E esta, hein? O Luís acabou de publicar uma crítica à séria sobre "A Vida Bela de Klaus Miragata" e, por extensão, também sobre os dois contos anteriores. Nunca pensei que isto desse para escrever tanto, pá. Mas antes disso, vão lá ler, rapazes, andem. Podem ir à confiança, que ele não me passa a mão pelo pêlo.
Já leram? OK, então deixem-me comentar a crítica. Como disse, ele não me passa a mão pelo pêlo... e assim é que eu gosto.
Mas acho que o Luís comete um erro: trata as spam fictions como trabalhos acabados. Não o são, como não me canso de repetir: são esboços, minimamente coerentes, minimamente trabalhados para serem disponibilizados na Lâmpada, mas que precisam de muito trabalho extra para se transformarem em trabalhos acabados. Faltam todas as revisões que o distanciamento torna eficientes no expurgar de erros e na clarificação de conceitos.
Dito isto, a crítica é interessante e levanta alguns pontos dignos de atenção. Um deles é o individualismo. Outro é o enquadramento enquanto FC de algumas destas coisas. Há mais, mas vou só falar destes dois, para não estender isto em demasia.
Um projecto deste género tem algumas condicionantes à partida. Os contos não podem ser grandes, porque não há tempo suficiente numa semana para reunir ideias e escrever um conto grande; Pelo mesmo motivo, os contos não podem ser muito elaborados e têm de seguir uma linha relativamente simples, sem gastar demasiado tempo e número de palavras com enquadramentos muito exóticos ou com enredos ou personagens muito complexos, até porque eu não pretendo escrever para especialistas em FC mas sim para um público variado, com graus de experiência e de expectativas muito díspares no género.
O individualismo vem daí. É uma forma "barata" de captar a identificação dos leitores com uma personagem sem ter de dispersar atenções, esforço e texto por várias. E é também uma forma de enquadrar os exotismos que surjam sem afugentar leitores... o que nos leva à questão de ser, ou não, FC.
O motivo por que eu digo que estes contos (os três) são FC é simplesmente porque não concordo com a ideia de que a FC se tenha de reger, necessariamente, por um código em que a estranheza impera. Não. Aliás, penso mesmo que por vezes há FC que peca por excesso de estranheza, que destrói a verosimilhança, fundamental para suspender a descrença. E quando contos de futuro próximo são demasiado estranhos, é isso mesmo que acontece. Ora, é isso que são as spam fictions 3 e 4: contos de futuro próximo, e portanto a sua paisagem tem necessariamente de nos ser muito familiar. Mas não deixam de ser FC por isso. Muito menos deixam de ser contos, logo literatura, por serem FC.
Diria mesmo mais: há falta na FC de mais literatura do quotidiano, de mais literatura que nos apresente o modo como personagens vulgares interagem com o seu ambiente invulgar. Parte da crise da FC tem precisamente essa origem: demasiadas personagens extraordinárias em ambientes extraordinários tornam-se repetitivas e cansativas. Os leitores fartam-se. E partem para outra.
Mas enfim, isto já vai longo e já estou a pregar seca. O meu objectivo com a spam fiction é criar contos que resultem, independentemente de todos os condicionalismos e proposições teóricas, e mesmo sob a forma de esboço. Se o conseguir, ficarei satisfeito. É essa a base indispensável para desenvolvimentos futuros, aperfeiçoamentos. Mas esses ficam para mais tarde.
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