O Escaravelho de Ouro (bib.) é uma noveleta de aventuras de Edgar Allan Poe, a qual descreve uma peculiar caça ao tesouro. Ambientada no sul dos Estados Unidos, o protagonista é um homem que decide afastar-se da civilização e tomar residência numa pequena ilha, acompanhado apenas por um negro, antigo escravo e criado fiel. O narrador é um seu amigo que vai visitá-lo e fica preocupado ao encontrá-lo aparentemente enlouquecido, depois de ter sido mordido por um escaravelho dourado, que o negro insiste ser mesmo de ouro, e cujo peso é repetidamente descrito como excessivo para um inseto normal. Reside aqui o único (e subtil) elemento fantástico que a noveleta contém, visto que a natureza do escaravelho nunca chega a ser completamente esclarecida. O fulcro da história, no entanto, é outro.
O fulcro da história é uma expedição que os três homens acabam por fazer a um determinado local situado nas proximidades, onde o protagonista julga haver enterrado um velho tesouro de piratas, e a longa explicação que se segue sobre o modo como chegou a tal conclusão, incluindo várias páginas dedicadas à decifração do código criptográfico que teria sido utilizado pelo pirata. É, portanto, uma história que ocupa a interseção de vários géneros que se desenvolveram em pleno mais tarde. Por um lado, claro, as aventuras de piratas, as aventuras de caça ao tesouro. Por outro, a descrição da investigação levada a cabo pelo protagonista e a utilização da criptografia apontam para os vários géneros baseados na decifração de mistérios. O policial, acima de tudo, mas também, até certo ponto, as histórias de espionagem ou até a FC de laboratório.
Enquanto (re)leitor, achei particularmente curioso o modo como a memória da minha primeira leitura desta história, já distante de quase três décadas, só veio ao de cima aqui e ali. Foi quase como lê-la de novo. Quase. O esquecimento quase completo significa que já devia ter voltado a pegar nas histórias de Poe há mais tempo, suponho. Talvez fosse novo demais quando as li pela primeira vez. É possível que histórias como esta, hoje, só despertem realmente o interesse a quem tem já alguma perspetiva histórica e é capaz de as colocar no devido contexto. É que nem sequer me lembro se o adolescente que as leu há todos estes anos gostou delas ou não, ainda que o facto de só agora ter voltado a pegar na ficção curta de Poe sugira que não. Mas desta vez gostei. Não muito, mas gostei.
Esta história foi também publicada num dos números do ABC Policial, editado por Artur Varatojo, que salienta o facto de na tradução, de sua autoria, ter tido necessidade de adaptar a decifração do bilhete, uma vez que a frequência das letras em português e em inglês é diferente. E eu devo ter lido isto no princípio dos sisties... :P
ResponderEliminar[] João
Nesta tradução que eu li, o tradutor fugiu a esse problema deixando todo o enigma em inglês. Provavelmente fez bem: nem toda a gente é um Varatojo. ;)
ResponderEliminarSe eu encontrar esse ABC Policial, faço uma cópia do conto e envio. Juntamente com um boneco da capa da revistinha propriamente dita.
ResponderEliminarIsso era realmente porreiro, pá! :)
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