Ontem voltaram às 90, as mensagens-lixo na minha caixa de correio. Dessas 90, a maioria tinha, como sempre, títulos insuportavelmente bocejantes, daqueles que só de ler parece que pesam nas pálpebras.Mas lá havia um aproveitável, desta vez um "Re: doltish". E não, não tive de fazer mais do que deitar o "Re:" fora para escrever:
O parvalhote
O parvalhote vai todos os domingos passear o fato de treino para o centro comercial
ou melhor, para o chópingue, porque o parvalhote fala muito inglês
seja em casa, seja no cinema, seja no lugar do mundo de que mais gosta
aquela esplanada repleta de mesas de alumínio e plástico
rodeada de casas de comida de plástico
(fastefude, diz o parvalhote, enquanto aperta com dificuldade os atacadores dos sapatos)
iluminada por uma luz crua tão morta que mais parece uma múmia
uma coisa branca, sem forma, nem sequer a memória de ter sido em tempos parte de estrela
mas, claro, o parvalhote disso não percebe nada
só sabe que se sente bem ali no remoinho das conversas
das quais também não percebe nada
mas que tem isso? o parvalhote não percebe nada de nada
nem que quando o dia acaba e o fato de treino finalmente regressa para as costas da cadeira
a única coisa que realmente lhe aconteceu não lhe aconteceu a ele mas sim a todos os outros
o mundo deu mais uma volta
e para o parvalhote foi como dar mais uma volta num sono sem fim
ressonando banalidades sem sentido ou objectivo
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