Fácil: basta ver se ele dá mais importância ao que se passa na América do que em qualquer outro lugar do mundo. Para a detecção ser eficiente e inequívoca, em geral, os tempos de catástrofe são os mais adequados. Por exemplo.
Claro, não há americanófilo primário que resista à comparação do Katrina com o terremoto e tsunami do sudeste asiático. Alguns, os que têm mais vergonha, ainda conseguem fazer alguma distinção entre as duas situações; outros põem-nas em pé de igualdade.
Quando, sendo ambas catástrofes de grandes dimensões, são bem diferentes. O tsunami engloba-se nas catástrofes de carácter global, daquelas que afectam regiões significativas do planeta e modificariam a paisagem mesmo que não existissem estruturas humanas para destruir. Há apenas uma ou duas catástrofes deste tipo por século, se bem que algumas sejam bastante menos espectaculares. Catástrofes planetárias recentes (isto é, dos últimos cento e tal anos) houve o tsunami, e a explosão do Krakatoa, mas também a grande seca do Sahel, em África.
O Katrina é uma catástrofe regional. Em vez de afectar milhares de quilómetros, afectou centenas. Está na mesma categoria das grandes cheias que houve há muito pouco tempo na China (e que mataram quase mil pessoas - mas dessas pouco se falou), dos grandes sismos que houve na Turquia ou no Irão, etc., etc. Catástrofes que são raras mas não tão raras como as globais. Ao longo do último século, houve algumas dezenas de catástrofes desta dimensão, distribuídas por todo o planeta.
A única coisa que o Katrina teve de especial foi ter atingido directamente uma grande cidade (fora de tretas, o olho terá passado um pouco ao lado, mas Nova Orleães foi atingida directamente). Calhou passar por ali. É como se o Vesúvio entrasse em erupção e destruísse Nápoles. Na verdade, uma erupção do Vesúvio seria bastante pior, embora fosse na mesma uma catástrofe regional.
Claro, uma coisa é um desastre, outra uma catástrofe. Os fogos em Portugal e os governos do PSD/PP foram desastres. O Katrina foi uma catástrofe, e como tal uma coisa muito séria, muito grave, e com consequências que se irão prolongar no tempo. Mas compará-lo ao tsunami do sudoeste asiático é coisa que só entra mesmo na cabeça de americanófilos primários.
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