sábado, 13 de fevereiro de 2010

Lido: Eu Sou a Lenda

Eu Sou a Lenda (bib.) é um pequeno romance de Richard Matheson que conta a história do último sobrevivente humano num mundo assolado por vampiros. Mas não são os vampiros cheios de angst juvenil (embora as suas peles perfeitas não mostrem sinais de acne), os vampiros mais do que meio emos, que estão agora tão na moda entre as adolescentes e as leitoras e espetadoras em geral (sim, eu sei que há umas ramificações para o lado masculino do espetro, mas não é segredo para ninguém que o público da corrente moda vampírica é esmagadoramente feminino. E teen). Também não são os vampiros clássicos, os que vão beber diretamente ao Drácula e às lendas europeias que a ele levaram. São outra coisa.

É que Eu Sou a Lenda tanto pode ser visto como uma história de horror como pode ser encarado como uma história de ficção científica. O vampirismo é, aqui, fruto duma epidemia — uma epidemia devastadora, que submerge o planeta, levando ao fim da civilização tal como a conhecemos — e boa parte das características e reações dos vampiros clássicos são explicadas, melhor ou pior, de forma científica. Com este pano de fundo, o enredo do romance é até bastante simples: seguimos o último sobrevivente, por algum truque do destino imune à doença, que procura continuar a sobreviver o melhor que sabe e pode, enquanto vai tentando estudar os vampiros que o atacam ao mesmo tempo que reduz o nível de ameaça, matando todos os que consegue apanhar a jeito. Mas eis que, anos depois do início da praga, surge uma mulher na sua vida, aparentemente outra sobrevivente. E a história toma um rumo inesperado.

Várias vezes adaptado a outros media, este romance teve uma influência bastante grande num certo tipo de horror (histórias de vampiros, sim, mas principalmente de zombies) e FC (a FC apocalíptica, basicamente) da segunda metade do século XX. Basta isso para lhe emprestar relevância e o tornar interessante. Mesmo tendo-se várias das ideias que contém tornado clichés batidos desde a sua publicação. Mesmo que as personagens, incluindo a do protagonista, estejam menos conseguidas do que poderiam estar. Para mim, é exatamente essa a maior falha do romance: a falta de profundidade psicológica do protagonista; pelo menos ele talvez devesse ter algo mais a oferecer-nos, e não se apresentar tanto como concha quase vazia. Por paradoxal que possa parecer, há mais profundidade na mulher que lhe aparece na vida quase no fim do romance, apesar de só aparecer nas últimas quarenta e tal páginas. Mas, apesar disso, a história é suficientemente interessante para sobreviver a uma tradução que comete quase todos os erros de principiante que é possível cometer. Fernando Ribeiro é muito melhor rocker do que tradutor, pelo menos por enquanto, e isso nota-se demasiado. O romance, contudo, sobrevive, e isso é meritório.

De modo que não gostei muito, é verdade. Não foi obra que me deixasse de queixo caído, longe disso. Até porque, com a notável exceção dos filmes da série Alien e de alguns contos do João Barreiros, as misturas de horror com FC (ou vice-versa) tendem a deixar-me indiferente ou a não me agradar de todo. Mas também não dei por mal empregue o tempo que lhe dediquei. Acho que é romance que vale certamente a pena ler.

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