quinta-feira, 30 de julho de 2015

Lido: 2014 Campbellian Anthology - Brooke Bolander

Brooke Bolander está presente com três contos.

Her Words Like Hunting Vixens Spring. Trata-se de um conto de fantasia, ou talvez de horror, ambientado algures no Oeste norte-americano, protagonizado por uma mulher que persegue a cavalo um antigo noivo, em busca de vingança pelo que lhe terá feito e por lhe ter matado os irmãos. Uma caçada difícil, que o homem é hábil, mas para a qual conta com a ajuda de raposas que vai misteriosamente vomitando. Um conto literariamente muito forte, com menos ação e mais situacional do que esta breve sinopse pode levar a crer, mas com ritmo e uma boa estrutura. Francamente bom.

Sun Dogs. Este é um conto de ficção científica, ou talvez seja mais adequado chamar-lhe fantasia espacial, também muito forte literariamente e muito situacional, sobre a viagem espacial da cadela Laika. Não sabem que cadela é? Tsc tsc tsc. Imperdoável. É outro conto muito bom, que se põe no lugar da cadela de uma forma tão eficaz que consegue levar quem lê à acanhadíssima cápsula Sputnik, embora tome algumas liberdades com a sua estrutura: aqui, uma janela tem importância fundamental no enredo, quando na verdade os primeiros Sputnik eram basicamente esferas de aço, sem qualquer espécie de janela.

The Beasts of the Earth, the Madness of Men. Trata-se de um conto obsessivo, muito semelhante ao primeiro no sentido em que também aqui a protagonista é uma caçadora destroçada que persegue a sua presa apesar de todos os obstáculos. Mas enquanto no primeiro o motor era o ódio, aqui é uma estranha espécie de amor, como se estivéssemos na presença de uma versão feminina do capitão Ahab de Melville... e, de facto, a presa (será realmente uma presa?) é uma baleia. Mais um conto literariamente muito forte, mais um conto sobretudo situacional, situado algures entre a fantasia e o horror.

Brooke Bolander é uma boa escritora.

Lido: 2014 Campbellian Anthology - Erik Bear et al

Segue-se um grupo de quatro autores, Erik Bear, Joseph Brassey, Nicole Galland e Cooper Moo, presentes com mais um excerto de romance, escrito com autores já estabelecidos (Neal Stephenson, Greg Bear e Mark Teppo) e intitulado

The Mongoliad. Book One. Trata-se de uma fantasia histórica, ambientada na Europa oriental durante a época das invasões mongóis, que faz parte de um projeto de universo partilhado (o que explica o número elevado de autores), não limitado à literatura e que, nesta, pretendeu (e pretende, visto que continua em atividade) explorar formas de publicação alternativas à tradicional, muito embora este livro tenha acabado também por sair numa edição normal. E o excerto é interessante, apesar de parecer seguir um tipo de estrutura bastante banal na fantasia comercial — um grupo variegado de aventureiros junta-se e põe-se em viagem por territórios assolados por violências de vários tipos, a fim de alcançar algum objetivo. Mas tudo isto é algo incerto, pois o excerto, comporto pelos três primeiros capítulos do livro, pouco ultrapassa a caracterização inicial das personagens e dos ambientes.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Lido: 2014 Campbellian Anthology - Kelsey Ann Barrett

Kelsey Ann Barrett está presente nesta antologia com um único conto, intitulado:

My Teacher, My Enemy. Trata-se de um conto bizarro, brutal e sanguinário sobre um aprendiz de guerreiro que para se tornar guerreiro tem de sobreviver a uma última caçada... mas uma caçada humana, de matar ou ser morto, contra outros candidatos a guerreiros. É um conto de horror, no sentido em que tudo aquilo que é descrito é horrendo, incluindo o modo como, após cada morte, o protagonista obtém os conhecimentos de quem acabou de matar vestindo a sua pele. E também é um conto francamente bom. Um conto cheio de ritmo, bastante bem escrito numa primeira pessoa bem construída e cheia de personalidade, que vai entregando a informação necessária nos momentos e nas quantidades certas. Poderá repugnar os menos inclinados a este tipo de prosa, mas a ideia é precisamente essa. Aprovado.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Lido: 2014 Campbellian Anthology - Mark T. Barnes

Mark T. Barnes está presente com dois excertos de romances, muito semelhantes um ao outro, uma vez que fazem ambos parte da mesma série. Intitulam-se:

The Garden of Stones e The Obsidian Heart

Trata-se de fantasias ambientadas num mundo onde existem restos de construções e misteriosa maquinaria de antiquíssimas civilizações, o que traz à memória a célebre frase de Clarke sobre a tecnologia suficientemente avançada ser indistinguível da magia e levanta suspeitas sobre podermos estar perante uma ficção científica fortissimamente disfarçada. No entanto, se assim é, o disfarce é tão carregado que as suspeitas não conseguem ser mais que ténues. Pelo menos nestes excertos, a fantasia parece ser razoavelmente pura. E bastante banal, também, pois a escrita nunca ultrapassa a mera competência e o enredo obedece fielmente às características básicas da fantasia de inspiração feudal, com os seus heróis e vilões, reinos, nobres e mercenários, aventuras e maquinações.

Foram, pois, dois longos excertos que não me despertaram interesse quase nenhum pelos livros completos. Ou seja: não cumpriram a sua função.

domingo, 19 de julho de 2015

Lido: Chamada

Chamada é outro texto do Nilton, bastante mais curto mas com bastante mais graça do que o primeiro. Usando eficazmente o absurdo para obter humor, conta a história de Alcides, um homem que tenta contactar telefonicamente consigo próprio. Nonsense quanto baste, esta historinha, quando vista sob outro prisma, também pode ser facilmente enfiada na gaveta do surrealismo. Faz lembrar um pouco alguns contos do Mário-Henrique Leiria, pela extensão e em parte pela atmosfera, se bem que ao Nilton falte a irreverência política de que Leiria raramente se afastava.

Bonzinho.

Textos anteriores deste livro:

Lido: 2014 Campbellian Anthology - James Bambury

James Bambury também só está presente nesta antologia com uma história, de título...

Thirteen Generations. Este é um conto de ficção científica laboratorial onde se mistura a evolução biológica com a dos algoritmos genéticos. É uma história curiosa, com uma certa profundidade, que pode levar o leitor a isso inclinado a refletir sobre as virtudes e a condenação que existem na consciência de si mesmo e da finitude da vida. O conto é bastante inverosímil enquanto futuro desenvolvimento científico, postulando uma consciência de nível humano, ou até talvez superior, em organismos (totalmente artificiais?) aquáticos e presumivelmente bastante pequenos, que comunicam com o experimentador através de batimentos de cílios, mas a verdade é que o que o autor pretende com esta história está bem longe desse tipo de considerandos. Não foi conto que me tivesse enchido as medidas, talvez devido em parte à sua brevidade, mas é uma história com interesse.

Lido: Vozes

Vozes é uma historieta do Nilton sobre um homenzinho, um tal Frederico, que tem a singular característica de ouvir vozes. Podia ser uma historieta sobre a loucura ou sobre qualquer coisa de paranormal, sobrenatural, etecetera e tal, mas o final, a punchline da piada, transforma o texto noutra coisa. Nada de errado nisso, note-se, não fosse o facto de se tratar de um final tão anticlimático, tão seco, que nem para sorrir chega.

Fraquito.

Textos anteriores deste livro: