domingo, 10 de abril de 2005

Monomanias

Lisboa, seis da tarde. Um cabo-verdeano entra num autocarro rumo ao sul. No meio dos sacos e sacolas, um par de auscultadores espreita o mundo cá fora à semi-transparência do plástico branco. Os outros passageiros vão entrando, acenando, aquietando-se e, por fim, o transporte arranca. O cabo-verdeano coloca os auscultadores e começa a ouvir-se cá fora a batida da quizomba.

Quase quatro horas mais tarde, o cabo-verdeano chega ao seu destino. Pega nos sacos, ajeita o corpo para sair, espera que o autocarro pare. Com o ar um pouco surpreendido de quem se lembra de qualquer coisa esquecida, desliga a quizomba e põe os auscultadores ao pescoço. Sai.

Não posso garantir, mas julgo ter ouvido, quando o autocarro arrancou, o motor a fazer turum-tum-tum... turum-tum-tum...

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