quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Lido: A Sereia de Curitiba

As histórias de Rhys Hughes de que tenho vindo a falar aqui pertencem a este livro, A Sereia de Curitiba, uma coleção de cerca de dez contos interligados dividida em quatro partes. Sim, os contos são cerca de dez, pois, dependendo de como se olha para o livro, pode encontrar-se entre oito e doze. Alguns não são bem contos, ainda que o sejam, outros são contos dentro de contos (ou de notas, que talvez também possam ser vistas como contos de direito próprio), enfim, o que é conto ou deixa de ser é uma das convenções que o livro pretende pôr em cheque. E consegue.

Como terão percebido se leram o que fui dizendo sobre cada um dos contos, o tom geral é surrealista. Pessoalmente, gostei mais do resultado quando o foram menos, o que corresponde à primeira das quatro partes, cujos três contos seguem todos uma história de amor com a sereia de Curitiba que intitula todo o livro e são por ela enquadrados. Dessas histórias gostei muito. Das outras, nem tanto, porque foi frequente sentir que o autor estava a levar tão longe o absurdo, as ligações oníricas, os elementos de enredo que nascem de trocadilhos e elementos de linguagem, etc., que perdia demasiado o controlo sobre elas. E digo demasiado porque é evidente que nunca foi intenção de Hughes controlar estas histórias. Ou seja, conseguiu fazer precisamente aquilo que pretendia. Mas, para satisfação do meu gosto, um pouco mais de controlo teria sido desejável.

Além do surrealismo, há outras coisas presentes em todo o livro.

De braço dado com ele vem necessariamente o humor, mas desengane-se quem pense que é humor de gargalhada. Não é. É humor de sorriso razoavelmente contemplativo e muito mais intelectual do que emocional. Feito de ironia, muita, e algum sarcasmo.

E uma outra coisa de que o livro está cheio é: viagens. Viagens de todos os tipos e feitios. Ninguém para quieto um segundo que seja, e por cada chegada (invariavelmente a um sítio com algo de louco a dar-lhe um sabor especial) existe uma partida. Nisso, pelo menos, a obra é um espelho fiel do obreiro.

Avaliação geral? Gostei.

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