terça-feira, 12 de abril de 2011

Ratolândia

Esta é a história de um lugar chamado Ratolândia. Ratolândia era um lugar onde todos os ratinhos viviam e brincavam, nasciam e morriam. E viviam duma forma muito semelhante a vocês e a mim.

Até tinham um parlamento. E de quatro em quatro anos tinham eleições. Iam às assembleias de voto e depositavam os seus votos. Alguns deles até apanhavam boleia até às assembleias de voto. E apanhavam boleia também para os quatro anos seguintes. Tal como vocês e eu. E sempre, no dia das eleições, todos os ratinhos iam às urnas e elegiam um governo. Um governo composto por grandes e gordos gatos pretos.

Ora, se acham estranho que ratos elejam um governo feito de gatos, olhem bem para a história do Canadá nos últimos 90 anos e talvez vejam que não eram mais estúpidos do que nós.

Reparem que eu não estou a dizer nada contra os gatos. Eram tipos simpáticos. Dirigiam o governo com dignidade. Aprovavam boas leis — isto é, leis que eram boas para gatos. Mas as leis que eram boas para gatos não eram lá muito boas para ratos. Uma das leis dizia que os buracos dos ratos tinham de ser suficientemente grandes para um gato conseguir lá enfiar uma pata. Outra lei dizia que os ratos só podiam viajar a certas velocidades — para que um gato pudesse apanhar o pequeno-almoço sem grande esforço.

Todas as leis eram boas leis. Para gatos. Mas, oh, eram duras para os ratos. E a vida ia-se tornando cada vez mais dura. E quando os ratos deixaram de conseguir aguentá-la, decidiram que alguma coisa tinha de ser feita a respeito delas. Portanto foram maciçamente às urnas. Puseram os gatos pretos na rua. Elegeram os gatos brancos.

Os gatos brancos tinham feito uma ótima campanha. Tinham dito: "Tudo o que a Ratolândia precisa é de mais visão." Tinham dito: "O problema da Ratolândia são estes buracos de ratos redondos que temos. Se nos elegerem, decretaremos buracos de rato quadrados." E foi o que fizeram. E os buracos de rato quadrados eram duas vezes maiores do que os redondos, e agora o gato podia enfiar neles ambas as patas. E a vida tornou-se mais dura do que nunca.

E quando deixaram de aguentar, os ratos puseram na rua os gatos brancos e voltaram a eleger os pretos. Depois voltaram aos brancos. Depois aos pretos. Até experimentaram gatos metade pretos e metade brancos. E chamaram a isso coligação. Até arranjaram um governo feito de gatos com malhas: eram gatos que tentavam fazer ruídos de rato mas comiam como gatos.

O problema, meus amigos, não estava na cor do gato. O problema era eles serem gatos. E, como eram gatos, naturalmente preocupavam-se com os gatos e não com os ratos.

A dado passo apareceu um ratinho com uma ideia. Meus amigos, cuidado com o tipo pequenino com uma ideia. E ele disse aos outros ratos: "Olhem, rapazes, porque é que continuamos a eleger governos feitos de gatos? Porque é que não elegemos um governo feito de ratos?" "Oh," disseram eles, "este é um bolchevique. Prendam-no!" Portanto puseram-no na cadeia.

Mas quero lembrar-vos de que podem prender um rato ou um homem, mas não é possível prender uma ideia.

Fábula política de origem canadiana mas bastante universal, criada por Clarence Gillis, popularizada por Tommy Douglas e traduzida para português por Jorge Candeias.

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