- guerra
- desemprego
- incêndios
- pedofilia
- blogs
- Operação Triunfo
- inundação
- spam
- braço partido
- spamesia
- tradução
- E-nigma
- novos amigos
- crise económica
- terrorismo
Outras coisas houve. Mas estas são as que se destacam de um ano que, no geral, não deixa saudades nenhumas. Entre a mais fascizante administração americana de que tenho memória, o mais incompetente (e salazarento) governo português desde o 25 de Abril, as pequenas, por comparação, derrotas e vitórias de 365 dias de vida minha e dos que me rodeiam, e as consequências de tudo isto, fica um ano que melhor seria que não tivesse existido. As coisas boas não compensam as más, muito longe disso.
Que 2004 seja melhor, é a única coisa que é possível desejar.
Mesmo sem grande esperança de que o seja mesmo...
quarta-feira, 31 de dezembro de 2003
Historinhas Ene III
Depois das palavras mais belas teriam necessariamente de chegar as mais indesejadas, escolhidas democraticamente pelos próprios visitantes do Ene Coisas. Quem as escolheu optou pelas palavras: obnubilar, perscrutar, interstício, Cornualha, entrefolhos, morte, solidão, prazer, fugaz e cona. E eu escrevi uma historinha de fantasmas:
Foi nos entrefolhos da cona da morte que encontrei o mais fugaz prazer da minha vida. Morri, naturalmente, na solidão que me obnubila os interstícios da consciência, uma solidão húmida como a das charnecas da Cornualha, onde corvos perscrutam o interior de cadáveres de pele sedosa em busca de alimento. E agora aqui estou, imóvel e lívido, percorrido por frémitos e por bicos de corvos. Agora aqui estou a olhar para vocês com as minhas órbitas vazias.
Foi nos entrefolhos da cona da morte que encontrei o mais fugaz prazer da minha vida. Morri, naturalmente, na solidão que me obnubila os interstícios da consciência, uma solidão húmida como a das charnecas da Cornualha, onde corvos perscrutam o interior de cadáveres de pele sedosa em busca de alimento. E agora aqui estou, imóvel e lívido, percorrido por frémitos e por bicos de corvos. Agora aqui estou a olhar para vocês com as minhas órbitas vazias.
Spamesia (240)
Terça-feira, 30 de Dezembro de 2003. Esta é a data de recepção do spam que vai servir para criar o último spamema do ano. Os spammers resolveram oferecer-me 77 mensagens, e algumas tinham títulos curiosos, como "flap". Suficientemente curiosos, na verdade, para fazer um spamema que é também uma espécie de balanço do ano:
Palmada
A palmada dada
não se olha a moral
Se todas as histórias
têm uma moral
então é esta a moral
da história recente
deste nosso quintal
Palmada
A palmada dada
não se olha a moral
Se todas as histórias
têm uma moral
então é esta a moral
da história recente
deste nosso quintal
terça-feira, 30 de dezembro de 2003
Historinhas Ene II
O segundo desafio era construir uma história que contivesse mais dez "palavras mais belas", desta vez sempre iguais e escolhidas pelo Luís. Eram elas: "besouro", "sussurro", "silêncio", "noite", "espinho", "alma", "muro", "ziguezague", "serpentear" e "nada". E eu, como achei o desafio pequeno, resolvi usá-las por ordem. O resultado é a minha historinha de que mais gosto:
Um besouro esvoaça num sussurro de segredos, rompendo com cuidado o silêncio da noite. Quando o mocho acorda, o besouro pousa num espinho de um velho cacto carcomido, rodeando a sua alma assustada de um muro de sossego. Passa uma aragem, em ziguezague, e o besouro aproveita para levantar voo de novo, serpentear pelo ar fora, para longe dos olhos do mocho, que o seguem. Que o fitam. Que não largam o fio que prenderam nas suas asas de besouro enquanto o mocho por sua vez bate as asas de penas de seda. O besouro ainda tem tempo para assustar-se quando vê que aqueles olhos gigantescos se aproximam como duas luas feitas míssil. Mas depois, não tem tempo para mais nada.
Um besouro esvoaça num sussurro de segredos, rompendo com cuidado o silêncio da noite. Quando o mocho acorda, o besouro pousa num espinho de um velho cacto carcomido, rodeando a sua alma assustada de um muro de sossego. Passa uma aragem, em ziguezague, e o besouro aproveita para levantar voo de novo, serpentear pelo ar fora, para longe dos olhos do mocho, que o seguem. Que o fitam. Que não largam o fio que prenderam nas suas asas de besouro enquanto o mocho por sua vez bate as asas de penas de seda. O besouro ainda tem tempo para assustar-se quando vê que aqueles olhos gigantescos se aproximam como duas luas feitas míssil. Mas depois, não tem tempo para mais nada.
Criticaram-me a Sally!
Acabou de ser publicada no E-nigma uma crítica de Octávio Aragão (o sr. Intempol, para quem não sabe) ao meu livrito, Sally. Uma crítica honesta, em que o Octávio fala daquilo que, a seu ver, são os pontos positivos e os pontos negativos daquela história. Uma crítica sem bajulações nem arrasos, que mostra que quem a escreveu leu o livro e reflectiu sobre ele, algo que tantas vezes está ausente até da crítica mais profissional, na imprensa.
Assim dá gosto! Muito obrigado, Octávio!
Assim dá gosto! Muito obrigado, Octávio!
Spamesia (239)
Ontem, segunda-feira, chegaram-me 69 mensagens-lixo. Curiosamente, até houve alguns títulos desafiantes e/ou interessantes, e tive alguma dificuldade de escolha. Acabei por optar pelo lugar-comum mais absoluto de "ANO NOVO VIDA NOVA", e escrevi isto:
Ano novo vida nova
Ano novo
vida nova
bota o ovo
para a cova
Dorme o povo
e não acorda
porque o polvo
se renova
Ano novo
vida nova?
Uma ova!
Ano novo vida nova
Ano novo
vida nova
bota o ovo
para a cova
Dorme o povo
e não acorda
porque o polvo
se renova
Ano novo
vida nova?
Uma ova!
Historinhas Ene I
Em Outubro, o Luís Ene andou a brincar com os seus visitantes, apresentando-lhes uma série de desafios literários que eles (isto é, nós) teriam de ultrapassar para chegarem ao prémio: milhares de euros em barras de satisfação pessoal. Eu por lá andava de vez em quando, e resolvi quase sem dar por isso meter mãos ao teclado. Umas historinhas saíram melhores que outras, como é natural, mas ainda saíram umas quantas.
A primeira das minhas Historinhas Ene tinha como regras a elaboração de um texto que incluísse todas as dez "palavras mais belas" que tínhamos escolhido uns posts antes. Cada um de nós usaria as suas, e as que me tinham vindo parar aos dedos tinham sido: "recordação", "Cláudia", "circunferência", "miosótis", "esfinge", "formaldeído", "organelo", "literatura", "sílaba" e, violando as regras com motivo, "amanhã serão outras".
E o que escrevi, foi:
A recordação da Cláudia deita-se na minha memória, rodeando-a com uma circunferência de miosótis. Olha-me com o seu rosto de esfinge, imóvel, como se fixado em formaldeído. A recordação da Cláudia constrói-se na minha memória organelo a organelo, como se a memória fosse uma fábrica de biologias. Mas não é, porque em vez da Cláudia em forma de gente, dela nasce apenas literatura, sílaba a sílaba.
O que me entristece é que se hoje as recordações da Cláudia são suaves e sorriem, amanhã serão outras bem diferentes...
A primeira das minhas Historinhas Ene tinha como regras a elaboração de um texto que incluísse todas as dez "palavras mais belas" que tínhamos escolhido uns posts antes. Cada um de nós usaria as suas, e as que me tinham vindo parar aos dedos tinham sido: "recordação", "Cláudia", "circunferência", "miosótis", "esfinge", "formaldeído", "organelo", "literatura", "sílaba" e, violando as regras com motivo, "amanhã serão outras".
E o que escrevi, foi:
A recordação da Cláudia deita-se na minha memória, rodeando-a com uma circunferência de miosótis. Olha-me com o seu rosto de esfinge, imóvel, como se fixado em formaldeído. A recordação da Cláudia constrói-se na minha memória organelo a organelo, como se a memória fosse uma fábrica de biologias. Mas não é, porque em vez da Cláudia em forma de gente, dela nasce apenas literatura, sílaba a sílaba.
O que me entristece é que se hoje as recordações da Cláudia são suaves e sorriem, amanhã serão outras bem diferentes...
segunda-feira, 29 de dezembro de 2003
Spamesia (238)
E no domingo houve 66 spams, quase todos com uns títulos muito maus. Salvou-se um que dizia "Don't worry taurus, I won't tell", que deu para fazer isto:
Descansa, touro, eu não digo a ninguém
Descansa, touro, eu não digo a ninguém
que tu no fundo tens medo que as vacas
fujam da pastagem que conquistaste
e por isso estás grato àqueles animais
estranhos que erguem paliçadas
por mais que lhes mostres a tua rebeldia
Descansa, touro, eu não digo a ninguém
que já ouviste falar da arena e do matadouro
mas não acreditas porque achas
que não pode ser assim tão mau
e quando te vêm chamar, escavas a terra
e resfolegas por uma questão de tradição
mas no fundo partes de bom grado
Descansa, touro, eu não digo a ninguém
que tens cérebro de galinha e penas nos cascos
Descansa, touro, eu não digo a ninguém
Descansa, touro, eu não digo a ninguém
que tu no fundo tens medo que as vacas
fujam da pastagem que conquistaste
e por isso estás grato àqueles animais
estranhos que erguem paliçadas
por mais que lhes mostres a tua rebeldia
Descansa, touro, eu não digo a ninguém
que já ouviste falar da arena e do matadouro
mas não acreditas porque achas
que não pode ser assim tão mau
e quando te vêm chamar, escavas a terra
e resfolegas por uma questão de tradição
mas no fundo partes de bom grado
Descansa, touro, eu não digo a ninguém
que tens cérebro de galinha e penas nos cascos
domingo, 28 de dezembro de 2003
Spamesia (237)
Ontem, sábado, chegaram-me 64 spams, um valor bem menor do que o fluxo de antes do natal. De todos os títulos (que não eram 64, devido a repetições e a spams com títulos em branco) o melhor pareceu-me ser o que dizia "super loads". E lá saiu um:
Super cargas
Há pessoas que têm rostos feitos palha
e cabelos como juncos, estaladiços e crespos
rodeando olhos que são écrans para planícies
Vemo-las sentadas sobre os calcanhares
nas bermas das estradas dos países pobres
fundindo-se com a terra como se cobertas
de uma pele mimética como a de um polvo
Vemo-las e quase que nos apercebemos
de que poderíamos também nós estar ali
reduzidos à condição de excrescências
de um planeta que nos põe nos ombros
a responsabilidade pela própria sobrevivência
Bastaria sermos forçados a carregar nos ombros
as super cargas da fome e da miséria
Super cargas
Há pessoas que têm rostos feitos palha
e cabelos como juncos, estaladiços e crespos
rodeando olhos que são écrans para planícies
Vemo-las sentadas sobre os calcanhares
nas bermas das estradas dos países pobres
fundindo-se com a terra como se cobertas
de uma pele mimética como a de um polvo
Vemo-las e quase que nos apercebemos
de que poderíamos também nós estar ali
reduzidos à condição de excrescências
de um planeta que nos põe nos ombros
a responsabilidade pela própria sobrevivência
Bastaria sermos forçados a carregar nos ombros
as super cargas da fome e da miséria
Repararam?
Repararam que aqui a Lâmpada tá mais gordinha? Não, não foram os bolos do natal. Sou eu que estou a fazer experiências de alteração de template ao vivo, em directo e devagarinho pra não chatear (o tempo livre também não abunda). De vez em quando contem com mais uma mudançazita por aqui, para o futuro.
Alguém por aí sabe o que se passa com o Blogger?
Pois, que raio se passa com o blogger? Aqui há um par de semanas foram quebras de serviço atrás de quebras de serviço, e desde então deixou de pingar o blo.gs e não responde às perguntas que lhe são feitas, pelo menos a acreditar no que dizem deste último serviço. Citando um comentario na página deles, datado de dia 20: "the feed of updates from blogger.com appears to have disappeared. we’ve sent a help request into blogger to find out where it’s gone off to, but haven’t heard back yet. until it reappears, updates to blogger-powered blogs that don’t ping us directly (or weblogs.com) will not be noticed."
Entetanto parece que a única forma de aparecermos nas listinhas, caros companheiros de infortúnio, é pingá-los à unha. Aqui explica como, se bem que não de uma forma muito didáctica...
Entetanto parece que a única forma de aparecermos nas listinhas, caros companheiros de infortúnio, é pingá-los à unha. Aqui explica como, se bem que não de uma forma muito didáctica...
sábado, 27 de dezembro de 2003
<-------- Os livros que estão ali
Há já montes de tempo que não vos falo dos livros que vão atravessando ali a coluna do lado. É que a falta de disponibilidade tem sido de tal maneira grande que até as leituras sofrem, não há grande renovação na pilha de livros em leitura e não há tempo para falar deles.
Mesmo assim, vai-se lendo qualquer coisinha. E desde a última vez que vos falei deles, passaram à estante das leituras concluídas Crónicas do Caos — O Mar Infinito (um bom bocado chatinho. E de novo com uma tradução cheia de detalhes irritantes, ainda que melhor que a do primeiro volume), Blogs (para este blogger, a parte das entrevistas vale o livro) e A Morte é um Acto Solitário (um magnífico romance de Ray Bradbury, bem traduzido, sem nada de FC e só com um levíssimo odor a fantástico e a terror a lembrar o pedigree do autor no género). Para o lugar destes, entraram:
- O Verão dos Dinossauros, de Greg Bear, é uma sequela para O Mundo Perdido de Arthur Conan Doyle. Quem gosta de obras auto-referenciais deve gostar bastante, mas quem não tem grande paciência para fanfics (mesmo para fanfics de luxo, como esta) deve ficar indiferente. Edição das Publicações Europa-América, 337 páginas (2000)
- Um Destes Dias de Jorge Eusébio, é a primeira menção honrosa do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes. Edição das Edições Colibri e da Câmara Municipal de Portimão, 15 páginas (2000)
- A Teia é o quarto e até agora último romance de FC de João Aniceto, autor que venceu o primeiro Prémio Caminho de ficção científica. Edição da Editorial Caminho, 259 páginas (1993)
Mesmo assim, vai-se lendo qualquer coisinha. E desde a última vez que vos falei deles, passaram à estante das leituras concluídas Crónicas do Caos — O Mar Infinito (um bom bocado chatinho. E de novo com uma tradução cheia de detalhes irritantes, ainda que melhor que a do primeiro volume), Blogs (para este blogger, a parte das entrevistas vale o livro) e A Morte é um Acto Solitário (um magnífico romance de Ray Bradbury, bem traduzido, sem nada de FC e só com um levíssimo odor a fantástico e a terror a lembrar o pedigree do autor no género). Para o lugar destes, entraram:
- O Verão dos Dinossauros, de Greg Bear, é uma sequela para O Mundo Perdido de Arthur Conan Doyle. Quem gosta de obras auto-referenciais deve gostar bastante, mas quem não tem grande paciência para fanfics (mesmo para fanfics de luxo, como esta) deve ficar indiferente. Edição das Publicações Europa-América, 337 páginas (2000)
- Um Destes Dias de Jorge Eusébio, é a primeira menção honrosa do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes. Edição das Edições Colibri e da Câmara Municipal de Portimão, 15 páginas (2000)
- A Teia é o quarto e até agora último romance de FC de João Aniceto, autor que venceu o primeiro Prémio Caminho de ficção científica. Edição da Editorial Caminho, 259 páginas (1993)
Spamesia (236)
Ontem, sexta-feira, houve 73 spams, mas quase todos com uns títulos muito maus. O mais razoável foi o que dizia "It's the PERFECT". Pelo menos deu um spamema estruturado com um mau título:
É o Perfeito
O Perfeito início é
um primeiro passo num caminho sem pó
que se estende até ao fim do espaço e do tempo
O Perfeito tempo é
uma sucessão de momentos
cada um deles contendo o tempo inteiro
O Perfeito inteiro é
dois olhos que se afundam nas profundidades
repletas de sonhos de outros dois olhos
Os Perfeitos olhos são
janelas repletas de estrelas e de centelhas
e de sinais de um universo pequeno mas infinito
O Perfeito infinito é
o espanto pelas ondas do mundo
ou então todo e qualquer verdadeiro início
É o Perfeito
O Perfeito início é
um primeiro passo num caminho sem pó
que se estende até ao fim do espaço e do tempo
O Perfeito tempo é
uma sucessão de momentos
cada um deles contendo o tempo inteiro
O Perfeito inteiro é
dois olhos que se afundam nas profundidades
repletas de sonhos de outros dois olhos
Os Perfeitos olhos são
janelas repletas de estrelas e de centelhas
e de sinais de um universo pequeno mas infinito
O Perfeito infinito é
o espanto pelas ondas do mundo
ou então todo e qualquer verdadeiro início
sexta-feira, 26 de dezembro de 2003
Spamesia (235)
No dia de natal, que foi quinta-feira, parece que houve uns quantos spammers que estiveram com as famílias porque o número de spams voltou a cair para 51. Nenhum problema, a não ser que os títulos desses spams foram quase todos uma bela porcaria. Salvou-se, por muito pouco, o que dizia "useful oil". Por muito pouco mesmo. Consequência: lá tive de escrever a palermice que se segue. Um daqueles poetas presunçosos que parece que andam por aí, viajando de café em café só para mostrar ao mundo a sua erudição, chamaria a isto algo como extravaganza; eu, que não percebo nada disto, prefiro chamar-lhe apenas uma ganza...
O útil óleo
O útil óleo pinga pingo a pingo
da parte que mais perto fica
do tecto da casa rica que produz
o útil óleo num clamor de estrondos
(catrapum, crás trás truz)
à porta, uma rapariga bonita
prega um prego numa fita
embebida de útil óleo até ficar
bêbada com o cheiro do gasóleo
e é assim que tudo fica
até vir a mulher da fava rica
e levar o tal óleo que é tão útil
para quê, ninguém sabe, mas é útil
O útil óleo
O útil óleo pinga pingo a pingo
da parte que mais perto fica
do tecto da casa rica que produz
o útil óleo num clamor de estrondos
(catrapum, crás trás truz)
à porta, uma rapariga bonita
prega um prego numa fita
embebida de útil óleo até ficar
bêbada com o cheiro do gasóleo
e é assim que tudo fica
até vir a mulher da fava rica
e levar o tal óleo que é tão útil
para quê, ninguém sabe, mas é útil
Spamesia (234)
Na quarta-feira, talvez para aproveitar o ímpeto natalino de última hora, houve mais spams: 68. Destas quase sete dezenas de mensagens-lixo, a que trazia melhor título era a que anunciava: "It's me":
Sou eu
Sabes?
Aquela aragem que passa
e atravessa
os teus cabelos
fazendo estremecer a penugem
quase invisível
que te cobre o rosto
afagando-a com mãos de vento
e depois fica a olhar-te
de longe
para lá do limite da tua
percepção
sabes?
Essa aragem, amor
sou eu
Sou eu
Sabes?
Aquela aragem que passa
e atravessa
os teus cabelos
fazendo estremecer a penugem
quase invisível
que te cobre o rosto
afagando-a com mãos de vento
e depois fica a olhar-te
de longe
para lá do limite da tua
percepção
sabes?
Essa aragem, amor
sou eu
Spamesia (233)
Na terça-feira, o número de spams reduziu-se ainda mais, regressando ao nível de há alguns meses: 51. Mesmo assim, apareceram alguns títulos razoáveis, incluindo um "travel you can afford" que eu traduzi para:
Viagens dentro do orçamento
Tenho um amigo que tem na vida o sonho
de um dia entrar num navio
com destino às Maldivas
(tem mesmo de ser um navio
diz ele que as viagens se fazem mais vivas)
Estava há dois anos a juntar dinheiro
de dez em dez euros numa conta no banco
quando perdeu o emprego
Comprou três livros sobre as Maldivas
e cinco cassetes de vídeo
(o dinheiro não chega para dêvêdês)
e agora, todos os fins de semana
embarca para o seu paraíso solarengo
sentado no sofá e rodeado
de sonhos tristonhos e garrafas de cerveja
Viagens dentro do orçamento
Tenho um amigo que tem na vida o sonho
de um dia entrar num navio
com destino às Maldivas
(tem mesmo de ser um navio
diz ele que as viagens se fazem mais vivas)
Estava há dois anos a juntar dinheiro
de dez em dez euros numa conta no banco
quando perdeu o emprego
Comprou três livros sobre as Maldivas
e cinco cassetes de vídeo
(o dinheiro não chega para dêvêdês)
e agora, todos os fins de semana
embarca para o seu paraíso solarengo
sentado no sofá e rodeado
de sonhos tristonhos e garrafas de cerveja
quarta-feira, 24 de dezembro de 2003
Spamesia (232)
Na segunda-feira houve bastante menos spam: 57, apenas. Lá no meio da floresta de assuntos, decidi-me por um "Ideas for HIM And HER -->" e escrevi:
Ideias para ele e para ela
Para ele:
Abre as asas e lança-te ao vento
deixando ao vento as decisões principais
sobre se há-de levar-te para o alto
se para o fundo
assim como assim, a vida é um momento
e não há tempo para mais indecisões
Para ela:
Despe as asas, não precisas delas
tu voas só com a força do teu olhar
não há perigo, não podes falhar
Ideias para ele e para ela
Para ele:
Abre as asas e lança-te ao vento
deixando ao vento as decisões principais
sobre se há-de levar-te para o alto
se para o fundo
assim como assim, a vida é um momento
e não há tempo para mais indecisões
Para ela:
Despe as asas, não precisas delas
tu voas só com a força do teu olhar
não há perigo, não podes falhar
Spamesia (231)
No domingo, foram 91 spams a atravessar os filtros. Outra vez. Os títulos foram piores que os de sábado, mas mesmo assim ainda recebi um "Games 241232". O resultado é longo:
Jogos
Numa sala um homem grita em tamanha euforia
que até a gravata lhe dança e salta em torno do pescoço
Dias depois vinte e três homens e setenta e cinco mulheres
recebem uma carta em casa a informá-los
de que podem ficar em casa porque o lugar onde trabalham
já não existe
Um dos homens aparece morto dias mais tarde
espalhados pelo chão os restos rasgados das contas
dos empréstimos para a casa e para o carro
lembram neve e são frios
Os outros choram um pouco
e há alguns que lhe invejam a coragem
Numa sala dois homens abraçam-se num amplexo viril
que faz tilintar as medalhas que forram os seus uniformes
Dias antes quarenta e dois adultos e treze crianças
tinham ficado espalhados pelo monte de entulho em que se transformou
o bloco de apartamentos em que viviam
numa cidade em guerra
Foram as primeiras vítimas de um ataque-relâmpago
destinado a destruir infra-estrutura e incapacitar canais logísticos
por forma a não deixar lançar os dois ou três mísseis balísticos
escondidos na periferia da cidade
Duas famílias desapareceram para sempre
as outras ficaram apenas um pouco mais pobres
No teu quarto, tu jogas à bolsa e ganhas
numa simulação de computador
e quando te fartas, vais tratar de aniquilar o inimigo
varrendo-o da superfície da terra virtual em que mergulhas
quando queres esquecer que à superfície da terra real
há quem jogue os mesmos jogos em tempo real
vitimando realmente gente de carne, osso e principalmente sangue
bem real
Jogos
Numa sala um homem grita em tamanha euforia
que até a gravata lhe dança e salta em torno do pescoço
Dias depois vinte e três homens e setenta e cinco mulheres
recebem uma carta em casa a informá-los
de que podem ficar em casa porque o lugar onde trabalham
já não existe
Um dos homens aparece morto dias mais tarde
espalhados pelo chão os restos rasgados das contas
dos empréstimos para a casa e para o carro
lembram neve e são frios
Os outros choram um pouco
e há alguns que lhe invejam a coragem
Numa sala dois homens abraçam-se num amplexo viril
que faz tilintar as medalhas que forram os seus uniformes
Dias antes quarenta e dois adultos e treze crianças
tinham ficado espalhados pelo monte de entulho em que se transformou
o bloco de apartamentos em que viviam
numa cidade em guerra
Foram as primeiras vítimas de um ataque-relâmpago
destinado a destruir infra-estrutura e incapacitar canais logísticos
por forma a não deixar lançar os dois ou três mísseis balísticos
escondidos na periferia da cidade
Duas famílias desapareceram para sempre
as outras ficaram apenas um pouco mais pobres
No teu quarto, tu jogas à bolsa e ganhas
numa simulação de computador
e quando te fartas, vais tratar de aniquilar o inimigo
varrendo-o da superfície da terra virtual em que mergulhas
quando queres esquecer que à superfície da terra real
há quem jogue os mesmos jogos em tempo real
vitimando realmente gente de carne, osso e principalmente sangue
bem real
terça-feira, 23 de dezembro de 2003
Spamesia (230)
No sábado atravessaram os meus filtros 91 spams, e vários deles vinham com títulos interessantes. Escolhi um de um tal Robbie Marino, que me escreveu, segundo dizia o computador dele, de 27 de Julho de 1981, algo chamado "RE: Time is of the Essence!!". OK, então dizes tu que o tempo...
O tempo é da essência
O tempo passa
pela praça
dos sonhos
risonhos
passa e parte
partindo em partes
a realidade
uma coisa o passado
outra o presente
que é quase
inexistente
outra ainda
o futuro
esse furo inseguro
um muro desconhecido
à nossa frente
Esta é parte
da essência
do universo
que se constrói
verso a verso
parte a parte
tempo a tempo
O tempo é da essência
O tempo passa
pela praça
dos sonhos
risonhos
passa e parte
partindo em partes
a realidade
uma coisa o passado
outra o presente
que é quase
inexistente
outra ainda
o futuro
esse furo inseguro
um muro desconhecido
à nossa frente
Esta é parte
da essência
do universo
que se constrói
verso a verso
parte a parte
tempo a tempo
sábado, 20 de dezembro de 2003
Spamesia (229)
Finalmente, cá estou a falar do spam de ontem, sexta-feira, dia em que o fluxo se reduziu a 70. Um deles, cujo remetente se disfarçou de mim próprio, vinha intitulado "So sweet ...", e vai daí:
Tão doce...
Tão doce é viver num casulo de algodão-doce
e esperar nele a metamorfose
que transformará este bicho da seda sem seda
que se alimenta dos vícios do mundo
num ser cego e alado
capaz de ver as coisas apenas de um lado
cego para tudo o que não seja
tão doce
Só é pena que a vida dessa particular borboleta
seja tão curta
uma semana, e ei-la morta de enjoo
Tão doce...
Tão doce é viver num casulo de algodão-doce
e esperar nele a metamorfose
que transformará este bicho da seda sem seda
que se alimenta dos vícios do mundo
num ser cego e alado
capaz de ver as coisas apenas de um lado
cego para tudo o que não seja
tão doce
Só é pena que a vida dessa particular borboleta
seja tão curta
uma semana, e ei-la morta de enjoo
Spamesia (228)
Com filtros e tudo, a quinta-feira foi recordista. Pela primeira vez (e tenho cá uma suspeita de que não será a última), o número de spams que me chegou em cerca de 24 horas, fora os que foram apanhados pelos filtros, chegou a 100. Cem, certinhos. No meio de toda esta fartura houve alguns títulos recuperáveis, como por exemplo "Worried?"
Preocupado?
Estás preocupado?
Estás pré-ocupado
com coisas que virão
ou talvez não?
Talvez tenhas razão
mas por outro lado
atrás de um inverno
vem sempre um verão
Preocupado?
Estás preocupado?
Estás pré-ocupado
com coisas que virão
ou talvez não?
Talvez tenhas razão
mas por outro lado
atrás de um inverno
vem sempre um verão
Spamesia (227)
Na quarta a enxurrada constou de 81 mensagens, também com uns títulos muito pouco inspiradores. Acabei por pegar num "Fw: Ler para reflectir", que nem sequer era spam (era só uma mensagem não solicitada, bastante acertada por sinal, acerca do contraste de tratemento entre a Maria João Ruela e todos os trabalhadores de construção civil portugueses que têm acidentes de trabalho por esse mundo fora). E escrevi:
Ler para reflectir
Quando a literatura não é campos em flor
noites escuras e tempestuosas
lugares comuns vazios de significado
leio para reflectir na natureza do que me rodeia
para tomar do mundo uma fracção
feitas de palavras
e torná-la parte do que sou
Leio, em suma, para pensar
ou pelo menos para pensar que penso
Ler para reflectir
Quando a literatura não é campos em flor
noites escuras e tempestuosas
lugares comuns vazios de significado
leio para reflectir na natureza do que me rodeia
para tomar do mundo uma fracção
feitas de palavras
e torná-la parte do que sou
Leio, em suma, para pensar
ou pelo menos para pensar que penso
sexta-feira, 19 de dezembro de 2003
Spamesia (226)
Na terça-feira houve 86 spams, quantidade que não teve paralelo na qualidade dos títulos que eles traziam. Lá tive de pegar num "Get in Shape for the Holidays." e resolver o assunto com isto:
Fique em forma para as festas
Fique em forma para as festas
erga o focinho
abane a cauda
e lance um ganido, fininho, ao seu dono
Além das festas
pode até ganhar uma
comissãozita
Fique em forma para as festas
Fique em forma para as festas
erga o focinho
abane a cauda
e lance um ganido, fininho, ao seu dono
Além das festas
pode até ganhar uma
comissãozita
Spamesia (225)
Segunda-feira recebi 72 spams, incluindo uma daquelas mensagens que pretendem atrair a curiosidade do receptor pelo mistério do subject-line. Comigo não resulta, lamento imenso. Mas até que é um desafio interessante transformar em spamema um título como "u":
U
Há letras que se equilibram por si mesmas
donas de uma simetria bem assente nas linhas
sólidas ou virtuais de quase todos os textos
mas há outras que parecem balançar
ao ritmo das palavras, nas ondulações da frase
num equilíbrio instável, que parece sempre
quase a desfazer-se.
Uma dessas letras é o U
Uma base redonda da qual nascem
duas colunas que tantas vezes suportam mundos
como na palavra futuro
ou na palavra tu
U
Há letras que se equilibram por si mesmas
donas de uma simetria bem assente nas linhas
sólidas ou virtuais de quase todos os textos
mas há outras que parecem balançar
ao ritmo das palavras, nas ondulações da frase
num equilíbrio instável, que parece sempre
quase a desfazer-se.
Uma dessas letras é o U
Uma base redonda da qual nascem
duas colunas que tantas vezes suportam mundos
como na palavra futuro
ou na palavra tu
quinta-feira, 18 de dezembro de 2003
Spamesia (224)
No domingo, dia que as religiões cristãs elegeram para não se fazer nada (além de ir às missas, naturalmente), recebi 83 spams, um dos quais intitulado "RE:Vacation time...". Pelos vistos há quem trabalhe e sonhe com as férias. Quanto a mim, como há muito tempo que não escrevia um spamema de FC e estava com saudades, fiz isto:
Tempo de férias
Abri aqui uma bolsa de tempo de férias
para não fazer nada durante uns dias
de tempo subjectivo basta entrar nela
e digitar o código do seu cartão de crédito
amanhã estará pronto para regressar ao trabalho
revigorado e até, se quiser, com um belo bronzeado
Tempo de férias
Abri aqui uma bolsa de tempo de férias
para não fazer nada durante uns dias
de tempo subjectivo basta entrar nela
e digitar o código do seu cartão de crédito
amanhã estará pronto para regressar ao trabalho
revigorado e até, se quiser, com um belo bronzeado
Spamesia (223)
No dia seguinte, sábado, houve 73 spams, incluindo um que anunciava "A little elf has a message for you.i". Não sei qual era a mensagem, que nunca abro os spams. Mas imagino:
Um pequeno duende tem uma mensagem para ti
Estava eu calmamente sem fazer nada
(tarefa desgastante que me consome a vida
como que a corroendo com o ácido da imobilidade)
quando me aparece no écran do computador a frase
«um pequeno duende tem uma mensagem para ti»
Fui ver qual era, evidentemente, que isto
quando mete duendes é caso para ter cuidados
Dizia assim:
«Meu caro amigo,
chegou ao meu conhecimento, por vias que não interessa
estar agora a especificar, que o caro amigo leu de fio
a pavio a obra do malandro do velho Tolkien.
Espero que não tenha acreditado em nada.
Aquilo é uma resma de patranhas
ainda mais mentirosas que as patranhas antigas
com que o meu povo submergia o seu nos tempos antigos.
Quando nos abordou, o velho, que na altura ainda não era
assim tão velho, embora já o fosse
se compreende o que quero dizer
achámos que não fazia mal contar-lhe algumas coisas
mas o filho da mãe ou não percebeu nada
ou fingiu que não percebeu
e escreveu aquilo.
Só demos agora por aquilo, que o nosso tempo é diferente do vosso
(nalguma coisa o diabo inglês teria de acertar)
e estamos agora a tentar, por todos os meios que for possível
repôr a verdade dos factos.
Não está a ser nada fácil.
Vocês estão de tal maneira habituados às mentiras
que já nem reconhecem a verdade quando ela acorda.
Obrigado pela atenção
Disponha sempre»
Querem um comentário à mensagem do duende?
Então cá vai: o tipo é um doente!
Claro que nós reconhecemos a verdade!
Não é verdade?
Um pequeno duende tem uma mensagem para ti
Estava eu calmamente sem fazer nada
(tarefa desgastante que me consome a vida
como que a corroendo com o ácido da imobilidade)
quando me aparece no écran do computador a frase
«um pequeno duende tem uma mensagem para ti»
Fui ver qual era, evidentemente, que isto
quando mete duendes é caso para ter cuidados
Dizia assim:
«Meu caro amigo,
chegou ao meu conhecimento, por vias que não interessa
estar agora a especificar, que o caro amigo leu de fio
a pavio a obra do malandro do velho Tolkien.
Espero que não tenha acreditado em nada.
Aquilo é uma resma de patranhas
ainda mais mentirosas que as patranhas antigas
com que o meu povo submergia o seu nos tempos antigos.
Quando nos abordou, o velho, que na altura ainda não era
assim tão velho, embora já o fosse
se compreende o que quero dizer
achámos que não fazia mal contar-lhe algumas coisas
mas o filho da mãe ou não percebeu nada
ou fingiu que não percebeu
e escreveu aquilo.
Só demos agora por aquilo, que o nosso tempo é diferente do vosso
(nalguma coisa o diabo inglês teria de acertar)
e estamos agora a tentar, por todos os meios que for possível
repôr a verdade dos factos.
Não está a ser nada fácil.
Vocês estão de tal maneira habituados às mentiras
que já nem reconhecem a verdade quando ela acorda.
Obrigado pela atenção
Disponha sempre»
Querem um comentário à mensagem do duende?
Então cá vai: o tipo é um doente!
Claro que nós reconhecemos a verdade!
Não é verdade?
Spamesia (222)
Na passada sexta-feira chegaram cá 81 spams, uma conta jeitosa. Também jeitosos foram alguns dos títulos que eles traziam, nomeadamente o que dizia "No mínimo,". Deitei fora a vírgula e:
No mínimo
No mínimo um mimo
que ponha um pouco de verde
na vastidão cinzenta
destes dias queimados
Já não peço mais nada
No mínimo
No mínimo um mimo
que ponha um pouco de verde
na vastidão cinzenta
destes dias queimados
Já não peço mais nada
Intervenção cívica
Durante a sabática, não abandonei os blogs por inteiro. De vez em quando, aproveitava um intervalo breve no que tinha a fazer e vinha espreitar as novidades. Por vezes deixava um comentário breve. Uma vez deixei um comentário longo à relação entre o mercado e a edição. É um itálico intitulado O Deus-Mercado e a Edição, no Blog de Esquerda. Podem comentar à vontade.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2003
Spamesia (221)
Nestes entretantos de ausência, o spam marcou a sua habitual presença. Resultado: uma semana inteira de spam acumulado. O de quinta-feira foi curto, só 59 mensagens, e nestas uns títulos muito chungosos. Peguei no que dizia "Impress the daylights out of her! bwjr", deitei fora o "bwjr", aldrabei a tradução do resto e escrevi:
Impressione-a como a luz do dia
Impressione-a como a luz do dia
basta fazer dois passes de magia
e dizer daquelas coisas
falsas mas doces
com os olhos semi-cerrados em sorrisos doces
e as mãos entrecruzadas numa timidez doce
tudo muito suave, muito doce
Basta fazer de conta que se é um sol
brevemente passeando pelo rés da terra
a mesma táctica que já resultava na adolescência
mas que parece que nunca atinge a obsolescência
Porque ela tem um sexto sentido,
diz ela, que está sempre em sentido,
raramente tem dúvidas e nunca se engana
nem mesmo das vezes que se engana
Impressione-a como a luz do dia
Impressione-a como a luz do dia
basta fazer dois passes de magia
e dizer daquelas coisas
falsas mas doces
com os olhos semi-cerrados em sorrisos doces
e as mãos entrecruzadas numa timidez doce
tudo muito suave, muito doce
Basta fazer de conta que se é um sol
brevemente passeando pelo rés da terra
a mesma táctica que já resultava na adolescência
mas que parece que nunca atinge a obsolescência
Porque ela tem um sexto sentido,
diz ela, que está sempre em sentido,
raramente tem dúvidas e nunca se engana
nem mesmo das vezes que se engana
Regresso
Até parece que foi de propósito. No sábado, o Luís Ene (e aí, mermão... tudo jóia?) anunciava perante uma plateia de algumas dezenas de semi-interessados que este meu blog tinha actualizações diárias, e eis que fica quase uma semana sem tugir nem mugir.
Coisas da vida...
Não que ele habitualmente seja pródigo em mugidos, note-se. Habitualmente vagueia entre o rosnido e o zurro, com um cacarejo ocasional a espreitar dos interstícios. Mas nos últimos dias foi o silêncio, e isso, realmente, é coisa rara.
Mas agora acabou. E antes de retomar a actividade normal, vou falar um bocadinho do umbigo.
Pois no tal sábado houve festarola no Marginália (mexam-me esse blog, ó meus!), aqui na terrinha, a pretexto da apresentação do livro do Luís N e do Paulo Querido. Blogueiros confessos estavam os autores, eu, a Paula e o Baeta que, como chegou a horas e tinha de estar noutro sítio não muito tempo mais tarde, acabou por não assistir a nada. Baeta, se há coisa em que os algarvios são piores que os (outros) portugueses é na pontualidade. Prá próxima não te esqueças... O resto dos blogueiros do Al Gharb tiveram uma honrosa falta de comparência, os malçoados. Mas ninguém se marafou com isso, na há que almariar.
E como já se disse noutros sítios, a noite acabou com uma amena e divertida cavaqueira sobre blogs e assuntos conexos (isto é: tudo e mais alguma coisa) entre o Jorge, o Paulo e a Paula. Se mais alguém tivesse estado, mais alguém teria entrado. A cavaqueira acabou por desembocar naquele sacrossanto tema a que vão dar tantas conversas: o que raio querem ou deixam de querer os homens das mulheres e vice-versa. Não chegámos a conclusão nenhuma, como é evidente. É conversa que já devia existir à porta das cavernas, quando a Lua e as estrelas das noites de verão primitivas apelavam ao espírito reflexivo, e que provavelmente continuará a existir quando homens e mulheres se encontrarem sob a luz de outros sóis e de outras constelações. A heterossexualidade é assim.
Por isso, só tenho a dizer o seguinte: pois é, Paula, realmente gostei da tua última frase. E até acho que as verdades nela expressas se aplicam que nem dedos duma luva à penúltima das tuas frases.
E se o caro visitante não entendeu esta, paciência. Nem tudo na vida é para entender.
Fim do interlúdio umbigal. O blog segue como habitualmente dentro de momentos.
Coisas da vida...
Não que ele habitualmente seja pródigo em mugidos, note-se. Habitualmente vagueia entre o rosnido e o zurro, com um cacarejo ocasional a espreitar dos interstícios. Mas nos últimos dias foi o silêncio, e isso, realmente, é coisa rara.
Mas agora acabou. E antes de retomar a actividade normal, vou falar um bocadinho do umbigo.
Pois no tal sábado houve festarola no Marginália (mexam-me esse blog, ó meus!), aqui na terrinha, a pretexto da apresentação do livro do Luís N e do Paulo Querido. Blogueiros confessos estavam os autores, eu, a Paula e o Baeta que, como chegou a horas e tinha de estar noutro sítio não muito tempo mais tarde, acabou por não assistir a nada. Baeta, se há coisa em que os algarvios são piores que os (outros) portugueses é na pontualidade. Prá próxima não te esqueças... O resto dos blogueiros do Al Gharb tiveram uma honrosa falta de comparência, os malçoados. Mas ninguém se marafou com isso, na há que almariar.
E como já se disse noutros sítios, a noite acabou com uma amena e divertida cavaqueira sobre blogs e assuntos conexos (isto é: tudo e mais alguma coisa) entre o Jorge, o Paulo e a Paula. Se mais alguém tivesse estado, mais alguém teria entrado. A cavaqueira acabou por desembocar naquele sacrossanto tema a que vão dar tantas conversas: o que raio querem ou deixam de querer os homens das mulheres e vice-versa. Não chegámos a conclusão nenhuma, como é evidente. É conversa que já devia existir à porta das cavernas, quando a Lua e as estrelas das noites de verão primitivas apelavam ao espírito reflexivo, e que provavelmente continuará a existir quando homens e mulheres se encontrarem sob a luz de outros sóis e de outras constelações. A heterossexualidade é assim.
Por isso, só tenho a dizer o seguinte: pois é, Paula, realmente gostei da tua última frase. E até acho que as verdades nela expressas se aplicam que nem dedos duma luva à penúltima das tuas frases.
E se o caro visitante não entendeu esta, paciência. Nem tudo na vida é para entender.
Fim do interlúdio umbigal. O blog segue como habitualmente dentro de momentos.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2003
Spamesia 220
Na quarta-feira chegaram-me 69 spams, e entre eles vinha um a falar de dois dias antes: "monday".
Segunda-feira
Toca o despertador
desperto com a dor
de cabeça de todas
as segundas-feiras
Visto-me à pressa
e tomo depressa
o pequeno-almoço
quando saio está frio
e encolho o pescoço
para dentro do casaco
Passo o tempo
debruçado sobre o
amolgado tampo
de uma secretária
faço coisas e mais coisas
pensando noutras coisas
Uma pausa para comer
um qualquer
bocado insípido
de combustível
Depois faço mais coisas
e mais coisas
pensando noutras coisas
Reentro em casa
e a noite já caiu
janto qualquer coisa
e desligo o cérebro
estendido no sofá
Vou deitar-me resmungando
por ser ainda segunda-feira
e desejando poder mandar
esta vida para a puta que a pariu
Segunda-feira
Toca o despertador
desperto com a dor
de cabeça de todas
as segundas-feiras
Visto-me à pressa
e tomo depressa
o pequeno-almoço
quando saio está frio
e encolho o pescoço
para dentro do casaco
Passo o tempo
debruçado sobre o
amolgado tampo
de uma secretária
faço coisas e mais coisas
pensando noutras coisas
Uma pausa para comer
um qualquer
bocado insípido
de combustível
Depois faço mais coisas
e mais coisas
pensando noutras coisas
Reentro em casa
e a noite já caiu
janto qualquer coisa
e desligo o cérebro
estendido no sofá
Vou deitar-me resmungando
por ser ainda segunda-feira
e desejando poder mandar
esta vida para a puta que a pariu
quarta-feira, 10 de dezembro de 2003
Spamesia 219
Na terça-feira, ou seja, ontem, houve 78 spams, dos quais um apregoava-se "Messy":
Desarrumado
Hoje sinto-me desarrumado
procuro a mão direita
e lembro-me que a deixei no meu último emprego
a mão esquerda segura a máquina de lavar
tentando evitar que ela trema tanto
os olhos estão algures a tentar ver um pôr-de-sol
a boca, esqueci-me dela colada aos teus lábios
e não sei que lhe terá acontecido desde então
e o cérebro está arrumado na estante
junto de todos os outros livros
O mais estranho
é que só dou conta desta desarrumação
porque me chegou pelo correio
um pacote contendo o meu coração
Tinha tentado enviá-lo, já não me lembro a quem
mas veio devolvido com a indicação
de que naquele endereço não mora ninguém
Desarrumado
Hoje sinto-me desarrumado
procuro a mão direita
e lembro-me que a deixei no meu último emprego
a mão esquerda segura a máquina de lavar
tentando evitar que ela trema tanto
os olhos estão algures a tentar ver um pôr-de-sol
a boca, esqueci-me dela colada aos teus lábios
e não sei que lhe terá acontecido desde então
e o cérebro está arrumado na estante
junto de todos os outros livros
O mais estranho
é que só dou conta desta desarrumação
porque me chegou pelo correio
um pacote contendo o meu coração
Tinha tentado enviá-lo, já não me lembro a quem
mas veio devolvido com a indicação
de que naquele endereço não mora ninguém
Spamesia 218
Na segunda-feira houve 81 spams, incluindo um chamado "afrodisíaco":
Afrodisíaco
Um dia Afrodite saltitava pelos campos
os pés nus afundando-se na relva
os olhos baixos sob pálpebras semelhantes a pétalas
e os cabelos entretecidos com as lianas da selva
não estava nua, Afrodite, mas era como se estivesse
pois chovera e a toga de fino tecido
colava-se ao seu corpo como se lhe pertencesse
e a face brilhava de humidade e de cor
cheia de gotas de chuva, ou de suor
Estava linda, Afrodite, quando assim a vi
numa promessa de prazer quase dionisíaco
e foi assim que percebi porque se chama o que se chama
ao afrodisíaco
Afrodisíaco
Um dia Afrodite saltitava pelos campos
os pés nus afundando-se na relva
os olhos baixos sob pálpebras semelhantes a pétalas
e os cabelos entretecidos com as lianas da selva
não estava nua, Afrodite, mas era como se estivesse
pois chovera e a toga de fino tecido
colava-se ao seu corpo como se lhe pertencesse
e a face brilhava de humidade e de cor
cheia de gotas de chuva, ou de suor
Estava linda, Afrodite, quando assim a vi
numa promessa de prazer quase dionisíaco
e foi assim que percebi porque se chama o que se chama
ao afrodisíaco
segunda-feira, 8 de dezembro de 2003
Spamesia 217
Ontem foi domingo, e chegaram-me 67 spams, dos quais resolvi reaproveitar um que vinha intitulado "note":
Nota
Escrevo esta nota no dia do meu vigésimo aniversário
e determino que ela me seja entregue de volta
daqui a sessenta anos
«Olá, velha carcaça
ainda te lembras de que já foste novo?
Lembras-te dos sonhos em que embrulhaste o teu futuro?
Não cumpriste nenhum, pois não?
Imagino-te como um tronco de árvore, seco
e já um pouco oco
e também um pouco louco
encurralado num mundo de tecnologia que já não entendes
Imagino-te igual aos velhos que vejo à minha volta
igual aos velhos que andam às voltas sem rumo
numa cidade de que já não conhecem as nascentes.
Olha, velho eu velho
comecei esta nota desejando aconselhar-te a morrer
porque não me imagino vivo com a vida coberta de rugas
porque não me imagino vivo com dores como as tuas
porque não me imagino vivo com saudades da vida
mas agora que aqui estou, de qualquer forma vivo
já não sei bem
Mesmo que já não haja esperança
é certo que enquanto há vida, há vida»
Nota
Escrevo esta nota no dia do meu vigésimo aniversário
e determino que ela me seja entregue de volta
daqui a sessenta anos
«Olá, velha carcaça
ainda te lembras de que já foste novo?
Lembras-te dos sonhos em que embrulhaste o teu futuro?
Não cumpriste nenhum, pois não?
Imagino-te como um tronco de árvore, seco
e já um pouco oco
e também um pouco louco
encurralado num mundo de tecnologia que já não entendes
Imagino-te igual aos velhos que vejo à minha volta
igual aos velhos que andam às voltas sem rumo
numa cidade de que já não conhecem as nascentes.
Olha, velho eu velho
comecei esta nota desejando aconselhar-te a morrer
porque não me imagino vivo com a vida coberta de rugas
porque não me imagino vivo com dores como as tuas
porque não me imagino vivo com saudades da vida
mas agora que aqui estou, de qualquer forma vivo
já não sei bem
Mesmo que já não haja esperança
é certo que enquanto há vida, há vida»
domingo, 7 de dezembro de 2003
Spamesia 216
Isto de ter sites temáticos tem algumas consequências no spam, pois existem spammers que já vão direccionando o "produto" para recipientes que possam mostrar mais interesse por ele, recolhendo preferencialmente os endereços disponíveis nesses sites. E assim se explica que, no meio dos 89 spams que me chegaram no sábado, tenha vindo um com o título de "Ficção científica":
Ficção científica
O extraterrestre saiu da nave no mundo morto
e rebolou-se na poeira em sinal de tristeza
verteu algumas escamas, o que na sua espécie
significa o mesmo que na nossa verter lágrimas
depois retirou de um bolso do fato estanque
a perfeita reprodução de um velho livro
cuja capa mostrava uma paisagem quase igual
ao poeirento deserto sem vida que o rodeava
O extraterrestre colocou o livro sobre uma pedra
e ergueu os olhos ao horizonte em sinal de respeito
depois disse numa língua de rangidos e estalos
«Não ligaram aos avisos, e agora é tarde»
O extraterrestre ficou muito tempo naquele local
já a tarde findava quando regressou à nave e partiu
espalhando vento, levantando nuvens de pó
e fazendo com que o livro se abrisse sozinho
e se fosse folheando até à última página
onde o último parágrafo dizia inutilmente
pois já não restava ninguém que o soubesse ler
«Não ligaram aos avisos. E agora é tarde»
Ficção científica
O extraterrestre saiu da nave no mundo morto
e rebolou-se na poeira em sinal de tristeza
verteu algumas escamas, o que na sua espécie
significa o mesmo que na nossa verter lágrimas
depois retirou de um bolso do fato estanque
a perfeita reprodução de um velho livro
cuja capa mostrava uma paisagem quase igual
ao poeirento deserto sem vida que o rodeava
O extraterrestre colocou o livro sobre uma pedra
e ergueu os olhos ao horizonte em sinal de respeito
depois disse numa língua de rangidos e estalos
«Não ligaram aos avisos, e agora é tarde»
O extraterrestre ficou muito tempo naquele local
já a tarde findava quando regressou à nave e partiu
espalhando vento, levantando nuvens de pó
e fazendo com que o livro se abrisse sozinho
e se fosse folheando até à última página
onde o último parágrafo dizia inutilmente
pois já não restava ninguém que o soubesse ler
«Não ligaram aos avisos. E agora é tarde»
Spamesia 215
Na sexta-feira houve uma estreia: spam em russo. O mais curioso foi que recebi logo vários spams e um deles foi publicidade ao partido Yabloko, cujo principal financiador está na prisão acusado de corrupção. É que hoje vota-se na Rússia. O outro dizia "Подарок любимой женшине" (podarok lyubimoy jenshine), e eu resolvi aceitar essa proposta, entre as 76 que me chegaram:
Presente para a mulher que se ama
O melhor presente possível
para dar à mulher que se ama
é dado na cama
Não, não falo do momento
em que a tempestade desaba
e o mundo se preenche
de raios e trovões
Falo do antes
da lenta construção de um universo separado
daquele onde vive o comum dos mortais
e do momento dos suspiros
depois
quando lá fora só se ouvem cantos de andorinhas
Presente para a mulher que se ama
O melhor presente possível
para dar à mulher que se ama
é dado na cama
Não, não falo do momento
em que a tempestade desaba
e o mundo se preenche
de raios e trovões
Falo do antes
da lenta construção de um universo separado
daquele onde vive o comum dos mortais
e do momento dos suspiros
depois
quando lá fora só se ouvem cantos de andorinhas
sábado, 6 de dezembro de 2003
Spamesia (214)
Na quinta-feira a pilha estava menos ordenada, mas havia menos spam: 56 mensagens. Poucos títulos interessantes desta vez, acabei por pegar em votos da época: "Desejamos-lhe um Feliz Natal"
Desejamos-lhe um feliz Natal
Desejamos-lhe um feliz Natal
este é o tempo da boa vontade
entre todas as pessoas
e os seus comerciantes
Não saia de casa sem o seu cartão de crédito
ou de débito
e não se esqueça
que se não oferecer aos amigos
tudo o que eles nunca desejaram
(peúgas, bibelôs, tachos e abajures)
eles deixarão de ter respeito por si
e abandoná-lo-ão à porta do centro comercial
como qualquer trapo inútil
vazio e triste
Desejamos-lhe um feliz Natal
Desejamos-lhe um feliz Natal
este é o tempo da boa vontade
entre todas as pessoas
e os seus comerciantes
Não saia de casa sem o seu cartão de crédito
ou de débito
e não se esqueça
que se não oferecer aos amigos
tudo o que eles nunca desejaram
(peúgas, bibelôs, tachos e abajures)
eles deixarão de ter respeito por si
e abandoná-lo-ão à porta do centro comercial
como qualquer trapo inútil
vazio e triste
Spamesia (213)
De regresso da Conflitolândia, encontro o spam de quarta-feira numa ordenada pilha de 84 itens. Andou por aqui a mulher-a-dias, porque se fosse eu, era o caos. Procurei e escolhi: "Just for dad"
Só para o pai
Só para o pai
um raio de sol em forma de gaivota
que chega e sobrevoa
as caudas verticais de gatos felizes
os gritos estridentes de petizes
e as sombras fugidias de andorinhas
Só para o pai
os tesouros esquecidos nas gavetas
poeira de cometas
Só para o pai
Só para o pai
um raio de sol em forma de gaivota
que chega e sobrevoa
as caudas verticais de gatos felizes
os gritos estridentes de petizes
e as sombras fugidias de andorinhas
Só para o pai
os tesouros esquecidos nas gavetas
poeira de cometas
quinta-feira, 4 de dezembro de 2003
Uma questão de prestígio
Têm flash instalado no vosso browser? Então não percam esta apresentação extremamente educativa. É também preciso saber ler castelhano.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2003
As curiosas noções de respeito dos peluches
Ali os bonecos de peluche têm uma noção de respeito (absoluto, dizem eles a negrito) curiosa. Permitam-me uma citação: "Alguém insultou um de nós. E apesar de reconhecermos que temos um mau feitio do caraças, temos a noção dos limites. Não vamos à casa dos outros para os insultar: aplaudir, sim; discordar, sim; contrapor, com certeza. Mas com a consciência que somos visitas, e que devemos respeito ao anfitrião. Respeito absoluto [era aqui o negrito - NdoE]. E é exactamente esse respeito que esperamos de quem nos visita.".
Ou seja, trocando por miúdos: eles, como são os "anfitriões com noção dos limites" podem escrever coisas como "É a chamada simpatia do caralho. Ora, meu caro, vai-te foder.". Assim está tudo bem. Mas se quem é assim tratado responde à altura (sem dizer um palavrãozinho para amostra — O Statler não sabe, mas pode-se insultar sem se ser carroceiro) já está mal. A primeira parte é "respeito absoluto"; a segunda é sabe-se lá o quê, crime de lesa-marreta no mínimo. Enfim, os tipos são uns cómicos.
A seguir afirmam a firme intenção de me passarem a ignorar. Óptimo. É bem mais agradável ser ignorado do que mandado foder. E de minha parte, esse foi blog que já saiu ali das listas (com pena pelo Animal e pela metade bem educada da dupla de velhos ranhetas, mas é a vida — juntam-se a ovelhas negras, pagam as favas) e a que continuarei a ir provavelmente durante dois ou três dias, por inércia e curiosidade mórbida, mas depois chapéu. Não só a vida é mais do que blogues, como com alguns 2000 por onde escolher, bonecos de peluche malcriados não fazem falta nenhuma.
Ou seja, trocando por miúdos: eles, como são os "anfitriões com noção dos limites" podem escrever coisas como "É a chamada simpatia do caralho. Ora, meu caro, vai-te foder.". Assim está tudo bem. Mas se quem é assim tratado responde à altura (sem dizer um palavrãozinho para amostra — O Statler não sabe, mas pode-se insultar sem se ser carroceiro) já está mal. A primeira parte é "respeito absoluto"; a segunda é sabe-se lá o quê, crime de lesa-marreta no mínimo. Enfim, os tipos são uns cómicos.
A seguir afirmam a firme intenção de me passarem a ignorar. Óptimo. É bem mais agradável ser ignorado do que mandado foder. E de minha parte, esse foi blog que já saiu ali das listas (com pena pelo Animal e pela metade bem educada da dupla de velhos ranhetas, mas é a vida — juntam-se a ovelhas negras, pagam as favas) e a que continuarei a ir provavelmente durante dois ou três dias, por inércia e curiosidade mórbida, mas depois chapéu. Não só a vida é mais do que blogues, como com alguns 2000 por onde escolher, bonecos de peluche malcriados não fazem falta nenhuma.
Spamesia (212)
Ontem foi terça-feira e houve spam, muito spam, 80 spams. Um deles veio da Stacy e chamou-se "Re[8]: violin". E eu escrevi, enquanto ouvia no Mezzo o grande, o enorme, o gigantesco Keith Jarrett:
Violino
Piano pauta pino
toca troca violino
nota acorde forte
vida a fugir da morte
com som com sorte
grave mudo agudo
no fim o fino
som de sino
piano pauta violino
piano flauta violino
no fim de tudo
fica a fala
(aqui as palavras têm menos importância que o som que fazem em conjunto — consequência de estar cheio a transbordar de música ao escrever)
Violino
Piano pauta pino
toca troca violino
nota acorde forte
vida a fugir da morte
com som com sorte
grave mudo agudo
no fim o fino
som de sino
piano pauta violino
piano flauta violino
no fim de tudo
fica a fala
(aqui as palavras têm menos importância que o som que fazem em conjunto — consequência de estar cheio a transbordar de música ao escrever)
Não percebo o blogue dos Marretas
Decididamente, não percebo o Blogue dos Marretas. Tem um tipo bestial, de esquerda, cheio de piada, que assina como Animal, depois tem um tipo de direita que assina como Waldorf, que também tem piada embora intervenha menos que os outros dois (tem assim daquelas piadas direitinhas que um tipo lê e se ri, pensando "ah! meu sacana, que tás a gozar comigo mas tens piada"), e depois tem uma completa besta que assina como Statler, que não tem nem ponta de piada e como qualquer besta que se preze a maior parte das vezes limita-se a ser insultuoso. Decididamente não percebo como é que os outros dois conseguem aturar aquilo. É que lhes estraga completamente o blog. Sob todos os aspectos.
terça-feira, 2 de dezembro de 2003
Spamesia (211)
Segunda-feira (i.e., ontem) chegaram-me mais 71, uncluindo um simpático de um tal Adam Burns, que diz "I Believe in You ruqmynyvizr". Não percebi lá muito bem a parte do "ruqmynyvizr", mas do resto gostei:
Acredito em ti
Se me disseres que podes parar o tempo
eu acredito em ti
pois nunca dei pelo tempo dentro de ti
Acredito em ti
Se me disseres que podes parar o tempo
eu acredito em ti
pois nunca dei pelo tempo dentro de ti
Spamesia (210)
(Aqueles números ali em cima começam a fazer-me alguma impressão. Olho para eles e só consigo pensar coisas como "bolas!" Mas basta de parêntesis) Domingo foi, uma vez mais, dia de spam, com 80 mensagens a forçar a entrada na minha inbox, através dos filtros. Um deles chamava-se "Free Food 5419", e foi esse o feliz escolhido para eu adulterar:
Comida livre
Quando éramos tão novos que não passávamos
de potencialidades encerradas no código genético
de uma humanidade recém-nascida, a comida
que comíamos crescia livre pelos campos.
Hoje, tudo o que comemos nasce numa caixinha
ou num pacote, e cresce alimentado à força
entre varões metálicos e comida feita em fábricas
ou adubado em longas linhas rectas sob o sol
(o único sinal de natureza que ainda vai restando)
Se a biologia dita que cada homem é o que come
que dizem do que somos os nossos alimentos?
Comida livre
Quando éramos tão novos que não passávamos
de potencialidades encerradas no código genético
de uma humanidade recém-nascida, a comida
que comíamos crescia livre pelos campos.
Hoje, tudo o que comemos nasce numa caixinha
ou num pacote, e cresce alimentado à força
entre varões metálicos e comida feita em fábricas
ou adubado em longas linhas rectas sob o sol
(o único sinal de natureza que ainda vai restando)
Se a biologia dita que cada homem é o que come
que dizem do que somos os nossos alimentos?
Ah! Então é por isso!
Andava eu a matar a cabeça, tentando entender porque razão estava esta gente toda a mudar-se de armas e bagagens para o weblog.com.pt quando hoje, de repente, se fez luz: quando um tipo não consegue aceder ao seu próprio blog durante horas por causa duma falha qualquer nas bases de dados do blogspot, fica ligeiramente irritado...
segunda-feira, 1 de dezembro de 2003
Spamesia (209)
No sábado, houve bastante menos: 57. Mas também houve títulos interessantes. Escolhi um "joreis Poor Memory", deitei fora o "joreis", que é a primeira parte do endereço de um desgraçado qualquer que, desde que a IOL vendeu a spammers a base de dados dos assinantes netc, passou a receber tanto spam como eu (morra a IOL, a maior bosta que em Portugal se disfarça de ISP!), e escrevi:
Má memória
Lembro-me como se fosse ontem
do dia em que os teus lábios murmuraram
que sempre que olhavas o futuro
ele tinha como sol a luz dos meus olhos
mas esse também pode ter sido o dia
em que te afastaste como uma nuvem
sem remorso, sem me deixar uma gota
de chuva salgada, dizendo-me apenas
adeus, num murmúrio que soa a aragem
Má memória
Lembro-me como se fosse ontem
do dia em que os teus lábios murmuraram
que sempre que olhavas o futuro
ele tinha como sol a luz dos meus olhos
mas esse também pode ter sido o dia
em que te afastaste como uma nuvem
sem remorso, sem me deixar uma gota
de chuva salgada, dizendo-me apenas
adeus, num murmúrio que soa a aragem
Spamesia (208)
Na sexta-feira o número de spams voltou a subir muitíssimo: só os que atravessaram os filtros foram 81. E, como é hábito nestas situações, apareceu um daqueles títulos que titilam qualquer coisa cá por dentro: «A "loja do vidro"». Só lhe tirei as aspas:
A loja do vidro
A loja do vidro vendia cigarros
que tiniam quando o lume alumiava
a sua ponta e a punha em brasa
A loja do vidro vendia carpetes
translúcidas feitas de fios pontiagudos
e quebradiços que voltavam a crescer
A loja do vidro vendia vassouras
que varriam com um som de violinos
que dominavam o pó como pastores
A loja do vidro vendia mulheres
de vidro. Comprei uma, enchi-a dos meus
sonhos transparentes e perdi-me nela
para sempre
A loja do vidro
A loja do vidro vendia cigarros
que tiniam quando o lume alumiava
a sua ponta e a punha em brasa
A loja do vidro vendia carpetes
translúcidas feitas de fios pontiagudos
e quebradiços que voltavam a crescer
A loja do vidro vendia vassouras
que varriam com um som de violinos
que dominavam o pó como pastores
A loja do vidro vendia mulheres
de vidro. Comprei uma, enchi-a dos meus
sonhos transparentes e perdi-me nela
para sempre
Isto não é um parabéns a você...
O meu pai detesta dias de anos, datas festivas, efemérides. Eu percebo porquê — se há noção deprimente é a de divertimento ou alegria com data e hora marcada, festa burocrática definida pelo relógio e calendário. De que vale a alegria que não nasce espontânea do fluir da vida? Mas quando mais um ano passa, especialmente quando é um ano cheio de problemas, a celebração tem de ser feita, como quem diz ao Aziago: "Toma lá, minha besta, para aprenderes! Resistimos mais um ano!"
Por isso, pai, vou pregar-te a partida de pôr aqui um poema teu. E não protestes, que o 68º aniversário foi ontem, logo isto não é nem data marcada nem festejo obrigatório. É só festejo.
E de mim para ti não há distância
há apenas o impulso dos meus dedos
arco mordido na prisão da pele
Nas esquinas rectilíneas desta rua
arde o sol e de mim para ti passam as sombras
da angústia
feros forjados varandim suspenso
sobre os teus seios Arde o Sol nas esquinas rectilíneas
sacos de roupa branca felicidade doméstica
gatos felizes purificando a sombra
E de mim para ti não há distância
uma nesga de escada
meia porta ensolarada alguidar de roupa branca
portas abertas à música
rádios cúmplices de felicidade triste
ali em baixo uma vela que me espreita
com os seus olhos de gaivota
lá em cima andorinhas pombos brancos raparigas
e aqui o mar escoado rochas à flor da pele
Mas de mim para ti não há distância
sinto-me alegre e doce tenho sol nos teus flancos
bebo luz dos teus dedos
purifico-me de todos os remorsos
ardo dentro deste globo de quietude
numa tristeza serena
num inconsolo de escárnio e de espuma
Nesta nesga de escada permitida
irmão dos trastes domésticos
suportando nos ombros as esquinas rectilíneas
dentro desta onda serena de incertezas
pesada de memória e permanência
irrompo como uma flor e existo
porque de mim para ti não há distância
poesia
Por isso, pai, vou pregar-te a partida de pôr aqui um poema teu. E não protestes, que o 68º aniversário foi ontem, logo isto não é nem data marcada nem festejo obrigatório. É só festejo.
E de mim para ti não há distância
há apenas o impulso dos meus dedos
arco mordido na prisão da pele
Nas esquinas rectilíneas desta rua
arde o sol e de mim para ti passam as sombras
da angústia
feros forjados varandim suspenso
sobre os teus seios Arde o Sol nas esquinas rectilíneas
sacos de roupa branca felicidade doméstica
gatos felizes purificando a sombra
E de mim para ti não há distância
uma nesga de escada
meia porta ensolarada alguidar de roupa branca
portas abertas à música
rádios cúmplices de felicidade triste
ali em baixo uma vela que me espreita
com os seus olhos de gaivota
lá em cima andorinhas pombos brancos raparigas
e aqui o mar escoado rochas à flor da pele
Mas de mim para ti não há distância
sinto-me alegre e doce tenho sol nos teus flancos
bebo luz dos teus dedos
purifico-me de todos os remorsos
ardo dentro deste globo de quietude
numa tristeza serena
num inconsolo de escárnio e de espuma
Nesta nesga de escada permitida
irmão dos trastes domésticos
suportando nos ombros as esquinas rectilíneas
dentro desta onda serena de incertezas
pesada de memória e permanência
irrompo como uma flor e existo
porque de mim para ti não há distância
poesia
sábado, 29 de novembro de 2003
Olha que giro! Será resposta?
Olha, que giro! Hora e meia depois de eu ter escrito sobre Cigarros, o Rain Song extraiu um riso de uma hiena que acaba assim:
fumo e com tusa
descanso sem saber
à espera de morrer
Será resposta?
fumo e com tusa
descanso sem saber
à espera de morrer
Será resposta?
Spamesia (207)
75 spams, muitos repetidos, trouxeram na quinta-feira um título simples que ainda não tinha aparecido antes: "Cigarettes 6560". O 6560 não me interessa, mas os cigarettes...
Cigarros
Alinhados lado a lado como um exército em parada
vestidos de uniforme, à espera que uma mão chegue
e lhes pegue e os incendeie e os devore em fumo
soldados bem treinados, transportando fogo e morte
como todos os soldados, secos e aprumados nos
seus fatos de papel branco, à espera, só à espera
Já fui general de muitos destes exércitos mas agora
enquanto espero que termine a cicatrização das velhas feridas
olho com desprezo os inúteis soldadinhos de tabaco
e rejeito-os, como aos soldados de todos os outros exércitos
Cigarros
Alinhados lado a lado como um exército em parada
vestidos de uniforme, à espera que uma mão chegue
e lhes pegue e os incendeie e os devore em fumo
soldados bem treinados, transportando fogo e morte
como todos os soldados, secos e aprumados nos
seus fatos de papel branco, à espera, só à espera
Já fui general de muitos destes exércitos mas agora
enquanto espero que termine a cicatrização das velhas feridas
olho com desprezo os inúteis soldadinhos de tabaco
e rejeito-os, como aos soldados de todos os outros exércitos
Spamesia (206)
Na quarta-feira houve 71 spams mas os títulos nem foram grande coisa. Peguei num "info you needed. os bpkiznaxnxyu l" (vendem diplomas universitários, os palermas. Eu tive de trabalhar 7 anos para o meu e não me serve de nada), deitei fora o lixo, e fiz uma brincadeira:
Informação de que necessitava
Era só isto que me faltava!
Então não é que a maldita fada
me exigiu, com rancor na fala
que lhe entregasse sem falta
a informação de que necessitava
para completar a construção
do fundo falso do fungo fundo?
Disse-lhe que não sabia de nada
mas ela ficou ainda mais marafada
ameaçou-me com o fim do mundo
(e eu a pensar na bondade das fadas
pelos vistos tem sido muito exagerada)
e, como eu não me demovesse
(como poderia?) nem reconhecesse
que afinal sabia o que não sabia
transformou-me nesta porcaria
Entre todas as coisas, um homem!
Informação de que necessitava
Era só isto que me faltava!
Então não é que a maldita fada
me exigiu, com rancor na fala
que lhe entregasse sem falta
a informação de que necessitava
para completar a construção
do fundo falso do fungo fundo?
Disse-lhe que não sabia de nada
mas ela ficou ainda mais marafada
ameaçou-me com o fim do mundo
(e eu a pensar na bondade das fadas
pelos vistos tem sido muito exagerada)
e, como eu não me demovesse
(como poderia?) nem reconhecesse
que afinal sabia o que não sabia
transformou-me nesta porcaria
Entre todas as coisas, um homem!
sexta-feira, 28 de novembro de 2003
Outro que faz coisas giras...
Ali o Ivan, da Memória Inventada, também faz coisas giras de vez em quando. Ó Ivan, gostei, mas gostava mais sem aquele "tal". Em todo o caso tem em conta que eu não percebo nada disto, OK?
Spamesia (205)
Na terça-feira houve ainda mais spams a atravessar os filtros: 85. Havia vários com títulos interessantes, nenhum tão repugnante como o da véspera, e dois de título "Re[2]: Mary".
Maria
Maria, um dia ainda hás-de te lembrar do que eu te dizia
no tempo em que havia entre nós nós de alegria e cumplicidade
Era da idade, mas a verdade é que hoje recordo esses dias
como um tempo em que podia até haver muita ingenuidade
mas nasciam também, das sementes mais puras, a ternura
e a verdade
Maria
Maria, um dia ainda hás-de te lembrar do que eu te dizia
no tempo em que havia entre nós nós de alegria e cumplicidade
Era da idade, mas a verdade é que hoje recordo esses dias
como um tempo em que podia até haver muita ingenuidade
mas nasciam também, das sementes mais puras, a ternura
e a verdade
Spamesia (204)
Na segunda-feira, além de muitos litros de água chegaram-me a casa 64 mensagens spamóides. Havia muito lixo inofensivo, mas havia também uma mensagem que passa todas as marcas do mau gosto: um spammer resolveu esconder a porcaria comercial habitual por trás da assinatura da APAV e intitulando a mensagem como "Sabia que a violência doméstica". Já todos sabemos que este mundo está cheio de lixo com tanta falta de escrúpulos como este indivíduo, mas de vez em quando convém dizer-lhes para irem ler a 3ª estrofe do Spamema 202, porque é deles que lá se fala. Até porque:
Sabia que a violência doméstica
Sabia que a violência doméstica
começa sempre com silêncios?
Sabia que a violência doméstica
Sabia que a violência doméstica
começa sempre com silêncios?
quinta-feira, 27 de novembro de 2003
Spamesia (203)
No domingo chegaram-me 65 mensagens com cheiro a lixo, e eu deitei-as fora quase todas. Fiquei só com um "Convite":
Convite
Convido-te a te reconciliares com a vida
por quase nada
só pela cor que o céu tem de madrugada
Convite
Convido-te a te reconciliares com a vida
por quase nada
só pela cor que o céu tem de madrugada
Spamesia (202)
No passado sábado foram 56 os spams que atravessaram os filtros, e neste bando mal comportado vinha um chamado "Free for a month":
Livre durante um mês
Durante um mês poderei fazer tudo o que queira
ser de novo magro e ágil, subir às árvores
e do cimo delas gritar para o mundo inteiro me ouvir
a voz e o que ela diz, todas as ideias recém-libertas
que não irão encontrar os entraves habituais
no trajecto que leva dos neurónios às cordas vocais
Durante um mês poderei fazer amor contigo e contigo
e também contigo e a ti recusar porque já não me apetece
porque já me aborrece ou simplesmente porque sim
Durante um mês poderei atirar a palavra assassino à cara
de todos os assassinos e chamar filho da puta a todos os
filhos da puta porque é sempre bom que eles saibam
que há quem os conheça e fale e tenha um mês
para ser livre e trancar o medo no mesmo cofre
que habitualmente guarda a coragem que me resta
E quando acabar o mês, farei uma grande festa
onde queimarei o resto da minha vida
Após provar a liberdade, deixa de ser possível
o regresso às prisões de todos os dias
Livre durante um mês
Durante um mês poderei fazer tudo o que queira
ser de novo magro e ágil, subir às árvores
e do cimo delas gritar para o mundo inteiro me ouvir
a voz e o que ela diz, todas as ideias recém-libertas
que não irão encontrar os entraves habituais
no trajecto que leva dos neurónios às cordas vocais
Durante um mês poderei fazer amor contigo e contigo
e também contigo e a ti recusar porque já não me apetece
porque já me aborrece ou simplesmente porque sim
Durante um mês poderei atirar a palavra assassino à cara
de todos os assassinos e chamar filho da puta a todos os
filhos da puta porque é sempre bom que eles saibam
que há quem os conheça e fale e tenha um mês
para ser livre e trancar o medo no mesmo cofre
que habitualmente guarda a coragem que me resta
E quando acabar o mês, farei uma grande festa
onde queimarei o resto da minha vida
Após provar a liberdade, deixa de ser possível
o regresso às prisões de todos os dias
O Technorati até que falha bastante...
Vocês, ó fãs empedernidos do Top Technorati, fiquem sabendo que a fonte de todos os dados, o dito-cujo (carcará sanguinolento) Technorati tem uma certa tendência para a falha, tornando os números pouco fiáveis.
Bom exemplo disso tive eu agora.
Por motivos óbvios, andei nos últimos dias afastado da blogosfera, e ao regressar resolvi ir primeiro ao Link Cosmos da Lâmpada Mágica para ver se havia por aí alguma referência e, consequentemente, alguma resposta a dar. Segundo o Technorati, não havia. Mas agora, ao fazer uma primeira ronda pelos blogs mais ou menos habituais, deparei por puro acaso com uma posta simpática no Um Pouco Mais de Sul, colocada online precisamente na segunda-feira. E o Technorati mais caladinho que um rato mudo.
Ora bolas pró Technorati.
Quanto ao jcb, obrigadão pela referência! Achas que eu conseguia um subsidiozito para prosseguir com o serviço público? ;)
Bom exemplo disso tive eu agora.
Por motivos óbvios, andei nos últimos dias afastado da blogosfera, e ao regressar resolvi ir primeiro ao Link Cosmos da Lâmpada Mágica para ver se havia por aí alguma referência e, consequentemente, alguma resposta a dar. Segundo o Technorati, não havia. Mas agora, ao fazer uma primeira ronda pelos blogs mais ou menos habituais, deparei por puro acaso com uma posta simpática no Um Pouco Mais de Sul, colocada online precisamente na segunda-feira. E o Technorati mais caladinho que um rato mudo.
Ora bolas pró Technorati.
Quanto ao jcb, obrigadão pela referência! Achas que eu conseguia um subsidiozito para prosseguir com o serviço público? ;)
Uma noite inesquecível (actualização)
Para os dois ou três visitantes da Lâmpada que se interessaram pela noite inesquecível cá de casa, aqui fica uma actualização. Sabem como é fazer um esforço violento depois de anos de vida sedentária? Sabem como os músculos doem nos dias seguintes? Então sabem como me sinto agora.
Tirando isso, as coisas acabaram por correr bem melhor do que chegámos a temer. Nada de eléctrico se avariou, ainda não há nada declaradamente podre, se bem que haja alguns cheiros de mau agouro (e lá fomos comprar um termoventilador, que trabalha o dia inteiro, para secar o que precisa de ser seco), os tacos não empolaram, a alcatifa não descolou e vai secando devagar mas com segurança, os quadros que havia no chão ou foram tirados a tempo ou acabaram por não se estragar (felizmente, como a água vinha directamente da chuva e não de uma torrente qualquer, vinha limpa), etc. Ou seja, até agora os únicos estragos confirmados são sete exemplares da Sally, que estavam no fundo de uma caixa, empaparam em água, descolaram-se, enfim, ficaram inaproveitáveis.
A ver vamos se conseguimos evitar que algumas coisas apodreçam mas, seja como for, o sentimento por cá é de alívio.
Tirando isso, as coisas acabaram por correr bem melhor do que chegámos a temer. Nada de eléctrico se avariou, ainda não há nada declaradamente podre, se bem que haja alguns cheiros de mau agouro (e lá fomos comprar um termoventilador, que trabalha o dia inteiro, para secar o que precisa de ser seco), os tacos não empolaram, a alcatifa não descolou e vai secando devagar mas com segurança, os quadros que havia no chão ou foram tirados a tempo ou acabaram por não se estragar (felizmente, como a água vinha directamente da chuva e não de uma torrente qualquer, vinha limpa), etc. Ou seja, até agora os únicos estragos confirmados são sete exemplares da Sally, que estavam no fundo de uma caixa, empaparam em água, descolaram-se, enfim, ficaram inaproveitáveis.
A ver vamos se conseguimos evitar que algumas coisas apodreçam mas, seja como for, o sentimento por cá é de alívio.
terça-feira, 25 de novembro de 2003
Spamesia (201)
Os últimos dias foram muito, muito turbulentos cá por estas bandas, e o blog teve de se resignar a ficar sentadinho à espera. Mas o spam não pára nem tem contemplações, e continua a chegar meticulosamente, todos os dias. Na sexta-feira foram 63, e um deles intitulava-se "something to moan".
Algo para lamentar
Um dia liguei a televisão
e, à medida que a electricidade começava a fluir
pelos circuitos que transformam sinais
em luz e em som,
lembrei-me do dia em que te vi
mesmo ali
feita matriz de pontinhos luminosos
que eram como pálpebras intermitentes
debruçadas sobre as coisas
Foi a última vez que te vi
e ter de ti
a imagem de um constructo electrónico
provido de menos substância que um suspiro
é, sem dúvida, algo para lamentar
Algo para lamentar
Um dia liguei a televisão
e, à medida que a electricidade começava a fluir
pelos circuitos que transformam sinais
em luz e em som,
lembrei-me do dia em que te vi
mesmo ali
feita matriz de pontinhos luminosos
que eram como pálpebras intermitentes
debruçadas sobre as coisas
Foi a última vez que te vi
e ter de ti
a imagem de um constructo electrónico
provido de menos substância que um suspiro
é, sem dúvida, algo para lamentar
segunda-feira, 24 de novembro de 2003
Uma noite inesquecível
Ontem, por volta das 3 da manhã, começou a cair em Portimão o maior dilúvio que já vi em dias de minha vida. Não que nunca tivesse visto cair chuva com tal intensidade, que já tinha. Mas nunca tinha visto cair tanta chuva durante tanto tempo. Foi cerca de uma hora de uma chuva quase sólida que ao cair deve ter enchido todas as ruas da cidade de parede a parede. A minha, pelo menos, encheu, e ela é das largas. Mas se fosse só isso, ainda vá. Não foi. Depois do dilúvio, continuou a chover com muita força até depois de raiar o dia, com uma única pausa de cerca de um quarto de hora. Respirou-se, mas o afogamento reatou passado pouco tempo.
Sim, assisti a tudo. Não preguei olho a noite inteira, a varrer litros e litros de água que me entraram em casa pela porta das traseiras e eu empurrei para a porta da frente, conseguindo com isso evitar que a água inundasse duas divisões. As outras... enfim, pelas outras não se andava, chapinhava-se.
E hoje foi o dia inteiro a apanhar baldes e baldes de água, de esfregona e toalhas em punho, depois, já com a maior parte da água seca, revirar arcas em busca de roupa e papéis encharcados, depois, já com um alfinete espetado em cada nervo e em cada músculo, cair para o lado de exaustão, dormir três horitas e voltar à faina porque é preciso salvar o que der para salvar e evitar que móveis e conteúdo comecem a apodrecer.
E depois, sem saber porquê nem para quê, vir ao blog mandar uma posta antes de ir dormir, como se isto interessasse a alguém.
Sim, assisti a tudo. Não preguei olho a noite inteira, a varrer litros e litros de água que me entraram em casa pela porta das traseiras e eu empurrei para a porta da frente, conseguindo com isso evitar que a água inundasse duas divisões. As outras... enfim, pelas outras não se andava, chapinhava-se.
E hoje foi o dia inteiro a apanhar baldes e baldes de água, de esfregona e toalhas em punho, depois, já com a maior parte da água seca, revirar arcas em busca de roupa e papéis encharcados, depois, já com um alfinete espetado em cada nervo e em cada músculo, cair para o lado de exaustão, dormir três horitas e voltar à faina porque é preciso salvar o que der para salvar e evitar que móveis e conteúdo comecem a apodrecer.
E depois, sem saber porquê nem para quê, vir ao blog mandar uma posta antes de ir dormir, como se isto interessasse a alguém.
sexta-feira, 21 de novembro de 2003
Spamesia (200)
Ena! Mais um número redondinho! Mais um pretexto para comemorar, salta a rolha do champanhe, plop, venha ele, glugluglugluglu, hic, pronto, já está. Ontem, quinta-feira, atravessaram a paliçada de filtros 64 spams, e um deles trazia um título bem estranho para um spam: «When you say, "I Love You."»
Quando dizes “amo-te”
Quando dizes “amo-te”
eu ouço-te a dizer
“amo uma imagem
idealizada de ti, e um dia
que compreenda que tu
és isso e outras coisas
deixarei de amar-te”
Por isso devolvo-te
um sorriso entre o tímido
e o triste, e fico calado
entre tímido e triste
Quando dizes “amo-te”
Quando dizes “amo-te”
eu ouço-te a dizer
“amo uma imagem
idealizada de ti, e um dia
que compreenda que tu
és isso e outras coisas
deixarei de amar-te”
Por isso devolvo-te
um sorriso entre o tímido
e o triste, e fico calado
entre tímido e triste
Spamesia (199)
Na quarta-feira recebi 56 spams, e a dificuldade em encontrar um título foi resolvida com um "RE: do you think it's possible dx nbd", que eu adaptei para:
Pensas que é possível?
Sonho com o dia em que tu olhes e me vejas
um perfil apenas no fulgor do sol-posto
e que algo aconteça, um estremecimento
no tecido do espaço e do tempo, da realidade
e que o mar passe a rebentar na praia
com ondas de água doce, salpicando-me os pés
com espuma feita de açúcar refinado
enquanto tu, bela e triste, me sorris
Pensas que esse dia é possível, Beatriz?
Pensas que é possível?
Sonho com o dia em que tu olhes e me vejas
um perfil apenas no fulgor do sol-posto
e que algo aconteça, um estremecimento
no tecido do espaço e do tempo, da realidade
e que o mar passe a rebentar na praia
com ondas de água doce, salpicando-me os pés
com espuma feita de açúcar refinado
enquanto tu, bela e triste, me sorris
Pensas que esse dia é possível, Beatriz?
quarta-feira, 19 de novembro de 2003
Spamesia (198)
Spamesia (198)
Como costuma acontecer todas as semanas, à segunda-feira que foi anteontem seguiu-se a terça-feira que foi ontem. Estranhamente, ou talvez não, também ontem recebi spam, 62 mensagens de spam, e a perplexidade, ou talvez não, continuou quando reparei que quase todas tinham títulos mas só uma se chamava "Listen, do you want to know a secret?????". Não liguem aos que se segue: eu às vezes tenho destas crises de descrença na existência de tudo o que me rodeia. Hão-de convir que não é difícil chegar à conclusão de que o chamado "mundo real" não passa de um produto da imaginação doentia de cada um, não é verdade?
Ouve, queres saber um segredo?
Ouve, queres saber um segredo?
Não tenhas medo
não é nada que te possa pôr em perigo
eu, afinal, sou teu amigo
nada farei para te levar a um lugar
mais próximo da lâmina de uma navalha
Então cá vai o tal segredo
Tudo o que tu pensas sobre o universo é falso
Não há espaço nem matéria e o tempo é ilusão
que passa dia a dia do passado que não existe
para o futuro que também não
a única coisa que existe realmente
é um instante invisível de presente
e uma determinada configuração
em eterna mutação
de partículas com nomes tão estranhos
que desconfiguram as bocas que tentam pronunciá-los
Tu próprio não passas de um fluxo
formado pela soma de milhares de outros fluxos
e refluxos
uma configuração relativamente estável de instabilidades
e que só existe no momento do presente
(pois nada pode existir em lugares que não existem
como o passado
ou o futuro)
E tudo o resto és tu que crias
nos recôncavos sombrios da tua imaginação
És tu o teu próprio deus
Tu, só tu, tens nas mãos todos os poderes
E é este o segredo
Espero que não te perturbe o sono
Como costuma acontecer todas as semanas, à segunda-feira que foi anteontem seguiu-se a terça-feira que foi ontem. Estranhamente, ou talvez não, também ontem recebi spam, 62 mensagens de spam, e a perplexidade, ou talvez não, continuou quando reparei que quase todas tinham títulos mas só uma se chamava "Listen, do you want to know a secret?????". Não liguem aos que se segue: eu às vezes tenho destas crises de descrença na existência de tudo o que me rodeia. Hão-de convir que não é difícil chegar à conclusão de que o chamado "mundo real" não passa de um produto da imaginação doentia de cada um, não é verdade?
Ouve, queres saber um segredo?
Ouve, queres saber um segredo?
Não tenhas medo
não é nada que te possa pôr em perigo
eu, afinal, sou teu amigo
nada farei para te levar a um lugar
mais próximo da lâmina de uma navalha
Então cá vai o tal segredo
Tudo o que tu pensas sobre o universo é falso
Não há espaço nem matéria e o tempo é ilusão
que passa dia a dia do passado que não existe
para o futuro que também não
a única coisa que existe realmente
é um instante invisível de presente
e uma determinada configuração
em eterna mutação
de partículas com nomes tão estranhos
que desconfiguram as bocas que tentam pronunciá-los
Tu próprio não passas de um fluxo
formado pela soma de milhares de outros fluxos
e refluxos
uma configuração relativamente estável de instabilidades
e que só existe no momento do presente
(pois nada pode existir em lugares que não existem
como o passado
ou o futuro)
E tudo o resto és tu que crias
nos recôncavos sombrios da tua imaginação
És tu o teu próprio deus
Tu, só tu, tens nas mãos todos os poderes
E é este o segredo
Espero que não te perturbe o sono
terça-feira, 18 de novembro de 2003
Um post absolutamente brilhante. Noutro blog, claro
Um bos blogs que descobri há pouco tempo e que tenho acompanhado com interesse é o Portugal Horizontal. Hoje está lá um post absolutamente brilhante. A não perder de modo nenhum. Chama-se GNR.
Spamesia (197)
Ontem, segunda-feira, houve uma enchente ainda maior que a da véspera: 74 spams. Muitos títulos muito maus, muitas repetições, autênticas spam-bombs (devem pensar que ao enviarem 6 ou 7 cópias aumentam a probabilidade de uma ser aberta... ah, santa cretinice!) e, quase invisível, um pequenino "The Perfect System ! sapostotrfwq". Deitei fora o lixo e guardei:
O sistema perfeito
Ao contrário do que o povo pensa
o sistema perfeito não é aquele
que não tem nenhum defeito
pois não há nada mais imperfeito
do que aquilo que é inalcançável
O sistema perfeito é o que está
em harmonia com a inevitável
evolução de todas as coisas
e aceita e controla as mudanças
como parte que estrutura a sua
própria e sempre mutável perfeição
O sistema perfeito
Ao contrário do que o povo pensa
o sistema perfeito não é aquele
que não tem nenhum defeito
pois não há nada mais imperfeito
do que aquilo que é inalcançável
O sistema perfeito é o que está
em harmonia com a inevitável
evolução de todas as coisas
e aceita e controla as mudanças
como parte que estrutura a sua
própria e sempre mutável perfeição
segunda-feira, 17 de novembro de 2003
Spamesia (196)
E ontem, que foi domingo, os Senhores do Spam trouxeram-me uma ventania que gemia o número 71. Lá no meio da fartura vinha uma mensagem de título "virile". Estava mesmo a pedi-las, não estava?
Viril
Dizem que o Viril era um gajo forte
que andava por aí a distribuir tiros e morte
mas o que ninguém sabia é que não conseguia
pô-lo em pé
Qual a causa e o efeito?
Seria só falta de jeito?
Só o descobriram quando um dia, pelo natal
foram dar com o Viril
com um rapaz na casa de banho do quartel
o presente era-lhe doce, mas acabou sabendo a fel
Viril
Dizem que o Viril era um gajo forte
que andava por aí a distribuir tiros e morte
mas o que ninguém sabia é que não conseguia
pô-lo em pé
Qual a causa e o efeito?
Seria só falta de jeito?
Só o descobriram quando um dia, pelo natal
foram dar com o Viril
com um rapaz na casa de banho do quartel
o presente era-lhe doce, mas acabou sabendo a fel
Spamesia (195)
No sábado foram 48 os spams que passaram todas as barreiras, e quase todos tinham ou títulos já usados, ou títulos muito maus. Acabei por ter de pegar num "Innocent Teens that do it like Whores!" e esperar que a coisa corresse bem:
Adolescentes inocentes que o fazem como putas
Há adolescentes inocentes que o fazem como putas
e há putas indecentes que o fazem como adolescentes
e se me disseres que preferes as primeiras às segundas
meu amigo, ou tens problemas ou simplesmente mentes
Adolescentes inocentes que o fazem como putas
Há adolescentes inocentes que o fazem como putas
e há putas indecentes que o fazem como adolescentes
e se me disseres que preferes as primeiras às segundas
meu amigo, ou tens problemas ou simplesmente mentes
Spamesia (194)
Na sexta-feira foram mais uns quantos: 51. 50 foram logo fora, e o que restou era uma parvoíce qualquer, provavelmente uma chain-letter, com o titulo de "Não apague, dê uma chance à vida!" Aposto que o que fiz desta porcaria vos vai surpreender. Mas também é verdade que costumo perder as minhas apostas.
Não apague, dê uma chance à vida!
Um belo dia, algures pela manhã
(e eu durmo sempre todas as manhãs)
recebi a visita de um desenho animado
que saltitou pelo meu peito fazendo trejeitos
com a sua boca hipertrofiada de boneco
Não era o Roger Rabbit porque não era coelho
mas tinha o mesmo tipo de molas nos sapatos
Disse-me esta cretina criatura depois de criar
a maior cacofonia entre lençóis e cobertores
que o mundo em que eu vivia não passava
dum desenho animado (mas poucochinho)
e que eu, eu próprio, era delineado a tinta da china
Saltei da cama olhei para o dia onde o sol já sorria
(mas tinha-se esquecido de limpar as ramelas
como já vinha sendo hábito há algum tempo)
e corri tecto fora até à casa de banho onde
o espelho me devolveu a tradicional mirada
Estava tudo normal, a barba (uma zona cinzenta)
já despontava sob a sombra da carranca
e sob olheiras que escorriam (literalmente)
até à base das bochechas, e as orelhas erguiam-se
redondinhas, no alto da cabeça, como sempre
Cocei as costas, tropecei nos pés de gigante
como faço todas as manhãs e compus melhor
o traço que me rodeia a cauda de leopardo
«disparate», pensei, «que terá dado àquele palerma
para me vir assim assustar logo de manhã?»
Mas decidi, em todo o caso, deixar-lhe um apelo
não custa jogar pelo seguro, e caso seja verdade
que eu sou mesmo um desenho animado então
tenho de pedir-lhe, lágrimas a escorrer em cascata
dos olhos que me ocupam a metade mais bela da cara
Não me apague! Dê uma chance à vida!
Não apague, dê uma chance à vida!
Um belo dia, algures pela manhã
(e eu durmo sempre todas as manhãs)
recebi a visita de um desenho animado
que saltitou pelo meu peito fazendo trejeitos
com a sua boca hipertrofiada de boneco
Não era o Roger Rabbit porque não era coelho
mas tinha o mesmo tipo de molas nos sapatos
Disse-me esta cretina criatura depois de criar
a maior cacofonia entre lençóis e cobertores
que o mundo em que eu vivia não passava
dum desenho animado (mas poucochinho)
e que eu, eu próprio, era delineado a tinta da china
Saltei da cama olhei para o dia onde o sol já sorria
(mas tinha-se esquecido de limpar as ramelas
como já vinha sendo hábito há algum tempo)
e corri tecto fora até à casa de banho onde
o espelho me devolveu a tradicional mirada
Estava tudo normal, a barba (uma zona cinzenta)
já despontava sob a sombra da carranca
e sob olheiras que escorriam (literalmente)
até à base das bochechas, e as orelhas erguiam-se
redondinhas, no alto da cabeça, como sempre
Cocei as costas, tropecei nos pés de gigante
como faço todas as manhãs e compus melhor
o traço que me rodeia a cauda de leopardo
«disparate», pensei, «que terá dado àquele palerma
para me vir assim assustar logo de manhã?»
Mas decidi, em todo o caso, deixar-lhe um apelo
não custa jogar pelo seguro, e caso seja verdade
que eu sou mesmo um desenho animado então
tenho de pedir-lhe, lágrimas a escorrer em cascata
dos olhos que me ocupam a metade mais bela da cara
Não me apague! Dê uma chance à vida!
Spamesia (193)
Ficámos à espera de quinta-feira, dia em que só cá vieram dar 47 spams (e nada menos que 6 repetições do mesmo), incluindo um que chegou com o título de "healthy and":
Saudável e
Saudável e
contente como um canário sob uma overdose de alpista
Saudável e
suado como cavalo dado aos pinotes em torno de uma égua
Saudável e
um pouco louco como um homem só a limpar o pó aos versos
Saudável e
sedento de liberdade verdadeira, das ideias a primeira
Saudável e
doente, finalmente, que é o que no fundo é toda a gente
Saudável e
Saudável e
contente como um canário sob uma overdose de alpista
Saudável e
suado como cavalo dado aos pinotes em torno de uma égua
Saudável e
um pouco louco como um homem só a limpar o pó aos versos
Saudável e
sedento de liberdade verdadeira, das ideias a primeira
Saudável e
doente, finalmente, que é o que no fundo é toda a gente
sexta-feira, 14 de novembro de 2003
Eu não percebo nada de poesia, mas...
... gostei duma posta do Rain Song intitulada "fonia". Queria fazer um link directo, mas o jm não deixa. Desculpem lá.
Spamesia (192)
Na quarta-feira chegaram 56, incluindo vários aparentemente provenientes de endereços meus e um estupidamente intitulado "I found your address", como se tal coisa não fosse auto-evidente. Claro que escolhi outro, um que me incitava: "Paint that door black!"
Pinta essa porta de preto
Meu amor, se te assustam
os monstros pardos que
habitam na noite e tens medo
que eles encontrem uma noite
o caminho para os teus sonhos
pinta essa porta de preto
transforma-a em mais um
bocado de noite, simplesmente
Pinta essa porta de preto
Meu amor, se te assustam
os monstros pardos que
habitam na noite e tens medo
que eles encontrem uma noite
o caminho para os teus sonhos
pinta essa porta de preto
transforma-a em mais um
bocado de noite, simplesmente
Spamesia (191)
Terça houve 50 spams sorrateiros, um dos quais vinha intitulado simplesmente "now?"
Agora?
Sim, bem sei que para que o equilíbrio
das coisas se mantenha, a chuva tem
de cair, que o vento tem de soprar forte
de vez em quando, que o nevoeiro
tem de tornar cegos todos os mochos
e que é preciso que as ondas, lá na praia
se esmaguem sobre as falésias
com o estrondo de mil focas.
Mas será que tudo isso tem mesmo
de acontecer exactamente agora?
Agora?
Sim, bem sei que para que o equilíbrio
das coisas se mantenha, a chuva tem
de cair, que o vento tem de soprar forte
de vez em quando, que o nevoeiro
tem de tornar cegos todos os mochos
e que é preciso que as ondas, lá na praia
se esmaguem sobre as falésias
com o estrondo de mil focas.
Mas será que tudo isso tem mesmo
de acontecer exactamente agora?
Spamesia (190)
Segunda-feira foram 58 os spams que atravessaram a barreira, e um deles informou-me de que "There's a moon out tonight"
Há uma Lua lá fora esta noite
Disseram na televisão
que esta noite
vai haver uma Lua lá fora
Eu não sei bem se acredite
Há dias disseram que iria haver paz
e eu olhei para fora
e só vi imagens da guerra
por isso suspeito de que
se houver mesmo Lua lá fora
esta noite
ela não será branca, mas sim vermelha
Há uma Lua lá fora esta noite
Disseram na televisão
que esta noite
vai haver uma Lua lá fora
Eu não sei bem se acredite
Há dias disseram que iria haver paz
e eu olhei para fora
e só vi imagens da guerra
por isso suspeito de que
se houver mesmo Lua lá fora
esta noite
ela não será branca, mas sim vermelha
Spamesia (189)
Pergunta: que se faz numa insónia? Resposta óbvia: spamemas.
Estamos no passado domingo, dia em que recebi apenas 40 spams, entre os quais um trazia o título de "kinda broke at the moment?"
A modos que falido de momento?
Estás a modos que falido, de momento?
Nos bolsos tens apenas grãos de areia
desde o dia que acordaste bêbado à beira-mar?
Que importa?
Pois não é verdade que as gaivotas continuam
a afagar-te os cabelos com as suas sombras
e os miúdos, os filhos de todos os outros loucos banais
ainda atiram os seus gritos com a violência de sempre
às paredes dos prédios?
Que importa que nada possuas além de um mundo inteiro?
Abre os braços, as mãos, os olhos, todos os alvéolos
e bebe a realidade que te rodeia através de cada poro
vais ver: o rangido de porta mal oleada
que te ronda as entranhas acabará por desaparecer
palavra de Homem
Estamos no passado domingo, dia em que recebi apenas 40 spams, entre os quais um trazia o título de "kinda broke at the moment?"
A modos que falido de momento?
Estás a modos que falido, de momento?
Nos bolsos tens apenas grãos de areia
desde o dia que acordaste bêbado à beira-mar?
Que importa?
Pois não é verdade que as gaivotas continuam
a afagar-te os cabelos com as suas sombras
e os miúdos, os filhos de todos os outros loucos banais
ainda atiram os seus gritos com a violência de sempre
às paredes dos prédios?
Que importa que nada possuas além de um mundo inteiro?
Abre os braços, as mãos, os olhos, todos os alvéolos
e bebe a realidade que te rodeia através de cada poro
vais ver: o rangido de porta mal oleada
que te ronda as entranhas acabará por desaparecer
palavra de Homem
quarta-feira, 12 de novembro de 2003
Spamesia (188)
No sábado, entre as 65 mensagens que atravessaram os filtros (cujo número vai aumentando todos os dias e que já apanharam mais de 100), havia uma com um título em francês (desta vez é mesmo, Luís): "Lisez bien ceci". Eu, que não li, resolvi escrever FC:
Leia isto bem
Leia isto bem
é um manual
de instruções para a sobrevivência
fora da nave
o mundo lá fora está cheio de loucos
perigosos
armados de certezas assassinas
e de um sentido inato
de superioridade sua e dos seus
sobre todos os demais
O disfarce, ainda que incómodo
— sabemos bem que andar sobre
duas pernas exige anos de treino —
é, assim, indispensável
você não pode parecer diferente
pois eles rapidamente acabarão com
toda a sua linhagem
Já sabe, leia isto bem
e lembre-se sempre que foi você
quem escolheu esta missão
ninguém o obrigou
a passar um ano no seio dos selvagens
só podemos fazer votos para que
regresse com todas as antenas
Leia isto bem
Leia isto bem
é um manual
de instruções para a sobrevivência
fora da nave
o mundo lá fora está cheio de loucos
perigosos
armados de certezas assassinas
e de um sentido inato
de superioridade sua e dos seus
sobre todos os demais
O disfarce, ainda que incómodo
— sabemos bem que andar sobre
duas pernas exige anos de treino —
é, assim, indispensável
você não pode parecer diferente
pois eles rapidamente acabarão com
toda a sua linhagem
Já sabe, leia isto bem
e lembre-se sempre que foi você
quem escolheu esta missão
ninguém o obrigou
a passar um ano no seio dos selvagens
só podemos fazer votos para que
regresse com todas as antenas
Spamesia (187)
Na sexta-feira foram só 62 mensagens, entre as quais vinha uma em português intitulada "Enquanto o Diabo esfrega o olho..." Não me fiz rogado, mas surrealizei um bocado. O que segue, como se sabe, não é para levar a sério:
Enquanto o Diabo esfrega o olho...
Enquanto o Diabo esfrega o olho
direito
eu aproveito
para pôr os ossos de molho
em água quente
como é evidente
e extrair deles uma infusão de verdade
Não é vaidade
mas dos meus ossos só saem bocados de realidade
como se fossem peças dispersas de um oráculo
estaladiço e crocante
eu em tudo isto não passo de figurante
tão frágil como uma bolha de ar saída do espiráculo
de uma baleia
fico a ver para ver quando toma forma cada ideia
No fim de contas, o Diabo é quem sabe
nada há no mundo mais importante
que esfregar o olho
Enquanto o Diabo esfrega o olho...
Enquanto o Diabo esfrega o olho
direito
eu aproveito
para pôr os ossos de molho
em água quente
como é evidente
e extrair deles uma infusão de verdade
Não é vaidade
mas dos meus ossos só saem bocados de realidade
como se fossem peças dispersas de um oráculo
estaladiço e crocante
eu em tudo isto não passo de figurante
tão frágil como uma bolha de ar saída do espiráculo
de uma baleia
fico a ver para ver quando toma forma cada ideia
No fim de contas, o Diabo é quem sabe
nada há no mundo mais importante
que esfregar o olho
Spamesia (186)
Tinha-vos abandonado na quarta-feira, e portanto regresso na quinta, dia em que o spam não filtrado subiu às 75 mensagens. Lá pelo meio vinham vários títulos interessantes, mas este bateu-os a todos: "I wrote this book"
Escrevi este livro
Escrevi este livro porque ele veio ter comigo
com um sorriso nos seus lábios de celulose
e me disse que andava com ânsias de ser escrito
não sabia bem porquê, nem se era normal
nem se seria caso de doença ou internamento
Pareceu-me tímido e afável mas com um terror
supremo escondido por dentro das entrelinhas
um medo pânico de morrer sem chegar a ser escrito
um pavor de se sumir da Potencialidade sem
nunca chegar a tocar os sonhos de quem quer que seja
Por isso, escrevi-o, murmurando-lhe ao ouvido
como a um amante “calma, já estou a escrever-te
e quando chegar a altura, abrirei os braços
e tu sairás para o mundo, como sempre quiseste”
Escrevi este livro
Escrevi este livro porque ele veio ter comigo
com um sorriso nos seus lábios de celulose
e me disse que andava com ânsias de ser escrito
não sabia bem porquê, nem se era normal
nem se seria caso de doença ou internamento
Pareceu-me tímido e afável mas com um terror
supremo escondido por dentro das entrelinhas
um medo pânico de morrer sem chegar a ser escrito
um pavor de se sumir da Potencialidade sem
nunca chegar a tocar os sonhos de quem quer que seja
Por isso, escrevi-o, murmurando-lhe ao ouvido
como a um amante “calma, já estou a escrever-te
e quando chegar a altura, abrirei os braços
e tu sairás para o mundo, como sempre quiseste”
terça-feira, 11 de novembro de 2003
<-------- Os livros que estão ali
Olá. Saudadinhas? Tou de volta, e haverá melhor regresso que um regresso a falar de livros? Eu também acho que não.
Desde a última vez que vos falei de livros, acabei Crónicas do Caos — Atractores Estranhos (bastante melhor que o primeiro romance da trilogia das Crónicas do Caos. E com uma tradução infinitamente melhor, também) e as Duas Fábulas Tecnocráticas (É Barreiros. Barreiros novinho e tão verde como um sardão, mas Barreiros). Para o lugar destes dois, entraram:
- Crónicas do Caos — O Mar Infinito, de Jeffrey A. Carver é o terceiro e último volume da trilogia (por enquanto — parece que vem aí um quarto livro) das Crónicas do Caos. Edição das Publicações Europa-América, 361 páginas (2002)
- Fronteiras é a terceira antologia editada a pretexto dos Encontros de FC de Cascais (segunda pela Simetria), inclui 10 contos de outros tantos autores, dois dos quais em tradução, e ainda um artigo sobre a FC em Portugal. Edição da Simetria, 199 páginas (1998)
Desde a última vez que vos falei de livros, acabei Crónicas do Caos — Atractores Estranhos (bastante melhor que o primeiro romance da trilogia das Crónicas do Caos. E com uma tradução infinitamente melhor, também) e as Duas Fábulas Tecnocráticas (É Barreiros. Barreiros novinho e tão verde como um sardão, mas Barreiros). Para o lugar destes dois, entraram:
- Crónicas do Caos — O Mar Infinito, de Jeffrey A. Carver é o terceiro e último volume da trilogia (por enquanto — parece que vem aí um quarto livro) das Crónicas do Caos. Edição das Publicações Europa-América, 361 páginas (2002)
- Fronteiras é a terceira antologia editada a pretexto dos Encontros de FC de Cascais (segunda pela Simetria), inclui 10 contos de outros tantos autores, dois dos quais em tradução, e ainda um artigo sobre a FC em Portugal. Edição da Simetria, 199 páginas (1998)
sexta-feira, 7 de novembro de 2003
Spamesia (185)
Quarta-feira chegou e o spam regressou à meia centena ou, mais precisamente, às 52 mensagens. Vários títulos interessantes se encontraram lá no meio, mas só se pode escolher um, e desta vez esse azar coube a "afraid of the locker".
Com medo da fechadura
Com medo da fechadura
e da realidade dura
que a fechadura fecha
não abres a janela
não vês como é bela
a paisagem que se
estende por trás dela
nem te juntas a ela
Chama a chave quando chove
água mole em pedra dura
É que aquela fechadura
não é mais do que metal
nada tem de bem nem mal
não morde nem come
como quem tem muita fome
é só uma coisa pura
Chama a chuva quando a chave
abre a porta para a cave
e a neve neva em névoas de loucura
Com medo da fechadura
Com medo da fechadura
e da realidade dura
que a fechadura fecha
não abres a janela
não vês como é bela
a paisagem que se
estende por trás dela
nem te juntas a ela
Chama a chave quando chove
água mole em pedra dura
É que aquela fechadura
não é mais do que metal
nada tem de bem nem mal
não morde nem come
como quem tem muita fome
é só uma coisa pura
Chama a chuva quando a chave
abre a porta para a cave
e a neve neva em névoas de loucura
Spamesia (184)
Acharam que segunda houve pouco spam? Eu também. Mas querem saber? Ficou todo para terça. Ah, pois! Não é por acaso que se recebem assim de repente 93 spams num só dia, mesmo com filtros a deitar automaticamente fora mais uns quantos. Claro, há a tal parte boa: uma série de títulos interessantes. Desta vez escolhi um "botch":
Remendo
O remendo vagueava pela noite
calcorreando as ruas sujas e nuas
por vezes correndo
outras parando a descansar
preso de algum arame
ondulando devagar na aragem
O remendo esvoaçava pela noite
estremecendo a cada latido
a cada rosnadela
a cada ruído de garras batendo no asfalto
O remendo arrastava-se na noite
deixando-se ensopar
pela água enlameada das sargetas
O remendo era tecido de saudade e solidão
Já a madrugada ia assomando a oriente
quando o remendo foi apanhado de repente
por um velho farrapo, esfarrapado
que o perseguiu por alguns metros
e depois, esbaforido, bafejou-o
com o seu bafo bafiento a coisa podre
Apanhou-o, mirou-o, revirou-o
e decidiu tentar mudá-lo em farrapo
O remendo resistiu
e desfiou um longo rol de argumentos
que era remendo e não farrapo
que esfarrapado deixaria de ser remendo
que a pobreza não justificava a traição
à íntima natureza de cada um
O farrapo ouviu com paciência
e quando o remendo se calou, limitou-se a notar
que o remendo, de tanto desfiar
se tinha transformado num farrapo
E foi assim que naquele bocado de alcatrão
um velho bocado de pano
ganhou uma nova alma
e um farrapo de companhia
Remendo
O remendo vagueava pela noite
calcorreando as ruas sujas e nuas
por vezes correndo
outras parando a descansar
preso de algum arame
ondulando devagar na aragem
O remendo esvoaçava pela noite
estremecendo a cada latido
a cada rosnadela
a cada ruído de garras batendo no asfalto
O remendo arrastava-se na noite
deixando-se ensopar
pela água enlameada das sargetas
O remendo era tecido de saudade e solidão
Já a madrugada ia assomando a oriente
quando o remendo foi apanhado de repente
por um velho farrapo, esfarrapado
que o perseguiu por alguns metros
e depois, esbaforido, bafejou-o
com o seu bafo bafiento a coisa podre
Apanhou-o, mirou-o, revirou-o
e decidiu tentar mudá-lo em farrapo
O remendo resistiu
e desfiou um longo rol de argumentos
que era remendo e não farrapo
que esfarrapado deixaria de ser remendo
que a pobreza não justificava a traição
à íntima natureza de cada um
O farrapo ouviu com paciência
e quando o remendo se calou, limitou-se a notar
que o remendo, de tanto desfiar
se tinha transformado num farrapo
E foi assim que naquele bocado de alcatrão
um velho bocado de pano
ganhou uma nova alma
e um farrapo de companhia
quinta-feira, 6 de novembro de 2003
Spamesia (183)
Segunda-feira, ainda de ressaca da comemoração da véspera, vim dar com o dia mais fraco em spam desde há muito tempo: 39 mensagens, simplesmente... Lá no meio havia uma que intitulava "the oil paintings", e eu, que tenho duas pintoras na família, bora aí:
As pinturas a óleo
As pinturas a óleo têm olhos
como a selva tem também durante a noite
olhos como miras que miram e remiram
todo o movimento, seja lento ou veloz
seja tímido e escondido, seja livre e afoito
As pinturas a óleo têm lâmpadas lá por dentro
daquelas pequeninas que só dão luz suficiente
para mostrar que o quadro pode até ter fronteiras
mas inclui territórios bem para lá dessas fronteiras
As pinturas a óleo por vezes não são pinturas
antes são quadrados e rectângulos de ternura
As pinturas a óleo
As pinturas a óleo têm olhos
como a selva tem também durante a noite
olhos como miras que miram e remiram
todo o movimento, seja lento ou veloz
seja tímido e escondido, seja livre e afoito
As pinturas a óleo têm lâmpadas lá por dentro
daquelas pequeninas que só dão luz suficiente
para mostrar que o quadro pode até ter fronteiras
mas inclui territórios bem para lá dessas fronteiras
As pinturas a óleo por vezes não são pinturas
antes são quadrados e rectângulos de ternura
Spamesia (182)
Pera lá! Altiparaóbaile! 365/2 = 182.5, e isto significa que algures entre domingo e segunda-feira, a spamesia fez meio ano de actividade que é verdade que foi várias vezes interrupta mas que também é verdade que, vista de maior distância, até passa por ininterrupta. Salta o petardo da comemoração, SSSHHHHH... BUM! Pronto. Já está.
No domingo, entre as 53 mensagens-lixo que me chegaram, vinha uma de título "her pleasure". Vamos lá então falar de...
O prazer dela
O prazer dela no antigamente
era ser bela permanentemente
hoje há quem diga que é ser feliz
para isso há quem persiga
uma linha perfeita no nariz
e assim se mudam os tempos e as vontades
permanecendo intactas as prioridades
No domingo, entre as 53 mensagens-lixo que me chegaram, vinha uma de título "her pleasure". Vamos lá então falar de...
O prazer dela
O prazer dela no antigamente
era ser bela permanentemente
hoje há quem diga que é ser feliz
para isso há quem persiga
uma linha perfeita no nariz
e assim se mudam os tempos e as vontades
permanecendo intactas as prioridades
terça-feira, 4 de novembro de 2003
Spamesia (181)
Sábado, badabadu, quanto spam me trazes tu? 52? Olha que giro! O quê? Digo-te depois... No meio da farfalhuda fartura, que apesar de tudo é menos farturenta que a da véspera (não liguem — dormi 4 horas), vinha um que anunciava "A Prenda ideal para o seu Natal!"
A prenda ideal para o seu natal
Ah, o meu amigo é canibal?
Então, se me permite, a prenda ideal
para o seu natal
é carne de animal
temperada com muito sal
para que não pareça mal
e não ter a tentação, afinal
de abrir a consoada a devorar um comensal
isso era capaz de causar uma confusão monumental
e ir parar à primeira página do jornal
já imaginou o cagaçal?...
A prenda ideal para o seu natal
Ah, o meu amigo é canibal?
Então, se me permite, a prenda ideal
para o seu natal
é carne de animal
temperada com muito sal
para que não pareça mal
e não ter a tentação, afinal
de abrir a consoada a devorar um comensal
isso era capaz de causar uma confusão monumental
e ir parar à primeira página do jornal
já imaginou o cagaçal?...
segunda-feira, 3 de novembro de 2003
Spamesia (180)
E na sexta-feira, que me dizem? Terá havido zigue ou zague? Aceitam-se apostas, mas façam-nas rapidamente, que a resposta é dada já na próxima frase. E eis a frase em que a resposta será dada, subliminarmente, com a informação de que recebi 59 spams. Um ziguezito, portanto. Lá no meio da fartura havia um de título "A little help never hurt", que eu traduzi para:
Um pouco de ajuda nunca fez mal a ninguém
Era bom que houvesse algo de eternidade
que se seguisse à última idade de cada um
ou pelo menos um momento para análise
e avaliação, um momento para fazer a síntese
dos momentos e estatísticas de uma vida
Nesse momento, a minha maior curiosidade
seria saber quantas vezes recusei a ajuda de alguém
mas por agora só queria saber quando aprenderei
que um pouco de ajuda nunca fez mal a ninguém
Um pouco de ajuda nunca fez mal a ninguém
Era bom que houvesse algo de eternidade
que se seguisse à última idade de cada um
ou pelo menos um momento para análise
e avaliação, um momento para fazer a síntese
dos momentos e estatísticas de uma vida
Nesse momento, a minha maior curiosidade
seria saber quantas vezes recusei a ajuda de alguém
mas por agora só queria saber quando aprenderei
que um pouco de ajuda nunca fez mal a ninguém
A excepção - um post umbiguista
Geralmente, o meu umbigo está fora deste blog. Digamos, um par de dezenas de centímetros abaixo dele. Mas de vez em quando, vem tomar ar à superfície. Esta é uma destas vezes...
Pois descobri via Goblin (que escolheu outro teste) um site que faz testes à personalidade das criaturas que lá aparecem. E ponho isto aqui porque os resultados que o software deu foram assustadoramente coincidentes com a imagem que tenho de mim próprio, quer no que isso tem de bom, quer no que tem de mau. Isto, claro, com alguns erros à mistura.
Quais foram esses resultados?
Diz o teste que eu tenho duas personalidades, uma superficial e outra global. Suponho que diga o mesmo de toda a gente, mas as minhas são as seguintes:
Esta é a minha personalidade superficial: "os 5w4s são intelectuais artísticos. Favorecem a intuição à razão e a ligação aos outros ao sucesso. Típicos professores distraídos, são ausentes e desprendidos. As suas mentes são solo fértil para a invenção e inovação". Aqui só discordo duma coisa, não digo qual.
Esta é a minha personalidade global: "Você é extremamente progressista. Você é indeciso, inquisitivo e tem pouco autocontrolo. Você tende a não acreditar na bondade inerente das pessoas. Você é introvertido e tende a fundir-se na maioria dos ambientes. Você tende a ser desarrumado.". Glup. E não é que é quase tudo verdade?...
Pronto. Umbigo, volta lá pra baixo se fazes favor. A partir de agora o blog continua como habitualmente. Até já.
Pois descobri via Goblin (que escolheu outro teste) um site que faz testes à personalidade das criaturas que lá aparecem. E ponho isto aqui porque os resultados que o software deu foram assustadoramente coincidentes com a imagem que tenho de mim próprio, quer no que isso tem de bom, quer no que tem de mau. Isto, claro, com alguns erros à mistura.
Quais foram esses resultados?
Diz o teste que eu tenho duas personalidades, uma superficial e outra global. Suponho que diga o mesmo de toda a gente, mas as minhas são as seguintes:
Esta é a minha personalidade superficial: "os 5w4s são intelectuais artísticos. Favorecem a intuição à razão e a ligação aos outros ao sucesso. Típicos professores distraídos, são ausentes e desprendidos. As suas mentes são solo fértil para a invenção e inovação". Aqui só discordo duma coisa, não digo qual.
Esta é a minha personalidade global: "Você é extremamente progressista. Você é indeciso, inquisitivo e tem pouco autocontrolo. Você tende a não acreditar na bondade inerente das pessoas. Você é introvertido e tende a fundir-se na maioria dos ambientes. Você tende a ser desarrumado.". Glup. E não é que é quase tudo verdade?...
Pronto. Umbigo, volta lá pra baixo se fazes favor. A partir de agora o blog continua como habitualmente. Até já.
domingo, 2 de novembro de 2003
Linques
Só para avisar de que ali a lista de linques vai crescer nos próximos dias, com a inclusão daqueles blogs que eu dou por mim a visitar sempre que aparecem na lista de novidades do Bloco-Notas mas que por qualquer razão ainda não tinham encontrado o caminho até ao meu template (caminho esse que, convenhamos, não é lá muito fácil de encontrar...). Hei-de ir acrescentando os linques à medida que eles forem aparecendo, e como ultimamente tenho andado a navegar mais um pouco pela blogosfera portuguesa, descobrindo um blog aqui, outro ali, é provável que o crescimento da lista não aconteça só nos próximos dias.
Também é provável que ela acabe por ser reestruturada, mas isso é para quando eu descobrir como será melhor fazer isso.
Também é provável que ela acabe por ser reestruturada, mas isso é para quando eu descobrir como será melhor fazer isso.
sábado, 1 de novembro de 2003
Spamesia (179)
Na quinta-feira o zague prosseguiu mais um pouco, até aos 70, e com vários títulos muito aproveitáveis, de entre os quais escolhi um "exemplar". Peguei nele e pus-me a escrever, e só reparei no tamanho do que tinha escrito quando acabei (desculpem lá). No fundo, é uma história...
Exemplar
O Campo da Ferrugem é um lugar exemplar
do quê, é a cada um que cabe decidir
Se te deixarem lá entrar
viajas por uma estrada de poeira
quilómetros e quilómetros
de arbustos e areia
onde só se mexem insectos
ratos, largartos e cascavéis
e há um abutre, de vez em quando
pairando no céu sem nuvens
servindo para colocar sentido na paisagem
como um sinal de pontuação com asas
Mas aqui ainda não é o Campo da Ferrugem
ainda tens muito que andar até lá chegar
Começas a vê-lo ao longe
se viajares de dia
Por vezes, há fragmentos de sol
que se soltam de superfícies
indecisas e te atingem os olhos
sacudindo deles a poeira
mas só te apercebes
de parte da verdade
quando ultrapassas uma colina
e vês, pela primeira vez
o Campo da Ferrugem
Pensas que te basta estender a mão para pegar
num brinquedo e brincar com ele, pô-lo a voar
Mas a estrada que te falta percorrer
é uma fita escura que desaparece
num algures sem distância
e ainda vais ter que sentir
a sede a instalar-se-te na garganta
antes de chegares, por fim
ao verdadeiro Campo da Ferrugem
Sais do carro, pões a mão em pála sobre os olhos
e o pensamento dissolve-se numa cascata de enas
O Campo da Ferrugem
ergue-se então na tua frente
como uma floresta vidro e de metal
chapa lisa, chapa esburacada
asas, carlingas, fuselagens
rodas gigantescas de borracha desgastada
umas ainda ligadas, outras espalhadas
sem ordem, por ali
spoilers, flaps, lemes e ailerons
da cor de Marte
desenrolam até ao chão cabos eléctricos
multicoloridas componentes das suas entranhas
e no chão, a areia forma pequenas dunas
esburacadas por grutas e recessos
de onde espreitam olhos assustadiços
Sobre tudo isto, o vento espalha uma sinfonia de pancadas
como que a dizer que a ferrugem também tem a sua voz
Chegaste ao lugar exemplar
sentas-te no chão como se não
pudesses mais suportar as pernas
sob o peso de toda aquela solidão
Esvaziado de substância
resta-te a esperança
de um dia, no futuro, conseguires
libertar-te da ferrugem
Exemplar
O Campo da Ferrugem é um lugar exemplar
do quê, é a cada um que cabe decidir
Se te deixarem lá entrar
viajas por uma estrada de poeira
quilómetros e quilómetros
de arbustos e areia
onde só se mexem insectos
ratos, largartos e cascavéis
e há um abutre, de vez em quando
pairando no céu sem nuvens
servindo para colocar sentido na paisagem
como um sinal de pontuação com asas
Mas aqui ainda não é o Campo da Ferrugem
ainda tens muito que andar até lá chegar
Começas a vê-lo ao longe
se viajares de dia
Por vezes, há fragmentos de sol
que se soltam de superfícies
indecisas e te atingem os olhos
sacudindo deles a poeira
mas só te apercebes
de parte da verdade
quando ultrapassas uma colina
e vês, pela primeira vez
o Campo da Ferrugem
Pensas que te basta estender a mão para pegar
num brinquedo e brincar com ele, pô-lo a voar
Mas a estrada que te falta percorrer
é uma fita escura que desaparece
num algures sem distância
e ainda vais ter que sentir
a sede a instalar-se-te na garganta
antes de chegares, por fim
ao verdadeiro Campo da Ferrugem
Sais do carro, pões a mão em pála sobre os olhos
e o pensamento dissolve-se numa cascata de enas
O Campo da Ferrugem
ergue-se então na tua frente
como uma floresta vidro e de metal
chapa lisa, chapa esburacada
asas, carlingas, fuselagens
rodas gigantescas de borracha desgastada
umas ainda ligadas, outras espalhadas
sem ordem, por ali
spoilers, flaps, lemes e ailerons
da cor de Marte
desenrolam até ao chão cabos eléctricos
multicoloridas componentes das suas entranhas
e no chão, a areia forma pequenas dunas
esburacadas por grutas e recessos
de onde espreitam olhos assustadiços
Sobre tudo isto, o vento espalha uma sinfonia de pancadas
como que a dizer que a ferrugem também tem a sua voz
Chegaste ao lugar exemplar
sentas-te no chão como se não
pudesses mais suportar as pernas
sob o peso de toda aquela solidão
Esvaziado de substância
resta-te a esperança
de um dia, no futuro, conseguires
libertar-te da ferrugem
Spamesia (178)
Quarta-feira houve mais um zague, e o número de spams subiu até aos 64. Foi também na quarta-feira que eu comecei a criar filtros para evitar receber alguns dos spams mais óbvios e menos apetecíveis sob o ponto de vista dos títulos, de modo que daqui para a frente estes números serão só referentes aos spams que atravessarem os filtros (que, de qualquer maneira, nunca chegarão a apanhar a maioria do que me chega). Adiante. Ora, lá no meio dos 64 veio um que dizia no título simplesmente "ok". E eu, com um título tão curtinho, tive de fazer um spamema também curto:
OK
OK
finalmente decidi
quando for grande
quero ser bactéria
OK
OK
finalmente decidi
quando for grande
quero ser bactéria
Novo sistema de comentários
OK, caros visitantes, fiquei definitivamente farto da Enetation e resolvi instalar um sistema de comentários alternativo. A partir de agora, tenho dois. Escolham o que preferirem (mas eu cá tenho impressão de que só responderei no novo). Do lado esquerdo, onde diz "deste lado não há vozes", é a velha e falhuda Enetation; do lado direito, onde diz "e aqui não há comentários", é o novo sistema, a cargo da Haloscan.
Sirvam-se.
Sirvam-se.
sexta-feira, 31 de outubro de 2003
Spamesia (177)
Na terça, o zigue prosseguiu até, imaginem, aos 49 spams. Lá no meio apareceu-me um de título "cowpox". Achei curioso. "Cowpox" é a designação inglesa duma espécie de sarampo das vacas — que relevância pode tal coisa ter para um spammer? Mas depois pensei melhor: e isso que interessa? Não é muito mais interessante inventar? Achei que sim, e inventei uma epidemia causada por uma doença humana (e inventada, claro) com um nome que não é mais que a tradução literal de "cow pox". Ou seja, chamada...
Pústulas de vaca
Do telhado escorre um fado, quase calado
murmurado por um vulto encapuçado
a noite também escorre do telhado
numa cascata de fogo fátuo azulado
e do céu escorre a Lua e desta caem gotas de luz
uma luz branca e fria, envolta em nevoeiro
No fim do fado, o vulto olha em volta
e só vê o silêncio, que escala chaminés
e o rastejar do musgo entre as telhas
Um gato salta, pardo, mas o vulto não o vê
pardo também ele, envolto em treva
Começa outro lamento, sem cor nem fingimento
e por um momento vem de algures um raio de luz
que lhe atravessa a defesa do capuz
e a dor que o vulto canta toma forma
Uma manta de retalhos de manchas retalhadas
é tudo o que resta de uma pele que já tivera
em si a suavidade de um poema
que pena que a doença a enfraqueça
que pena que a cidade desapareça
a pouco e pouco, devorada devagar
pela morte da caveira das manchas negras
Do telhado volta a escorrer um fado, quase chorado
acompanhado de um manto de silêncio
só ao longe, muito ao longe, é ouvido
por outro vulto, também ele encapuçado
tem nas mãos o vulto em gota de uma guitarra
e nos dedos a vontade de fechar os olhos
e não voltar a ver a luz do dia
Dois vultos na última noite da cidade antiga
entre eles, um fado improvisado
Pústulas de vaca
Do telhado escorre um fado, quase calado
murmurado por um vulto encapuçado
a noite também escorre do telhado
numa cascata de fogo fátuo azulado
e do céu escorre a Lua e desta caem gotas de luz
uma luz branca e fria, envolta em nevoeiro
No fim do fado, o vulto olha em volta
e só vê o silêncio, que escala chaminés
e o rastejar do musgo entre as telhas
Um gato salta, pardo, mas o vulto não o vê
pardo também ele, envolto em treva
Começa outro lamento, sem cor nem fingimento
e por um momento vem de algures um raio de luz
que lhe atravessa a defesa do capuz
e a dor que o vulto canta toma forma
Uma manta de retalhos de manchas retalhadas
é tudo o que resta de uma pele que já tivera
em si a suavidade de um poema
que pena que a doença a enfraqueça
que pena que a cidade desapareça
a pouco e pouco, devorada devagar
pela morte da caveira das manchas negras
Do telhado volta a escorrer um fado, quase chorado
acompanhado de um manto de silêncio
só ao longe, muito ao longe, é ouvido
por outro vulto, também ele encapuçado
tem nas mãos o vulto em gota de uma guitarra
e nos dedos a vontade de fechar os olhos
e não voltar a ver a luz do dia
Dois vultos na última noite da cidade antiga
entre eles, um fado improvisado
quinta-feira, 30 de outubro de 2003
<-------- Os livros que estão ali
Desde a última vez, já "despachei" dois livros da lista ali do lado direito, e coloquei nela outros dois. Os despachados foram: Ensaio Entre Portas (Poesia. Eu não percebo nada de poesia) e Arcontes (uma primeira obra com alguns dos defeitos típicos das primeiras obras, mas que mostra muito potencial). Os novos são:
- A Morte é um Acto Solitário, de Ray Bradbury, é um romance atípico do autor, escrito depois de uma longa paragem e passado no meio cinematográfico californiano, nos anos 30. Edição das Publicações Europa-América, 243 páginas (2003)
- Duas Fábulas Tecnocráticas é o primeiro livro de João Barreiros e também uma relíquia. Trata-se de um livro quase artesanal composto por duas histórias: O Funcionário e O Sindroma do Pai Natal. Edição do autor, 34 páginas (1977)
- A Morte é um Acto Solitário, de Ray Bradbury, é um romance atípico do autor, escrito depois de uma longa paragem e passado no meio cinematográfico californiano, nos anos 30. Edição das Publicações Europa-América, 243 páginas (2003)
- Duas Fábulas Tecnocráticas é o primeiro livro de João Barreiros e também uma relíquia. Trata-se de um livro quase artesanal composto por duas histórias: O Funcionário e O Sindroma do Pai Natal. Edição do autor, 34 páginas (1977)
Spamesia (176)
Segunda-feira, claro, a coisa zigueou um bocadinho até aos 75 spams. Apesar disso, houve mais títulos sugestivos do que na véspera, e eu acabei por pegar num "EMAIL THE WORLD" para escrever:
Manda um email ao mundo
Tens uma coisa a dizer e não tens a quem a digas?
Achas que tens de falar com mais que amigos e amigas?
Julgas que um mundo melhor depende daquilo que tu pensas?
Então, manda um email ao mundo, mas disfarça-o com cuidado
não vá o mundo pensar que lhe queres só vender viagra
Manda um email ao mundo
Tens uma coisa a dizer e não tens a quem a digas?
Achas que tens de falar com mais que amigos e amigas?
Julgas que um mundo melhor depende daquilo que tu pensas?
Então, manda um email ao mundo, mas disfarça-o com cuidado
não vá o mundo pensar que lhe queres só vender viagra
Spamesia (175)
Domingo, ao que parece, não só é o dia do senhor para todos aqueles imersos numa cultura de raiz cristã (gostem ou não gostem), como também é o dia do senhor spammer para todos aqueles imersos na cultura da internet. O spam sobe quase sempre no domingo. Desta vez, subiu até às 82 mensagens, entre as quais vinha uma a propor "Fwd: one quick question". Não, não a respondi: perguntei-a.
Uma pergunta rápida
Caro leitor massacrado
por esta cascata de palavras
unidas apenas pelos
significados que só adquirem
no interior do teu cérebro
deixa-me fazer-te
uma pergunta rápida
Tens mesmo a certeza
de que deste lado está
um ser humano?
Uma pergunta rápida
Caro leitor massacrado
por esta cascata de palavras
unidas apenas pelos
significados que só adquirem
no interior do teu cérebro
deixa-me fazer-te
uma pergunta rápida
Tens mesmo a certeza
de que deste lado está
um ser humano?
quarta-feira, 29 de outubro de 2003
Spamesia (174)
No sábado houve outro zague, com a chegada de 65 spams, incluindo várias repetições — o que é sempre uma seca. Pouca coisa aproveitável, e um dos melhores títulos foi um tal "protect your self ." Deu para fazer uma coisa grande:
Protege a tua individualidade
Às vezes apetece fugir da complexidade das coisas
escolher um único ramo da árvore de causalidade
e segui-lo até ao fim, ignorando todas as suas conexões
ramificações, antecedentes e consequências
e não ter olhos para mais do que as nossas conveniências
Mas essa escolha tem um preço feito de fios
que aparecem atados a cada um dos teus actos
fios que controlam cada um dos teus actos
levando-te a fazer a barba
quando talvez te apetecesse deixá-la crescer
ou a dizer que sim ou que não
a escolhas que nem sequer compreendes
ou a dar passos de que mais tarde te arrependes
levando-te a deixar de ser tu, exactamente,
antes uma amálgama do que és realmente
e daquilo que quem te controla pretende que sejas
a fim de proteger os seus proprios interesses
não os teus
muito menos os de todos nós
Por isso, abre os olhos para o novelo que é cada coisa
e tenta destrinçar por ti próprio os fios que a compõem
só assim podes evitar a dissolução num rebanho
ser mais um pedaço de gado, em tudo idêntico aos demais
pastoreado entre a pastagem e os currais
passando os dias na engorda, dia a dia mais próximo do fim num matadouro
Protege a tua individualidade
para isso bastar-te-á sair do nevoeiro
em que tu próprio envolves o teu cérebro
e mergulhar, de cabeça, no oceano de sinais que é o mundo real
Protege a tua individualidade
Às vezes apetece fugir da complexidade das coisas
escolher um único ramo da árvore de causalidade
e segui-lo até ao fim, ignorando todas as suas conexões
ramificações, antecedentes e consequências
e não ter olhos para mais do que as nossas conveniências
Mas essa escolha tem um preço feito de fios
que aparecem atados a cada um dos teus actos
fios que controlam cada um dos teus actos
levando-te a fazer a barba
quando talvez te apetecesse deixá-la crescer
ou a dizer que sim ou que não
a escolhas que nem sequer compreendes
ou a dar passos de que mais tarde te arrependes
levando-te a deixar de ser tu, exactamente,
antes uma amálgama do que és realmente
e daquilo que quem te controla pretende que sejas
a fim de proteger os seus proprios interesses
não os teus
muito menos os de todos nós
Por isso, abre os olhos para o novelo que é cada coisa
e tenta destrinçar por ti próprio os fios que a compõem
só assim podes evitar a dissolução num rebanho
ser mais um pedaço de gado, em tudo idêntico aos demais
pastoreado entre a pastagem e os currais
passando os dias na engorda, dia a dia mais próximo do fim num matadouro
Protege a tua individualidade
para isso bastar-te-á sair do nevoeiro
em que tu próprio envolves o teu cérebro
e mergulhar, de cabeça, no oceano de sinais que é o mundo real
Spamesia (173)
Sexta-feira o zigue acentuou-se, caindo o número de spams até aos 50. Havia vários títulos interessantes neste grupo, mas todos já tinham sido usados, o que fez com que isto tivesse sido complicado. Acabei por me decidir por um "Passion in this smell,":
Paixão neste cheiro
Na paisagem sensorial da cidade
raros são os recantos onde os cheiros
ainda sobem, livres, pelos ares
como se fossem cantos de aves canoras
e em nenhum desses recantos
o cheiro se entrega por completo a si mesmo
antes se espalha, algo desconfiado
como que a medo, cheio de receios
das tentações assépticas
ou dos fumos venenosos criados
pelo corpo artificial da sociedade urbana
Mas basta sair da cidade e encarar
as giestas para que tudo mude
há paixão neste cheiro cheio de subtilezas
há também verão e há aquela condição
perfeita de tudo o que vai sendo
refinado ao longo dos milénios
Paixão neste cheiro
Na paisagem sensorial da cidade
raros são os recantos onde os cheiros
ainda sobem, livres, pelos ares
como se fossem cantos de aves canoras
e em nenhum desses recantos
o cheiro se entrega por completo a si mesmo
antes se espalha, algo desconfiado
como que a medo, cheio de receios
das tentações assépticas
ou dos fumos venenosos criados
pelo corpo artificial da sociedade urbana
Mas basta sair da cidade e encarar
as giestas para que tudo mude
há paixão neste cheiro cheio de subtilezas
há também verão e há aquela condição
perfeita de tudo o que vai sendo
refinado ao longo dos milénios
terça-feira, 28 de outubro de 2003
Spamesia (172)
Quinta-feira houve um zaguezito pequeninito, com o número de spams a descer até aos 78. Alguns títulos houve que eram aproveitáveis, e entre eles vinha um "please":
Por favor
Por favor, já que vai até lá fora
se encontrar por lá um país perdido
vestido com os restos esfarrapados
e sujos de trajes que outrora foram ricos
tente trazê-lo de volta consigo
É que o pobre está louco
e não tem tomado os comprimidos
Por favor
Por favor, já que vai até lá fora
se encontrar por lá um país perdido
vestido com os restos esfarrapados
e sujos de trajes que outrora foram ricos
tente trazê-lo de volta consigo
É que o pobre está louco
e não tem tomado os comprimidos
segunda-feira, 27 de outubro de 2003
Spamesia (171)
Quarta-feira, o zigue regressou em força e o número de spams disparou até aos 89 (com uma quantidade de repetidos - raio de mania de mandar cromos repetidos!). E pelos vistos há saldos em Espanha. Pelo menos, há espanhóis entusiasmados com os saldos. Provavelmente vendedores espanhóis. Ou pelo menos castelhanófonos. Pelo menos. Enfim, talvez. Isto, claro, ajuizando pelo spam, o que é sempre perigoso. Mas a verdade é qiue me chegaram dois títulos a gritar "viva la baja", o que pode ou não querer dizer alguma coisa. Eu é que não quis dizer nada sobre isso, e portanto subverti a tradução. Enfim, fingi que não percebi:
Viva a baixa
A paixão não escolhe tamanhos
escolhe só bocas e olhos risonhos
mas devo dizer, com base na experiência
e num gosto de grande exigência
que não há mulher melhor que a que é baixa
pois come pouco, é leve, e cabe numa caixa
além de ter outras vantagens mais discretas
que não ficam bem na pena dos poetas
Viva a baixa
A paixão não escolhe tamanhos
escolhe só bocas e olhos risonhos
mas devo dizer, com base na experiência
e num gosto de grande exigência
que não há mulher melhor que a que é baixa
pois come pouco, é leve, e cabe numa caixa
além de ter outras vantagens mais discretas
que não ficam bem na pena dos poetas
Spamesia (170)
Terça-feira prosseguiu o zague, com apenas 49 spams. Nessa remessa vinha um com o título de "I have the cure", o que deu para escrever:
Eu tenho a cura
Podes não acreditar, mas a verdade
é que eu tenho a cura para essa tua ansiedade
Não tenhas medo. Não é nenhum segredo
É só a minha cama
que está ali aberta à espera que dois corpos
se percam nos lençóis com cheiro a alfazema
Eu tenho a cura
Podes não acreditar, mas a verdade
é que eu tenho a cura para essa tua ansiedade
Não tenhas medo. Não é nenhum segredo
É só a minha cama
que está ali aberta à espera que dois corpos
se percam nos lençóis com cheiro a alfazema
domingo, 26 de outubro de 2003
Só há uma coisa a dizer...
Depois da monumental assobiadela, ontem, na nova Luz, só tenho uma coisa a dizer:
Viva o Benfica!!!
Viva o Benfica!!!
Spamesia (169)
Depois de um zigue, vem sempre um zague. Na passada segunda-feira, a quantidade de spam não passou de 58: pouco mais de metade da véspera. Lá no meio vinha um "sitting here dreaming of million" e eu fiz de conta que em vez de million era millions:
Aqui sentado sonhando com milhões
Aqui sentado, sonhando com milhões
penso subitamente nas imensas multidões
que deambulam pelas ruas, a contar os seus tostões
Jogo a mão ao bolso e tiro do fundo desse fosso
um, dois, três, quatro, cinco, dez tostões
Olho um momento este sintoma de falência
depois atiro-o para longe com violência
Antes a ausência que a ilusão de uma presença
Aqui sentado sonhando com milhões
Aqui sentado, sonhando com milhões
penso subitamente nas imensas multidões
que deambulam pelas ruas, a contar os seus tostões
Jogo a mão ao bolso e tiro do fundo desse fosso
um, dois, três, quatro, cinco, dez tostões
Olho um momento este sintoma de falência
depois atiro-o para longe com violência
Antes a ausência que a ilusão de uma presença
Spamesia (168)
No domingo (passado), houve um autêntico estoiro: 95 spams. Sim, leram bem, faltaram apenas 5 para os 100. Mais um recorde, claro, acompanhado também pelo recorde da clareza: então não é que um desses 95 spams trazia o título de... "[spam]"?... Juro. É o primeiro spam que se auto-anuncia dessa forma tão clara. E claro que esse título não podia ficar por utilizar!...
Spam
Ligo o computador e penso em ti
porque aqui a ausência de amor
sobrevive entre baratas e formigas
e os restos do jantar de há dois dias
Aponto o cursor, pensando em ti,
para o ícone que cola o teu sorriso
ao papel de parede — uma parede
onde o tijolo espreita, de lado,
por entre restos de tinta em ruínas —
e faço duplo-click sobre os teus lábios
(a ambiguidade não foi propositada
mas já que surgiu do nada sem ser chamada
façamos dela mais um pouco do cimento
que faz um todo destas palavras desgarradas)
O programa abre, e introduzo as senhas
batendo no teclado com uma espécie de sanha
uma impaciência que roça a indecência
Fico à espera.
O indicador de progresso dá-me conta da chegada
de cada um dos pacotes de palavras
que me ligam ao vasto mundo lá de fora
Fico à espera que um deles (ou dois, ou três)
transporte até mim a tua voz silenciosa
Mas quando a transferência chega ao fim
e eu me endireito na cadeira, com a antecipação
a fazer-me cócegas nas pontas dos dedos
descubro que, afinal, tudo aquilo não passa
de mais uma cascata diária de spam.
Um dia pegarei no computador e atirá-lo-ei pela janela
Spam
Ligo o computador e penso em ti
porque aqui a ausência de amor
sobrevive entre baratas e formigas
e os restos do jantar de há dois dias
Aponto o cursor, pensando em ti,
para o ícone que cola o teu sorriso
ao papel de parede — uma parede
onde o tijolo espreita, de lado,
por entre restos de tinta em ruínas —
e faço duplo-click sobre os teus lábios
(a ambiguidade não foi propositada
mas já que surgiu do nada sem ser chamada
façamos dela mais um pouco do cimento
que faz um todo destas palavras desgarradas)
O programa abre, e introduzo as senhas
batendo no teclado com uma espécie de sanha
uma impaciência que roça a indecência
Fico à espera.
O indicador de progresso dá-me conta da chegada
de cada um dos pacotes de palavras
que me ligam ao vasto mundo lá de fora
Fico à espera que um deles (ou dois, ou três)
transporte até mim a tua voz silenciosa
Mas quando a transferência chega ao fim
e eu me endireito na cadeira, com a antecipação
a fazer-me cócegas nas pontas dos dedos
descubro que, afinal, tudo aquilo não passa
de mais uma cascata diária de spam.
Um dia pegarei no computador e atirá-lo-ei pela janela
sábado, 25 de outubro de 2003
Spamesia (167)
E já estou outra vez com uma semana de atraso. Se fosse mulher e o atraso fosse outro, seria motivo para preocupações (ou alegrias, depende), mas como sou homem e o atraso é o do tratamento do spam, não tem mais importância do que a acumulação de lixo no meu computador.
Quanto ao que interessa, no sábado que passou recebi 65 spams. Em termos de títulos não apareceu nada que fosse assim daquele género de agarrar antes que fugisse, portanto lá me contentei com um "best meds":
Melhores medicamentos
Os melhores medicamentos
são aqueles que retiram
ao futuro uns momentos
para fazerem crescer
aqueles bocadinhos de presente
que as memórias, mais tarde
vão reconhecer
como fontes de sorrisos
irrepetíveis
Quanto ao que interessa, no sábado que passou recebi 65 spams. Em termos de títulos não apareceu nada que fosse assim daquele género de agarrar antes que fugisse, portanto lá me contentei com um "best meds":
Melhores medicamentos
Os melhores medicamentos
são aqueles que retiram
ao futuro uns momentos
para fazerem crescer
aqueles bocadinhos de presente
que as memórias, mais tarde
vão reconhecer
como fontes de sorrisos
irrepetíveis
<-------- Os livros que estão ali
Desde a última vez que vos falei dos livros que estão ali ao lado e em trânsito pelos meus olhos, a renovação foi quase completa. Saíram Artiauri (um science fantasy com demasiados defeitos), O Homem da Laranja (fraco) e o número 5 da revista Em Cena (com alguns textos interessantes) e entraram:
- Arcontes é o primeiro livro de Gabriel Bozano, autor brasileiro de FC&F já publicado em Portugal no E-nigma e no Dragão Quântico. Edição brasileira da Writers, 104 páginas (1999)
- A Em Cena é uma revista de artes em geral, propriedade da Sociedade Recreativa e Artística Farense (mais conhecida pelo cognome de "Os Artistas", e por ser um dos pontos mais interessantes de música ao vivo nos verões de Faro). Este nº 7 data do verão de 2003. Edição d'Os Artistas, 58 páginas (2003)
- Blogs, livro de Paulo Querido e Luís Ene, dispensa apresentações na blogosfera portuguesa. Edição do Centro Atlântico, 152 páginas (2003)
- Arcontes é o primeiro livro de Gabriel Bozano, autor brasileiro de FC&F já publicado em Portugal no E-nigma e no Dragão Quântico. Edição brasileira da Writers, 104 páginas (1999)
- A Em Cena é uma revista de artes em geral, propriedade da Sociedade Recreativa e Artística Farense (mais conhecida pelo cognome de "Os Artistas", e por ser um dos pontos mais interessantes de música ao vivo nos verões de Faro). Este nº 7 data do verão de 2003. Edição d'Os Artistas, 58 páginas (2003)
- Blogs, livro de Paulo Querido e Luís Ene, dispensa apresentações na blogosfera portuguesa. Edição do Centro Atlântico, 152 páginas (2003)
segunda-feira, 20 de outubro de 2003
Spamesia (166)
A esperança levantada na véspera desapareceu na sexta-feira, quando o número de spams recebidos voltou a subir até aos 68. Incluído neste número estava um "cash paid for your opinions", que não é propriamente um bom título, mas me permitiu escrever o que penso acerca de parasitas dos media como o Pacheco Pereira (e aproveitem, que esta é a primeira e última vez que este nome aparece neste blog. Pelo menos tentarei que assim seja):
Pagamos em dinheiro pelas suas opiniões
Pagamos em dinheiro pelas suas opiniões!
Só precisa de dizer o que lhe vem à cabeça
e não se importar de não ser mais que uma peça
desta máquina imensa de produzir ilusões
Pagamos em dinheiro porque nos ajuda
a fingir que no que emitimos há variedade de opções
e que não é determinado por decisões
que servem para assegurar que nunca nada muda
Pagamos em dinheiro desde que tenha cuidado
e não se deixe levar por radicalismos
nada ponha em causa, recuse todos os ismos
e contribua para que o mundo permaneça parado
Pagamos em dinheiro pelas suas opiniões
Pagamos em dinheiro pelas suas opiniões!
Só precisa de dizer o que lhe vem à cabeça
e não se importar de não ser mais que uma peça
desta máquina imensa de produzir ilusões
Pagamos em dinheiro porque nos ajuda
a fingir que no que emitimos há variedade de opções
e que não é determinado por decisões
que servem para assegurar que nunca nada muda
Pagamos em dinheiro desde que tenha cuidado
e não se deixe levar por radicalismos
nada ponha em causa, recuse todos os ismos
e contribua para que o mundo permaneça parado
Spamesia (165)
Na quinta-feira o número de spams desceu para 59, levantando algumas esperanças de diminuição sustentada, o que seria óptimo caso continuassem a surgir bons títulos como "Approval"
Aprovação
A aprovação é um monte de sorrisos
empilhados, desordenados, num parapeito
ondulando levemente na aragem que passa
Aprovação
A aprovação é um monte de sorrisos
empilhados, desordenados, num parapeito
ondulando levemente na aragem que passa
sábado, 18 de outubro de 2003
<-------- Os livros que estão ali
Então, que desapareceu dali desde a última vez que nos encontrámos? Três coisas: Raízes (razoável menos) e Cântico à Humanidade (bom, mas não é o melhor Bradbury que já li, longe disso). Para os seus lugares, entraram:
- Crónicas do Caos — Atractores Estranhos é o segundo romance da trilogia das Crónicas do Caos, de Jeffrey A. Carver. O primeiro terá crítica no E-nigma muito em breve. Edição das Publicações Europa-América, 317 páginas (2000)
- Ensaio Entre Portas é um pequeno livro de poemas de Fernando Esteves Pinto, que me foi oferecido pelo próprio há dias na viagem para Lisboa. Edição da Almargem, 43 páginas (1997)
- Crónicas do Caos — Atractores Estranhos é o segundo romance da trilogia das Crónicas do Caos, de Jeffrey A. Carver. O primeiro terá crítica no E-nigma muito em breve. Edição das Publicações Europa-América, 317 páginas (2000)
- Ensaio Entre Portas é um pequeno livro de poemas de Fernando Esteves Pinto, que me foi oferecido pelo próprio há dias na viagem para Lisboa. Edição da Almargem, 43 páginas (1997)
Spamesia (164)
Na quarta-feira, o volume spamético baixou mas não muito: foram 65 as mensagens-lixo recebidas. Com a fartura veio mais um título razoável: "Fwd: Magic trick"
Truque de magia
Bastava um passe de magia para que
tu te abrisses à raiz dos meus
desejos mais intangíveis e nunca
mais voltasses a tocar os teus
seios sem que a imagem táctil da
minha língua te enchesse os
mamilos de frémitos e arrepios
Mas por desgraça a minha magia
não tem força para passes
não consegue sair da mediocridade
dos truques de coelho e cartola
e baralho de cartas marcadas
de um ilusionismo de circo de província
Mesmo assim, vou deixando cair
aqui e ali pequenos pacotes de ilusões
Nunca se sabe, pode ser que te prendas
por acaso nalgum deles e um dia acorde
contigo a olhar-me através da chuva
Truque de magia
Bastava um passe de magia para que
tu te abrisses à raiz dos meus
desejos mais intangíveis e nunca
mais voltasses a tocar os teus
seios sem que a imagem táctil da
minha língua te enchesse os
mamilos de frémitos e arrepios
Mas por desgraça a minha magia
não tem força para passes
não consegue sair da mediocridade
dos truques de coelho e cartola
e baralho de cartas marcadas
de um ilusionismo de circo de província
Mesmo assim, vou deixando cair
aqui e ali pequenos pacotes de ilusões
Nunca se sabe, pode ser que te prendas
por acaso nalgum deles e um dia acorde
contigo a olhar-me através da chuva
sexta-feira, 17 de outubro de 2003
Spamesia (163)
Pela segunda vez numa semana, o record de spams foi batido. Foi na terça-feira, e a nova marca é de 79 spams. Como é natural, havia alguns títulos sugestivos, incluindo um (na realidade, dois) que diz que "christmas is coming":
O natal está a chegar
Já se vão colocando as primeiras iluminações nas ruas das cidades
árvores e estrelas e pais natal intermitentes
que enchem o silêncio de zumbidos
nas lojas começam a nascer os nevões de esferovite
e os empregados já descruzam os braços de olhos postos nos transeuntes
Mas este ano as transeuntes olham as montras em relances fugidios
fugindo para paisagens menos confinadas
por vidros cobertos de espuma e etiquetas de preços
enterrando as mãos nos seus bolsos vazios
e forçando sorrisos, para que ninguém se aperceba
de que o natal que vai chegando não será um natal como os outros
O natal está a chegar
Já se vão colocando as primeiras iluminações nas ruas das cidades
árvores e estrelas e pais natal intermitentes
que enchem o silêncio de zumbidos
nas lojas começam a nascer os nevões de esferovite
e os empregados já descruzam os braços de olhos postos nos transeuntes
Mas este ano as transeuntes olham as montras em relances fugidios
fugindo para paisagens menos confinadas
por vidros cobertos de espuma e etiquetas de preços
enterrando as mãos nos seus bolsos vazios
e forçando sorrisos, para que ninguém se aperceba
de que o natal que vai chegando não será um natal como os outros
Spamesia (162)
De volta à normalidade, e eis a segunda-feira carregada de 70 spams. Com vários títulos viáveis, escolhi um que talvez nem seja o melhor para spamesar, mas com o qual concordo: "save gasoline"
Poupe gasolina
Há muito já que se sabe
que os combustíveis fósseis
são os restos alterados
de cadáveres antigos
são tudo o que resiste
de seres outrora vivos
Há muito já que se sabe
que nos movimentamos
propelidos por biliões
de pequenas mortes arcaicas
biliões de últimos suspiros
biliões de fugas incompletas
Há muito já que se sabe
que se existissem almas
seria por elas composto
o fumo que nos sai dos escapes
e que nos causa tosses
encefaleias e ataques de asma
E há muito já que se sabe
que toda a morte do planeta
não é suficiente para dar vida
à vida, e que um belo amanhã
chegará ao fim. A ironia
é ser o fim da morte a causar o fim da vida
Poupe gasolina
Há muito já que se sabe
que os combustíveis fósseis
são os restos alterados
de cadáveres antigos
são tudo o que resiste
de seres outrora vivos
Há muito já que se sabe
que nos movimentamos
propelidos por biliões
de pequenas mortes arcaicas
biliões de últimos suspiros
biliões de fugas incompletas
Há muito já que se sabe
que se existissem almas
seria por elas composto
o fumo que nos sai dos escapes
e que nos causa tosses
encefaleias e ataques de asma
E há muito já que se sabe
que toda a morte do planeta
não é suficiente para dar vida
à vida, e que um belo amanhã
chegará ao fim. A ironia
é ser o fim da morte a causar o fim da vida
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