quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Lido: A Casa Quieta

A Casa Quieta é um romance de Rodrigo Guedes de Carvalho que nem sequer se esforça para esconder a sua afiliação a um estilo e perspetiva literários liderados por António Lobo Antunes. Um longo exercício de estilo com comparativamente pouco conteúdo, repleto de repetições e ruminações das mesmas ideias, consegue ainda assim ser menos encerrado na forma do que livros como Que Cavalos São Aqueles que Fazem Sombra no Mar? Mas, apesar disso, ainda o é muito em demasia para que eu consiga gostar dele.

Não é um mau livro, note-se. Literariamente é até um bom livro, na medida em que Rodrigo Guedes de Carvalho faz bem aquilo que se propõe fazer. Há pormenores interessantes, como alguma adaptação do estilo que é usado àquele que estava em voga entre os lobantunianos na época que está a ser representada em cada parte do romance (este abrange um período de 20 anos, entre 1985 e 2005), ou o facto de começar pelo fim e a ele regressar, no fim. Mas tudo isto se refere à forma. O conteúdo é um fado do desgraçadinho quase insuportavelmente deprimido e deprimente, com uma história familiar de mortes e enlouquecimentos que daria para 50 páginas, se tanto, caso não fosse esticado e re-esticado, torcido e retorcido quase até ao ponto de rotura pelos artifícios da forma. O livro tem 250. 250 longas, lentas, palavrosas páginas que pouco atam e nada desatam, sobre a decadência duma família da alta burguesia lisboeta (não da antiga, porém; da nova-rica). Não há um pingo de humor, há apenas um lento desespero ao som gemebundo das guitarras.

Sim, está bem feito. Mas. Não. Há. Pachorra.

Não há pachorra para nenhuma daquela gente, cujo traço de personalidade realmente marcante é ter muita, muita, muita pena de si própria. Não há pachorra para uma análise tão superficial sobre a condição humana que nos reduz a meros bocados de carne à espera da morte. Não há pachorra para todo aquele pessimismo oprimente, para toda aquela choradeira sem redenção, para todo aquele silêncio. Só dá vontade de abrir as janelas da casa quieta e berrar "tirem-me daqui!"

Este é dos tais livros que apesar das qualidades que possam ter, acabam por se tornar detestáveis. Para mim, bem entendido. Há quem se pele por coisas destas.

Mas mais detestável ainda é tanta da literatura mainstream portuguesa das últimas décadas ser precisamente assim. Forma sempre sobreposta ao conteúdo (e nisto salva-se o Saramago, que criou a sua forma, o seu estilo, e depois se dedicou a explorá-lo com conteúdo, e às vezes conteúdo de primeiríssima água), e o pouco conteúdo que consegue a duras penas quebrar a barreira da forma a sair deprimente, deprimido, negro como catacumbas. O resultado? Estátuas literárias que até podem estar muto bem esculpidas por fora mas que por dentro estão ocas, sem um soprozinho de vida, sem sequer uma aragem, um rebentar de ondas. Coisas mortas. Caixas vazias.

Meus senhores, escritores, editores. Leitores. Quero dizer-vos que. Não. Há. Pachorra.

Lido: A Mole Lua

A Mole Lua (bib.) é um conto curto de Italo Calvino sobre aquilo de que o título já fala: a Lua mole. Sim, mas não se pense que estamos aqui no reino da lua enquanto bola de queijo. Não. É mais uma história sobre a formação do nosso planeta, contada pelo inefável Qfwfq. Antigamente, diz ele, a Terra era toda lindinha, feita de materiais impermeáveis, limpos e duros, mesmo como deve ser. Mas eis que acontece uma desgraça. A Lua, então um planeta como os outros, girando livre em torno do Sol, aproxima-se demasiado da Terra e não só fica presa à nossa volta como as marés geradas pela inaudita aproximação entre os dois planetas vão fazer com que caia na Terra uma quantidade incrível de material lunar (e vice-versa, bem entendido). Que material lunar? Nhanha, pois então, às toneladas, aos milhares de toneladas. É mais um conto surrealmente divertido, sem dúvida, mas este é bem capaz de ter sido o que menos me agradou entre os que até agora li neste livro.

Lido: O Gambito dos Três Marinheiros

O Gambito dos Três Marinheiros é um conto do Lorde Dunsany sobre xadrez. Ou, mais propriamente, sobre um mistério que o narrador encontra numa taberna de "Over" (cidade inventada... mas é bem provável que a semelhança do nome com Dover seja tudo menos acidental): um grupo de três marinheiros, sempre os mesmos, que jogam xadrez com qualquer um que queira desafiá-los, do aprendiz ao mestre. E ganham. A todos. Mas só quando jogam os três juntos. É um conto fantástico movido a mistério (como é que três homens rudes, ignorantes, analfabetos, são de tal modo invencíveis num jogo tão intelectual como o xadrez?), que por isso mesmo não será aqui revelado por mim, bastante bem concebido e bastante bem executado. Menos divertido do que muitos dos contos mais curtos do nosso lorde, mas tão interessante como eles. Bom, francamente bom.

Lido: Prisioneros de la Eternidad

Regressando à tal página em espanhol e descendo até ao décimo sexto conto encontra-se Prisioneros de la Eternidad, do argentino Hugo José Bano. Trata-se de um conto lovecraftiano que realmente cumpre a matriz de pensamento de Lovecraft no que diz respeito ao incognoscível de certas coisas, neste caso do tempo. Para isso, finge-se de artigo e termina com um poema. Tem o seu interesse no campo das ideias, mas não me agradou por aí além. Em parte porque é muito raro que coisas lovecraftianas me agradem realmente, mas principalmente porque não me pareceu lá muito bem executado.

sábado, 25 de setembro de 2010

Lido: As Férias

As Férias é mais uma crónica estival de José Saramago, na qual ele nos oferece, claro está, a sua visão das férias, mostrando algum ceticismo pela cultura da viagem, mas não pelas descobertas que lhe estão subjacentes mas podem ser muito mais singelas do que ir ver a Torre Eiffel ou as Pirâmides. É uma crónica ligeira e intimista, sem nenhum interesse especial, que se lê bem mas com igual facilidade se esquece. Uma crónica estival, portanto. Fácil e passageira como o próprio verão.

Lido: A Noiva Abandonada

A Noiva Abandonada (bib.) é uma noveleta de António de Macedo com um complicado enredo sobre uma noiva abandonada no altar, uma velha monja morta muito parecida com ela e cujo espírito pretende ocupar-lhe o corpo, um par de estudantes de antropologia amigos do noivo, o próprio noivo, o diabo a sete. O esteio da história é a tentativa da monja para se apoderar do corpo da noiva, e as investigações e deduções herméticas (claro) dos estudantes. Não gostei. Diálogos forçados são algo que cada vez mais me desliga das ficções que vou lendo, em especial quando os ambientes são contemporâneos, e aqui o ambiente é contemporâneo e muitos dos diálogos (não todos, curiosamente) são bastante forçados. Ninguém diz coisas como: "O ritual católico do matrimónio, tal como é praticado em Portugal, não inclui essa sacramental pergunta!..." Ninguém fala assim, a não ser que esteja a gozar com a má literatura. Outro problema é o caráter aleatório de toda a investigação. As ideias vão caindo frequentemente do nada à medida que vão sendo necessárias para fazer avançar o argumento. E ninguém erra desde o erro inicial que desencadeia a história, ninguém se engana, no máximo há uns atrasos sem consequências. A acrescer a isso, como se não bastasse, há mais alguns detalhes no conto que são tremendas machadadas na minha capacidade de suspender a descrença e apreciar a literatura. Note-se que ao contrário dos diálogos que, esses sim, são um problema bastante objetivo, isto das machadadas na minha suspensão de descrença não quer dizer que o conto seja mau; afinal, trata-se dum conto de horror (embora não me assuste nada). É suposto que haja detalhes inverosímeis, fantásticos, irreais, mágicos, macabros, o pacote completo. Mas para mim Macedo exagera (o que só raramente não acontece) e isso reduz a zero a minha capacidade para gostar desta noveleta.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lido: A Feiticeira do Douro

A Feiticeira do Douro (bib.) é uma novela de fantasia de Eduardo Augusto de Faria já bastante vetusta pois foi originalmente publicada há mais de cento e cinquenta anos. A história tem um ambiente medieval que só não é inteiramente banal porque para os leitores de fantasia de hoje os ambientes medievais típicos remetem para o norte da Europa e não para o norte de Portugal. Este livro, como o próprio título indica, passa-se na região do Douro, e centra-se numa velha bruxa que foi vítima de um hediondo crime passional muitas décadas antes e, depois de andar pelo mundo a alimentar o ódio, regressa para se vingar de quem cometeu o crime e da sua família, armada de feitiços.

Grande tragédia, ao gosto romântico da época, claro está. Sentimentos superlativos e violentos, tiradas tonitruantes, muitos ohs, muita faca e muito alguidar. Quem sabe alguma coisa sobre os velhos clichés das histórias românticas depressa deduz todo o enredo quase aos mínimos detalhes, e Faria segue-o fielmente. Não é grande coisa como escritor, infelizmente, para não dizer que é francamente mau. Ops. Já disse. Falta-lhe rasgo e sobra-lhe banalidade de ideias e de execução. E para piorar as coisas, aqueles diálogos forçadíssimos talvez fossem ao gosto da época (duvido) mas para os olhos de leitores modernos (bem, pelo menos deste leitor moderno) chegam a parecer ridículos. E há muitos, e confusos.

Para mim, a maior curiosidade do livro residiu em algumas formas de organizar as frases, em expressões como me faz, me diz, esse tipo de coisa, que para a maioria dos leitores portugueses de hoje soa muito brasileira, mas não o é. É certo que Faria viveu no Rio de Janeiro (onde esteve envolvido numa série de falcatruas e de onde acabou por fugir para Londres), mas isso foi só depois de ter malamanhado um dicionário de língua portuguesa em Portugal, de ter feito um conjunto de traduções do francês que ao que parece eram horrendas, e de ter escrito e publicado este livro. O homem era português, desonesto e incompetente, não necessariamente por esta ordem. Mas a forma de organizar as frases que muitas vezes apresenta tem, hoje, ressonância brasileira.

Curioso, não?

De resto, o livro só tem o interesse histórico de mostrar que já em meados do século XIX se escrevia em Portugal fantasia de inspiração medieval. Fora isso... É um mau livro, com uma má história mal contada por um mau escritor. Está longe de ser o único. Mas isso também é educativo, porque há por aí muita gente que parece estar convencida de que tal fenómeno é coisa dos últimos 5, vá, 10 anos no máximo. Não é. Muito, muito longe disso.

Lido: Os Cristais

Os Cristais (bib.) são mais um conto de Italo Calvino sobre o alienígena Qfwfq e as suas várias andanças pela história da Terra. Desta vez, acompanhamos a lenta solidificação da crosta, a formação dos diamantes, rubis, topázios, quartzos e ametistas ao mesmo tempo que vamos observando a frenética vida de Qfwfq em Nova Iorque, rodeado de grandes estruturas geométricas de aço e vidro, reminiscentes das estruturas cristalinas geológicas. É, pois, um conto em dois tempos, a que se acrescenta uma sempiterna discussão entre Qfwfq, que admira a pureza do cristal e defende que é essa a essência de tudo, e Vug, uma velha namorada, que pelo contrário tem atração pela impureza. Um conto bastante complexo, ainda que curto, e muito bem construído, mas que me deixou mais frio do que os anteriores.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Lido: Outros Brasis

Outros Brasis é uma coletânea de história alternativa bastante "impura", de Gerson Lodi-Ribeiro. E chamo-lhe impura porque as suas quatro histórias, duas a representar um universo ficcional, e outras duas a representar outro, são primordialmente HA, com certeza, mas também são outras coisas, o que só lhes empresta mais riqueza. O universo dos Três Brasis vai beber (beber, topam? Trocadilho!) ao horror por intermédio do protagonista da maior parte das suas histórias, o vampiro Dentes Compridos. Mas, como este não é propriamente sobrenatural, antes uma criatura criptozoológica oriunda, presume-se, da Terra, também pode encarar-se estas histórias como FC. Já o outro universo, Pax Paraguaya, é por vezes abordado como HA razoavelmente pura, nomeadamente no primeiro conto aqui presente, mas por vezes também é fortemente contaminado com conceitos e abordagens de ficção científica.

Também por isso é uma boa coletânea. As histórias, embora por vezes se tornem muito descritivas, são inteligentes e estão bem escritas. Se o seu caráter descritivo pode afastar alguns leitores mais orientados para a ação, não é menos verdade que para outros a quantidade de pormenores que Lodi-Ribeiro fornece só torna a leitura mais saborosa. Pessoalmente, gosto mais das histórias da Pax Paraguaya do que das dos Três Brasis (refiro-me, claro, às presentes neste volume; o universo dos Três Brasis inclui mais histórias), mesmo apesar de me faltar, como português que sou, informação de base sobre a história real que a alternativa altera. Mas tanto umas como as outras valem bem a pena e quando foram reunidas neste livro cada um dos universos alternativos teve ainda direito a uma introdução, também ela interessante.

O que achei das histórias pode ser lido aqui:

Lido: A Ética da Traição

A Ética da Traição (bib.) é outra noveleta de Gerson Lodi-Ribeiro, pertencente à sua série de história alternativa Pax Paraguaya, tal como Crimes Patrióticos. Mas é uma daquelas histórias alternativas que podem enquadrar-se com igual propriedade na ficção científica. A ação decorre muitos anos depois da de Crimes Patrióticos, em pleno século XX, mas num século XX necessariamente diferente do nosso. O protagonista é um genial físico brasileiro, negro, que decide desertar do seu país após ter destruído a pesquisa que aí realizara porque os seus governantes estavam a pretender usá-la para fins que não considerava éticos. Há esta continuidade de tema entre os dois trabalhos: as decisões individuais sobre lealdade e identidade e aquilo que está certo, postas em confronto com o comportamento que a sociedade como um todo (ou cada sociedade individual, pelo menos) espera dos seus membros.

Mas aqui é dada ao argumento uma volta muito ciencio-ficcional. O trabalho do físico desertor tinha a ver com o tempo. Primeiro em teoria e depois na prática, ele tinha construído uma espécie de "janela" que lhe fornecia uma visão de outros períodos históricos... só que quando apontava essa janela para o seu próprio tempo não via o mundo que o rodeava, aquele em que o Paraguai ganhou a guerra da tríplice aliança, mas sim o nosso, em que a perdeu. Universos paralelos? Precisamente. O Brasil dele é muito mais pequeno do que o nosso, mas ao mesmo tempo muito mais justo. E quando as autoridades brasileiras procuram levá-lo a investigar uma forma de transformar a linha temporal em que vive na nossa, ou em algo de parecido à nossa, ele vê-se confrontado com um dilema.

Esse dilema é a parte mais interessante da história, aquilo que lhe confere coluna vertebral e estrutura. O resto, a camada superficial da noveleta, é uma história de espionagem. Logo ao iniciarmos a leitura encontramos o físico incógnito num barco fluvial que o levará ao Paraguay, mas rodeado de agentes secretos das várias nações interessadas no desenlace da história. E esses agentes não vão ficar de braços cruzados, naturalmente.

É uma história excelente. Se não for a minha história preferida do Gerson, está certamente num top qualquer. Muito bom.

Lido: Como Plash-Goo Chegou à Terra Indesejada

Sim, senhores. Adivinharam. Como Plash-Goo Chegou à Terra Indesejada é, de facto, um conto do Lorde Dunsany. E conta, por tremenda coincidência, o modo como Plash-Goo chegou à Terra Indesejada. Nunca o adivinhariam, certamente. Lendo-o ficamos a saber que Plash-Goo, não sendo propriamente um gigante, é um descendente de gigantes, e portanto a atirar para o grande, e que um belo dia tanto se irritou com um anão que vivia ali perto e se chamava Lrippity-Kang que se pôs à bulha com ele. E parece que foi assim que foi parar à Terra Indesejada. É mais um dos pequenos e divertidos contos de fantasia de Dunsany, é sim senhores.

Lido: Paisaje

Ainda na mesma página, desce-se mais um bocadinho e encontra-se o décimo quinto conto. Intitula-se Paisaje e foi escrito pelo argentino Claudio Alejandro Amodeo. É um pequeno conto escrito numa prosa bastante poética, com um ambiente mais surrealista do que propriamente fantástico, no qual a viagem no tempo não faz mais do que entrever-se. É também um conto bastante inconsequente, que acabou por não me dizer grande coisa. Não posso, portanto, dizer que gostei. Tem algumas imagens curiosas, mas pouco mais. Soube-me a pouco, e não por causa do tamanho.

Lido: La Primera Máquina del Tiempo... y la Última

Descendo mais um conto na tal página, até ao décimo quarto, encontramos La Primera Máquina del Tiempo... y la Última, de José Carlos Canalda. Trata-se de uma homenagem ao livro de Wells, ou mesmo duma espécie de fanfic. O viajante no tempo chega ao futuro longínquo e depara com um edifício identificado com um letreiro que ele consegue (milagrosamente) decifrar. "Indústrias Cárnicas Morlock", diz o letreiro. E o viajante no tempo, confundido com um eloi, vai ser obrigado a enfrentar o seu destino. Não gostei lá muito deste conto. Não me pareceu particularmente bem construído, e toda a ideia me pareceu algo óbvia demais.

Lido: Una Antigua Máquina del Tiempo

Ainda na mesma página, descemos até à décima terceira história e encontramos Una Antigua Máquina del Tiempo, do espanhol Raúl Alejandro López Nevado. Trata-se de um conto irónico e bem concebido, repleto de subtileza, e que, levando o leitor pela mão numa determinada direção, lhe acaba por apresentar precisamente o que o título indica: uma antiga máquina do tempo. Realmente antiga. E por aqui me fico; o conto é muito curto e dizer mais seria revelar demais. Muito bom.

Lido: El Libro

A décima segunda história daquela página em espanhol que tenho visitado bastante nos últimos tempos intitula-se El Libro e foi escrita pelo espanhol José Vicente Ortuño. Trata-se de uma brincadeira com um dos principais paradoxos das viagens no tempo: o do viajante para o passado que interfere com o seu curso normal. Se a intenção do conto não fosse humorística, podia-se pegar numa série de buracos que o argumento contém (o principal: então algum cientista viajante no tempo, necessariamente consciente da possibilidade de paradoxos, iria contactar H. G. Wells e agradecer-lhe pela inspiração? Nem por sombras.) para contestar a qualidade da obra. Mas é, e o final do conto funciona como um remate da piada muito bem conseguido. Uma história divertida, portanto.

Lido: Noite de Verão

Noite de Verão é também uma crónica de José Saramago, esta intimista, onde ele revela que tinha planeada uma crónica amarga sobre o estado no mundo, mas foi dar um passeio e, perante a bonança da noite de verão e o doce abandono dum casal de namorados deitado na relva de um jardim, não conseguiu dar sequência à crónica que estava prevista. Um texto bonito e, para variar, esperançado. E realmente convém variar de vez em quando. As coisas sempre iguais tornam-se chatas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lido: Cada Vez Mais Sós

Cada Vez Mais Sós é outra crónica de José Saramago em que ele faz referência ao espaço e à FC. Aquilo que lhe deu origem terá sido a passagem pelo planeta Marte, com seis dias de intervalo, das sondas americanas Mariner 6 e 7, e que terão enviado para a Terra fotografias que provavam sem margem para dúvidas que Marte era um planeta morto. Ainda que essas dúvidas se tenham reacendido várias vezes desde então, na época as fotos das Mariner representaram um fim definitivo para a imagem bradburiana (e lowelliana e wellsiana e de tantos outros) de Marte como um planeta moribundo, carente de água, habitado por uma raça antiga em lenta mas inexorável decadência. Na sua crónica, sem deixar de fazer uma referência a Bradbury, Saramago manifesta o seu desapontamento por estarmos sozinhos no sistema solar, rodeados de mundos sem vida. Vai saltando de mundo em mundo, para acabar por descer à Terra, único local de vida, e à responsabilidade humana por a manter viva. Para mim, hoje, o mais chocante é um número. Quando escreveu a crónica, há pouco mais de 40 anos, Saramago vivia neste planeta acompanhado de três mil milhões de seres humanos. Hoje somos seis. O dobro. É aterrador.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Lido: Um Salto no Tempo

Apesar do título, Um Salto no Tempo não é uma história de FC, embora com ela tenha a ver. Trata-se de mais uma crónica de José Saramago, de novo sobre a primeira alunagem, mas mais ainda sobre o modo como o cronista vê a Terra. Depois de ver a alunagem, diz Saramago aos seus leitores, a sua imaginação sugeriu-lhe que o que realmente vira não tinha sido uma viagem no espaço, da Terra à Lua, mas uma viagem no tempo, da Terra de agora a uma putativa Terra futura cuja paisagem, apropriadamente apelidada de lunar, em tudo se assemelharia à Lua que os astronautas visitaram. Uma Terra destruída pelos atos dos homens, cujas crateras, supõe-se, ainda que ele não o afirme, seriam o resultado do aniquilamento da guerra. Vivia então Saramago num país que travava três guerras; no Vietname outra guerra se enfurecia, e entre EUA e URSS a guerra fria ameaçava tornar-se quente a qualquer momento. Bem se compreende a angústia do cronista.

Lido: A Lua que eu Conheci

A Lua que eu Conheci é uma crónica de José Saramago, na qual ele conta uma historiazita que se terá passado com ele quando mais jovem, uma historiazita de campismo selvagem e de efeito de horizonte (aquele efeito que faz com que a Lua pareça maior quando está perto do horizonte), tudo isto a propósito do pequeno passo do Neil Armstrong. Quando Saramago escreve a crónica andam Armstrong e Aldrin aos saltos na Lua, e o cronista manifesta-se dividido entre o entusiasmo pelo feito e a pena por o desvendar de um novo mundo real e palpável roubar à Lua a sua condição de símbolo poético. Não sendo dos melhores textos do livro, tem o seu interesse.

Lido: O Mosteiro Abandonado

O Mosteiro Abandonado (bib.) é um conto curto fantástico de António de Macedo, ambientado na Guerra da Restauração, numa das muitas escaramuças fronteiriças em que esse conflito terá sido fértil. No conto de Macedo, um destacamento militar espanhol entra por Portugal adentro por teimosia do seu comandante, à revelia dos maus presságios que teriam aconselhado contra a incursão. E, claro está, os presságios cumprem-se: o destacamento vai sendo engolido pela terra, homem a homem, numa noite de trovoada e chuva torrencial, deixando vivos apenas o comandante e o padre às portas dum velho e fantasmagórico mosteiro vazio.

E daí talvez não, talvez as coisas tenham acontecido de forma bem diferente.

Foi um conto que me agradou, confesso que com alguma surpresa. Não costumo gostar das prosas de António de Macedo, embora já tenha acontecido, quase sempre quando ele se dedica ao fantástico mais tradicional e não abusa dos esoterismos, como neste caso. O conto não me terá agradado assim muito, propriamente, mas achei-o bom.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Lido: As Intermitências da Morte

Apesar de já ter ouvido dizer que este livro era bem capaz de ser o mais ligeiro de todos os livros de Saramago, mesmo assim me senti surpreendido com o quão ligeiro As Intermitências da Morte (bib., muito incompleta) consegue ser, ainda para mais tratando um tema, a morte, precisamente, com um peso intrínseco tão grande. Este romance quase pode ser classificado como comédia. Bem longe de nos mostrar a morte com as suas tradicionais roupagens tristonhas, terríveis e macabras, apresenta-nos uma personagem muito humana, muito feminina, muito cheia de vida, que começa por querer pregar uma lição à humanidade e acaba por ser ela a aprender algo de novo.

Para quem não sabe, porque há sempre quem não saiba, o enredo começa num acontecimento dos mais inesperados: num belo dia de ano novo a morte para de trabalhar. As pessoas simplesmente deixam de morrer. Moribundas, sim, podem ficar. Em coma, até. Em situações irreversíveis. Mas morrer mesmo, dar o passo final, colocar o derradeiro ponto final nas histórias das suas vidas, isso ninguém faz. Não por todo o lado, note-se. Só num país em particular que, embora em muitas coisas se pareça muito com o nosso, não é o nosso. Do outro lado da fronteira, tudo continua a acontecer como sempre aconteceu e as vidas acabam como sempre acabaram. Do lado de cá, seja lá este cá onde for, não.

A primeira parte do romance vai descrevendo o impacto que esta inesperada ausência de morte vai tendo no tecido social. Com um humor bastante corrosivo e não pouco cínico, há que dizê-lo. São aqui revelados os interesses corporativos, os conflitos entre aqueles que com o fim da morte veem o seu ganha-pão ameaçado e os que, pelo contrário, encontram aí uma nova oportunidade de negócio. Muito em particular os que desenvolvem os negócios à margem da lei.

Mas a páginas tantas o romance muda de figura e de caráter. Aí, somos apresentados à personagem principal propriamente dita. A morte, que entretanto voltou ao trabalho ainda que em moldes algo diferentes. Uma mulher que daí em diante vai servir de esteio para o livro. Ela e um músico que por qualquer motivo que escapa a ambos se recusa a morrer. A ele, o motivo escapa porque provavelmente nada sabe sobre ter a vida em causa (ainda que haja algumas referências a ter 500 anos de idade, elas não são muito claras e de qualquer maneira, mesmo que seja de facto extraordinariamente longevo, é claro que não sabe porquê); a ela porque não percebe o que se passa, porque não funciona o sistema com aquela pessoa em particular. Chamem-lhe brio profissional, chamem-lhe o que quiserem, o certo é que a morte não aceita deixar as coisas assim e vai tentar descobrir o que se passa com a morte adiada daquele homem, se bem que o que acaba por realmente encontrar seja algo bem diferente duma resposta. Algo que justifica a vida. O amor.

Ou seja, o livro acaba por ter duas caras bem diferentes uma da outra, acaba por ser dois livros num só, e foi precisamente esse corte, essa mudança radical de abordagem, que nele me pareceu menos interessante. É como se Saramago se tivesse cansado da sociedade, se tivesse fartado de ser irónico e corrosivo, se tivesse subitamente suavizado e decidido contar uma história diferente, mais centrada nos sentimentos do que nas grandes tendências sociais. Não será por acaso que o livro é dedicado a Pilar del Río. Não que essas duas partes não sejam interessantes, cada uma à sua maneira; mas a sua união num livro só não me convenceu por inteiro.

Mas é um romance de Saramago, sem dúvida. Melhor: é um romance de Saramago cheio de humor e de alfinetadas bem dadas. E embora esteja algo distante dos melhores dos seus livros, também me pareceu bem melhor do que romances como A Caverna ou O Homem Duplicado. Não acho que seja obra-prima, nem perto disso. Mas gostei bastante.

Lido: Os Meteoritos

Os Meteoritos (bib.) é um delicioso conto curto de Italo Calvino que descreve a formação da Terra de uma forma muito peculiar. Contado, claro está, pelo eterno alienígena Qfwfq, informa-nos que quando o nosso planeta nasceu o dito Qfwfq achou a coisa toda uma grande maçada, porque a Terra foi crescendo graças à queda contínua de todos os tipos de lixo e porcarias. O conto está tão semeado de listas de detritos como a terra de então estava de detritos, "tapetes, dunas de areia, edições do Alcorão, poços de petróleo, uma mixórdia absurda das mais díspares bugigangas", como se diz a páginas tantas. Qfwfq estava então casado com uma tal Xha, que fazia prodígios para ir mantendo o planeta em ordem apesar da chuva de tralha. Viviam, julgava ele, sozinhos na Terra. Mas depois descobre que não, descobre que também existe outra mulher, com uma atitude bem diferente relativamente a toda a confusão do nascimento do planeta. E a consequência de tal descoberta é aquela que tinha de ser. Divertidíssimo, muito surreal e muito bem escrito. Excelente.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Lido: Por Outros Mundos

Quando leio um livro, seja de que género for, há poucas coisas que me irritam mais do que sentir que o autor está a gozar com a minha cara, que está a escrever disparates com plena consciência de que é isso que está a fazer, cinicamente convencido de que para quem é bacalhau basta, de que os leitores não são suficientemente conhecedores ou inteligentes para detetar as asneiras.

Justamente ou não, foi assim que me senti ao ler este Por Outros Mundos (bib.), de A. A. Attanasio.

O romance está cheio de referências, é certo. Há quem ache que isso é uma qualidade em si mesma, mas para mim só o é se essas referências se integrarem num todo válido. São referências à banda desenhada, são referências às histórias aventurescas da era da FC pulp, são referências ao surrealismo, em particular ao pictórico, etc. O núcleo é o de uma história de fantasia caótica, daquelas carregadinhas de deus ex-machina, daquelas em que sempre que surge no enredo alguma complicação súbita o autor arranja mais um passe de mágica, mais um abracadabra, para que a história possa prosseguir. Literalmente. Há partes da história em que o protagonista anda pela Terra (ou por uma Terra alternativa) revestido por uma "armadura" mágica e de varinha igualmente mágica na mão. A cobrir este núcleo de fantasia, há uma camada extremamente disparatada de FC. O protagonista é sugado para o interior da singularidade dum buraco negro, onde há umas ilhas flutuantes (skyles, ilhas de céu, que o tradutor, João Barreiros, resolveu deixar em inglês) e vivas, uma espécie de aranhetas (dez anos antes das do Barreiros, pois) más como as cobras que se alimentam duma espécie de pessoas que não são bem pessoas (e porque raio haveria de haver pessoas num buraco negro?! Ou aranhetas? Ou ilhas flutuantes?!) e onde alguém se esqueceu de que devia haver também uma gravidade tão forte que nem a luz de lá consegue sair. Pois é essa a definição de buraco negro.

Tenho uma enorme dificuldade em entender como é possível que se teça rasgados elogios a uma coisa destas ao mesmo tempo que se ataca ferozmente o pobre autor X ou Y por ter tido o desplante de escrever contos passados na superfície de Júpiter. Pois o calibre da asneira, aqui, consegue ser ainda maior.

O que mais irrita é que o cenário construído para o interior do tal buraco negro é imaginativo e consegue, a espaços, ser fascinante. Podia ter sido o melhor do livro. Podia até tê-lo salvo, talvez. Tivesse o autor evitado colocar a ténue pátina da FC sobre a história de fantasia que queria contar, tivesse tratado este livro como a história de fantasia que realmente é, tivesse metido as ilhas flutuantes num qualquer universo paralelo imaginário em vez dum buraco negro, tivesse removido toda a muito pateta pseudociência com que o encheu, muito mais facilmente se suspenderia a descrença, não haveria o choque da asneirada porque esta não existiria, e toda a história seria bastante mais palatável. Mas não. Resolveu fazer um daqueles livros que surgem em lugar de destaque naquelas prateleiras para onde os cientistas apontam quando querem mostrar até que ponto a FC consegue ser parva e representar mal o mundo real. Com fórmulas e tudo, bendito seja o Monstro do Esparguete Voador! Se calhar achou que enfiando à pressão umas fórmulas sem nada a ver não nos aperceberíamos do disparate. Não resultou.

A isto soma-se uma história de amor artificiosa — e também aqui o adjetivo é literal pois o amor é inculcado no protagonista por uma das ilhas flutuantes — uns esboços sociológicos sobre como seria uma Terra mais pacífica e unida do que a que temos no mundo real, uns toques de universos paralelos e viagens no tempo, umas personagens que nem de cartolina são, pois a cartolina tem duas dimensões e não apenas uma, e tem-se um livro demasiado ambicioso que procura tratar demasiados temas ao mesmo tempo e não consegue tratar bem nenhum deles, que portanto falha catastroficamente e me deixou uma fortíssima impressão de desonestidade, de não tratar os leitores com um mínimo de respeito. Talvez seja injusta, esta impressão, admito. Mas foi a que ficou. Achei o livro quase detestável. Não fora o cenário surreal das ilhas voadoras e correntes de fluxo, que como disse chega a ser fascinante (embora surja sempre a lembrança: "mas isto está supostamente num buraco negro, raios partam o Attanasio!"), e sê-lo-ia mesmo. Para mim. Mas eu sei o que é um buraco negro; quem não saiba ou esteja disposto a ignorar esse tipo de detalhes talvez até consiga gostar desta história.

domingo, 12 de setembro de 2010

Lido: Crimes Patrióticos

Crimes Patrióticos (bib.), que no livro que estou a ler aparece com o subtítulo de Uma Crônica de Guerras Perdidas, é uma noveleta de história alternativa de Gerson Lodi-Ribeiro, integrada no seu ciclo da Pax Paraguaya. Trata-se de uma história muito complexa, na qual, depois de irmos encontrar um patriota brasileiro prestes a assassinar o seu imperador, que responsabiliza pela derrota do Brasil numa guerra contra o Paraguai, somos levados por um enredado conjunto de histórias comunicantes onde se entrelaçam as vidas desse patriota brasileiro e de um antigo herói confederado, também derrotado na guerra que opôs o seu país aos EUA e desde então servindo como mercenário nos conflitos sulamericanos, e uma série de acontecimentos históricos e alo-históricos das duas Américas do século XIX.

Para o leitor português que sou, falta informação de base sobre a história real subjacente a esta série de história alternativa; nós por cá conhecemos bem melhor a guerra de secessão americana, infelizmente, do que os conflitos em que se viram envolvidos os brasileiros após a sua independência... ou mesmo antes. Mas nesta noveleta isso nem faz muita falta, porque o enredo se centra nas lealdades cruzadas dos dois protagonistas. A história é, além disso, estruturalmente interessante, visto que é em essência construída através duma rede de analepses (é assim que se chama em português aos flashbacks, meninos; aprendam) que abrangem vários anos e apoiam uma ação central que decorre em poucos minutos. É uma história francamente boa, embora seja compreensível que haja leitores que não gostem do seu caráter muito descritivo. Para estes, é provável que uma ficção mais longa (talvez mesmo um romance) que mostrasse todos os acontecimentos que aqui são descritos fosse um prato mais apetecível. Por mim, gostei assim.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Lido: A Torre de Vigia

A Torre de Vigia é outro conto muito curto do Lorde Dunsany. Desta feita, trata-se de um conto de fantasmas, no qual um viajante, presumivelmente inglês, passeia-se por um campo do sul de França, junto de uma velha torre de vigia da época medieval, e aí encontra o fantasma da torre. É um fantasma do tipo obcecado, daqueles que têm uma ideia fixa e passam a eternidade presos a ela. No caso, a ideia fixa do fantasma é o perigo sarraceno, e boa parte do conto é uma conversa entre o fantasma e o (muito fleumático) viajante, na qual este tenta convencer aquele de que o perigo dos sarracenos já não existe, ao que aquele retorque que o interlocutor não conhece até que ponto são insidiosos os infiéis. Pareceu-me ser um conto algo banal, em que Dunsany, em vez de desbravar território para os escritores que vieram depois, resolveu revisitar territórios já muito batidos por escritores que vieram antes, ainda que com a originalidade de substituir o típico castelo inglês das histórias góticas por uma velhíssima e arruinada torre de vigia. Bom, mas não muito.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Lido: Los Tres Cavernícolas

De regresso à tal página e procurando a décima primeira história sobre viagens no tempo, deparamos com Los Tres Cavernícolas, do argentino Diego E. Gualda. Minúscula, com estrutura e filosofia de anedota, dá para um sorrisinho se o leitor estiver predisposto para isso. Nada mais.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Lido: A Neve Preta

A Neve Preta é outra crónica de José Saramago. Uma crónica poderosa que, apesar do título parecer talvez indicar o contrário, nada tem a ver com contos fantásticos. Uma crónica sobre crianças e o modo que elas têm de compreender o mundo. Uma crónica, em suma, sobre uma criança em concreto que, um belo dia, numa aula, ao fazer um desenho sobre o natal, decide pintar de preto a neve que cai porque está a representar o natal em que a mãe lhe morreu. Uma crónica magnífica.

Lido: Coração e Lua

Coração e Lua é uma crónica algo romântica de José Saramago na qual ele reflete um pouco sobre os mitos que a cultura humana desenvolve em volta de certas coisas, em particular o coração e a Lua. Algo romântica, disse eu? Sim, pois expressa-se alguma pena por o progresso no conhecimento humano ir desvendando a irracionalidade dos mitos, apesar de também se expressar confiança na capacidade dos homens para inventar novos. A crónica é romântica, pois, mas tem os dois pés muito bem assentes na terra, e traz também consigo uma dose de humor que está longe de poder ser considerada insignificante.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Lido: O Céu de Pedra

O Céu de Pedra (bib.) é um conto de Italo Calvino que nos fala de uma infeliz história de amor entre Qfwfq e Rdix, na qual o primeiro reivindica para si a condição de verdadeiro terrestre, pois vive no interior da Terra ao contrário de nós, obviamente extraterrestres dado vivermos no seu exterior. Rdix é a sua amada, igualmente habitante das profundezas ígneas do planeta, mas que, para infelicidade de Qfwfq, sofre de um estranho fascínio por aquilo que está do lado de fora. Com tal divergência de entusiasmos e aspirações, forçosa seria a conclusão infeliz para o romance, e o final é o que tinha de ser. É um conto fantástico muito imaginativo (apesar de recuperar a ideia já bastante batida das Terras subterrâneas) e bastante divertido, além de também estar muito bem escrito. Aprovado.