terça-feira, 29 de abril de 2014

Lido: A Condição Masculina

A Condição Masculina (bibliografia) é um conto muito fraquinho (embora seja de dar sempre o desconto Saló ao que parece mau) de A. E. Van Vogt sobre psicologia, personalidades sexuais masculinas e femininas e violação. O cenário é um futuro aparentemente não muito longínquo mas irreconhecível, pois a Terra foi entretanto contactada por uns extraterrestres que só são visíveis para as mulheres e que removeram quimicamente a ira do arsenal de emoções humanas. Nesse futuro, um cientista, movido mais pela concupiscência do que propriamente por qualquer espécie de curiosidade científica, decide tentar fazer uma experiência (em si próprio) para estudar a personalidade do violador, espécie extinta desde que os tais ETs surgiram na Terra.

Embora se perceba que Van Vogt pretende principalmente escrever uma sátira, ele demonstra uma tamanha ausência de compreensão do que está realmente por trás da violação (dica: tem muitíssimo mais a ver com o poder do que com qualquer espécie de ira) e até do que existe de fundamentalmente feminino ou masculino nas pessoas quando é removida ou profundamente alterada a camada condicionada pela sociedade, que o resultado é um falhanço quase completo.

Conto anterior deste livro:

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Lido: O Rio das Quatro Luzes

O Rio das Quatro Luzes, outro dos continhos de Mia Couto, é uma história com uma faceta fantástica razoavelmente forte sobre uma criança que não queria ser criança. Talvez porque, ao ver passar um funeral, o cerimonial do enterro exerceu sobre ela um fascínio mórbido, envelhecer depressa e a morrer passou a ser aquilo que o miúdo mais desejava no mundo. E entristece (Mia Couto talvez escrevsse "tristonhece") e murcha, comsumido por esse desejo. Nenhum argumento o convence ou demove até que o avô faz com ele um trato: quando chegar a sua hora, que se aproxima, pedirá a deus para os dois trocarem de lugar pois ele, ao contrário do jovem, gosta de viver e não se importaria de por cá ficar mais algumas décadas. E eis que o miúdo se enraíza em esperanças e desabrocha para a vida na expetativa de perdê-la. O desfecho de toda a história é que não é bem aquele que esperava.

Este conto é magnífico. Por tudo isto que acima ficou escrito e por mais algumas razões.

Contos anteriores deste livro:

Lido: Os Machos Lacrimosos

Os Machos Lacrimosos é mais uma historinha de Mia Couto, desta feita sobre um grupo de virilíssimos homens que se encontravam num bar com o único propósito de festejar a vida. Até que um belo dia um deles aparece choroso e tudo muda, não só na quantidade de água vertida por olhos habitualmente risonhos, mas até na relação daquele grupo de homens com o mundo que os rodeia.

Esta é capaz de ser a história mais divertida de todo o livro, ou pelo menos da parte deste que li até aqui chegar. Mas não se limita a ser uma história humorística, longe disso. Há alqui Mia Couto, obviamente, mas também é, algures, uma lição de vida para quem a souber obter.

Muito bom.

Contos anteriores deste livro:

Lido: Nunca se Deve Deixar uma Criança

Nunca se Deve Deixar uma Criança, que não é título mas primeiro verso, é um poema de Adília Lopes, carregadinho de ironia, sobre as coisas que acontecem e o caráter superprotetor de muitas mães. Porque as coisas que acontecem acontecem, haja prudência ou não haja. É essa a moral da história. Mais ou menos.

Não sendo bem o tipo de texto que mais me interessa, ou na verdade estando bem longe de o ser, achei-o curioso e divertido, mais pela irreverência do que propriamente pela literatura. Desta não gostei, confesso. Este poema insere-se numa moda que por aí anda, ou andou, de escrever textos banalíssimos subdividindo-os em versos e subtraindo-lhes a pontuação.

É como se
isto fosse um
poema
e devêssemos por isso
gostar muito achar
muito lírico e
mais não sei quê só que
eu acho assim 'ma beca
parvo

Mas pronto. São modas. E o texto tem a sua graça, sim.

Textos anteriores deste livro:

Lido: Pêndulo

Pêndulo (bibliografia) é uma estranhíssima noveleta de ficção científica de A. E. Van Vogt sobre uma peculiar invasão alienígena. O protagonista é um tal Hud, ou Hudman, americano filho de pais imigrantes que tem o peculiar costume de traduzir todas as conversas que vai tendo (ou quase) para frísio. Para quem não sabe, trata-se de uma língua regional falada no norte da Holanda e em certas áreas da Alemanha. Talvez tenha sido esse hábito a transformá-lo no alvo ideal para uma espécie extraterrestre muito preocupada com a linguística, que o contacta telepaticamente, fazendo-o depois, sem que se chegue a perceber bem como, andar para trás e para a frente no tempo (daí o "pêndulo" do título) e funcionar assim como uma espécie de embaixador relutante dos alienígenas. Só que a invasão, que os alienígenas justificam por ser a sua única possibilidade de sobrevivência, só poderá ter sucesso se conseguirem suprimir a "memória racial" dos diversos ramos da humanidade (num aparte: hoje, esta expressão tão negativamente carregada não seria usada de ânimo tão leve), e para isso necessitam de fazer esquecer a miríade de línguas que falamos para passarmos a usar uma única língua lógica.

Embora algo duvidosa no que toca aos aspetos mais políticos, esta é uma história literariamente complexa e que parece até talvez ser boa. Parece. Talvez. É que está traduzida pelo Eduardo Saló, uma das mais famigeradas bêtes noires da tradução de FC em Portugal.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Lido: Por Universos Nunca Dantes Navegados

Por Universos Nunca Dantes Navegados (bibliografia) é uma antologia de ficção científica (principalmente) e fantástico, organizada há já uma quantidade razoável de anos por mim e pelo Luís Filipe Silva, e que decidi agora reler para ver que tal se aguentou no confronto com o tempo. Reler, ou ler pela primeira vez pois, embora obviamente tenha lido todos estes contos quando estava a escolhê-los, nunca tinha lido o livro que resultou da sua junção.

Ao longo destes anos, fui dizendo várias vezes que me parecia que esta compilação era das mais equilibradas antologias de originais de género que se tinham editado em Portugal porque, apesar de me parecer que nenhuma destas histórias atinge uma qualidade tão elevada como as melhores histórias de algumas das outras antologias portuguesas, nesta também não há os contos realmente maus que costumam aparecer nas outras. Hoje, (re)lendo-a, mantenho essa opinião, embora seja necessário sublinhar que me falta ainda ler algumas das antologias mais recentes.

Não sei se escolheria alguma destas histórias para figurar numa eventual antologia da melhor FC&F lusófona publicada ao longo da primeira década do século XXI, mas são várias as que incluiria numa daquelas listas de outras histórias dignas de menção que os antologistas do mítico lá fora costumam incluir nas suas recapitulações do melhor que se foi fazendo num determinado período. Falta-lhe, claro, unidade temática, visto que não é uma antologia temática. Também há nela um considerável desequilíbrio entre a ficção científica e as outras vertentes das literaturas do imaginário, consequência do material que nos foi apresentado, desproporcionadamente composto por FC. A ideia era fazer um livro abrangente e multifacetado, desejavelmente o primeiro de uma série, mas os autores tiveram outras ideias e enviaram-nos muitíssimo mais ficção científica do que qualquer outra coisa. Isso desequilibrou o resultado, piorando-o relativamente ao que poderia ter sido.

A culpa, provavelmente, é nossa, dos organizadores, seja por não termos conseguido deixar claro que queríamos contos de todos os tipos, seja por não termos logrado levar a ideia do projeto a autores mais interessados noutros tipos de fantástico do que propriamente na FC. Seria algo a corrigir numa antologia que se lhe seguisse mas, por vários motivos, essa nunca chegou sequer a ser cogitada após a compilação e publicação desta.

É uma antologia com defeitos, naturalmente. Parte desses defeitos devem-se a ter acabado por ser uma publicação amadora com o que isso implica de ausência de revisão, paginação e acabamento profissional que muitas editoras (não todas, infelizmente; já tenho visto coisas bem piores saídas de editoras profissionais... e até recentemente) lhe poderiam ter dado. Também não era essa a ideia inicial, mas foi assim que acabou por ter de ser.

Mas mesmo sendo uma antologia com defeitos, mesmo não incluindo nenhum daqueles contos extraordinários que por vezes aparecem neste tipo de publicação, descobri com esta (re)leitura que, sim, gosto bastante do resultado. Sou, obviamente, suspeito — afinal fui eu que escolhi estes contos, com companhia, é certo, mas houve tão poucas divergências entre mim e o Luís na escolha dos textos que se tivesse sido só eu a escolhê-los seriam praticamente os mesmos. Mas creio que os sete anos que se passaram entre publicação e leitura, e os nove que transcorreram desde a seleção dos trabalhos (o processo de publicação demorou dois longos anos) são os suficientes para obter algum distanciamento, e julgo que, hoje, a minha opinião seria quase idêntica caso não tivesse estado envolvido no processo. A única coisa que sei que a influencia é a consciência que não deixei de ter das qualidades e limitações do material que recebemos, o qual, obviamente, condicionou o resultado final. Daí o quase. Mas sim, julgo que, se estivesse a avaliar o livro sem qualquer conhecimento prévio e sem qualquer participação minha nele, continuaria a pensar que esta é uma antologia equilibrada, com contos entre o razoável e o bom que por isso compõem um livro interessante e muito legível, das melhores compilações do género que se publicaram até ao momento em Portugal.

E de generalidades, é tudo o que tenho a dizer. Quanto a pormenores, eis o que achei dos vários contos do livro:
Os leitores curiosos descobrirão que faltam dois links aqui nesta lista. Não, não é engano. Não falei mesmo de dois contos. O motivo é simples: um é meu, o outro é meu e do meu pai. Li-os como aos outros (se a ideia era ficar com uma ideia de conjunto do livro, não faria sentido não os ler) mas seria ridículo estar a criticá-los como se fossem de outrem. Vou só acrescentar que o facto de este livro trazer um conto que escrevi com o velhote o torna muito relevante para mim. Se quiserem encarar isto como mais um motivo para suspeitar da minha opinião sobre ele, estão à vontade. Eu acho que não influiu (até porque ao ler o conto conjunto torci o nariz várias vezes com detalhes que estão mesmo a pedir por uma revisãozinha; se voltar a publicá-lo terá de haver mudanças), mas vocês têm toda a liberdade de achar que sim.

Este livro veio-me parar às mãos por ser seu organizador e coautor. Claro.

Lido: O Dono do Cão do Homem

O Dono do Cão do Homem é mais um dos continhos fantástico-poéticos de Mia Couto. Desta feita, a pegada é distintamente surrealista, pois a história é contada na primeira pessoa por um dono de cão que desabafa com o leitor por ter sido traído "não pela amada, mas pelo cão". É assim que o conto começa. E segue contando a história dessa traição, ao longo da qual vamos vendo crescentemente misturados os papéis e as naturezas de um e do outro, deixando de se perceber muito bem qual é cão e qual é homem, e que coisas faz o cão e quais os comportamentos a que o dono (ex-dono?) se vê reduzido.

Este é um conto muito bom, não só pelo que nele há de comum com os outros contos de Mia Couto, mas pela forma soberba como foi concebido e estruturado. E em três pagininhas apenas.

Contos anteriores deste livro:

terça-feira, 22 de abril de 2014

Lido: «A Greve dos Controladores de Voo»

«A Greve dos Controladores de Voo» é, neste livro, um conjunto de seis microcontos, de Jorge de Sousa Braga, meros excertos de um livro inteiro, daqueles microcontos que se situam algures entre a ficção, a poesia, o humor, o surrealismo e o fantástico. Não sei se estão a ver o estilo, mas até são relativamente abundantes os seus cultures e este, ajuizando pelos exemplos aqui contidos, parece ser dos melhores. Nada que chega ao poder da célebre história de horror de Fredrik Brown "O último homem da Terra estava sozinho numa sala. Ouviu-se uma batida na porta", mas os resultados de Sousa Braga são mesmo assim bastante interessantes. É um estilo centrado na brevidade (obviamente) e na sugestão, usando o inesperado de situações e encadeamentos de ideias como ferramenta fundamental. Claro que nem todas funcionam com igual eficácia. Mas há pérolas. E fiquei curioso com o livro.

Textos anteriores deste livro:

domingo, 13 de abril de 2014

Lido: A Carta de Ronaldinho

A Carta de Ronaldinho é outro continho de Mia Couto sobre a normalidade e a sua ausência, sobre a imaginação e a realidade, sobre a miséria e sobre o sonho. Conta a história do velho Filipão Timóteo, frequentador de um bar onde ia assistir aos jogos de futebol na televisão que nele não havia. O bar era pobre, quase miserável, um balcão e pouco mais. Nada de aparelhos televisivos, a não ser que contassem os que Timóteo desenhava e nos quais assistia sozinho mas cheio de entusiasmo aos jogos que ele mesmo inventava. E também aqui, como em outros contos, a poesia feliz do endoidecido contrasta com o embaraço dos demais. Também aqui tentam demovê-lo, trazê-lo para a realidade consensual de que se alheara, mas o velho recusa, para o que se apoia numa carta.

É outro bom conto, ainda que me pareça faltar-lhe a eficácia que encontro noutros e embora me tenha parecido algo repetido em tema e abordagem a alguns desses outros. Não foi dos que mais me agradaram, portanto. Mas isso está longe de o tornar mau.

Contos anteriores deste livro:

Lido: O Homem do «BMW»

O Homem do «BMW» é outro texto da Clara Ferreira Alves sobre uma coisa que a irrita. Bastante mais convencional do que a anterior, e também com bastante menos graça, esta crónica muito típica debruça-se sobre um determinado tipo de arrivista novo-rico ou novo-remediado ligado à finança, descendente direto dos yuppies dos anos 80, cuja única ambição na vida é trepar. No sentido português do termo, sublinhe-se, não no brasileiro.

A espécie é repugnante, concordo plenamente. Mas este texto, sendo embora eficaz na sua tentativa de desmontar as criaturas, não me parece bem escolhido para um livro como este. Porque contém alguma ironia, mas escassa. Porque contém pitadas de sarcasmo, mas meras pitadas. Porque contém, sobretudo, doses cavalares de asco. E o asco não é particularmente humorístico, a menos que seja bem mais mal comportado do que Clara Ferreira Alves pretende ou consegue ser. O asco de um Manifesto Anti-Dantas, sim, tem graça. E muita. Este não tem, lamento.

Textos anteriores deste livro:

sábado, 12 de abril de 2014

Lido: O Peixe e o Homem

O Peixe e o Homem é mais um continho fantástico de Mia Couto, cheio daquelas coisas que tornam os textos do autor tão saborosos e de que já falei o suficiente ao longo destas histórias, motivo pelo qual falarei apenas da história propriamente dita. É uma história insólita, sobre a normalidade, ou sobre a normalização que a sociedade impõe às pessoas e que algumas decidem ignorar. Um homem, o narrador, é abordado por um outro homem, seu vizinho, que o bairro tem como excêntrico ou louco. Que tem de passear o peixe no lago do parque mas não pode, diz-lhe ele, que se lhe acaba a vida, se o vizinho faz o favor de substituí-lo. E o vizinho, entre vergonhas e embaraços, lá acaba por ceder, tanto ao passeio do peixe, como à transferência da responsabilidade, ou da excentricidade, ou da loucura. Isto, de uma forma muito resumida, pois o conto tem mais conteúdo, ou não fosse inspirado pelo Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira. Muito bom mesmo.

Contos anteriores deste livro:

Lido: Bom Dia. Eu Queria Comprar um Telemóvel

Bom Dia. Eu Queria Comprar um Telemóvel, que não é título mas sim primeira linha — o texto não tem título — é um exercício de ironia de Clara Ferreira Alves, em forma de diálogo, sobre a complicação que uma pobre cliente que nada percebe de telemóveis e respetivos modelos, planos de pagamentos, cartões de pontos e o diabo a quatro, tem de enfrentar quando chega a uma loja para, simplesmente, comprar um telemóvel. Qualquer telemóvel. De preferência de maneira a poder sair da dita loja pouco tempo depois com o recém-adquirido telemóvel na mão e a funcionar.

Obviamente, não consegue.

Sem que seja nada de superlativo, é um textozinho divertido, entre o conto e o sketch, corrosivo q.b. para com uma certa forma de facilitar a vida ao cliente dificultando-a ao máximo. Há aqui algo de caricatura kafkiana, ainda que Clara Ferreira Alves empregue uma leveza de que em Kafka nem sombra se vislumbra. O leitor, ou pelo menos este leitor, sorri. É o que se pretende.

Textos anteriores deste livro:

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Lido: O Caminho da Cruz e do Dragão

O Caminho da Cruz e do Dragão (bibliografia) é um conto de ficção científica de George R. R. Martin sobre religião. Ou por outra: sobre o poder da ficção, da imaginação, sobre a capacidade que uma história bem contada tem de capturar mentes e corações e levá-los consigo. Parecem coisas diferentes, mas o que este conto nos diz é que são a mesma coisa, que as religiões, por mais que se armem de verdades e rigores teológicos, por mais que reprimam heresias, não passam de histórias bem contadas, capazes de arrastar multidões. E quem diz religiões, diz outros tipos de narrativas (palavra agora muito em voga) aparentemente exteriores aos "meros" literatura, teatro ou cinema.

Martin fá-lo levando-nos para o futuro distante e para paragens igualmente distantes no espaço. Nesse lugar longínquo no espaçotempo, a religião que hoje conhecemos como catolicismo evoluiu, sofreu mutações e tornou-se multiespecífica, integrando nos seus quadros membros de espécies alienígenas que a humanidade teria encontrado entretanto, mas continuam a haver (mais até do que há hoje) sacerdotes cuja função é controlar heréticos e destruir heresias, por todos os meios que considerem necessário. O protagonista desta história é um desses homens, e a heresia que é encarregado de combater é algo que o vai apanhar de surpresa.

É uma bela história de FC, que eu até traduzi e tudo, ainda que para outra publicação publicada alguns meses depois desta. Para ser sincero, prefiro a minha tradução, mas não desgostei desta. Quanto à história propriamente dita, gostei bastante.

Conto anterior deste livro:

Lido: A Filha de Rappaccini

A Filha de Rappaccini é uma noveleta de horror de Nathaniel Hawthorne que, um pouco à maneira de Frankenstein de Mary Shelley, pode igualmente considerar-se uma história antecessora da ficção científica. Datando como data ainda da primeira metade do século XIX, trata-se de um texto romântico com tudo aquilo que mais me desagrada nos textos românticos. Há neles uma fórmula que desde miúdo me parece muito ridícula: rapaz está calmamente a cuidar da sua vida, rapariga aparece-lhe na frente, rapaz põe nela os olhos e perde-se instantaneamente de amores, e depois ou tudo corre arrebatadoramente bem, ou tudo corre arrebatadoramente mal, entre facas e alguidares.

Sim, Hawthorne segue fielmente a fórmula, e quiçá por isso atribui este texto a um tal M. de l'Aubépine, que se limitaria a traduzir. O protagonista, um certo Giovanni Guasconti, aparece em Pádua para estudar. E pouco depois já está apaixonadíssimo por Beatrice Rappaccini, que vislumbra a deambular pelo jardim de sua casa. Ora, acontece que o pai da donzela é um cientista mais que um pouco louco e mau como as cobras (et voilà a ligação à FC), e tanto o jardim como a própria filha são o seu laboratório, com os quais conduz experiências que alteram a natureza das plantas e da rapariga. E por aí segue a história, com bastante previsibilidade: o jovem cada vez mais obcecado, a rapariga entre o esquiva e o interessada, e aos poucos vai-se descobrindo o que se passa com o jardim e os estapafúrdios porquês do pai da rapariga, após o que toca de atar tudo isto num desfecho à maneira, fim.

Sim, o meu tom é jocoso e este texto provavelmente não merece ser assim alvo de troça. Está bem escrito e a história está bem construída. Quanto à fórmula, é fruta da época; era assim que se escrevia um pouco por todo o Ocidente há cento e muitos anos. É verdade que não gosto, que acho e sempre achei ridículo, mas reconheço que Hawthorne não merece ser gozado. Além disso, há quem goste deste tipo de história e desta forma de as escrever; para esses, esta será mais que provavelmente uma boa história, por mais que para mim não o seja. Pax.

Contos anteriores deste livro:

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Lido: Textos Neo-Gnósticos

Textos Neo-Gnósticos, de subtítulo Os Códigos Mistéricos da Quinta Idade, é um volume de textos de António de Macedo com um forte pendor esotérico. Num total de sete, introdução incluída, são textos sobre temas vários que têm uma coisa em comum: a tentativa de explicar pela via "mistérica" uma série de factos e factoides dispersos. Não se trata de ficção, e antes tratasse. O tom é definitivamente ensaístico, e procura mesmo ser académico, chegando a adotar do estilo de referenciação científica num livro que é fundamentalmente anticientífico.

Há nele, evidentemente, disparates com fartura, sendo talvez o mais risível a ideia peregrina de que os símios antropoides não são os ascendentes do homem (é assim que está formulado no livro... sem que fique inteiramente claro se Macedo se refere às espécies atuais, como parece, o que só amplificaria a asneira, se aos antecedentes comuns de todos os Hominidae), mas sim "homens degenerados." Porquê? Porque tal ideia se ajusta melhor à filosofia que defende. E assim pela janela voam séculos de acumulação de conhecimentos, provas fósseis, datações, etc., etc., etc.

Como este disparate há outros, mas os mais sérios surgem principalmente a talho de foice, numa espécie de apartes atirados para a página como quem diz "ora tomem lá esta ideia, mas não é disso que eu quero aqui falar." Não temos aqui propriamente um ataque claro à ciência estabelecida, embora haja nestas páginas vários ataques mais ou menos velados ao espírito científico como um todo.

O que não é de surpreender, convenhamos. A ciência, com a sua informação aberta e metodologia clara, composta por dúvida metódica, experimentação e reavaliação das ideias anteriores consoante os resultados da experimentação as confirmem ou não, está nos antípodas conceptuais de todos os ocultismos, da ideia de que a "verdade" (estas "verdades" precisam sempre de aspas) só está ao alcance de um punhado de iluminados aos quais é concedido o dom da revelação dos "mistérios", e isso independentemente de serem deste tipo esotérico ou do mais convencional género teológico. Na ciência, a palavra dos velhos mestres não é nada se não for corroborada pelos dados resultantes da experimentação ou de estudos empíricos; aqui, a palavra dos velhos mestres é tudo, e para realmente a "compreender" é necessário criar monumentais castelos de exegese assentes em coisa nenhuma. Ou por outra: assentes em ideias preconcebidas, que depois vão ser "sustentadas" escolhendo a dedo esta ou aquela passagem de um qualquer cartapácio o mais empoeirado possível, este ou aquele factoide histórico quanto mais obscuro melhor, e deitando fora tudo o resto.

São duas formas opostas de ver o mundo, de reagir a ele e de agir sobre ele. O facto de vocês estarem a ler estas palavras num écran demonstra cabalmente qual é a forma produtiva e qual a estéril.

E no entanto, continuam a escrever-se e a publicar-se livros como este. É dos tais "factos mistéricos" da nossa idade.

E, pior, eles chamam a isto ciências ocultas. Ciências. Que raio de abastardamento de tão nobre palavra!

Ah, mas esperem. Calma lá. O livro não é inteiramente desprovido de interesse. É salvo por duas coisas, uma que provavelmente o salvará para um leque mais vasto de leitores, a outra que só o salva para gente como eu. A primeira é o humor que Macedo emprega com alguma frequência, a suficiente para deixar a pairar uma certa dúvida sobre se alguns dos disparates que aqui escreve são realmente ideias suas ou tentativas de entrar pelas areias movediças do humorismo. A outra são os textos sobre a literatura fantástica portuguesa que, depois de serem bem amanhados e limpos de vísceras esotéricas, acabam por ser alimento razoavelmente suculento para quem se interessa pelo tema. Pena é constituírem uma parcela tão diminuta do conteúdo do livro. Ele poderia ser muitíssimo melhor se assim não fosse.

Sendo como é, resta o suspiro.

Este livro foi-me oferecido pelo autor, julgo que por causa do conteúdo relevante para a FC&F portuguesa. Julgo e não só: espero. Espero que não estivesse a tentar converter-me. Se estava, o tiro saiu violentamente pela culatra.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Lido: O Novo Padre

O Novo Padre é mais um conto de Mia Couto que não é, realmente, sobre um novo padre. Passado no Moçambique colonial, centrado na figura de um colono português, daqueles que, porque afastados das leis e do governo, porque distantes de tudo e transformados por isso na corporização do colonialismo no lugar onde se instalaram, viviam e impunham as leis conforme mais lhes dava jeito, é um conto sobre o racismo e sobre os desmandos de um sistema opressivo que dava ao branco tudo e ao preto deixava apenas a sujeição.

Até que um novo padre chega ao sítio indeterminado em que o conto tem lugar, e subitamente as coisas mudam.

Gostei bastante mais deste conto que do anterior. Aliás, gostei mais deste conto do que da maioria dos que li até agora no livro a que pertence. É um conto duro e incómodo, que Mia Couto consegue contar de uma forma quase suave. Muito bom.

Contos anteriores deste livro:

Lido: Maria Pedra no Cruzar dos Caminhos

Maria Pedra no Cruzar dos Caminhos é um continho de Mia Couto com uma forte pegada fantástica. O tema, como em tantos outros destes contos, é uma mulher que um belo dia decide, sem que ninguém entenda porquê, ir deitar-se numa encruzilhada, nua, deixando que todos façam com ela o que entendam fazer. E aí fica cinco dias sem que a família, supersticiosa, temendo magias e malignidades, se atreva a ir lá buscá-la. O conto é ambíguo quanto ao que de facto acontece ou deixa de acontecer durante esses dias, como ambíguo é a respeito do que se passa nove meses depois no mesmo local. Mas quanto a isto é menos.

Também este não foi dos contos que mais me agradaram. É bom, mas parece-me que há contos melhores neste livro.

Contos anteriores deste livro:

Lido: Eis o Drácula

Eis o Drácula é um texto de José Alberto Braga que volta a ter graça, apesar de cair por vezes no trocadilho fácil que o autor tanto emprega. À primeira vista parece tratar-se no essencial de uma sequência de factoides sobre os vampiros, tal como eles nos são apresentados nas lendas e, principalmente, na literatura e cinema, e escritos e descritos com doses maciças de ironia. Há nele algumas verdadeiras pérolas. Um exemplo, que até nem é dos melhores: "A exemplo da nossa juventude, o vampiro é famoso por trocar a noite pelo dia". É assim, com tiradas deste género, algumas piores que esta, outras bastante melhores, que as suas duas páginas são gastas até quase ao fim.

Quase.

É que a última frase, seis palavrinhas apenas, transforma este texto num conto fantástico. Num conto fantástico que até tem o seu interesse enquanto tal, apesar do objetico principal ser simplesmente o divertimento do leitor. E isso dá-lhe uma nova dimensão. Deste gostei.

Textos anteriores deste livro:

Lido: A Funerária

A Funerária é uma curta peça de teatro de José Alberto Braga... ou talvez não passe de um sketch. Mas é capaz de ser mesmo peça; afinal, sempre são oito páginas de texto, o que faz dele, e de longe, o mais longo texto presente neste livro.

O tom é macabro. Um homem aparece um belo dia numa agência funerária, gerida por dois sócios chamados Alves, com a intenção de comprar um caixão. Até aí, nada de invulgar. Mas depressa a coisa começa a complicar-se quando o atarantado cangalheiro que o atende percebe não só que o caixão é para o próprio cliente, como que este pretende a morte para o mais breve possível, e o cangalheiro que faça o que for necessário para resolver o assunto. Ou os cangalheiros, ele e o sócio. Nisso, o cliente não é esquisito.

É um texto que realmente tem graça e, não por casualidade, também é um dos (demasiado escassos) textos devidamente desenvolvidos que o livro contém. As duas coisas não estão separadas, longe disso. Aqui temos não só a ideia básica, mas também outras ideias acessórias que se lhe somam, e uma história com princípio, meio, fim e punch line. Tudo no sítio, tudo eficaz.

Assim, sim.

Textos anteriores deste livro:

domingo, 6 de abril de 2014

Lido: História, Essa Ficção

História, Essa Ficção é um texto de José Alberto Braga que também não tem grande graça. Na verdade, achei este texto principalmente frustrante, porque Braga tem aqui algumas ideias relacionadas com um certo caráter falso da história (ou pelo menos da história tal como nos é apresentada pela cultura popular) que, bem desenvolvidas, poderiam dar textos interessantes, ainda que misturadas com outras que, mais uma vez, cedem a um certo trocadilhismo fácil e que não vejo como poderiam desenvolver-se melhor. Mas o que é certo é que nem umas nem as outras estão bem desenvolvidas. Há uma opinião, com uma série de frases a servir-lhe de ilustração de uma forma que se calhar nem pretende realmente ser humorística, e nada mais do que isso. Ora...

Textos anteriores deste livro:

Lido: As(os) Noivas(os) de Santo(a) António(a)

As(os) Noivas(os) de Santo(a) António(a) é mais um textículo-barra-missiva de Henrique Monteiro, desta feita endereçado por "um grupo de apoiantes do Sr. Deputado Sousa Pinto" (que, depois de perguntar a si próprio "quem?!", o leitor lá tem uma vacuíssima lembrança de uma estrela cadente do Partido Socialista, um dos muitos carreiristas com mais ambição do que talento que de vez em quando nos entravam casa dentro matraqueando palavreado oco por via televisiva) ao presidente da câmara de Lisboa. Um textículo com uma única característica de monta: é parvo. Piada, nem sombra dela se vislumbra. Aparentemente tenta, a propósito das noivas de Santo António, gozar com alguma proposta que eventualmente terá existido à época para reconhecer formas de organização familiar alternativas ao casamento. Daquelas polemicazinhas que hoje nem se percebem tão pacíficas se tornaram entretanto as soluções encontradas. Imagino que, à época, o conservadorismo troglodita talvez tenha visto nisto alguma graça, mas confesso que tenho de forçar a imaginação quase ao limite para conseguir imaginar tal coisa.

Henrique Monteiro é um completo erro de casting neste livro. Não há qualquer espécie de graça no que dele aqui se apresenta. Um zero total. E a culpa não é apenas dele: os organizadores deviam ter percebido que estes textos estão tão amarrados aos factoides politiquícios do tempo que, mesmo que alguma graça tivessem tido na altura certa, hoje já não têm nem sombra dela, não só mas também porque já ninguém se lembra daquilo a que fazem referência.

É que há coisas que são intemporais, há coisas que são importantes e há coisas que marcam a memória dos povos. Mas, aparentemente, não é sobre essas coisas que Henrique Monteiro gosta de escrever.

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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Lido: Pedro e a Voz

Pedro e a Voz é mais um texto de Henrique Monteiro, este mais extenso, mas tirando isso muito semelhante ao anterior. Também aqui vamos encontrar uma espécie de missiva, enviada por um tal Pedro a um tal Rui. O Pedro depressa se percebe ser Pedro Santana Lopes, mas a identidade do Rui passou-me por completo ao lado. E não é que interesse, francamente. Pedro relata ao seu amigo Rui (presume-se que seja amigo; afinal trata-o por tu) uma conversa que teria tido com a sua própria consciência, fazendo referências a uma série de tricas da politiqueirice nacional que já estão há muito enterradas no baú das irrelevâncias esquecidas por todos. Por isso, talvez, o total desinteresse que este texto me causou, e a completa ausência de graça que lhe achei.

Nem o português é grande coisa; pelo menos as crónicas do MEC, por mais datadas que estejam, têm na qualidade do português um bom motivo de interesse. Estas só me levam a dizer uma coisa: meh!

Textos anteriores deste livro:

Lido: Quando Cristo Desce à Terra

Quando Cristo Desce à Terra é um textozinho de Henrique Monteiro que, vê-se, tenta ter graça, mas no qual não encontrei nem sombra dela. É curtinho e pretende representar uma missiva enviada por um tal D. Sanches ao ministro da administração interna, e é possível que a sua completa ausência de piada tenha a ver com referir-se a algo tão datado no tempo e no espaço que já está esquecido. Uma piadola do quotidiano, que deixa de fazer sentido quando este se transforma em passado e perde relevância com isso. Talvez. O que é certo é que meh.

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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Lido: Gosto Muito de Palavrões

Gosto Muito de Palavrões é mais uma divertida crónica de Miguel Esteves Cardoso na qual ele, como o título indica, declara o seu amor pelos palavrões. E explica porquê, com profusão de exemplos, quase todos bem apanhados e melhor pensados. Sim, pensados, que se nota que a crónica não se limita a ser uma coisinha destinada a fazer rir o freguês com a publicação em letra de imprensa (isto saiu originalmente numa revista, acho eu) de um texto eivado de caralhadas. Ou, melhor ainda, de um texto em que a caralhada convive harmoniosamente com frases como "dar nova vida aos palavrões, libertando-os dos constrangimentos estritamente sexuais ou orgânicos que os sufocam, é simplesmente um exercício de libertação." Há aqui, como se vê, uma certa filosofia do palavrão, bem como algumas reflexões gramaticais, o que na verdade serve não só para pensar um pouco, mas também para tornar o todo mais divertido. Esta é uma grande crónica, ainda que sofra com algo que é comum nas crónicas mais humorísticas do MEC: irem perdendo a piada para o fim. Acontece com esta, tal como acontece com muitas outras, mas isso não chega a ser suficiente para lhe retirar qualidade.

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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Lido: Finis

Finis (bibliografia) é um imaginativo conto de ficção científica sobre o fim do mundo, escrito em 1906 por Frank L. Pollack. Trata-se de um exemplar curioso de ficção científica com mais de cem anos, que erra quase completa e até quase grotescamente a ciência mas que, tendo em conta o conhecimento científico da época, até talvez se possa considerar ficção científica dura, escrita e publicada antes sequer do género ser individualizado e definido. A ideia básica é simples. O universo, pensava Pollock (ou pelo menos admitia para efeitos literários), não podia ser realmente infinito e as estrelas não podiam estar apenas suspensas no vazio. Tal como a Lua orbita a Terra e a Terra o Sol, este e as demais estrelas deverão orbitar uma qualquer superestrela gigantesca cuja temperatura deverá ser mais quente que a do Sol, na proporção da diferença que existe entre as temperaturas deste e da Terra.

Mas nunca ninguém viu tal estrela. Porquê? Simples: porque a sua luz ainda não teve tempo para chegar até nós.

Até que de repente chega.

O mais interessante deste conto é o facto de seguir fielmente as regras da ficção científica tal como continuou a ser praticada ao longo todo o século que se seguiu. Não por todos os seus praticantes, bem entendido. Mas por muitos.

Isto, claro, apesar de haver também nele inegáveis ressonâncias dos mitos judaico-cristãos sobre o Armagedão. E também aí, na bem sucedida conciliação dessas influências religiosas com a ciência, o conto parece moderno.

É-nos apresentada uma ideia de índole científica, até mesmo em ambiente científico como na ficção de laboratório que tão comum tem sido na FC. Depois da ideia apresentada, o conto dedica-se a descrever os acontecimentos que são consequência da sua realidade. Para isso, faz uso de um casal de protagonistas que não perde muito tempo a desenvolver, pois a sua função é simplesmente servir de testemunhas dos acontecimentos. E estes são de dimensão verdadeiramente cósmica.

Apesar de irremediavelmente datado no que à verosimilhança científica diz respeito, mesmo apresentando uma ideia de uma modernidade surpreendente e ainda hoje válida (a de que há partes do universo que não são observáveis porque a luz que emitiram ainda não teve tempo para chegar até nós), trata-se de um conto bastante interessante para quem gosta de conhecer exemplares antigos do género. É, até certo ponto, o meu caso. Por isso, não posso realmente dizer que tenha gostado, mas li-o com interesse.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Lido: Uma Casa Assombrada

Uma Casa Assombrada (bibliografia) é uma vinheta fantástica de Virginia Woolf, que foge um pouco ao padrão do livro em que se insere, como aliás talvez fosse de esperar. Sim, tata-se, talvez, de uma história de fantasmas. Sim, envolve, talvez, uma casa assombrada, onde as portas se fecham sozinhas. Sim, talvez seja uma história sobre um casal de fantasmas que, como todos os fantasmas, estão presos ao passado. Sim. Talvez.

Mas também é possível que não haja mais fantasmas neste conto do que os fantasmas psicológicos que todos vamos gerando ao longo da vida e transportamos connosco. Sombras de velhos amores, de velhos ódios, de velhas paixões, de velhas desilusões. Também é possível que o casal de fantasmas seja apenas isso: velhas sombras existentes unicamente na memória.

Este é, pois, um conto aberto a todas as interpretações, o que faz dele muito todorovianamente fantástico. E sim, é um bom conto, parece-me, embora não um conto memorável.

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