terça-feira, 26 de abril de 2005

Prós e Contras

Não sou público habitual do Prós e Contras, programa que, embora lhe veja interesse em princípio, cai demasiadas vezes, parece-me, num círculo vicioso de discursos inconsequentes dos quais nunca se parte para a concretização de alguma coisa e nem sequer serve para o esclarecimento dos cidadãos que precisam de facto de ser esclarecidos (não garanto, mas cheira-me que o público do P&C é composto quase integralmente por elites à partida bem informadas), mas o tema hoje interessou-me e vi o programa desde o princípio.

O programa ainda não acabou, mas já me irritaram profundamente duas coisas:

Parece que faz uma falta diabólica ao país gente como eu. Gente com competências formais e informais que lhes permitem mover-se com alguma à-vontade no admirável mundo novo das tecnologias de informação, gente que é capaz de gerar conteúdos, gente capaz de dialogar com o mundo que fica lá fora do nosso país e da nossa língua. Então se eu sou assim tão necessário, por que caraças não recebo uma proposta de emprego por semana? Por que caraças é que todos os licenciados desempregados que conheço me dizem que lhes é muito mais difícil encontrar emprego do que um qualquer matarruano que mal assinar o nome sabe? Por que caraças o mesmo já me foi dito por gente que trabalha no IEFP? Por que caraças os técnicos do IEFP admitem que não sabem como encontrar empregos para licenciados porque não há empresas a abrir vagas? Por que caraças toda esta conversa da necessidade de gente qualificada cada vez mais me soa como uma enorme e amarga mentira?

A outra: somos pequeninos, parece. Às vezes, somos muito pequeninos. E parece que isso é uma tragédia. Então não compreendo porque é que o mesmo não se passa com a Irlanda, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Áustria e Dinamarca, só para firarmos na Europa dos 15, todos países mais pequenos que Portugal. São 6 países mais pequenos que nós. Ou, se o critério for a população, podemos excluir a Holanda e incluir a Suécia e a Finlândia. Passam a 7, os países mais pequenos que nós, ou seja, metade da Europa dos 15 tem mais população que Portugal, a outra metade tem menos. Mas não, nós somos pequeninos, e por sermos pequeninos não temos hipótese no confronto com os outros, os grandes, dizem eles. Estou cada vez mais farto desta conversa de chacha, que só serve para atirar areia para os olhos das pessoas, para tentar levá-las a não ver aquilo que começa cada vez mais a ser impossível de esconder: a raiz dos problemas portugueses.

Que não é mais do que a superior incompetência dos nossos gestores, dos nossos empresários, do nosso sistema de justiça, da nossa administração, pública e privada, dos governos que tivemos de aturar ao longo de séculos. Esta é a raiz de todos os nosso problemas, não a fantasmagórica pequenez que cada vez menos existe. Na Europa actual, seja qual for o critério que se utilize à excepção da UE de antes do alargamento, que concentrava em si a maioria dos grandes países do continente, Portugal está no topo da tabela entre os estados, quer em dimensão territorial, quer em população. Metam-me isso nessas cabecinhas duras, meus senhores, e párem de dizer asneiras. Já fartam.

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