha um com título mitológico: "Syrinx". Em português, a senhora chamava-se:

Siringe

Da ninfa ao junco vai um pouco de infinito
outro pouco de infinito liga o junco à flauta
dois poucos de infinito são todo o infinito
e é todo o infinito que Pã põe em cada nota

Spamesia (335)

Ora bem. Depois da gripe já quase se ter remetido à sua insignificância, o rescaldo é bem mais de uma semana para tratar. Este que se segue refere-se ao spam do sábado, não o último, mas o outro antes dele, dia em que me chegou a linda soma de 112 bocados de lixo e em que escolhi um que se intitulava "grayish coachmen".

Cocheiros acinzentados

À medida que viajo vou encontrando
cocheiros acinzentados
sentados nos seus coches sem cavalos
atirados para a sarjeta que percorre
a berma da estrada
como estátuas de paciência
ou como árvores de ramos amolecidos
por todas as ausências

Neles nada se move
só os olhos me seguem
como brasas brilhando na noite
e sobre cada cartola
uma asa de corvo lança crocitos

segunda-feira, 12 de abril de 2004

Novilíngua

Brilhante, brilhante, brilhante! Porque é que eu não me lembrei disto?

sexta-feira, 9 de abril de 2004

Viva a "evolução", que até faz desaparecer o défice!

Olhem, malta. Toca a gastar à fartazana, que parece que já não há défice: o goveno acaba de fazer publicar no PÚBLICO (e se calhar noutros jornais também, não sei), mais um anúncio de página inteira, a cores, desta vez a comemorar uma quaquer "evolução" que segundo eles terá acontecido em Abril. Nunca ouvi falar de tal evolução - o que eu conheço é uma revolução (notem o erre) - mas pelos vistos há dinheiro a rodos para desperdiçar em propaganda lá pelas bandas da Ferreiraleitelândia, que com este vão dois em poucos dias. Ou pelo menos dinheio a odos, que paece que o oçamento não chega paa os ees.

Aproveitemos (apoveitemos?) enquanto é tempo!

(e para os que estão a perguntar a sim próprios se sim se não (obrigado, malta)... atchim, sim.)

quinta-feira, 8 de abril de 2004

Problemas da falta de hábito

O problema de se passar muito tempo saudável é que quando por fim os vírus atacam já não se está habituado.

A... a... aaa... ATCHIM!

quarta-feira, 7 de abril de 2004

Spamesia (334)

Sexta-feira o spam continuou em recessão, com o défice a subir até aos 64. Nada que coibisse o governo deste blog de publicar anúncios de página inteira anunciando um "dream job", bem entendido...

Emprego de sonho

Tenho um emprego
de sonho
sou eu quem escava
as crateras
da Lua

terça-feira, 6 de abril de 2004

Ainda a propósito da efeméride

Há défice para tudo e mais alguma coisa, especialmente quando esse "tudo e mais alguma coisa" serve de justificação para atacar quem menos poder económico tem. Mas parece que não há défice quando se paga publicidade de página inteira, a cores, numa das páginas de abertura do PÚBLICO, o que é caríssimo. Para isto, o défice não existe.

E eu não consigo deixar de perguntar a mim próprio se isto não será paga da "compreensão" demonstrada pelo director do jornal em quase todos os seus editoriais.

FC de boa qualidade no blogue de Esquerda

Vão ler, que vale a pena.

Efeméride

Faz hoje (só?) dois anos que o pior governo que tivemos de suportar desde que há democracia em Portugal tomou posse. Uma vez que as revoluções estão fora de moda, o meu único desejo é que consigamos sobreviver aos dois anos que faltam até que eles sejam corridos.

Spamesia (333)

Na quinta-feira, pelo contrário, o mínimo foi total porque o endereço que mais spam me fornece esteve avariado todo o dia: 31 mensagens, com pouquíssimos títulos de jeito, ainda que ligeiro. À falta de coisa melhor, peguei no "Re:Free porn". E escrevi:

Pornografia livre

Recebi
um folheto virtual que anunciava virtualmente pornografia livre, presumo que também ela virtual
não o abri
imagino mulheres semi-nuas de meia-idade com seios gigantescos meio-cheios de silicone
e os cabelos oxigenados mostrando raízes ruivo-escuro
e os lábios esborratados em nódoas de bâton berrante
o contrário - oh sim - verdadeiramente o contrário do erotismo
pornografia pura, nua e de rua
(para sempre tua, sussurra a actriz entre gemidos
enquanto se masturba, sozinha, com o seu dildo da cor do soalho da casa da minha avó)

Desligo o êcran mental, fecho as portas à enxurrada de imagens que caem no poço vazio da minha cabeça
chamando-se umas às outras como adolescentes aos risinhos enquanto falam de rapazes

Depois, saio de casa para encarar as estrelas e um fio de Lua a ocidente e respirar
a noite

Porra, que a noite parece limpa, como se tivesse sido lavada com sabão azul
mesmo apesar de todas as beatas e de todos os talões de multibanco amarfanhados!
Mas há qualquer coisa nos latidos que se sobrepõem ao ruído do trânsito, à distância
que me faz passar pela cabeça uma imagem fugaz dum par de seios a rebentar de silicone
por isso ando, quase corro, transportando gorduras com falta de repouso
até dar de caras com a porta recuada duma farmácia
cuja montra iluminada lhe acentua o aspecto de abandono
que foi escolhida por um homem que ressona enrolado sobre a pedra

Ah, penso então, aqui está enfim o que o folheto prometia
pornografia livre
só que esta bem real

segunda-feira, 5 de abril de 2004

Spamesia (332)

Quarta-feira, upa-upa. Ou seja, traduzindo: na quarta-feira tive direito a uma enxurrada de 119 emails spaméticos. Escolhi um que falava de "iconoclasm", e:

Iconoclasmo

Devo ser um iconoclasmo
porque sempre que vejo um
ícone desfaço-me em pasmo
sem compreender como é
possível que alguém construa
pedestais para tais animais

domingo, 4 de abril de 2004

Spamesia (331)

Terça-feira foi de 89 o número de mensagens inúteis, se bem que uma delas tenha tido, afinal, a pequena utilidade de me dar um título para um spamema. Foi "cry".

Grito

O grito
é o estrondo
da alma

Ornintorrinco?!

Parece que a operação policial ontem em Lisboa teve um nome de código verdadeiramente monotrémato...

sábado, 3 de abril de 2004

As direitas

Tenho vários amigos de direita (até vivi com uma menina do CDS durante três anos e tudo). Tipos que sempre foram de direita, alguns com o percurso todo dos escuteiros à JSD ou JC (ah, espera, agora é Gerações Populares). Tipos coerentes e com uma linha de raciocínio que se pode discutir, tipos com quem se pode conversar.

Conheço alguns outros tipos que foram em tempos de extrema-esquerda e que hoje andam pelas direitas. São todos, sem excepção, uns filhos da &%$$#& inusportáveis com quem é completamente impossível trocar duas linhas de diálogo porque se recusam a ouvir os argimentos contrários e os contestam recorrendo sempre à demagogia e à total ausência de coerência. São o estilo de gajos que, se apanhados em contradição, negam a pés juntos que tenham dito o que disseram meia hora antes.

OK, generalizar é má onda. Mas uma vez que nos mediáticos se passa o mesmo (vocês sabem de quem eu estou a falar), se calhar isto é fenómeno universal. Que vos parece?

(Não, não é problema da esquerda: muita gente que sempre foi de esquerda não é assim, nem de perto nem de longe)

Epah, dêm uma ajuda ao Ene...

O homem tá há quase uma semana sem acesso à net à conta de uma desconfiguração qualquer esquisita no sistema dele. Se alguém por aí percebe alguma coisa de Windows 98 e das suas relações com o cable modem, que fale com ele.

Eu tenho impressão que nunca na vida toquei num computador com aquele sistema. Ainda se fosse Win95, NT ou XP...

sexta-feira, 2 de abril de 2004

Spamesia (330)

Na segunda-feira o lixo voltou a dar um grande soluço, subindo até às quase redondezas das 101 mensagens. Mesmo assim, talvez as prefira a dálmatas, especialmente tendo em conta que uma delas carregava o nome de "misanthrope", o que deu para fazer o que se segue.

Misantropo

O misantropo esconde-se como lobo acossado pelos clarins dos caçadores
vê-se a si próprio como velho licantropo nu de pêlos e caninos
e mergulha, sozinho tal e qual veio ao mundo, num mundo falso
feito das fugas criativas de muitos outros misantropos
cada verso um pé de vinha, cada letra uma abelha, cada ponto uma pedrinha
à espera que um dia acabe a luz da lua e ele possa, afinal, parar de uivar

quinta-feira, 1 de abril de 2004

Spamesia (329)

No domingo, o volume de lixo baixou para 62 mensagens, das quais escolhi uma intitulada "matilda catlike"...

Matilde felina

A Matilde felina passeia
semeando a esquina
de ondulações. Mexe-se
em til, metamorfoseando
em serpente e de repente
mudando de assunto, de
registo e de movimentos

Dias depois, já dela nada
resta. Só as marcas das
garras no pavimento

Spamesia (328)

No sábado houve 86 spams e vírus. Um deles falava de uma "Trip into fall", o que eu traduzi para:

Viagem para a queda

Na viagem para a queda somos todos passageiros
e os nossos passos passam por pontos de procura
de um lugar qualquer onde amarrar uma corda
para prender a ela o peito enquanto a queda brame
à nossa frente a sua impaciência e nós, passageiros
tentamos sem qualquer sucesso abandonar os trilhos
que nos arrastam consigo, às gargalhadas de desespero

Novidade no E-nigma

Depois de uma breve pausa (não gozem, vá lá), regressam as novidades ao E-nigma, com uma crítica ao livro Cântico à Humanidade, de Ray Bradbury. Enjoy!

Ora aí está uma grande ideia!...

Na Formiga, no post Dia da Verdade.