sexta-feira, 22 de setembro de 2006

O Literolixo

O cada vez mais desinteressante Aspirina B (Ó Rainha! Ó Rainha! Salva aquilo!) ainda vai tendo uns motivozinhos de interesse de vez em quando, em geral nos comentários, por estranho que pareça. O último foi este post, que em si mesmo é apenas mais uma variante da celebérrima Choldra queirosiana, mas que serviu ao Fernando Venâncio para, nos comentários, claro, declarar a sua definição do que é um bom texto.

Sem citar integralmente o comentário, que é sempre chato citar coisas integralmente sem pedir licença, e resumindo, o que ele defende é que um bom texto se reconhece por "aquela vaga, quase indetectável, mas oh tão saborosa vontade de ler mais, de prosseguir, de haver mais páginas para virar", e que é essa qualidade que falta à ficção portuguesa. Gostaria de ter respondido lá, mas aquele sistema de comentários anda, ou é, almariado da cabeça, e não deixou. Por isso, e como o tema até tem piada, respondo aqui:

Venâncio, essa teoria é muito linda. O problema ululantemente óbvio (já sentia falta de ironizar com esta palavrita) é, claro, que não há nenhum iluminado que tenha a verdade no bolso e o monopólio do bom gosto. Um texto que dá uma vaga quase indetectável mas oh tão saborosa vontade de ler mais ao sr. Fulano de Abreu, não passa de um monte de palavras estapafúrdias a escorrer chatice para o dr. Sicrano de Oliveira. E geralmente têm os dois razão.

É verdade, todavia, que a grande maioria dos livros de ficção nacional não mostra uma única dessas virtudes. É natural: aqueles que as mostram para o sr. Fulano de Abreu não as mostram para o dr. Sicrano de Oliveira, o eng. Beltrano Cunhal e mais um imenso mar de criaturas tão ou mais cultas que o Fulano apreciador original. Porque aquilo de que não se gosta é sempre mais do que aquilo de que se gosta. Está na própria natureza do gosto.

Pois, gosto e não qualidade. É que essa maneira de decidir o que é "bom" ou "mau", na realidade, não é nada disso: não passa de uma forma de se decidir aquilo de que se gosta ou não. O mais subjectivo gosto pessoal dos gostos pessoais.

Eu também gostava muito mais que em Portugal se publicasse toda a melhor ficção científica contemporânea do que todo o lixo vazio que enche os escaparates, seja em original, seja em tradução. Mas, infelizmente, estou rodeado de Sicranos de Oliveira e Beltranos Cunhais e outros maus gostos mais. Fazer o quê...

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