terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Declaração de voto

No domingo vou votar no José Manuel Coelho.

Por vários motivos. Em primeiro lugar, porque todos os votos válidos em qualquer dos candidatos que não o Cavaco ajudam a que haja uma segunda volta e seja possível pôr em Belém um presidente digno desse nome. O Coelho não seria um presidente digno desse nome, tal como o Cavaco não o foi nem será se voltar a ganhar, mas não tem a mais pequena hipótese de ser ele a conquistar um lugar na segunda volta e esse é o segundo motivo do meu voto. O terceiro é o dinheiro. Numa altura em só se fala em crise, numa altura em que se corta em salários, numa altura em que o estado está em pleno saque aos contribuintes, o dinheiro deitado pela janela pelos candidatos principais é simplesmente pornográfico. Maior gastador? Cavaco, pois claro, apesar da nojenta hipocrisia de não pôr outdoors "para poupar". É preciso mesmo não ter qualquer espécie de vergonha na cara. Já o Coelho está a fazer uma campanha artesanal, gastando o mínimo dos mínimos. Isso seria de incentivar em qualquer altura, mas mais ainda em época de crise. Portanto, conquistou o meu voto. Na primeira volta.

Na segunda, será em qualquer candidato que não o Cavaco. Votar Cavaco é o mesmo que dizer "roubem-me que eu gosto".

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Leituras de 2010

Em 2010, ainda que não regressando propriamente ao meu normal de mais de 50 livros lidos por ano, já me aproximei bastante, apesar de tudo. Não se compara com a miséria do ano passado: li muito mais. Leituras ecléticas, como devem ser sempre, com preponderância de FC na primeira metade do ano e de outas coisas na segunda.

Os livros propriamente ditos, lidos por lazer mas todos comentados na Lâmpada ao longo do ano, somaram 39. A lista completa é a seguinte:

1- Conduzindo às Cegas, de Ray Bradbury (contos de fantasia e mainstream);
2- Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (romance de FC; distopia política);
3- E Tudo o Tempo Levou, de Ward Moore (romance de história alternativa e FC);
4- Na Praia de Chesil, de Ian McEwan (romance mainstream);
5- Relatório Minoritário, de Philip K. Dick (noveleta de FC);
6- A Ignorância, de Milan Kundera (romance mainstream);
7- O Terror, de Arthur Machen (uma novela e uma noveleta de horror);
8- Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson (um romance e contos de horror);
9- À Espera do Ano Passado, de Philip K. Dick (romance de FC);
10- O Menino de Cabul, de Khaled Hosseini (romance mainstream);
11- Crónicas Marcianas, de Ray Bradbury (coleção de contos interligados de FC);
12- O Hotel "A Queda do Alpinista", de Arkadi e Boris Strugatski (romance de FC policial);
13- O Vírus Entranhado, de Arsénio Mota (contos fantásticos e mainstream);
14- Que Cavalos São Aqueles que Fazem Sombra no Mar?, de António Lobo Antunes (romance mainstream);
15- Crônicas, de Gerson Lodi-Ribeiro (contos de FC);
16- Aventuras de João Sem Medo, de José Gomes Ferreira (romance fantástico);
17- Nação Crioula, de José Eduardo Agualusa (romance mainstream);
18- A Mão de Midas, de Jack London (contos fantásticos e mainstream);
19- Eis o Homem, de Michael Moorcock (novela de FC; viagem no tempo);
20- Uma Nova História Universal da Infâmia, de Rhys Hughes (contos surrealistas e borgesianos);
21- O Império do Medo, de Brian Stableford (romance misto de FC, horror e história alternativa);
22- Histórias de Mistério e Imaginação, de Edgar Allan Poe (contos de horror, aventuras e policial);
23- Rock'n'roll Altitude, de vários autores (contos temáticos, sobre rock, de HA e fantasia);
24- Uma Noite não São Dias, de Mário Zambujal (novela de antecipação e humor);
25- Carbono Alterado, de Rochard Morgan (romance de FC);
26- Histórias Fantásticas (Inglesas e Americanas), de vários autores, org. por Cabral do Nascimento (contos fantásticos, especialmente de fantasmas);
27- Quantas Madrugadas Tem a Noite, de Ondjaki (romance mainstream/fantástico);
28- Por Outros Mundos, de A. A. Attanasio (romance alegadamente de FC);
29- As Intermitências da Morte, de José Saramago (romance fantástico);
30- Outros Brasis, de Gerson Lodi-Ribeiro (coletânea de história alternativa);
31- A Feiticeira do Douro, de Eduardo Augusto de Faria (novela de fantasia);
32- A Casa Quieta, de Rodrigo Guedes de Carvalho (romance mainstream);
33- Deste Mundo e do Outro, de José Saramago (crónicas e pequenos contos, a maioria fantásticos);
34- O Livro do Deslumbramento, de Lorde Dunsany (contos de fantasia);
35- Contos Acrónicos, de António Eça de Queiroz (romance mainstream com toques fantásticos);
36- Firmin, de Sam Savage (romance fantástico);
37- A Conspiração dos Abandonados, de António de Macedo (contos fantásticos e de horror);
38- O Anibaleitor, de Rui Zink (novela fantástica);
39- The melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories, de Tim Burton (livro de poesia insólita e de horror)

A acrescentar aos livros li também revistas, que funcionam praticamente como se fossem antologias periódicas e portanto também contam para o total. E já tinha dito isto no ano passado. São mais 4:

40- Ficções, nº 11 (contos mainstream e fantásticos);
41- Asimov's, nº 323 (contos e poemas de FC);
42- Scarium, nº 21 (contos de horror e FC baseados na obra de Lovecraft);
43- Asimov's, nº 321-322 (contos e poemas de FC e história alternativa)

Por fim, e de novo tal como no ano passado, também li alguns livros por obrigação laboral. Também estes foram quatro, o que faz com que o total de leituras chegue a 47. Quase 4 por mês:

44- Dune, de Frank Herbert (romance de FC);
45- Dreamsongs, de George R. R. Martin (contos e novelas de FC, horror e fantasia; parte foi lida sem obrigação laboral);
46- Fool's Errand, de Robin Hobb (romance de fantasia épica);
47- Golden Fool, de Robin Hobb (romance de fantasia épica)

O melhor do ano? De caras e sem qualquer dúvida Quantas Madrugadas Tem a Noite, de Ondjaki. O podium completa-se com as velhinhas Crónicas Marcianas, de Bradbury, e As Intermitências da Morte, de Saramago, embora tenha havido outros livros de que gostei o suficiente para quase desalojarem um destes dois. Em especial Dreamsongs, do Martin, e Admirável Mundo Novo, de Huxley. Na verdade, são talvez uns 10 os livros lidos este ano que se podem agrupar numa pilhazinha de leituras bastante agradáveis, e algumas delas com surpresa. Livros de que gostei bastante mais do que estava à espera.

Mas também li livros maus, ou melhor, livros de que não gostei mesmo nada ou gostei muito pouco. O pior, de novo de caras e sem a mínima hesitação, foi A Feiticeira do Douro, de Eduardo Augusto de Faria. Bem melhores, mas mesmo assim suficientemente desagradáveis ao meu palato para se juntarem a este no trio de piores leituras do ano, temos Uma Noite Não São Dias, de Mário Zambujal, e A Conspiração dos Abandonados, de António de Macedo. A Ignorância de Kundera esteve mesmo vai-não-vai para vir aqui parar, e Contos Acrónicos, de António Eça de Queiroz, também.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Lido: Na Guerra com Bruxas

Na Guerra com Bruxas é um conto de horror de Richard Matheson que descreve o que acontece quando, numa guerra com tudo para ser convencional, surge uma peculiar arma secreta: um grupo de sete (claro!) bruxas, suficientemente poderosas para subverter por completo o desfecho das batalhas. Mas é também um conto de humor porque, quando não estão a fazer os seus feitiços, as bruxas se comportam precisamente como aquelas teenagers muito patetas, muito fúteis, muito donas de uma crueldade gigantesca e indiferente, que não há ex-adolescente que não conheça. Precisamente. O que não é, decerto, por acaso. Gostei bastante.

E assim se conclui o ano de 2010 no que às minhas leituras diz respeito.

Lido: Tempestade Solar

Tempestade Solar (bib.) é mais um conto de Italo Calvino protagonizado pelo seu eterno extraterrestre Qfwfq. Desta feita, Qfwfq é capitão de um navio presume-se que mercante quando uma tempestade solar o encontra, depois de muito tempo de busca. Tempestade solar? Encontra? Sim, estamos no mundo de Calvino onde até as tempestades solares são antropomorfizadas. Esta, uma tempestade magnética em forma de mulher e gigantesca, Rah de seu nome (e decerto que a semelhança com o do deus-Sol egípcio, Rá, não é coincidência), é casada com Qfwfq e vai causar a sua demissão do posto de capitão do navio que comandava, após o que lhe causa também variados problemas quando se instala em terra. Porque, como é óbvio, ninguém compreende uma relação entre algo que parece ser um homem e uma perturbação magnética que tem o condão de estragar todos os aparelhos elétricos que houver nas redondezas e de deixar as bússulas doidas. É um conto profundamente poético, belo e triste, muitíssimo bem concebido e executado. Magnífico.

2011

Diz que estamos em 2011, não é? Diz que 2010 já acabou, não foi? Pois eu mal dei por isso, porque de lá para cá nada mudou. 2010, o ano do cancro, foi, mesmo, o pior ano da minha vida, tal como previ logo na abertura. Apesar de algumas coisas até terem corrido bem. O trabalho correu bem. As finanças correram bem. Unidade em Chamas tem tido precisamente o acolhimento que era minha esperança que tivesse. E...

E mais nada.

O ano do cancro foi dominado pelo cancro, e bastaria isso para o transformar no pior ano da minha vida. Os tempos livres do trabalho foram quase todos passados a cuidar do doente, a levar o doente para a quimioterapia e a trazê-lo de lá, a fazer coisas pelo doente, a não dormir porque o doente grita de dor, a pôr tudo em espera pelo doente. A ver o doente ir ficando cada vez mais fraco, cada vez mais incapaz de se bastar a si próprio. Termina com o doente internado no hospital, e é assim que começa 2011, ano novo que em vez de ter um início cheio de esperanças mostra logo à partida a sua feia carantonha como que a avisar que se achei o 10 mau é bom que ponha o cinto de segurança porque a viagem que aí vem no 11 vai ser muito, muito pior ainda.

Fora o cancro, não houve quase nada. Não escrevi praticamente nada, nem para o romance de que falava há um ano, nem para outras coisas. Onde anda o tempo? Onde para a disponibilidade mental? Que é feito da capacidade para abstrair das exigências concretas e imediatas da família e mergulhar nas palavras e nos mundos inventados, sondar a imaginação em busca de verdades?

E depois, como cereja em cima do bolo, ainda me aconteceu uma coisa que já não acontecia há bem mais de uma década e não devia nunca ter acontecido. Uma coisa que não quero que nunca, nunca mais me aconteça, que farei tudo o que possa para a evitar na vida que me reste. Uma coisa que é um perfeito desastre, uma coisa que é ácido a corroer-me por dentro dia sim, dia sim. Uma coisa que teria potencial para vir a compensar muitas outras coisas, mas que não compensará, nunca compensará. Uma coisa que é um poço a abrir-se em voragem à minha frente e a sussurrar "salta". Uma coisa que me rouba as forças na altura em que eu mais preciso delas, tanto por mim, como (principalmente) pelos outros. Uma coisa destrutiva, caótica, incontrolável e, sim, muitas vezes insuportável.

Merda de ano, este que passou. Repenicada merda de ano o que aí vem.