quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Lido: Divagações da Caixa-Preta

Se bem me lembro, ainda não tinha encontrado neste livro de Luiz Bras dois contos consecutivos desprovidos de qualquer relação com FC, mas é o que acontece agora, com este Divagações da Caixa-Preta a seguir-se a Famigerada Fome.

Mais uma vez, trata-se de um conto de horror, e mais uma vez para falar dele é impossível não revelar detalhes importantes do enredo, portanto aconselho vivamente quem tem pavor aos famosos spoilers a parar de ler neste preciso momento.

O título, mesmo misterioso como é, diz tudo sobre o que o conto é: uma divagação, em prosa de muito boa qualidade com uma mistura interessante entre acutilância e poesia, de alguém que está reduzido à pura consciência, depois de ter perdido o contacto com o mundo ao desaparecerem, um após um, todos os seus cinco sentidos. E está tão bem feito que quando o leitor se apercebe de que é isso o que se passa o arrepio é inevitável (mesmo que cientificamente a coisa seja algo insegura, pois os sentidos humanos são bastante mais que cinco).

Outro conto bastante bom, portanto.

Textos anteriores deste livro:

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Lido: O Príncipe das Palmas Verdes

O Príncipe das Palmas Verdes, um dos muitos contos recolhidos por Adolfo Coelho em Ourilhe, uma minúscula terreola de Celorico de Basto (e não deixa de ser curioso que tanto deste livro tenha vindo de terra tão pequena), é uma das muitas histórias tradicionais, algumas famosíssimas, em que uma pobrezinha acaba casada com um príncipe.

É aí, no entanto, que terminam as semelhanças com histórias como a da Cinderela. A pobrezinha deste conto anda a roubar por necessidade, por não ter o que comer, e é ao fazê-lo que dá com um buraco onde vai encontrar uma mesa posta à semelhança da célebre história dos três ursos e da Caracóis Dourados. Mas aqui não eram ursos os donos da mesa, mas sim "uma pessoa" que a engravida e vem mais tarde a revelar-se o tal Príncipe das Palmas Verdes, que na altura estava enfeitiçado.

Este engravida-a mas acaba por expulsá-la, ainda grávida, obrigando-a a voltar à vida de miséria e a fazer o que for preciso para sobreviver, agora com uma criança nos braços. Mas, claro, histórias destas acabam quase sempre no "e viveram felizes para sempre" e esta, depois de uma série de peripécias, não é exceção.

Mas é uma história interessante. Interessante em boa medida porque, mais uma vez, tem pano para longas mangas de desenvolvimento em histórias maiores e mais elaboradas. Também interessante muito por causa da espécie de moralidade que nela vem incluída. A protagonista é uma boa rapariga com má sorte e comete atos reprováveis porque a vida a força a isso, não porque seja essa a sua natureza imutável. Isto, que segundo tudo indica brota diretamente da forma de estar mais profunda do povo português, está bem longe do puritanismo importado de outras paragens. Posso enganar-me — ainda não as li todas, longe disso — mas parece-me que dificilmente se encontrará uma história assim entre as que foram recolhidas e retrabalhadas pelos Grimm. E isso é para mim muito interessante. Mesmo.

Contos anteriores deste livro:

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Lido: O Enigma da Cartola

Uma das lacunas mais sérias na minha cultura literária é nunca ter lido Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll. O livro, traduzido, até está aqui ao lado, enterrado algures nas imensas pilhas de material para ler que fui acumulando, e tenho também a versão original em ebook, distribuída com um dos leitores de ebooks que descarreguei para o tablet, mas ainda não calhou pegar nele e lê-lo de fio a pavio.

Em parte isso deve-se a eu até já conhecer razoavelmente bem a história, graças a várias adaptações a vários media com que me fui cruzando ao longo da vida, especialmente em miúdo. Entre uma história que conheço mas no fundo se calhar nem conheço e outra que de certeza não conheço tenho até agora preferido sempre pegar nesta última, e a pobre Alice foi ficando para trás. Isso há de mudar um dia, espero eu. Até porque até que mude fico coxo quando encontro contos como este O Enigma da Cartola.

Porque esta história de Carina Portugal é declaradamente uma homenagem a Lewis Carroll e à sua obra mais conhecida.

E pareceu-me bem feita. Sem as fragilidades que tenho encontrado em outros contos da autora, e bastante fiel ao que conheço do universo e ambiente de Carroll, esta é uma historinha divertida sobre uma cartola que desaparece deixando no ar uma nuvem de suspeitas amalucadas quase tão substancial como o gato de Cheshire. E claro que no fim tudo se esclarece. Amalucadamente.

Não posso aferir ao certo até que ponto chega a fidelidade a Carroll, nem que grau de originalidade a Carina insufla nesta sua espécie de fanfic, se é que insufla alguma, pelo que não consigo formar uma opinião definitiva sobre ela. Mas não desgostei do que li.

Textos anteriores deste livro:

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Lido: Famigerada Fome

Muitos dos contos deste livro de Luiz Bras têm qualquer coisa a ver com ficção científica. Geralmente é uma FC bastante "impura", muito contaminada com outras coisas, ou é sobretudo outras coisas com alguns elementos de FC, mas são raros os que estão totalmente despidos de ficção científica. Famigerada Fome é um destes raros contos. Um conto de horror canibalístico (e, sim, alegórico). E atenção que não posso dizer sobre ele o que pretendo dizer sem uma quantidade razoável de spoiler. Estão avisados.

O protagonista-narrador é um assassino em série cuja insaciável curiosidade por compreender o feminino o leva a investigar, de uma forma bastante sui generis, mulheres atrás de mulheres. Muito bem escrito e muito bem concebido, com a dose certa de suspense e mistério e uma pequena reviravolta final que faz com que tudo ganhe uma perspetiva subtilmente nova, este é outro dos contos bastante bons incluídos neste volume.

Ah, sim, e onde está a alegoria? Bem, é que também é inteiramente possível uma leitura menos literal desta história, uma leitura segundo a qual o protagonista-narrador é apenas um homem bem mais comum, bem menos monstruoso, e as suas presas são simples conquistas, uma sucessão delas, que matam uma fome de outro tipo e lhe fornecem outra espécie de informação sobre a natureza do feminino.

Textos anteriores deste livro:

Lido: O Conde de Paris

Há algumas histórias de fantasia, maravilhoso, horror, etc., em que os elementos supranaturais são óbvios: coisas que aparecem e desaparecem, pessoas que se transladam de e para mundos secundários, forças e criaturas misteriosas que se manifestam de forma palpável, por aí fora. Outras, no entanto, dependem de interpretação. E O Conde de Paris, recolhido por Adolfo Coelho em Coimbra, é uma destas últimas.

E também é daquelas histórias protagonizadas por reis e princesas, muito comuns nos contos tradicionais. Neste caso acrescentadas de um conde, o de Paris, com quem o rei trata o casamento da filha. Mas a filha não está pelos ajustes e o conde, espertalhão, decide dar-lhe uma ensinadela. Como? Por intermédio de um preto (assim mesmo), que seduz a princesa ao ponto de ela fugir com ele. Ora, se a maioria dos pretos na Europa de hoje em dia não têm propriamente a vida facilitada, na Europa oitocentista (época da recolha; a história é provavelmente anterior) muito menos, e portanto a princesa vai passar por uma série de dificuldades e indignidades.

No fim revela-se que o preto sempre foi o Conde de Paris, que acaba por casar com a princesa e foram muito felizes para sempre como é da praxe. Não fica claro é como passou o conde por preto durante meses, talvez anos. Disfarce? Metamorfismo? Interpretando de uma forma, temos realismo (ainda que inverosímil), interpretando da outra, temos magia, logo fantasia. Ou seja, no fundo, temos aqui uma aproximação clara aos casos que Todorov tipifica na sua definição de fantástico, ainda que de uma proveniência bem distinta. E quanto ao conto em si, é daquelas histórias que bem espremidas davam para muitas mais páginas do que as duas que ocupa. Há várias assim neste livro, o que não deixa de ser interessante.

Contos anteriores deste livro:

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Lido: Sortilégio, Feitiço e Magia

E de repente, sem que nada o anunciasse nem fizesse prever, eis que neste livro de Carina Portugal, depois de uma série de contos, surge um poema.

É frequente encontrar-se poemas nos romances de fantasia, para mal dos meus pecados de tradutor pois trazem sempre uma dificuldade acrescida à tradução. Sendo geralmente poemas bastante clássicos na sua estrutura, muitas vezes integrados no texto sob a forma de canções, têm o duplo objetivo de naturalizar ambientes mais ou menos festivos (é um pouco como se o leitor estivesse a ouvir a música que neles se toca) e remeter para o formato de poema épico de que a fantasia (especialmente a épica, claro) deriva em parte considerável. Não é necessário que sejam bons enquanto poemas, e geralmente não o são (o que sempre me facilita a vida, há que reconhecer); basta que resultem no contexto que lhes é próprio.

Este Sortilégio, Feitiço e Magia vai um pouco nessa linha. Composto por 18 sextilhas, conta uma história mágica, trágica e medieval sobre um cavaleiro que procura libertar a amada enfeitiçada. Resultaria perfeitamente bem no contexto de um romance de fantasia, talvez sob a forma de história ou canção contada ou cantada numa taberna ou à volta de uma fogueira. Mas isoladamente...

Isoladamente não me parece que resulte. Apesar da estrutura de versos ser rígida, a métrica parece ter sido encarada como coisa de somenos, as rimas são demasiadas vezes banais e a história é contada quase como se fosse prosa, sem grande subtileza. Tudo somado, pareceu-me um texto fraco. Não o pior do livro mas o segundo pior até ao momento.

Contos anteriores deste livro:

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Lido: Face a Face

Muitos não sabem ou não querem saber, mas a ficção científica é sempre pelo menos em parte uma forma alegórica de falar de questões e preocupações muito contemporâneas e/ou das eternas contradições da condição humana (de resto, nisso não tem nada de único entre os géneros não realistas; a fantasia, o horror, todos, em suma, fazem o mesmo). Por vezes os autores fazem-no de forma mais ou menos inconsciente, mas a melhor FC é e sempre foi aquela em que essa componente é introduzida conscientemente.

E é o que Luiz Bras faz em Face a Face, dando ao conto pinceladas de ficção científica (o texto começa em pleno combate apocalíptico e termina com alusões cosmogónicas) mas falando na realidade da relação entre o eu e o outro, sendo que neste caso o eu é um indivíduo superiormente misantropo. Um indivíduo cuja misantropia está sob cerco e é amplificada por esse mesmo cerco, um indivíduo que dispara para todos os lados em plena guerra civil contra o mundo inteiro como quem grita DEIXEM-ME EM PAZ! às hordas de atenciosos.

Não sei se na inspiração para este conto de página e meia estão incluídas as redes sociais, mas há nele qualquer coisa que me levou o cérebro para os facebooks e twitters da vida, o que talvez diga mais sobre mim e a minha relação com eles do que propriamente sobre o conto. Mas seja como for esta é outra história bastante interessante, mais por aquilo que deixa subentendido do que pelo que fica expresso.

Textos anteriores deste livro:

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Umas notas sobre festivais de canções

Que soe a pythoniana frase "e agora, algo completamente diferente"!

Quem realmente me conhece sabe que a música é uma parte relevante da minha vida. Em miúdo andei algum tempo a aprender piano (e entretanto esqueci-me de tudo), depois peguei numa guitarra e hoje toco por puro prazer (embora seja recordado de quão mal sempre que ouço tocar alguém que realmente saiba o que fazer com o instrumento), mas o mais relevante é que a música me serviu desde sempre como defesa contra muitas agressões, nomeadamente as sonoras. Quando me entram ruídos esúpidos casa adentro, por exemplo, música alta isola-me deles e permite-me manter a funcionalidade.

Não sei se me posso considerar um melómano, mas definitivamente gosto de música e tenho um gosto solidificado ao longo de muitos anos a ouvir muita coisa. Mais: ao contrário de muita gente que chega a uma certa idade e estagna, deixa de ouvir seja o que for além daquilo que já conhece e ama, eu mantenho a curiosidade intacta e ando sempre a ouvir coisas novas.

E acho que tenho bom gosto. Prefiro música com alguma complexidade, com musicalidade. Música estimulante, que não seja sempre a mesma treta. A que prefiro é o jazz, algum rock, especialmente o progressivo (e, desde recentemente, também prog metal que não abuse dos urros), alguma world music, em particular a que mais se aproxima do jazz (flamenco ao jeito de Paco de Lucia, Piazzolla, muita da música portuguesa que tem o fado como base ou influência mas não se deixa prender no espartilho do fado clássico, etc.), o blues, e também alguma clássica. Mas não só; o meu gosto é bastante eclético e, dependendo do estado de espírito, vai de algumas coisas (poucas) de EDM a algumas das mais bizarras experiências sonoras da música concreta e do free jazz, passando por música popular em oposição à popularucha (conhecem um projeto chamado "a música portuguesa a gostar dela própria"? Adoro aquilo), por hip-hop (mas não esta porcaria monótona e lamurienta que está agora em voga, o trap) e por aí fora.

Notam aqui alguma ausência? O pop. Pois.

Não que não goste de pop, assim, taxativamente. Há ramos do pop que me agradam, especialmente o mais indie ou o mais virado para o rock, acho gente como o Michael Jackson ou o Prince artistas de primeira água, e por aí fora. Mas essas são ilhas no imenso mar de mediocridade que é, e sempre foi, a música que recebeu o rótulo de pop. Música formulaica, toda mais ou menos igual, mais preocupada em seguir tendências, em estar na "crista da onda" comercial, em vender, do que em ser arte. Música feita por executivos da indústria discográfica com o único objetivo de encher mais os bolsos aos executivos da indústria discográfica, mesmo quando usam gente que até sabe de música como ferramentas. Música chiclete, como diriam os Taxi.

E detesto particularmente pimbalhadas, ao ponto de fugir (literalmente de mãos nos ouvidos) quando me aparecem à frente.

Em tempos que já lá vão há tanto tempo que já nem todos os protagonistas estão entre nós, os festivais de canções eram um evento cá por casa. A família reunia-se para assistir, tanto ao nosso como ao internacional e, embora sempre tivesse havido canções melhores e canções piores, era raro o ano em que não saía desses concursos qualquer coisa de realmente relevante. Em tempos em que aquela a que na época se dava o nome de "música ligeira" (nunca percebi qual seria a pesada... o metal?) dominava na rádio e nas TVs, muitas das canções que saíram dos festivais, tivessem ganho ou não, fossem ou não realmente bem feitas, tornavam-se êxitos populares. E passaram por lá muitos nomes sonantes da música, tanto a portuguesa (Simone de Oliveira, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, por aí fora) como internacional (só para dar dois nomes: Abba e Celine Dion).

Mas depois, lá pelo fim dos anos 80, princípio dos 90, a coisa começou a descambar de forma significativa. O festival internacional passou a ser mais celebração do kitsch gay em que o que realmente interessava eram as luzes e o "show", cheia da pior versão do pop (que recebeu o elucidativo rótulo de eurotrash) misturado com canções românticas tão pirosas como as nossas pimbalhadas, do que propriamente espetáculo musical. E o português seguiu-lhe o precipitoso rumo, na afanosa procura de uma canção "festivaleira" o suficiente para resgatar a honra nacional depois de décadas de insucessos na tabela classificativa final. O pimba, mais ou menos disfarçado, tornou-se presença assídua.

E a consequência pessoal foi eu ter virado as costas aos festivais de canções e me manter firmemente de costas voltadas para eles durante quase duas décadas. Para mim era lixo. Muitas vezes ouvi-os de longe (quando não me refugiava em auscultadores e outras músicas), porque não moro sozinho e há cá em casa quem não partilhe da minha repulsa, mas ver nunca mais vi.

(Parêntese rápido: esse virar de costas teve uma interrupção no ano dos Homens da Luta. Adorei a ideia de mandar os festivais de canções ao tal sítio com aquele gozo descarado dos Homens da Luta e voltei, mais de uma década depois da última vez, a assistir à final nacional e à meia-final eurovisiva em que o Jel e companhia participaram. E sim, a canção era uma porcaria: era precisamente essa a ideia. Fecha parênteses.)

Tudo isto mudou com o Salvador Sobral.

Como aconteceu muitas vezes antes, não assisti às meias-finais do festival da canção de 2017, mas ouvi-as à distância da sala. E ao ouvir a canção do Sobral arrebitei imediatamente as orelhas. Olá?, pensei, música a sério no festival da canção? Que anormalidade é esta? Dias depois voltei a não ver mas ouvi a segunda meia-final, e depois fiz questão de assistir à final, pela primeira vez em longos anos. Além da canção do Salvador e da irmã, claramente a melhor, vi um espetáculo globalmente fraco, como era hábito, com mais duas ou três canções a destacar-se um pouco da mediocridade geral. Mas também vi outra coisa, quando reuni mais informação sobre este novo modelo de festival que a RTP implantou: compositores de créditos firmados, com excelente música no currículo, compositores que, muitas vezes, não eram adequadamente representados pelas canções que levaram a concurso.

E este ano voltei a assistir ao festival da canção, agora com um interesse acrescido, e voltou a acontecer o mesmo. Vi um espetáculo globalmente fraco, com um punhado de canções interessantes lá perdidas no meio e a sensação de que os compositores, e até vários dos intérpretes, não ficaram adequadamente representados por aquilo que ali apresentaram.

Por outro lado, vi gente que não conhecia, ou pelo menos que não conhecia bem. Vi o Janeiro, com uma das melhores canções, vi a Cláudia Pascoal, que não sei se é capaz de compor alguma coisa de jeito e ainda precisa de ganhar experiência mas tem pelo menos todas as condições para se tornar uma intérprete de primeira água, e fico por aqui para não abusar dos exemplos. Há mais.

Ou seja, confirmei a ideia que me tinha ficado do ano anterior: embora o festival em si mesmo possa ser coisa pouco interessante (até pela própria ideia de competição de canções, que é um bom bocado absurda), ele pode servir para descobrir gente nova com interesse, tanto na parte da interpretação como na da composição. Mas para que esse interesse se cumpra seria de toda a conveniência que o festival não se resumisse a si mesmo, isto é, seria necessário que canções, autores e intérpretes tivessem uma vida que o ultrapassasse. Nem sempre acontece; há gente que vi no ano passado e não voltei a ver desde então, por exemplo.

Felizmente hoje há coisas como o spotify. E havendo coisas como o spotify a tarefa de ver o que há, o que ficou para trás, reunir o que houver de mais interessante e divulgá-lo de forma fácil e rápida fica bastante facilitada. Longe vai o tempo em que se queríamos fazer isso tínhamos de conhecer quem tivesse os discos e gravar em cassetes tudo o que interessasse. Agora é uns quantos cliques e já está.



E é precisamente isso o que tenho vindo lentamente a fazer ao longo dos últimos meses. Tenho vindo a ouvir o que está disponível no spotify dos vários artistas envolvidos no festival da canção deste ano e a reunir numa playlist o que me parece mais interessante. Raramente são mesmo as canções apresentadas no festival (mas há casos), e nem sempre gosto mesmo muito do que lá ponho, mas em geral aquilo que está na playlist são coisas que, a meu ver, vale a pena conhecer e dar a conhecer. E ouvir pelo menos de vez em quando.

E sim, há por lá pop.

Comecei pelos intérpretes, porque era mais rápido e mais fácil (há no spotify um disco que reúne todas as canções apresentadas no festival, associadas aos respetivos intérpretes, e basta um clique para seguir para o resto da discografia... que em vários casos não existe), e estou agora a passar a pente grosso os compositores, que me obrigam a algum trabalho de investigação e têm muito mais coisas por onde escolher. Ou seja: esta playlist vai crescer. Devagarinho. E não, não vou encavalitar lá tudo aquilo que me agradar. Gente como o Palma, por exemplo, tem demasiados hinos para uma playlist deste género. Mas alguns não poderão escapar.

Quem se interessar, aqui a tem.

Talvez um dia, havendo tempo e paciência, faça o mesmo para o festival da canção do ano passado. Talvez um dia me atreva até a fazer algo semelhante ao da eurovisão, que é capaz de também esconder algumas pérolas por trás de toda aquela cacofonia tantas vezes desagradavelmente chunga. Talvez. Para já, fiz isto.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Lido: Ulrica

São contos como este que me deixam a sentir-me menos que aprendiz.

À primeira vista, não se trata de nada muito especial. Uma mera história de sedução contada em jeito oitocentista, um daqueles depoimentos de caso sucedido, na qual o narrador conta a forma como conheceu a protagonista, que dá nome ao título: Ulrica. Como a conheceu e como a seduziu, ou se deixou seduzir por ela, ao ponto de toda a aventura desembocar em sexo.

Mas Jorge Luis Borges enche a história com um clima de inquietação, salpica-a de pinceladas subtilíssimas de fantasmagoria, de uma forma que me deixa boquiaberto. Tão, tão bem feito, com palavras cirurgicamente escolhidas e colocadas nos seus lugares com cuidado de relojoeiro! Será realmente palpável, a Ulrica? Ou apenas uma imagem insubstancial?

Para um leitor que se prenda apenas nos detalhes da história, este conto talvez não seja particularmente interessante, mas para quem domine o suficiente das coisas da escrita para prender a atenção em detalhes de técnica narrativa, é um prato cheio. Absolutamente magnífico.

Conto anterior deste livro:

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Isto se calhar só lá vai com um empurrãozinho - Grupo LeiTugas

Apesar de algum progresso recente, olhando para todos estes nove meses de leituras fc e para a sua média de menos de 5 opiniões sobre material português por mês, parece-me claro que isto se calhar só lá vai com um empurrãozinho. Mas que empurrãozinho?

Bem, na verdade nada impede que haja vários; pelo contrário, é útil que assim seja. Mas eu só posso dar um, e tenho andado a matutar nisso nas últimas semanas. E acho que tive uma ideia viável para o tempo que tenho disponível: uma espécie de clube de leitura, que me disponho a organizar e gerir.

Um clube de leitura informal, que reúna gente que publica opiniões na internet aberta e esteja disposta a ler pelo menos uma obra de ficção especulativa portuguesa por mês e uma especificamente de ficção científica (ou com FC) pelo menos a cada dois meses. E, claro, a opinar sobre elas. Pode ser livro (romance, antologia, coletânea), mas também pode ser apenas conto se não houver tempo ou vontade para mais. E também podem ser mais, mas isto seria o mínimo.

E sempre que um dos membros do grupo publicasse a opinião mensal respetiva (talvez identificada com um logotipo específico? De preferência melhor que aquele ali em cima, improvisado em dois tempos para ilustrar este post), informaria os outros (ou informaria o gestor, que informaria os restantes), os quais publicariam nas suas plataformas uma nota a informar o seu público de que no blogue x saiu uma opinião relacionada com o grupo. Isto podia ser feito um a um (o que só é viável se o grupo for pequeno), ou em apanhados mensais ou semanais. O objetivo é não só promover a leitura e a divulgação mas também promover o tráfego cruzado entre os vários sites e blogues aderentes.

Se aderirem a isto uns cinco ou seis blogues além dos suspeitos do costume, i.e., além daqueles que falam regularmente de material português, e melhor ainda se isto servir de incentivo ao aparecimento de blogues novos (ou à reativação de blogues adormecidos), julgo que seja possível chegarmos bem depressa a cerca de dez opiniões por mês, em média.

Que me dizem? Há interesse?

domingo, 7 de outubro de 2018

Lido: Frio, Cada Vez Mais Frio

Tenho um problema com contos de natal, que se pode resumir numa frase: já li o conto Noite de Paz do Barreiros. Este conto natalício de ficção científica é um autêntico destruidor de histórias natalinas, pelo menos para mim, porque fez com que se me tornasse impossível ler contos com o Pai Natal como personagem sem me lembrar do alienígena infinitamente bonacheirão e maligno (sim, ao mesmo tempo) que ele aí cria.

Especialmente porque a maioria das outras histórias de natal não têm nada da iconoclastia e corrosiva ironia da do Barreiros, que é o que mais me agrada nela. Costumam ser histórias delicodoces, cheias de bons sentimentos e chavões mais ou menos cristãos que, não tendo nada de mal em si mesmos, já estão tão absolutamente surrados por milhares e milhares de histórias praticamente idênticas nos seus princípios básicos que só conseguem causar-me um enorme bocejo.

E com Frio, Cada Vez Mais Frio, Carina Portugal cria mais uma dessas histórias. Lá está o desgraçadinho, no caso uma orfãzinha hospitalizada, e claro que a história conta como essa desgraçadinha tem uma alegria natalícia, aqui por intermédio de um urso de peluche com vontade própria que se escapa do trenó do Pai Natal à revelia deste (o único elemento do conto com alguma originalidade). E o final é pura lamechice trágico-sentimentalona que, sim, já foi vista milhares de vezes em milhares de outras histórias. Bocejo.

O conto não é mau, entenda-se. É apenas banal. Fatalmente banal.

Contos anteriores deste livro:

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Em setembro falou-se de...

Mais um mês que se inicia, mais uma lista de obras de ficção científica, com ficção científica, próximas da ficção científica, etecetera ficção científica que foram lidas e comentadas na web de língua portuguesa no mês que acabou de chegar ao fim.

Antes de mais, a conversa do costume: onde se pode encontrar informação mais detalhada sobre o que isto é, qual o seu âmbito e quais as suas limitações? No primeiro post desta série, de janeiro deste ano. Onde se encontram todos os posts reunidos por forma a poderem ser facilmente encontrados, comparados e contrastados? Na tag leituras fc, que reúne posts passados presente e futuros. Onde estão os comentários que me aprez fazer sobre aquilo de que se falou este mês que ficou para trás? Depois das listas. Onde estão as listas? Já a seguir:

Ficção portuguesa:
  1. O Motor do Caos e da Destruição, de António Bizarro
  2. A Nossa Alegria Chegou, de Alexandra Lucas Coelho
  3. Pobres Diabos, de Vítor Elias
  4. Os Monociclistas e Outras Histórias do Ano 2049, de António Ladeira
  5. O Ano da Peste Negra, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
  6. Uma Viagem ao Tempo dos Castelos, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Ficção luso-brasileira:
  1. Solarpunk, org. Gerson Lodi-Ribeiro
Ficção brasileira:
  1. A Sorte do Perdedor, de Renan Barcellos
  2. Megalon, nº 7, ed. Marcello Simão Branco
  3. Megalon, nº 13, ed. Marcello Simão Branco
  4. Sob a Luz da Escuridão, de Ana Beatriz Brandão
  5. Travessuras da Minha Menina Má, de Otávio Bravo
  6. O Homem que Fotografou Deus, de Maciel Brognoli (conto)
  7. O Velocista, de Walter Cavalcanti Costa
  8. Simulacro da Escuridão, de Mateus Davi
  9. O Dezoito de Escorpião, de Alexey Dodsworth
  10. Caçada aos Multiplicadores, de Rodrigo Domingues
  11. Oráculo de Cristal, de Rodrigo Galves
  12. A Era dos Mortos, parte 2, de Rodrigo de Oliveira (2x)
  13. Xochiquetzal, de Gerson Lodi-Ribeiro
  14. Xochiquetzal em Cusco, de Gerson Lodi-Ribeiro (conto)
  15. Absolutos, de Rodolfo Salles (2x)
  16. Fuga, de Tiago Toy
Ficção internacional:
  1. Lightspeed, nº 95, ed. ???
  2. O Poder, de Naomi Alderman (4x)
  3. A Missão de AZ Gabrielson, de Jay Amory
  4. O que Acontece Quando um Homem Cai do Céu, de Lesley Nneka Arimah (2x)
  5. O Conto da Aia, de Margaret Atwood
  6. Oryx e Crake, de Margaret Atwood
  7. A Função Cria o Orgasmo, de Belen (conto)
  8. O Homem Demolido, de Alfred Bester
  9. The Comet, de W. E. B Du Bois (conto)
  10. Mentes Poderosas, de Alexandra Bracken
  11. The Fatal Eggs, de Mikhail Bulgakov
  12. A Cidade no Fim do Mundo, de Christopher Bulis
  13. A Parábola do Semeador, de Octavia E. Butler (4x)
  14. Bloodchild, de Octavia E. Butler (conto)
  15. Kindred, de Octavia E. Butler
  16. O Jogo Final, de Orson Scott Card
  17. Eva, de Anna Carey
  18. A Vida Compartilhada em uma Admirável Órbita Fechada, de Becky Chambers
  19. Encontro com Rama, de Arthur C. Clarke
  20. Poeira Lunar, de Arthur C. Clarke (2x)
  21. Destino, de Ally Condie
  22. Leviatã Desperta, de James S. A. Corey
  23. O Enigma de Andrômeda, de Michael Crichton (2x)
  24. Vox, de Christina Dalcher
  25. Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Pilip K. Dick
  26. O Homem do Castelo Alto, de Pilip K. Dick (2x)
  27. O Tempo Desconjuntado, de Pilip K. Dick (4x)
  28. Um Reflexo na Escuridão, de Pilip K. Dick
  29. When the Great Days Came, de Gardner Dozois (conto)
  30. Muitas Águas, de Madeleine l'Engle (2x)
  31. Um Vento à Porta, de Madeleine l'Engle
  32. Uma Dobra no Tempo, de Madeleine l'Engle
  33. Terra das Mulheres, de Charlotte Perkins Gilman (2x)
  34. Os Humanos, de Matt Haig
  35. Um Estranho numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein (3x)
  36. Não me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro
  37. Quando as Estrelas Caem, de Amie Kaufman e Meagan Spooner
  38. Flores para Algernon, de Daniel Keyes (2x)
  39. A Cúpula, de Stephen King
  40. A Incendiária, de Stephen King
  41. Celular, de Stephen King
  42. Lobos de Calla, de Stephen King
  43. Justiça Ancilar, de Ann Leckie
  44. Solaris, de Stanislaw Lem
  45. Além do Planeta Silencioso, de C. S. Lewis
  46. Uma Força Medonha, de C. S. Lewis
  47. Champion, de Marie Lu
  48. Prodigy, de Marie Lu
  49. O Corpo Dela e Outras Partes / O Corpo Dela e Outras Farras, de Carmen Maria Machado (3x)
  50. Nada Enfurece Mais uma Mulher, org. George R. R. Martin e Gardner Dozois
  51. O Milésimo Andar, de Katharine McGee
  52. Cinder, de Marissa Meyer
  53. Scarlet, de Marissa Meyer
  54. Os Seis Finalistas, de Alexandra Monir (2x)
  55. O Regresso a Casa, de Kass Morgan
  56. Gigantes Adormecidos, de Sylvain Neuvel
  57. A Mulher do Viajante no Tempo, de Audrey Niffenegger
  58. Quem Teme a Morte, de Nnedi Okorafor
  59. Contos de Imaginação e Mistério, de Edgar Allan Poe
  60. Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe
  61. A Terra Longa, de Terry Pratchett e Stephen Baxter
  62. Visão Mortal, de J. D. Robb
  63. Calamidade, de Brandon Sanderson
  64. Tormenta de Fogo, de Brandon Sanderson
  65. A Nuvem, de Neal Shusterman
  66. O Ceifador, de Neal Shusterman
  67. O Chanceler de Ferro, de Robert Silverberg (conto)
  68. Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift
  69. A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Jules Verne
  70. Viagem ao Centro da Terra, de Jules Verne
  71. Limites do Tempo, de Rysa Walker
  72. Artemis, de Andy Weir (2x)
  73. Perdido em Marte, de Andy Weir
  74. A Ilha do Dr. Moreau, de H. G. Wells
  75. A Máquina do Tempo, de H. G. Wells
  76. O Cogumelo Vermelho, de H. G. Wells
  77. Rogue Protocol, de Martha Wells
  78. Fim do Império, de Chuck Wendig
  79. Interferências, de Connie Willis (2x)
  80. O Assassino do Zodíaco, de Sam Wilson
  81. Circuito de Compaixão, de John Wyndham (conto)
  82. Flor Silvestre, de John Wyndham (conto)
  83. Tempo de Descansar, de John Wyndham (conto)
  84. O Mar Infinito, de Rick Yancey
  85. Nós, de Evgueni Zamiatine
  86. Nine Princes in Amber, de Roger Zelazny
Ficção internacional fora do género (mas relacionada com ele):
  1. O Homem de Partes, de David Lodge
Não-ficção brasileira:
  1. O Boitatá com Olhos de Césio, de Lúcio Manfredi
Não-ficção internacional:
  1. 21 Lessons for the 21st Century, de Yuval Noah Harari
Setembro vem muito na linha do mês de agosto, e sob vários aspetos, o que se em agosto me surpreendeu pela positiva, em setembro nem por isso, pois já esperava alguma consistência, tanto mais que agora já existem contribuições aqui da Lâmpada em volume relevante. Com uma exceção: o material estritamente português, que voltou uma vez mais a não contar comigo visto que continuo ainda a restringir as leitoras portuguesas a outros géneros que não a ficção científica.

Comecemos precisamente por ele. Mais uma vez falou-se de seis títulos, o que é significativamente melhor do que em vários dos meses anteriores, e mais ainda por tratar-se do segundo mês consecutivo a fazê-lo. A estes seis títulos há ainda que somar uma antologia brasileira com participação portuguesa, a minha única contribuição para esta lista durante o mês passado. Todos livros. O lado menos bom é a maioria estar mais a roçar o género do que propriamente dentro dele. À parte a antologia brasileira, os escritores ligados ao dito fandom destacam-se pela ausência. Fruto da nossa pouca produtividade, sem dúvida, mas provavelmente também da invisibilidade, muitas vezes voluntária; o gueto não é só imposto de fora, também o é de dentro.

Quanto ao Brasil, as coisas continuam a correr bem, com menções a 16 títulos de ficção aos quais deve somar-se um de não-ficção e uma antologia que inclui também material português. Mas a descida relativamente ao mês passado acaba por ter algum significado, porque dois desses dezoito títulos são contos e seis (incluindo um dos contos) vieram aqui da Lâmpada. É provável que isto se deva apenas à variabilidade inerente a este tipo de coisa, mas seja como for parece que a tendência para manter as opiniões a material brasileiro acima das dez por mês está bastante sólida. Porreiro. Destaque para Rodrigo de Oliveira e Rodolfo Salles com duas opiniões cada.

Por fim, e finalmente, este mês não houve 72 títulos de ficção internacional. Houve significativamente mais, 86, incluindo como sempre vários mencionados múltiplas vezes. Uma desproporção gigantesca para com a produção na nossa língua que nenhum progresso ou bom trabalho nesta parece ser capaz de diminuir. Dick, em particular, esteve em grande, com um total de oito menções distribuídas por quatro obras, seguido por Octavia Butler, com seis menções entre três obras. Naomi Alderman (uma obra), Madeleine l'Engle (três obras) e Stephen King (quatro obras) também se destacaram com quatro menções cada.

E agora é só esperar mais um mês para vermos o que outubro nos reserva. Até lá.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Lido: O Canto da Ninfa

E de repente, depois de muito horror, com mais ou menos humor, e de um conto de um fantástico mais puro, eis que Carina Portugal apresenta uma fantasia com elfos e ninfas. Não que o horror esteja dela ausente, entenda-se. De resto, até nos contos tradicionais, normalmente enquadrados dentro do maravilhoso e tantas vezes vistos como meras histórias para crianças, o horror costuma estar bem presente. Mas o tom dominante deste O Canto da Ninfa é de fantasia.

E como tal, tem uma vantagem: é diferente da maioria dos contos que o antecedem, o que o torna algo refrescante e afasta alguma monotonia temática que ameaçava instalar-se. No entanto esta vantagem é-o mais no contexto da publicação em que o conto se insere do que intrínseca ao conto propriamente dito.

Este não é mau, mas inclui elementos que não me agradaram particularmente. Conta uma história de amores súbitos e proibidos, o que de resto é comum em histórias com seres femininos aquáticos (ninfas e sereias, sobretudo) que parecem ter a lendária capacidade de enfeitiçar qualquer criatura do sexo masculino. Neste caso a vítima do feitiço é um elfo, que a páginas tantas se vê na iminência de se tornar vítima impotente não só de paixão súbita mas também de algo mais sério, e não revelarei mais porque a eficácia do conto depende da surpresa final.

O que não me agradou, além das fragilidades de que tenho falado bastante mas neste conto nem são muito óbvias, e da paixão instantânea que não é por ser "fruta da época" temática que me parece menos tola, foi ter sentido nele alguma insegurança no fluxo da narrativa, alguma falta de ritmo. Não me parece, portanto que este conto chegue ao nível dos melhores que aqui se incluem. Mas também está bastante acima de um Corpo, Alma e Coração, por exemplo.

Contos anteriores deste livro: