segunda-feira, 7 de junho de 2004

E viva o PÚBLICO e a sua promoção da leitura!

... ou será que não?

Quando um jornal de grande circulação como o PÚBLICO se põe a editar livros a baixo custo, em princípio a notícia é boa. Apesar de o objectivo principal ser, como é óbvio, vender mais jornais, a iniciativa não deixa de ter o efeito secundário de levar a muita gente literatura com que talvez de outro modo não contactasse. E isso é bom, mesmo quando não se concorda inteiramente com o critério seguido na selecção dos títulos.

Quando o mesmo jornal resolve embarcar numa iniciativa paralela, desta feita editando livros destinados à juventude, de novo a notícia parece boa. Promover os livros e a leitura junto dos mais novos é uma óptima ideia. Em princípio.

Foi, portanto, com um sorriso nos lábios que cá em casa se foi ao quisque comprar o jornal que trazia o primeiro número (grátis) da nova colecção do PÚBLICO: A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne.

Mas quando abrimos o livro, estremecemos de susto. Não vos digo porquê: deixo-vos apenas algumas citações retiradas das primeiras páginas do romance, prosa imortal de Júlio Verne e de uma tal Lúcia do Carmo Cabrita Harris. Os negritos são meus:

- Página 7 (tudo no mesmo parágrafo): "Ele vivia sozinho [...]. Ele somente precisava [...]. Ele almoçava e jantava [...]. Ele nunca fazia uso das salas acolhedoras [...]" e etc.

- Ainda na página 7: "[...] na galeria circular com a sua abóbora suportada por vinte colunas iónicas de porfírio vermelho [...]"

- Página 15: "Phileas Fogg, tendo fechado a porta de sua casa dele [...]"

Estão a ver, não estão? Não lemos o livro até ao fim. Não compraremos nenhum livro desta colecção. Desaconselhamos toda a gente a arriscar o seu dinheiro, por pouco que seja, nestes livros. Em vez de promover a leitura, esta colecção arrisca-se, sim, a promover a ignorância da língua portuguesa.

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