quarta-feira, 9 de junho de 2004

Na morte de Sousa Franco

Na morte de Sousa Franco o que verdadeiramente choca não é a morte. Esta acontece todos os dias, a todas as horas, em todos os lugares. Para os que ficam, quando é inesperada talvez doa mais, mas para o que vai é muito melhor assim do que passar meses, por vezes anos, em sofrimento, apenas à espera dela, como tantas vezes acontece. A morte choca sempre pelo irremediável que representa, mas não devia chocar mais quando atinge um candidato a um lugar no Parlamento Europeu do que quando bate à porta de um sem-abrigo. O que se perde é igual, especialmente para quem é realmente atingido pelo acontecimento. Nós, só o vemos, sempre de muito longe, sempre sem qualquer capacidade de imaginar o que ele significa para quem parte.

Mas a verdade é que a morte de Sousa Franco chocou mais do que a maior parte das outras mortes. Não pela morte em si. Essa foi uma boa morte, pelo menos tanto quanto uma morte pode ter de bom. Mas sim pela imensa hipocrisia dos que ontem ainda o insultavam e hoje, de repente, lhe vislumbram todas as qualidades. É como se as pessoas só valessem a pena estar vivas depois de mortas.

Nojo.

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