Por todos os motivos e mais alguns.
Desde o mais simples, o da urgência de afastar do poder o grupo de bufarinheiros sem palavra nem caráter que nele têm estado instalados, incapazes de dizer duas palavras seguidas sem que uma delas seja mentira, que deixam o meu país muito, mas muito pior do que o encontraram, mais pobre, mais despovoado, muito mais desigual, muito mais incapaz de resistir a choques internos e externos a que possa estar sujeito, com uma massa imensa de cidadãos a viver muito pior ou a ter de abandonar casa e família para conseguirem sobreviver lá fora ao mesmo tempo que gera dez mil novos milionários, e esta frase poderia prolongar-se durante páginas e páginas a listar todas as malfeitorias que esta abjeta direita nos causou durante quatro anos, mas não vale a pena, já toda a gente as conhece (com a exceção, claro, de quem mantém a fé em São Coelho como quem reza aos pastorinhos de Fátima ou vai votar da mesma forma estúpida e irracional com que se apoia um clube de futebol), e além disso há por aí muito quem não goste de frases saramaguianamente longas e não convém aborrecer demasiado essa malta.
Passando por nestes 41 anos de democracia nos terem tantas e tantas vezes cantado ao ouvido a cantilena do "olha que se não ganhamos nós ganham os outros bandidos," do "vê lá bem, não tens medo?," do "pensa bem, que nós nem precisamos de mostrar que valemos alguma coisa para saberes que eles, os outros, são piores," e no entanto o voto dito útil nunca ter servido para nada além de nos trazer até ao lindo estado em que nos encontramos, o que, se pensarmos bem, tem toda a lógica, porque quando substituimos sistematicamente o bem maior pelo mal menor acabamos por ficar com uma sequência de males menores nas mãos que se multiplicam até se transformarem no desastre que está à vista.
E acabando em serem do Bloco aquelas que, a meu ver, são as melhores propostas, as propostas mais consistentes, mais baseadas nas realidades da crise e no que os últimos anos nos ensinaram, tanto nacional como internacionalmente, propostas que, não sendo perfeitas, possivelmente nem sequer sendo todas realizáveis numa legislatura, em especial quando entramos em conta com o miserável estado em que está a União Europeia de todas as desilusões, que cada vez mais parece fazer absoluta questão de esquecer as lições que um século XX assassino devia ter deixado gravadas em pedra e aço (e sangue, litros e litros de sangue) no consciente coletivo dos povos europeus, trazem no entanto consigo a garantia de que haverá quem lute por elas, quem procure por todos os meios levá-las a cabo, quem não desista, baixe os braços e resigne, à espera de miríficas intervenções mais ou menos divinas, e que terá tanto mais força para essa luta quanto maior o poder que os votos lhe conferirem.
Nem sempre acontece, mesmo sendo aderente (bem, neste momento até sou um pouco — e é mesmo pouco — mais do que isso), mas desta vez voto Bloco sem a mais pequena sombra de dúvida. Especialmente depois de ver o partido fazer algo que há muito defendo (aqui, por exemplo): propostas muito claras (e muitíssimo acertadas, acrescento) sobre as condições em que participaria de alguma forma numa solução de governo, mostrando-se aberto a convergências e a ação comum, desde que respeitando alguns princípios básicos, coisa que, infelizmente, não vejo em outras forças políticas, que pelos vistos preferem os silêncios, as não respostas ou os enunciados vagos que tanto podem querer dizer sim como talvez como sopas.
Portanto, no domingo, irei votar no Bloco com um gosto e uma certeza que há muito não tinha. E mais: convido-vos a todos a vir comigo, chova ou faça sol, haja muito ou pouco que fazer durante as horas de urnas abertas.
Vamos lá, malta. Vamos lá dar a volta a isto.
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