A Mais Brilhante das Visões (bib.) é uma longa noveleta de ficção científica de Clifford D. Simak que nos fala de um mundo futuro em que a Terra se especializou na produção de literatura para consumo de uma miríade de espécies alienígenas, ávidas por essa peculiar capacidade humana que é mentir, contando histórias. Mas não estamos a falar de literatura como a conhecemos hoje. Não há propriamente escritores; há técnicos operadores de máquinas de produção de literatura. O protagonista é um desses técnicos, e luta por sobreviver sem conseguir vender histórias porque a sua máquina está obsoleta e não tem dinheiro para comprar um modelo aperfeiçoado.
Ou pelo menos, é esta a aparência das coisas.
É uma história que reflete sobre os limites da criatividade humana, ou, vendo-a por outro prisma, sobre os limites da automatização das atividades humanas. A meio século de distância da época em que foi escrita, mostra alguns elementos de ingenuidade, mas apesar disso ainda se mantém bastante atual. Até por que existem, hoje em dia, alguns campos de criação que são fortemente influenciados pela sofisticação das máquinas que neles são usadas. A fotografia é um bom exemplo. Além disso, trata-se de um daqueles contos "de escritor", um daqueles contos em que os escritores se viram um pouco para dentro, debruçando-se sobre a condição de o ser e sobre tudo o que isso implica, e isso torna-o mais ou menos intemporal. Um escritor ver-se-á nele refletido. Um leitor que sinta curiosidade sobre o mundo dos que escrevem também encontrará nele esse motivo acrescido de interesse.
Creio ser já claro que gostei bastante. E o meu pai, então, tê-lo-ia adorado: o conto reflete quase na perfeição algumas ideias que ele tinha sobre a relação entre a máquina e o homem. Só é pena a tradução.
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