Um par de comentários do Boemius (é sina ;) ) a este post deu-me vontade de escrever umas coisas sobre "críticas e catalogações", como ele lhes chamou.
Do modo como eu vejo estas coisas, quer uma quer a outra são úteis para um enquadramento mas não são absolutas. Que quero eu dizer com isto?
Que, por exemplo, a crítica pode ter, para o escritor, a vantagem de lhe colocar à frente intepretações e problemas da sua obra de que poderia não estar consciente à partida, o que o ajuda a ajustar melhor o que escreve, e como escreve o que escreve, àquilo que pretende escrever, mas que não é absoluta na medida em que nunca é totalmente verdadeira. Seja ou não arrasadora, seja ou não ultra-elogiosa, dê ou não no cravo e na ferradura. Também para os leitores, a crítica não é absoluta, porque o gosto e a sensibilidade de cada um determinam em grande medida aquilo que obtém de uma obra. Mas pode dar dicas importantes, especialmente se o leitor tem afinidades com o crítico e sabe disso.
(é por isto, já agora, que é tão importante que a crítica seja honesta: um crítico que adapte as suas críticas às conveniências do momento não tem utilidade para ninguém, a não ser, talvez, para si próprio)
Quanto a críticas desenvolvidas vs. gosto/não gosto, do meu ponto de vista nem sempre é mais útil uma crítica desenvolvida. Já me têm sido mais úteis críticas de leitores que não sabem muito de determinado assunto ou género mas que foram capazes de me dizer se gostaram ou não e de me explicar porquê do que críticas muito desenvolvidas por pessoas muito conhecedoras. É aqui que bate o ponto principal: no porquê. Quando não existem porquês, a utilidade não é muita, mas quando existem, tudo muda.
Neste caso, por acaso, não é bem isso que acontece: a crítica desenvolvida do Luís foi-me muito útil: permitiu-me pensar um bocado mais profundamente no que quero e posso fazer com esta aventura meio inconsciente em que me meti. E de a explicar melhor, também, a quem lê.
Quanto aos rótulos, passa-se algo de semelhante. Parece-me que a maior parte das pessoas encara rótulos como caixinhas onde se metem as obras que, depois de serem lá enfiadas já não podem ir para nenhum lado. Esta categorização absoluta parece-me muito errada. Para mim, um rótulo é uma de muitas categorizações possíveis, e dizer que determinado texto é FC não exclui de modo algum que ele possa também ser uma série de outras coisas. É preciso aplicar aqui um pouco de teoria de conjuntos.
Para ilustrar o que quero dizer, costumo servir-me de uma analogia: Em Terragrande havia uma série de árvores, uma das quais, um ulmeiro, crescia junto ao riacho. Esse ulmeiro pertencia ao conjunto dos ulmeiros, obviamente, que é um subconjunto do conjunto das árvores. Também pertencia ao conjunto das árvores que cresciam em Terragrande (outro subconjunto das árvores). Como servia para os putos da terra mergulharem no riacho, pertencia também ao conjunto dos auxiliares de brincadeira. O Zé, quando se apaixonou pela Mafalda, deixou gravado na casca do ulmeiro a primeira mensagem de amor, a que se seguiram mais vinte e sete, transformando o ulmeiro num membro do conjunto dos meios de comunicação. E etc. Aquele ulmeiro, apesar de ser ulmeiro era também uma vasta série de outras coisas.
Assim são os meus contos, espero: FC, mas também uma série de outras coisas.
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